terça-feira, 28 de janeiro de 2020


06/02/2020

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SER CRISTÃO É SER VERDADEIRO MENSAGEIRO E SERVIDOR DO SENHOR
Quinta-Feira da IV Semana Comum


Primeira Leitura: 1Rs 2,1-4.10-12
1 Aproximando-se o fim da sua vida, Davi deu estas instruções a seu filho Salomão: 2 “Vou seguir o caminho de todos os mortais. Sê corajoso e porta-te como um homem. 3 Observa os preceitos do Senhor, teu Deus, andando em seus caminhos, observando seus estatutos, seus mandamentos, seus preceitos e seus ensinamentos, como estão escritos na lei de Moisés. E assim serás bem-sucedido em tudo o que fizeres e em todos os teus projetos. 4 Então o Senhor cumprirá a promessa que me fez, dizendo: ‘Se teus filhos conservarem uma boa conduta, caminhando com lealdade diante de mim, com todo o seu coração e com toda a sua alma, jamais te faltará um sucessor no trono de Israel”’. 10 E Davi adormeceu com seus pais e foi sepultado na cidade de Davi. 11 O tempo que Davi reinou em Israel foi de quarenta anos: sete anos em Hebron e trinta e três em Jerusalém. 12 Salomão sucedeu no trono a seu pai Davi e seu reino ficou solidamente estabelecido.


Evangelho: Mc 6,7-13
Naquele tempo, 7Jesus chamou os doze e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos impuros. 8Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. 9Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas. 10E Jesus disse ainda: “Quando entrardes numa casa, ficai ali até vossa partida. 11Se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles!” 12Então os doze partiram e pregaram que todos se convertessem. 13Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo.


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Palavras de “Adeus” e Palavras de “Enviados”


Depois que meditamos sobre o texto do livro de Samuel (1Sm e 2Sm) durante algumas semanas, agora começamos a acompanhar a leitura do livro dos Reis durante alguns dias.


Os livros dos Reis, na Bíblia hebraica, formavam um só livro sem divisão. A divisão em dois livros é tardia. E seu objetivo material é a história de Israel e de Judá e, mais concretamente, de seus reis, desde Salomão até os últimos reis de Israel e de Judá. Porém, com os livros dos Reis é produzido um fato novo: se em Josué, Juizes e nos livros de Samuel o que se narra é a história particular de Israel, a partir de agora, com os livros dos Reis, a história dos povos vizinhos e dos grandes impérios passa a fazer parte da história de Israel e, por sua vez, Israel é citado claramente na história de outros povos.


O conteúdo global dos livros dos Reis é a história dos reis de Israel e de Judá, desde a morte de Davi até o exílio para Babilônia, que vão desde 970 a.C, aproximadamente, até 561 a.C. Apesar de sua finalidade teológica os livros dos Reis são o mais importante documento bíblico para a reconstituição histórica do período que vai desde o reinado de Salomão até a destruição de Jerusalém em 587 a.C.


Como outros grandes personagens da história de Israel (Moisés, Samuel), Davi, no momento de morrer, deixa um legado a Salomão, seu filho que lemos na Primeira Leitura de hoje. Esse testamento (1Rs 2,1-9) apresenta duas partes claramente diferenciadas: uma teológica e outra política.


A primeira parte do testamento (1Rs 2,2-4) é uma exortação de estilo deuteronomista evidente e recorda a exortação de Moisés ao povo e ao seu sucessor, Josué (Cf. Dt 31,7.28; Cf. Js 1). Segundo Davi, o bem-estar e a proteção divina de Salomão dependerão da obediência fiel à Lei de Moisé e seu perfeito cumprimento.


A segunda parte do testamento (1Rs 2,5-9) trata das medidas políticas que Salomão tem de tomar, as quais o encarregou seu pai. Esta segunda parte não aparece na leitura de hoje.


Os dias da morte de David estão se aproximando. Seu papel tem sido muito importante. Ele criou solidamente a unidade das doze tribos de Israel, que até então viveram independentes. Ele pacificou o país da Palestina, de Dan a Bersabé, rejeitando todos os inimigos que ainda atacaram os hebreus. Ele deu uma capital e uma cidade santa, Jerusalém, ao povo de Israel. Já sabemos que Davi não é um homem perfeito. Mas, é incontestavelmente foi um homem que vivia "diante de Deus". O seu testamento espiritual, que confia a seu filho Salomão na Primeira Leitura de hoje, é a prova suprema disso.


Vou seguir o caminho de todos os mortais, disse Davi a Salomão, seu filho. É uma fórmula maravilhosa para falar sobre a morte. A morte é o "caminho de todos". Ninguém escapa disso. Fórmula de humildade e solidariedade com toda a humanidade. Nem eu me escaparei disso e nem você se escapará disso. Um dia eu vou pegar aquele caminho através do qual todos os homens passam. Eu preciso ter consciência disso para começar a parar de ter tanta ganância, de tanta prepotência, de tanta falta de amor fraterno para começar a viver na fraternidade. Eu preciso valorizar a vida que cada dia, pois um dia se escapa de mim. Eu preciso valorizar minha família, o almoço junto com a minha família, pois um dia tudo acabará neste mundo em que eu vivo. Eu preciso deixar uma marca de minha passagem neste mundo: que as pessoas melhorem por causa da minha presença com elas.


Sê corajoso e porta-te como um homem. É o segundo conselho de Davi ao seu filho Salomão. É o conselho de valentia. Não se deixar abater. As pessoas podem tomar somente o que temos, mas nunca o que somos. Permanecer em pé nas adversidades confiando em Deus é o que Davi fala para seu filho, Salomão. Quando as forças humanas começarem a se esgotar, a fé vai renová-las outra vez.


Sê corajoso e porta-te como um homem”. Aquele  que nos criou a sua imagem e semelhança é o único ponto de referência  para que o homem encontre sua realização plena. Por isso, Davi convida seu filho Salomão dizendo-lhe: tenha valor e seja homem! E em seguida, Davi indica a Salomão, seu filho que viva fiel a Deus seguindo Seus caminhos e observando seus mandamentos. À margem do Senhor, ninguém pode chegar a ser plenamente homem. Por temos que estar sempre dispostos não somente a caminhar na presença do Senhor, mas também a escutaar sua Palavra e a pô-la em prática. Aprendamos a crer n´Aquele que Deus Pai nos enviou e aprendamos a tomar nossa cruz de cada dia e ir, generosa e amorosamente atra´s de suas pegadas. Somente então que Deus se converterá para nós em uma bênção.


Além disso as últimas recomendações de Davi são todo um programa de atuação para um rei que deve ser eficaz politicamente, mas, ao mesmo tempo, humilde servidor de Deus: “Observa os preceitos do Senhor, teu Deus, andando em seus caminhos, observando seus estatutos, seus mandamentos, seus preceitos e seus ensinamentos, como estão escritos na lei de Moisés. E assim serás bem-sucedido em tudo o que fizeres e em todos os teus projetos”.


Palavras de “adeus” são as do rei Davi moribundo, que se sente, por uma parte, coberto de bênçãos do alto do céu, e, por outra parte, marcado por muitos pecados que acontecem em sua vida. Quer nos dizer que Deus atua muita por cima de nossos merecimentos, porque sua escolha de nós e sua fidelidade duram para sempre. Deus se compadece em derramar bondades sobre aqueles que sendo pecadores reconhecidos, Lhe pedem perdão, como Davi.


Vivamos, pois, sempre na presença do Senhor, ao menos como pecadores arrependidos.


Começa assim o reinado de Salomão no qual a monarquia chegará a seu maior esplendor, que durará muito pouco, porque imediatamente depois, com a divisão do Norte e o Sul, começará a decadência.


Também deveria ser este o tom das recomendações que uns pais fazem para seus filhos ou uns educadores aos que estão se formando. Os valores que mais lhes vão servir em sua vida, mais que as riquezas ou os títulos, são os valores profundos humanos e cristãos. Valores que, num tempo de tanta corrupção, de tanta mentira e de tana superficialidade, lhes darão consistência humana e lhes atrairarão a bênção de Deus e a simpatia e a solidariedade dos homens.


Quando programarmos nossa vida, ou uma próxima etapa ou o próximo ano, também deveríamos dar importância aos valores mais profundo, e não aos mais aparentes. Não viver superficialmente; Viver com responsabilidade; Estar antento a Deus; Seguir os caminhos de Deus e Estar em comunhão com a vontade de Deus são os conselhos de Davi que jamais perdem sua atualidade, pois estão ai o coração de nossa vida.


Somos Todos Os Enviados Do Senhor


O evangelho nos fala do envio dos discípulos para a missão. Eles já têm acompanhado Jesus durante um período relativamente longo. Eles têm escutado os ensinamentos de Jesus em parábolas e suas explicações complementares. Têm presenciado seus milagres. Agora eles devem empreender a segunda fase do programa, pregando a conversão e dando a conhecer a oferta divina de salvação.


 Jesus chamou os doze e começou a enviá-los...”


Esta é a primeira vez que os Doze vão se encontrar sós, sem Jesus, longe dele. É o tempo da Igreja. É o tempo da prática.


Durante os cinco primeiros capítulos de seu relato, o evangelista Marcos nos apresentou Jesus com seus discípulos, com muita insistência, diante da multidão e dos adversários. No momento de sua vocação (Mc 3,13-14), o evangelista Marcos havia dito: “Jesus constituiu Doze para que ficassem com ele, para enviá-los a pregar...”.  É igual ao movimento do coração: diástole, sístole... O sangue vem ao coração e do coração é enviado ao organismo. Dessa maneira é que o organismo pode se manter. É o mesmo movimento do apostolado: viver com Cristo, ir ao mundo para levar o Cristo; intimidade com Deus, presença no mundo com o espírito de Deus. Quem não vive, primeiro, com Cristo, não pode ser um bom missionário, não pode ser um cristão crível no mundo. Um cristão tem que animar tudo com espírito de Cristo.


O texto procura mostrar como deve agir o seguidor de Jesus e o que vai acontecer com ele se sair pelo mundo para pregar o Evangelho. Tudo isto se resume numa só idéia: o seguidor deve agir como o Mestre Jesus agiu. O que aconteceu com o Mestre vai acontecer também com o discípulo, pois o discípulo não é maior do que o próprio Mestre (Mt 10,24).


No Evangelho de hoje Jesus anuncia alguns pontos fundamentais para o discípulo/seguidor realizar a missão:


Em primeiro lugar, o texto diz que Jesus envia os discípulos dois a dois. “Dois a dois” indica que a missão é um serviço comunitário e os cristãos devem ajudar-se mutuamente em suas atividades; não é um trabalho de promoção pessoal; é um trabalho de conjunto ou coletivo. “Ir dois a dois” implica também a afirmação da igualdade e exclui a subordinação de um ao outro (cf. Dt 19,15). Quem vive o Evangelho do Senhor deve estar em sintonia com os irmãos da sua comunidade.


Jesus começou a enviá-los dois a dois...” Independentemente das razoes bíblicas esta expressão é muito moderna e avançada. Na Igreja de Jesus não se trabalha só e sim em equipe. É a vontade explicita de Cristo. A atitude de quem trabalha na Igreja, na comunidade eclesial deve ser interrogada a partir daqui. O individualismo tem formas muito sutis: não gostamos que os nossos irmãos controlem nossos próprios comportamentos apostólicos e outros comportamentos; cada um quer ser uma estrela solitária a ponto de apagar o brilho do outro; nada se discuta, cada um vai fazer as coisas do jeito que quer. O pior é que o Cristo fica de lado ou de costas para a pessoa em questão estar em destaque.


Em segundo lugar, Jesus deu aos doze o poder messiânico de Cristo contra as forças do mal, ou seja, a autoridade para libertar as pessoas de tudo aquilo que aliena, oprime e despersonaliza as pessoas. O evangelista Marcos resume o poder dos enviados em três palavras: o carisma da “palavra” que proclama a necessidade de mudança de vida; o carisma de expulsar demônios, isto é, o poder contra o mal; e o carisma de “curar os enfermos”, isto é, melhorar a vida humana na sua qualidade.


Eles são enviados com autoridade sobre os espíritos imundos, para dominá-los e não para dominar os outros irmãos.  O cristão tem o poder de tirar esse mal, pois o Senhor Jesus lho deu. A primeira tarefa de cada cristão consiste em tirar o mal que está no meio das comunidades, no meio da própria família, de dentro do próprio coração. Quem é livre pode libertar os outros. O enviado de Jesus, cada cristão deve instaurar um mundo mais justo e fraterno; deve melhorar a vida humana.


Em terceiro lugar, Jesus exige dos doze um modo de vida baseada num desprendimento absoluto dos bens materiais (vv.8-9). Jesus pede que os discípulos vivam um estilo de austeridade e a pobreza evangélica de modo que não se ponham ênfase nos meios humanos: econômicos ou técnicos e sim na força de Deus que ele lhes transmite. Deus não se serve de anjos nem de revelações diretas. É a Igreja, ou seja, os cristãos que continuam e visibilizam a obra salvadora de Cristo e o modo de vida do cristão deve ser reflexo do de Cristo. A linguagem que o mundo de hoje facilmente entende: austeridade e o desinteresse na hora de fazer o bem: o cristão deve fazer o bem pelo bem e não por algum interesse por trás. É claro que necessitamos os meios que fazem parte da evangelização, porém jamais podemos nos deixar de nos apoiar na graça de Deus e na nossa fé sem buscar seguranças e prestígios humanos.


Trata-se de uma pobreza voluntária, porque somente assim eles poderiam ser considerados como fidedignos. Jesus enfatiza mais o ser dos discípulos do que o seu ter. Jesus não despreza os bens deste mundo, não apresenta a miséria como um ideal de vida, mas alerta para o perigo de nos deixarmos condicionar pela posse de bens materiais. A porta da morte é tão estreita que somente passa aquilo que é a bagagem de amor na condivisão dos bens materiais com os irmãos e irmãs que não têm nada para sua vida.


O desapego a tudo não implica somente a renúncia a uma carga pesada de bens materiais, mas também o abandono de preconceitos, de tradições, de idéias retrógradas, às quais muitas vezes estamos amarrados de uma forma emocional e irracional. Referimo-nos ao pesado ônus representado por certos usos, por certos costumes, por certas tradições religiosas embutidas em determinado ambiente histórico e cultural, que muitos, confundem ou equiparam com os valores do Evangelho. Não podemos acumular “bastões”, “dinheiro”, “sandálias” e “túnicas”.


Em quarto lugar, Jesus envia os doze para pregar a mudança de vida (conversão) para si e para os outros (v.12). Para Jesus, a conversão é condição sine qua non para construir uma sociedade nova ou Reino de Deus (Mc 1,15). A conversão sempre envolve movimento de uma dimensão para outra. E isso envolve a pessoa toda, não apenas seu senso moral, sua capacidade intelectual ou sua vida espiritual. Corpo, mente e alma juntos são afetados pelo ato da conversão, e as conseqüências são sentidas em todos os aspectos da vida da pessoa, inclusive nos campos social e político.


Em quinto lugar, a outra instrução de Jesus prevê uma atitude de bom senso e formação de comunidade: “Quando vocês entrarem numa casa, fiquem aí até partirem” (v.10).


É interessante observar que não se fala para os discípulos irem às sinagogas, instituição judaica, o que seria contrario à finalidade do envio. Menciona-se somente “o lugar” e “a casa/ família” que podem encontra-se em qualquer país. Hão de aceitar a hospitalidade que a eles é oferecida, sem mudar de casa, para não desprezar a boa vontade do povo nem afrontar a hospitalidade oferecida. Os discípulos devem aceitar o que a eles são oferecidos sem mostrar reações ao uso do lugar.


“Quando vocês entrarem numa casa, fiquem aí até partirem” (v.10). Isto não indica a plena estabilidade para os discípulos, mas um local onde, com a sua partida, a comunidade possa continuar a se reunir e dar prosseguimento à Boa Nova do reino. Os cristãos devem ensinar os outros a assumirem o compromisso, a andarem com as próprias pernas.


Para os Doze, o novo Israel, esta instrução implica uma mudança radical de mentalidade: entrar em casa de pagãos, desprezados pelos judeus, e depender deles para a sobrevivência. Jesus pretende que os discípulos esqueçam sua identidade judaica para colocar-se no plano da humanidade. É preciso viver a humanidade para se tornar humano para os outros.


À luz do Evangelho de hoje procuremos nos perguntar: será que somos meros espectadores e admiradores de Jesus ou somos seus seguidores? O que pode estar tornando menos convidativo e pouco crível a nossa mensagem? Qual é o testemunho que devemos dar para que os outros acreditem na nossa mensagem? É impossível ser um verdadeiro cristão sem estar com Cristo antes.
P. Vitus Gustama,svd

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