terça-feira, 20 de outubro de 2015

23/10/2015
CAPTAR O APELO DE DEUS NA VIDA COTIDIANA: ESTEJAMOS ATENTOS.  

Sexta-Feira da XXIX Semana Comum

Evangelho: Lc 12, 54-59

Naquele tempo, 54 Jesus dizia às multidões: “Quando vedes uma nuvem vinda do ocidente, logo dizeis que vem chuva. E assim acontece. 55 Quando sentis soprar o vento do sul, logo dizeis que vai fazer calor. E assim acontece. 56 Hipócritas! Vós sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu. Como é que não sabeis interpretar o tempo presente? 57 Por que não julgais por vós mesmos o que é justo? 58 Quando, pois, tu vais com o teu adversário apresentar-te diante do magistrado, procura resolver o caso com ele enquanto estais a caminho. Senão ele te levará ao juiz, o juiz te entregará ao guarda, e o guarda te jogará na cadeia. 59 Eu te digo: daí tu não sairás, enquanto não pagares o último centavo”.
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Continuamos a acompanhar as últimas e mais importantes lições que Jesus nos dá no Seu caminho para Jerusalém (Lc 9,51-19,28). Trata-se da última viagem de Jesus para Jerusalém, pois lá ele será crucificado e morto. Mas ele ressuscitará. É preciso ouvir essas lições atentamente.


Hoje, na passagem do evangelho, Jesus quer que estejamos atentos para a presença de Deus e seu apelo através de vários sinais na nossa vida, como estamos atentos para a mudança do tempo (previsão do tempo). Jesus nos convida a irmos além do aspecto físico da realidade para o sentido querido por Deus através da realidade. Em cada acontecimento Deus deixa Seu recado para quem o presencia. Em cada dia de nossa vida Deus faz Seu apelo. É preciso estar ligado à realidade, pois Deus está em tudo e em todos. Em cada luz, aparece a luz do próprio Deus. Em cada vida, Deus é a vida. Em cada coisa sentida é o próprio Deus que está sendo sentido. Em cada existir, Deus é o próprio Ser. Ao tocarmos uma flor temos a certeza de que, misteriosamente, estamos ticando o Criador da flor. A flor não é Deus, mas ela nos leva à própria perfeita beleza de Deus e ao próprio Criador da flor. O homem profundo é aquele que vive sua humanidade a partir da graça e da presença permanente de Deus na sua vida.


Quando vedes uma nuvem vinda do ocidente, logo dizeis que vem chuva. E assim acontece. Quando sentis soprar o vento do sul, logo dizeis que vai fazer calor. E assim acontece. Hipócritas! Vós sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu. Como é que não sabeis interpretar o tempo presente?


Os homens sempre se interessam pelo tempo e pelo clima, especialmente para os agricultores, os aeronáuticos, os marinheiros e assim por diante em função de suas tarefas. No evangelho de hoje, Jesus nos chama nossa atenção, porque sabemos muito bem prever o clima, mas não sabemos discernir ou ler os sinais abundantes e claros que Deus nos envia diariamente. O Senhor continua passando perto de nossa vida, com suficientes referências ou sinais. Mas podemos ter perigo de que não captamos nem reconhecemos essa presença. O Senhor se faz presente na enfermidade ou na tribulação (cf. Mt 25,38-40), nas pessoas com as quais trabalhamos ou com as quais formamos nossa família, nas boas notícias que cada pessoa espera para sua vida, sua família e assim por diante. Nossa vida será bem diferente, se estivermos bastante conscientes da presença divina na nossa vida diária. Se tivermos consciência da presença de Deus na nossa vida diária (cf. Mt 28,20), desaparecerá de nossa vida a rotina, o mau-humor, as tristezas e as preocupações exageradas porque viveremos com muita fé na providência divina. “Deus está ali; naquele cantinho mais secreto da tua vida, aonde ninguém chega, em que uma voz que não sabes donde vem, nem para onde vai, te diz o que não querias ouvir, te recorda o que desejarias ter esquecido, te profetiza o que nunca desejarias saber. Nessa voz que não ouves, mas que te desaprova. Nessa voz que não é tua, mas que nasce em ti e que nem o sono, nem o barulho, nem a bebida, nem a carne conseguem fazer calar. Está nessa resposta que ainda não te atrevestes a dar e que verificas ir ser dolorosa mas eficaz, como uma operação cirúrgica. Deus está nesse abismo profunda da tua incredulidade. É aquilo que lamentas ter perdido, que temes reencontrar e que quererias possuir, ainda que te envergonhes de o confessar aos outros. Deus está no gozo do bem que fizeste sem que ninguém o soubesse. Deus está na paz do lago sereno das tuas lágrimas quando te reconcilias com a tua consciência e que te dá a sensação de renasceres. Deus está em todo o gesto de amor. Está em cada mão que se abre para o bem. Está no trabalho que te sensibiliza para a vida, que te fortalece para o amor. Está em todo o bem que desejas para os que amas. Está nas coisas mais insignificantes que te podem dar serenidade. Deus está em tudo que não chamas Deus, mas que te sentes tentado a adorar, a beijar, a abraçar. Está no gosto da inocência intacta” (Juan Aria: O Deus Em Quem Não Creio. Ed. Perpetuo Socorro, Portugal).


Jesus reprova seus concidadãos por não serem capazes de interpretar os “sinais dos tempos”, quando são perfeitamente capazes de interpretar os sinais meteorológicos.


Lendo e meditando as palavras de Jesus no evangelho deste dia o Concilio Vaticano II, através de um dos seus famosos documentos, chamado Gaudium et Spes (GS) afirma: “é dever da Igreja investigar a todo o momento os sinais dos tempos, e interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo adaptado em cada geração, às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da vida presente e da vida futura, e da relação entre ambas. É, por isso, necessário conhecer e compreender o mundo em que vivemos, as suas esperanças e aspirações, e o seu caráter tantas vezes dramático” (GS, no.4). O Povo de Deus, movido pela fé com que acredita ser conduzido pelo Espírito do Senhor, o qual enche o universo, esforça-se por discernir nos acontecimentos, nas exigências e aspirações, em que participa juntamente com os homens de hoje, quais são os verdadeiros sinais da presença ou da vontade de Deus. Porque a fé ilumina todas as coisas com uma luz nova, e faz conhecer o desígnio divino acerca da vocação integral do homem e, dessa forma, orienta o espírito para soluções plenamente humanas” (GS no. 11).


Analisando o estado atual do mundo, “o momento presente”, o Concílio reconheceu alguns “sinais dos tempos” essenciais: a solidariedade crescente dos povos apesar do barulho do pequeno grupo que sempre faz o contrário; o ecumenismo apesar da resistência de alguns grupos religiosos; a preocupação pela liberdade religiosa apesar de determinados país prenderem a liberdade de escolha; os médicos sem fronteiras dispostos para ajudar as vítimas da natureza ou das guerras; a mobilização mundial para ajudar os refugiados, e tantos outros voluntários que se doam para ajudar o próximo. Estes homens e mulheres fazem diferença muito grande na sociedade. Eles são tão humanos a ponto de ser tão divinos.


O Espírito de Deus continua atuando no mundo através de muitos sinais. Ele continua atuando nos olhos dos que choram, nos que sofrem por serem justos, honestos, e verdadeiros; nos que trabalham pela paz apesar da resistência diante da reconciliação; em quantos trabalham pela erradicação da fome e da pobreza apesar da exploração e da corrupção de alguns grupos insensíveis às questões sociais; em todo o homem e a mulher que procura Deus com coração sincero apesar das dores encontradas na vida. A sua vontade de rezar e de meditar a Palavra de Deus é sinal de que o Espírito de Deus continua atuando em você. O Espírito de Deus continua atuando em você quando reza por si e pelos outros; em tantas pessoas que estão sempre prontas para ajudar quem está em necessidade. Numa palavra, em tudo o que é bondade e amor, paz e bem porque tudo isto é reflexo e semente do sinal básico do sacramento perene do próprio Deus. Em tudo que aconteceu e acontece e acontecerá na nossa vida Deus quer nos dizer alguma coisa a respeito de nossa salvação, mas que nem sempre sabemos criar o silêncio para ouvir a mensagem de Deus. O silêncio é o vazio fecundo que possibilita a presença do Eterno, ou da Plenitude na nossa vida.


Segundo o convite de Jesus, é preciso dar-nos conta do momento em que nos encontramos. Em outras palavras, precisamos transformar o kronos, isto é, o tempo medido pelos segndos, em kairós, isto é , tempo da graça de Deus e da oportunidade de salvaçao. A consciência do tempo de Deus transforma nossas atividades diárias em atividades salvíficas e transforma nossos trabalhos em vivência do amor fraterno. Assim que Jesus, Deus Encarnado, entrou em nosso meio para ser um de Deus, o kronos se transforma em kairós. Em tudo podemos “ver” e sentir a presença de Deus e perceber Seu apelo no momento.


Portanto, é preciso que façamos a revisão de nossa vida e o modo pelo qual vivemos. A finalidade da “revisão de vida” é tratar, humildemente de “reconhecer” a ação de Deus nos acontecimentos, em nossas vidas, nas pessoas com as quais encontramos diariamente ou ocasionalmente, nos sofrimentos e nas dores, nas vitórias e nos desafios de cada dia, e assim por diante, para encontrá-Lo e participar nessa ação de Deus a fim de revelá-Lo, enquanto for possível, aos que O ignoram. Somente quem vive aberto ao Espírito de Deus, percebe sua voz, sua chamada e sua presença. Por isso, há que estar sempre alerta e atento.


Portanto, é bom cada um se perguntara: O que é que Deus quer de mim através de todos os acontecimentos da vida minha vida e de todos os acontecimentos ao meu redor? Que resposta eu devo dar a tudo isto? Que ação eu devo fazer como resposta ao convite de Deus através desses acontecimentos? Qual é o apelo de Deus para o meu hoje? Deus nunca deixa de nos dar recado diariamente. Basta abrir os olhos e o coração.
 
P. Vitus Gustama,svd

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