sexta-feira, 2 de outubro de 2015

05/10/2015
BOM SAMARITANO:
 QUEM É MEU PRÓXIMO E DE QUEM SOU PRÓXIMO?

Segunda-Feira Da XXVII Comum

 

Evangelho: Lc 10,25-37

Naquele tempo, 25 um mestre da Lei se levantou e, querendo pôr Jesus em dificuldade, perguntou: “Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida eterna?” 26 Jesus lhe disse: “Que está escrito na Lei? Como lês?” 27 Ele então respondeu: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e a teu próximo como a ti mesmo!” 28 Jesus lhe disse: “Tu respondeste certamente. Faze isso e viverás”. 29 Ele, porém, querendo justificar-se, disse a Jesus: “E quem é o meu próximo?” 30 Jesus respondeu: “Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de assaltantes. Estes arrancaram-lhe tudo, espancaram-no, e foram-se embora deixando-o quase morto. 31 Por acaso, um sacerdote estava descendo por aquele caminho. Quando viu o homem, seguiu adiante, pelo outro lado. 32 O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu o homem e seguiu adiante, pelo outro lado. 33 Mas um samaritano que estava viajando, chegou perto dele, viu e sentiu compaixão. 34 Aproximou-se dele e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas. Depois colocou o homem no seu próprio animal e levou-o a uma pensão, onde cuidou dele. 35 No dia seguinte, pegou duas moedas de prata e entregou-as ao dono da pensão, recomendando: “Toma conta dele! Quando eu voltar, vou pagar o que tiveres gasto a mais”. E Jesus perguntou: 36 “Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” 37 Ele respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Então Jesus lhe disse: “Vai e faze a mesma coisa”.
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O que está em jogo no texto do evangelho lido neste dia que nos é proposto é uma pergunta de um mestre da Lei: “O que fazer, a fim de conseguir a vida eterna?”.


A resposta é previsível e evidente, de tal forma que o próprio mestre da Lei a conhece: amar a Deus, fazer de Deus o centro da vida e amar o próximo como a si mesmo. Certamente a maravilhosa parábola do bom Samaritano é um reflexo sobre como deve viver concretamente a lei do amor a Deus e ao próximo.


No entanto, a dúvida do mestre da Lei vai mais fundo quando se fala do próximo: “Quem é o meu próximo?”. Na época de Jesus, os mestres de Israel discutiam, precisamente, quem era o “próximo”. Naturalmente, havia opiniões diversas. Porém, havia consenso entre todos sobre o sentido exclusivo do próximo. De acordo com a Lei, o “próximo” era apenas o membro do Povo de Deus (cf. Ex 20,16-17; 21,14.18.35; Lv 19,11.13.15-18). No entanto, Jesus tinha outro conceito sobre quem é o próximo. É precisamente para explicar a sua perspectiva que Jesus conta a “parábola do bom samaritano”.


O que está em jogo nesta parábola? Qual é a pergunta principal ou questão mais importante nesta parábola?


O que acontecerá comigo se eu não obedecer à lei ritual diante do homem meio morto?”. Esta é a pergunta do sacerdote e do levita nesta parábola. Mas Jesus convida cada cristão a fazer a seguinte pergunta: “O que acontecerá com meus irmãos, especialmente com os irmãos mais necessitados, se eu não fizer nada por eles?”. Esta é a pergunta do bom samaritano. Por isso, o bom samaritano se solidariza, se aproxima, e se arrisca pelo irmão, pelo necessitado.


O samaritano é um dos que a religião tradicional considerava um inimigo, um infiel, longe da salvação e longe da Igreja. No entanto, foi ele quem parou, sem medo de correr riscos ou de adiar os seus esquemas e interesses pessoais, que cuidou do ferido e que o salvou. Apesar de ser um “herege”, um “excomungado”, mostra ser alguém atento ao irmão necessitado, com o coração cheio de amor e, portanto, cheio de Deus. “Amando ao próximo você limpa os olhos para ver a Deus” (Santo Agostinho). “O amor é a única dívida que mesmo depois de paga nos mantém como devedores” (Santo Agostinho).


A base da fé é, certamente, estar aberto à realidade humana, ser capaz de pensar no outro e na sua necessidade, de respeitar a vida do outro, de sentir o que o outro sente ou o que o outro pode sentir. O samaritano reage com uma atitude de homem para homem, e se converte, deste modo, em realizador da misericórdia. Para Jesus o importante não é saber quem é meu próximo e sim fazer-se próximo dos demais, aproximar-se, ajudar o outro. O verdadeiro amor não faz exceção com ninguém. O amor aproxima e nos faz descobrir o próximo. O amor torna o outro meu próximo. Por isso, para quem ama, qualquer ser humano é seu próximo, independentemente de sua crença, religião, política, ideologia e assim por diante. A verdadeira religião que conduz à salvação passa por este amor sem limites ao próximo. O próximo é a passagem obrigatória para chegar até Deus. Quem tem sensibilidade e é capaz de desfazer-se de seus planos para se mostrar solidário, estará no caminho da vida eterna. Quem, pelo contrário, desvia-se do próximo carente de solidariedade, desvia-se do caminho que conduz a Deus. O “próximo” é qualquer um que necessita de nós, seja amigo ou inimigo, conhecido ou desconhecido, da mesma nação ou doutra qualquer; o “próximo” é qualquer irmão caído nos caminhos da vida que necessita de nossa ajuda e de nosso amor para poder se levantar novamente. Neste gesto do bom samaritano, a Igreja de todos os tempos reconhece um aspecto fundamental da sua missão: a missão de levantar todos os homens e mulheres caídos nos caminhos da vida. É a missão de cada cristão, seguidor de Cristo. O próximo é aquele em cujo caminho eu me coloco.


Neste gesto do bom samaritano, a Igreja de todos os tempos reconhece um aspecto fundamental da sua missão: a missão de levantar todos os homens e mulheres caídos nos caminhos da vida. É a missão de cada cristão, seguidor de Cristo. Qualquer pessoa ferida com quem nos cruzamos nos caminhos da vida tem direito ao nosso amor, à nossa misericórdia, ao nosso cuidado – seja ela branca ou negra, cristã ou muçulmana, ateu ou crente, fascista ou comunista, pobre ou rica…


Em um mundo no qual se encurtam as distâncias e se incrementam as comunicações para todos os níveis, muitos homens não conseguem ser próximos para os outros porque as atitudes interiores diversas não estão em consonância com a proximidade física. Quantos estão sós em meio do barulho das grandes e pequenas cidades.


É preciso que estejamos conscientes de que perderemos o tempo se nós buscarmos Deus tão somente nas práticas religiosas ou rituais, mas distantes da vida e dos irmãos. Ambos devem se complementar. O encontro com Deus na oração deve levar necessariamente cada cristão ao encontro com os irmãos. O amor cria vida para quem ama e amado.


Vale a pena repetir a pergunta para que cada um de nós possa estender a reflexão: “De quem sou próximo?”. Será que sou próximo de acordo com o critério de Jesus a exemplo do bom samaritano? Para quem se conforma com a pergunta “quem é meu próximo?”, o próximo não está mais próximo e sim está distante, está do outro lado de nossa curiosidade. Próximo não é aquele que eu encontro no meu caminho e sim aquele em cujo caminho eu me coloco. Este é o próximo conforme a parábola do Bom Samaritano. Quantas vezes, por comodismo, por medo eu não quis me colocar no caminho de quem estava em necessidade? A questão fundamental da parábola não é: quem é o meu próximo? Mas é: Sou próximo de quem? Quando se tem a compaixão, as barreiras de etnia, sexo, religião, classe social etc. ficam rompidas. São João Crisóstomo dizia: “Nada te pode fazer tão imitador de Cristo como a preocupação pelos outros. Mesmo que jejues, mesmo que durmas no chão, mesmo que, por assim dizer, te mates, se não te preocupas com o próximo, pouca coisa fizeste, ainda distas muito da imagem do Senhor.

P. Vitus Gustama,SVD

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