27/10/2015
SER
SEMEADOR DA PALAVRA TRANSFORMADORA DE DEUS
Terça-Feira
da XXX Semana Comum
Evangelho: Lc 13,18-21
Naquele tempo, 18 Jesus dizia: “A que é
semelhante o Reino de Deus, e com que poderei compará-lo? 19 Ele é como a
semente de mostarda, que um homem pega e atira no seu jardim. A semente cresce,
torna-se uma grande árvore e as aves do céu fazem ninhos nos seus ramos”. 20 Jesus
disse ainda: “Com que poderei ainda comparar o Reino de Deus? 21 Ele é como o
fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que
tudo fique fermentado”.
____________
Continuamos acompanhando Jesus no seu caminho
para Jerusalém, durante o qual escutamos Suas últimas e importantes lições para
nossa vida como cristãos (Lc 9,51-19,28).
A passagem do evangelho de hoje fala de duas
parábolas: a semente da mostarda e o fermento. O que serve de comparação é o
contraste entre o início insignificante e o final portentoso. O grão de
mostarda, apesar de sua pequenez no tamanho, quando for semeada, virará um
grande arbusto onde os passarinhos podem fazer seus ninhos. Acontece a mesma
coisa com o fermento. A farinha/massa que se mistura com o fermento vira uma
grande massa. O princípio (minúsculo e oculto) é contraposto ao grande
resultado.
As duas querem sublinhar claramente que a
graça de Deus cresce em extensão (grão de mostarda) e em intensidade (fermento
na massa). No entanto, elas não sublinham apenas sobre o crescimento, mas
também sobre todo estado final que apontam para um valor escatológico. Elas
servem, por isso, para animar qualquer cristão, qualquer comunidade para não
desistirem em levar adiante a causa de Jesus apesar de se sentirem tão pequenos
no meio dos “poderosos” deste mundo, pois no final Deus é quem tem a última
palavra.
“O Reino de Deus é como a semente de
mostarda, que um homem pega e lançou no seu jardim. A semente cresce, torna-se
uma grande árvore e as aves do céu fazem ninhos nos seus ramos” (Lc 13,19), assim
Jesus disse-nos hoje.
Lançar semente à terra é um gesto
absolutamente natural, apaixonante e misterioso. É um gesto de esperança e de
aventura. Basta a semente estar na terra, começa, então, em segredo e em
silêncio uma serie de maravilhas, pouco importa que o semeador se preocupe ou
não com a semente. Cada semente lançada na terra surge a esperança no coração
do semeador de ver a semente brotar e crescer em alguns dias. O semeador é
aquele que crê na vida, que tem confiança no porvir. E ao ver a semente que se
transformou em plantinha, a alegria inunda o coração do semeador a ponto de ele
“conversar” com a plantinha quase diariamente. E com cuidado ele vai capinar ao
redor dela para facilitar o crescimento saudável da plantinha a fim de ela dar
bons frutos. O semeador é aquele semeia a mãos cheias para que a vida se
multiplique que se transforma em alimento para cada família. O semeador é
aquele que investe no porvir.
Jesus está consciente de estar fazendo isto:
semear, lançar, esperar com paciência!
Ele empreende uma obra que tem porvir. Ele semeia a Palavra de Deus em
cada coração. E aquele que escuta e se deixa guiar pela Palavra de Deus, vai
produzir muitos bons frutos para a convivência fraterna.
A Palavra de Deus tem dentro de si uma força
misteriosa que apesar dos obstáculos encontrados no seu caminho vai germinar e
dar fruto. Com esta parábola Jesus quer sublinhar a força intrínseca da graça e
da intervenção de Deus.
O trabalho do cristão é semear a bondade,
pois a bondade é um investimento que nunca falha, pois Deus é envolvido nisto
tudo. O propósito verdadeiro de nossa existência como cristãos não é ganhar a
vida e sim fazer uma vida: uma vida valida, bem feita e útil para o bem de
todos. A bondade sempre tem a ver com Deus. O que você é aos olhos de Deus é o
que você realmente é. Façamos as coisas certas, pratiquemos o bem, vivamos de
acordo com a bondade, e deixemos os resultados com Deus. Ser cristãos é
tornar-se como Cristo. E tornar-se como Cristo é a única coisa no mundo com a
qual vale a pena se preocupar. Toda a realização inferior a isto é vã e toda
ambição mundana é tolice.
“O Reino de Deus é como a semente de
mostarda, que um homem pega e atira no seu jardim. A semente cresce, torna-se
uma grande árvore e as aves do céu fazem ninhos nos seus ramos”.
Ao falar da pequenez de uma semente como a de
mostarda, Jesus quer nos convidar a rever os nossos critérios de atuação e a
nossa forma de olhar o mundo e os nossos irmãos. Por vezes, naquilo que é
pequeno, débil e aparentemente insignificante é que Deus se revela (cf. Mt
11,25-28). Deus está nos pequenos, nos humildes, nos pobres, nos que
renunciaram a esquemas de triunfalismo e de ostentação; e é deles que Deus se
serve para transformar o mundo.
“O Reino de Deus é como o fermento que uma
mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique
fermentado”, acrescentou Jesus.
Esta comparação tem em conta a potência de
transformação do fermento apesar de sua invisibilidade: assim que o fermento se
mistura com a massa, a massa se transforma em tamanho maior para se transformar em pão para a mesa de
cada família: os começos são modestos, mas o resultado final é surpreendente.
Através das duas parábolas, Jesus quer nos
dar lição de que os meios podem ser muito pequenos, como a pequena semente de
mostarda ou como o fermento, mas podem produzir frutos inesperados, não
proporcionados nem a nossa organização nem a nossos métodos e instrumentos. A
força da Palavra de Deus vem do próprio Deus e não de nossas técnicas. Quando
em nossa vida há uma força interior, a eficácia do trabalho cresce
notavelmente. Mas quando essa força interior é o amor que Deus nos tem, ou seu
Espírito ou a Graça salvadora de Cristo ressuscitado, então, o Reino de Deus
germina e cresce poderosamente. O que devemos fazer é colaborar com nossa
liberdade. Mas o protagonista é Deus. Necessitamos trabalhar com o olhar posto
em Deus, sem impaciência, sem exigir frutos a curto prazo, sem absolutizar
nossos méritos, meios e técnicas e sem demasiado medo ao fracasso. Há que ter
paciência como a tem o lavrador esperando a colheita.
O evangelho de hoje nos ajuda a entendermos
como conduz Deus nossa história. Não teríamos que nos orgulhar nunca, como se o
mundo se salvasse por nossas técnicas, métodos e esforços. Não podemos esquecer
aquilo que São Paulo nos aconselhou: “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é
quem fez crescer. Assim, nem o que planta é alguma coisa nem o que rega, mas só
Deus, que faz crescer. O que planta ou o que rega são iguais; cada um receberá
a sua recompensa, segundo o seu trabalho.
Nós somos operários com Deus. Vós, o campo de Deus, o edifício de Deus.
Segundo a graça que Deus me deu, como sábio arquiteto lancei o fundamento, mas
outro edifica sobre ele. Quanto ao fundamento, ninguém pode pôr outro diverso
daquele que já foi posto: Jesus Cristo” (1Cor 3,6-11).
Os frutos da graça de Deus se produzem às
ocultas, em pequenos gestos e projetos bem simples sem que ninguém se dê conta.
Nossa tarefa é semear a bondade constantemente, catar um pedaço de felicidade
diariamente para compartilhá-la com aqueles que não conseguiram catar nenhum
pedaço. A fé vivida na obediência à vontade de Deus é capaz de operar uma
transformação total da pessoa, uma reestruturação de todo o ser, como a semente
que se transforma totalmente em uma planta. Nos fatos aparentemente
irrelevantes, na simplicidade e normalidade de cada dia, na insignificância dos
meios, esconde-se o dinamismo de Deus que atua na história e que oferece aos
homens caminhos de salvação e de vida plena. Não podemos deixar nenhum dia sem
semear a bondade nos corações de pessoas.
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário