quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

14/02/2020
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É NECESSÁRIO UNIR-SE E COMUNICAR-SE PARA PARTILHAR OS DONS
Sexta-Feira Da V Semana Comum
 


Primeira Leitura: 1Rs 11,29-32; 12,19
11,29 Aconteceu, naquele tempo, que, tendo Jeroboão saído de Jerusalém, veio ao seu encontro o profeta Aías, de Silo, coberto com um manto novo. Os dois achavam-se sós no campo. 30 Aías, tomando o manto novo que vestia, rasgou-o em doze pedaços 31 e disse a Jeroboão: “Toma para ti dez pedaços. Pois assim fala o Senhor, Deus de Israel: Eis que vou arrancar o reino das mãos de Salomão e te darei dez tribos. 32 Mas ele ficará com uma tribo, por consideração para com meu servo Davi e para com Jerusalém, cidade que escolhi dentre todas as tribos de Israel”. 12,19 Israel rebelou-se contra a casa de Davi até o dia de hoje.


Evangelho: Mc 7,31-37
Naquele tempo, 31Jesus saiu de novo da região de Tiro, passou por Sidônia e continuou até o mar da Galileia, atravessando a região da Decápole. 32Trouxeram então um homem surdo, que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse a mão. 33Jesus afastou-se com o homem, para fora da multidão; em seguida, colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou a língua dele. 34Olhando para o céu, suspirou e disse: “Efatá!”, que quer dizer: “Abre-te!” 35Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade. 36Jesus recomendou com insistência que não contassem a ninguém. Mas, quanto mais ele recomendava, mais eles divulgavam. 37Muito impressionados, diziam: “Ele tem feito bem todas as coisas: Aos surdos faz ouvir e aos mudos falar”.
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Que Todos Sejam Um É o Querer De Jesus Para Todos Os Homens


Aparecem na Primeira Leitura dois personagens: o profeta Aías e Jeroboão no momento de crise da casa de Davi: Divisão do reino.


Aías, cujo significado em hebraico “meu irmão é o Senhor”, é bisneto do sacerdote Eli e filho de Aitube. Ele era sacerdote em Silo. Sempre acompanhava o rei Saul para lhe dar orientação e era um dos responsáveis pela Arca da Aliança, quando Jônatas conquistou uma importante e notável vitória sobre os filisteus (1Sm 14,3.18). Era profeta de Silo que se opôs à idolatria de Salomão e falou sobre a divisão do reino, rasgando simbolicamente seu próprio manto. As doze partes desta roupa simbolizavam a ruptura do reino. Dez tribos se revoltaram contra Roboão que é filho e sucessor de Salomão e fizeram Jeroboão rei no Norte (1Rs 11,29-31). O neto de Davi (Roboão) ficou como rei no Sul, sobre as tribos de Judá e Benjamin. A razão teológica para a divisão do reino foi o sincretismo e a apostasia de Salomão (1Rs 11,7-13; 12,15; 2Cr 9,29; 10,15).


O oráculo de Aías (1Rs 11,29-39) é uma composição deuteronomista, cujo objetivo fundamental é oferecer, antecipadamente, uma interpretação teológica da separação dos dois reinos (Norte/Israel e Sul/Judá). Como em outros textos proféticos, a mensagem é previamente representada através de um gesto simbólico: o manto é rasgado em doze pedaços (1Rs 11,29-31ª; 1Sm 15,27-28).


O segundo personagem é Jeroboão. Ele era um homem proeminente da tribo de Efraim (uma tribo poderosa nortista) a quem o rei Salomão colocou como supervisor de todo o trabalho forçado. Essa nomeação real colocou Jeroboão no centro de um conflito político entre as tribos do Norte (Israel) e do Sul (Judá). Jeroboão foi o maior adversário de Salomão contra a idolatria praticada por Salomão por causa de suas esposas estrangeiras que adoram seus deuses. Jeroboão liderou uma rebelião contra a casa de Davi e tornou-se rei sobre as dez tribos do Norte. Ele governou o reino do Norte (Israel) de 930 a 909 a.C. Por medo de o povo voltar para adorar Deus no Templo de Jerusalém (1Rs 12,26-27), Jeroboão inaugurou dois centros de culto alternativo: um em Betel (alguns quilômetros de Jerusalém) e o outro no extremo norte de Israe, na região de Dã. A atitude de Jeroboão foi interpretada não somente contra Roboão, mas também contra o Senhor que estabelece sua morada no Templo de Jerusalém, o único local de adoração (1Rs 8,27-30). Futuramente, Jeroboão cometerá a idolatria ao misturar a adoração a Deus com o culto a Baal.


O texto da Primeira Leitura nos relatou o início da divisão do reino sob o comando de Roboão, filho de Salomão cujo começo partiu da idolatria de seu pai, o rei Salomão. O reino de Norte em Israel finalmente volatará a viver separado como antes dos reinados de Davi e Salomão (foi Davi que unificou os dois reinos).


As causas do cisma são as falhas de Salomão que colhem seus frutos. Ao se casar com mulheres estrangeiras, por razões de prestígio político, introduziu cultos idólatras: os profetas de Yahweh reagem contra a idolatria. Os fatos grandiosos e as construções de Salomão pesavam sobre a economia do país, em particular sobre os pobres. A rebelião se torna realidade. As reformas administrativas favoreceram o feudo real, a tribo de Judá (Sul), em detrimento das tribos do norte que exigirão autonomia, que no fundo permaneceu fiel à memória de Saul e se sentiu marginalizado em relação aos de Judá. Mas neste livro dos Reis tudo é interpretado como castigo pelo mal que Salomão tinha vindo a fazer no final.


Mais uma vez, a Bíblia nos desafia ou interpela. Não podemos simplesmente ficar com a história desses acontecimentos "antigos": problema da idolatria. É necessário ouvir o que Deus quer dizer HOJE, através desses textos. O pecado da idolatria e do egoísmo tem consequências fatais a curto ou longo prazo. Este tema (idolatria) não pode ser próprio somente de épocas passadas. Também atualmente se inventam ideologias alienadas, fetiches e ídolos. Também em qualquer lugar e época existem pessoas egoístas e sistemas de opressão que para manter-se em seus privilégios produzem ídolos justificadores, aos quais diariamente oferecem suas vítimas.


O Deus revelado na Bíblia está sempre muito acima da debilidade e da incapacidade humana; é sempre o Deus que não aceita o medo e a alienação do povo. O Deus que promete a libertação pode realizar essa libertação. Recusar o projeto de Deus como não viável é um ato de idolatria. Deus é transcendente, não porque é invisível ou espiritual e sim porque atua muito além de toda possibilidade humana. Ele pede que acreditemos n´Ele apesar das dificuldades encontradas. O Deus transcendente é sempre o Deus da esperança contra toda esperança. A idolatria geralmente acontece nos momentos de crise. O homem sempre é tentado para obter ou buscar um resultado imediato, sem processo nem esforço. O verdadeiro Deus, o Deus da Bíblia interpela, exigindo sempre mais. O ídolo pede sempre menos: justifica qualquer tipo de injustiça ou de desamor. Por isso, a presença de Deus se manifesta principalmente através da Palavra. Ao contrário, as atitudes idolátricas se manifestam especialmente através de imagens. Por isso, o povo deve encontrar sua força e identidade na fé no Deus libertador que deve ser traduzida em relações de justiça e fraternidade entre seus membros. A acumulação de riquezas e poder nas mãos  dos reis, como aconteceu com o rei Salomão, rompe estas relações fraternas com que o povo é conduzido longe de seu Deus para ir atrás de deuses estrangeiros, destruindo assim sua própria identidade.


Não podemos negar as divisões que por diversas causas, foram ou são geradas dentro da Igreja, entre os próprios cristãos. O Senhor nos chama à unidade. O Senhor Jesus pede essa unidade ao Pai na Última Ceia (cf. Jo 17,6-26). São Paulo nos lembará que devemos viver unidos por um só Senhor, uma só fé, um só Batismo, um só Deus e Pai. Somente o Espírito Santo que habita no coração dos centes, alcançará a unidade entre todos os homens. No entanto, por querer manipular o mesmo Espírito, muitos também o converteram em uma razão de divisão, dando preeminência, não para amar, mas para os carismas que deveriam nos colocar ao serviço dos outros.


Temos que ouvir em silêncio e com a cabeça inclinada a queixa de Deus no Salmo Responsorial de hoje (Sl 80): “Mas meu povo não ouviu a minha voz, Israel não quis saber de obedecer-me. Deixei, então, que eles seguissem seus caprichos, abandonei-os ao seu duro coração. Quem me dera que meu povo me escutasse! Que Israel andasse sempre em meus caminhos! Seus inimigos, sem demora, humilharia e voltaria minha mão contra o opressor”.


Sou um daqueles que se resignam aos cismas, á divisão entre os cristãos, ao racismo, à opressão? ou, mais modestamente, sou daqueles que não fazem nenhum esforço para retomar os contatos perdidos? Sou aquele que tem como filosofia de vida: “Estou nem ai. Cada um se vire como pode!”?


Felizes a família, a comunidade ou as pessoas que conhecem e entendem, que apreciam cordialmente seus valores de unidade cultural, social e religiosa, e aproveitam corretamente seus benefícios em harmonia compartilhada.


Evangelho e Sua Mensagem Para Nós


Viagem de Jesus por terra pagã continua: Tiro, Sidônia, Decápole. Tem como personagem central do relato de hoje é um homem surdo que fala com dificuldade.


Na tradição profética, a surdez e a cegueira são figuras da resistência à mensagem de Deus (Is 6,9; 42,18; Jr 20-23; Ez 12,2). Paralelamente, no evangelho, são figura da incompreensão e da resistência à mensagem de Jesus.

No processo da cura do surdo-mudo, Jesus abre primeiro os ouvidos do homem, depois desata sua língua. Com isso, Jesus coloca o homem em situação de escutar primeiro para depois falar.


Todos nós sabemos que a capacidade de falar depende também da capacidade que o homem tem para escutar. Por isso, as crianças, antes de começar a falar, antes de poder falar, necessitam desenvolver sua capacidade auditiva. Falar significa abrir o próprio interior, colocar-se ao lado de alguém de igual a igual. Escutar é estar em sintonia com o outro para entender sua mensagem. Escutar supõe a existência de silêncio. Se você nunca pode calar-se, pergunte-se o que é que você quer esconder? Uma conversa sem silêncios é desperdício de monólogos sem destinatários. “Para o sábio é difícil falar de sua sabedoria e para o tolo é difícil calar suas tolices” (René Juan Trossero).


Um cristão ou qualquer pessoa de boa vontade precisa aprender a escutar, a falar e a calar a seu tempo, levando a sério a verdade e a caridade fraterna. Quando buscarmos a verdade e levarmos em consideração a caridade fraterna, falaremos e escutaremos com responsabilidade, isto é, saber escutar quando há que escutar; saber calar quando há que calar e saber falar quando, como e o que há que falar. Para isso, precisamos manter nossos ouvidos e coração abertos à Palavra de Deus, pois a Palavra de Deus tem o único objetivo: salvar a humanidade. Muitas tragédias na Bíblia eram frutos da falta da escuta da Palavra de Deus.


Pode ser que não sejamos surdos fisicamente. Mas hoje em dia ficamos cada vez mais duros de ouvido porque todos nós temos que filtrar o que ouvimos a fim de não sentirmos oprimidos, irritados, desorientados pela superabundância de informações, de barulhos e de conversas que entram em nossa vida com uma velocidade impressionante. E os nossos ouvidos continuam a ficar abertos em tempo integral. Cada dia uma quantidade enorme de notícias entra na nossa vida, mas sem a qual não poderíamos nos posicionar bem nesta vida. Podemos ficar tristes ou alegres, animados ou desanimados por aquilo que ouvimos e pelo modo como ouvimos e pela maneira que interpretamos sobre o que ouvimos e os acontecimentos. O que precisamos manter é a capacidade de sintetizar todas as informações para construir nossa própria vida e nossa convivência. Tudo o que ouvimos, para poder compreendê-lo temos que organizá-lo em um determinado horizonte, o qual é distinto de pessoa a pessoa. Tal horizonte se produz a partir de decisões vitais para nossa vida: o que preciso ouvir e o que eu preciso evitar de ouvir. Aquilo que eu ouço é capaz de me dar um bom descanso ou de tirar meu bom sono. É preciso termos uma audição seletiva para todas as informações para não formarmos nossa personalidade erradamente. Sem a audição seletiva um dia as coisas, que não deveriam entrar, acabarão dando comando para nossa vida. Conseqüentemente, as portas que deveriam ficar fechadas, estarão abertas e as que deveriam abertas, ficarão fechadas. Em outras palavras, perderemos totalmente o controle sobre nossa vida por falta desta audição seletiva. Um veículo sem bom controle de seu piloto tem grandes possibilidades ou probabilidades de ter acidente.


O personagem central da cena do evangelho de hoje é um surdo-mudo. O homem foi criado para se comunicar. Por isso, mudez e surdez são dois empecilhos para a comunicação fluente. Esta era a situação do homem que foi apresentado para Jesus.


Boca e ouvido têm um rico simbolismo na Bíblia. O ser humano precisa da boca para cantar os louvores de Deus e proclamar Suas maravilhas e narrar às gerações futuras a misericórdia de Deus. Através dos ouvidos o homem é instruído nos caminhos de sabedoria. Mas a língua pode levar o homem a perder-se. Daí o provérbio: “Falar com sabedoria é prata, ouvir com amor é ouro”.


Para o evangelista Marcos esse homem representa aqueles que vivem fechados no seu mundo sem partilha, sem diálogo. O surdo-mudo representa aqueles que não se preocupam em comunicar, em partilhar a vida, em dialogar, em deixar-se interpelar pelos outros. O surdo-mudo representa aqueles que vivem instalados, no seu egoísmo, nas suas certezas e nos seus preconceitos, convencidos de que é dono absoluto da verdade. Uma pessoa que está cheia de si paradoxalmente é uma pessoa vazia. 


“Abre-te”, diz Jesus ao surdo-mudo. E ele saiu de seu isolamento e de seu silêncio mortal. Este “abre-te” é também dirigido a cada um de nós.  A ordem “abre-te” existe porque há dentro de nós algo fechado. O que é que está muito fechado em você que o impede de se comunicar com os demais e com o mundo? Abra seu coração a quem lhe oferece a amizade. Abra-se aos que necessitam de seu carinho. Abra seus ouvidos e mova sua língua para aqueles que necessitam de suas palavras de consolo e de conforto. Quem tem ouvidos novos e os lábios libertados do mal tem também os olhos abertos para os demais, a mão estendida para os necessitados e o coração limpo para testemunhar o verdadeiro amor. Quem faz o bem não faz barulho. Como dizia o Papa Pio XI: “O bem não faz barulho e o barulho não faz bem”.


 “Abre-te!”, diz Jesus a cada um de nós. Cada um precisa se perguntar: “O que é que está fechado em mim que necessita do toque de Jesus para eu poder ser libertado?”.


Para Ser Lembrado


“Jesus colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou a língua dele. Olhando para o céu, suspirou e disse: ‘Efatá!’ que quer dizer: ‘Abre-te!’ Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade”.

A comunidade cristã entendeu o valor sacramental do ensinamento de Jesus e realiza sobre os candidatos para o batismo, sobre os catecúmenos, o gesto de Jesus. Quem preside toca os ouvidos do candidato para que possa acolher a Palavra de Deus e a boca para professar a fé: “O Senhor Jesus, que fez os surdos ouvir e os mudos falar, te conceda que possas logo ouvir sua Palavra e professar a fé para louvor e glória de Deus”.
P. Vitus Gustama,svd

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