segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

10/01/2020

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QUEM CRÊ EM DEUS SE TORNA UMA MÃO QUE AJUDA

Sexta-feira Após Epifania

Primeira Leitura: 1Jo 5,5-13 
Caríssimos, 5 quem é o vencedor do mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus? 6 Este é o que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo. (Não veio somente com a água, mas com a água e o sangue.) E o Espírito é que dá testemunho, porque o Espírito é a Verdade. 7 Assim, são três que dão testemunho: 8 o Espírito, a água e o sangue; e os três são unânimes. 9 Se aceitamos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior. Este é o testemunho de Deus, pois ele deu testemunho a respeito de seu Filho. Aquele que crê no Filho de Deus tem este testemunho dentro de si. 10 Aquele que não crê em Deus faz dele um mentiroso, porque não crê no testemunho que Deus deu a respeito de seu Filho. 11 E o testemunho é este: Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está em seu Filho. 12 Quem tem o Filho, tem a vida; quem não tem o Filho não tem a vida. 13 Eu vos escrevo estas coisas a vós que acreditastes no nome do Filho de Deus, para que saibais que possuís a vida eterna.

Evangelho: Lc 5,12-16
12 Aconteceu que Jesus estava numa cidade, e havia aí um homem leproso. Vendo Jesus, o homem caiu a seus pés, e pediu: “Senhor, se queres, tu tens o poder de me purificar”. 13 Jesus estendeu a mão, tocou nele, e disse: “Eu quero, fica purificado”. E imediatamente, a lepra o deixou. 14 E Jesus recomendou-lhe: “Não digas nada a ninguém. Vai mostrar-te ao sacerdote e oferece pela purificação o prescrito por Moisés como prova de tua cura”. 15 Não obstante, sua fama ia crescendo, e numerosas multidões acorriam para ouvi-lo e serem curadas de suas enfermidades. 16 Ele, porém, se retirava para lugares solitários e se entregava à oração.
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Quem Vive a Fé e Da Fé Em Jesus Cristo Vence o Mundo

Caríssimos, quem é o vencedor do mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?”, escreveu são João na Sua Carta.

No vocabulário de são João sabemos que o termo “mundo” se refere ao homem que se fecha em si mesmo e é tentado de construir-se e salvar-se por suas próprias forças; é aquele que está contra aos planos e a vontade de Deus. O verdadeiro cristão venceu essa tentação: não vive fechado em si mesmo, mas aberto a Deus e a Sua vontade; venceu a ridícula e vã tentativa de querer “divinizar-se” por si mesmo e deixa o êxito de toda sua vida nas mãos de Deus.

A fé nos faz vencedores de qualquer tentação. A fé nos abre a Deus que faz que nossa salvação e o êxito de nossa vida confiemos e Jesus, Filho de Deus.

Mesmo assim, a fé é uma realidade complexa, pois implica várias dimensões e desempenha diversas funções. A fé é o fundamento da esperança. Temos fé em Deus e por isso vivemos na esperança que jamais falhará. A esperança é o horizonte da fé. Esperançamos e por isso, cremos. A atitude do cristão (crente) se baseia no testemunho de Deus; Deus mesmo se comunica, nos fala. Deus se dirige a nós, nos interpela. Deus se aproxima de nós. O autotestemunho que Deus dá é seu próprio Filho que nos deu a vida. Quem tem o Filho, tem a vida. Quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida.

Além do mais, a fé cristã tem importantes funções. Ela liberta o homem do medo; liberta da autossuficiência (prepotência), do poder destruidor da ignorância de Deus. Mas o texto de são João (Primeira Leitura) põe em destaque uma função decisiva da fé: nossa fé vence o mundo. Quem crê que Jesus é o Filho de Deus, vence o mundo. A fé no Filho tem a força em si mesma para vencer o temor à morte; tem luz para iluminar a escuridão da vida e da morte; tem coragem para superar o medo que nos paralisa; cura as feridas dos fracassos na luta para mudar este mundo e convertê-lo em Reino de Deus. Por isso, não nos deixemos fechar no finito e no imediato. Mantenhamo-nos despertos com capacidade de luta e de superação o medo pelo futuro melhor. É sempre bom ter uma pergunta a mais para nossas respostas para não ficar na monotonia estéril. A fé cristã é confiança no Deus que faz possível o que parece impossível; que cumpre Suas promessas, às vezes, por caminhos desconhecidos para nós.

No texto de hoje, também são João afirma: “Este é o que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo” (1Jo 5,6). “A água e o sangue” têm um duplo significado simbólico em são João: a água e o sangue simbolizam a obediência filial de Jesus até a morte, por amor a todos os homens. São João viu isto. Estava ao pé da Cruz. O confirma. O Coração aberto de Jesus de que mana “a água e o sangue” é o símbolo mais forte e expressivo do amor. Por amor Jesus fez tudo até o mais cruel: aceitar ser crucificado como se fosse um criminoso. Até para fazer o bem, muitas vezes, encontramos dificuldades.

A água e o sanguesimbolizam também a sacramentalidade eclesial: a presença do Ressuscitado é perpetuada por seu Corpo que é a Igreja, e que se expressa em uns ritos visíveis, os sacramentos. Os sacramentos são momentos de salvação: Deus continua salvando a humanidade; Deus continua a estar presente na Igreja, independentemente da situação de seus membros, pois a Cabeça (Cristo) está unida ao Corpo que é a Igreja. Em particular, o Batismo e a Eucaristia, “a água e o sangue”, o mais forte testemunho, HOJE, do dom de Deus aos homens.

Nós certamente estamos entre os que creem em Jesus como o Enviado e o Filho de Deus. Porém, deveriam ser mais claras as consequências desta fé. Podemos dizer que estamos vencendo o mundo? Vamos vencendo o mal que há dentro de nós e no mundo? Participamos com êxitos na grande batalha entre o bem e o mal? Quem, na verdade, venceu o mundo é Jesus Cristo (Cf. Jo 16,33). Nós se somos seguidores do Senhor Jesus, deveríamos estar já participando da mesma vitória. Se cremos em Jesus Cristo, deveríamos sentir já dentro de nós a vida que Ele nos comunica. Sobretudo, quando recebemos Cristo como alimento de vida na Eucaristia: “Quem come minha Carne e bebe meu Sangue, tem a vida eterna” (Jo 6,54).

A figura de Jesus, tal como aparece no Evangelho deste dia, é a figura de uma pessoa que tem bom coração, que sempre está disposto a “estender a mão e tocar” quem sofre, para curá-lo e dar-lhe ânimo. Nós que cremos em Jesus Cristo e O seguimos, temos essa mesma atitude de proximidade e de apoio para os que sofrem? Ou somos duros em nossos juízos, agressivos em nossas palavras, indiferentes em nossa ajuda? Ser solidários e estender a mão para quem sofre é já meio para curá-lo. É dar-lhe esperança como fazia sempre Jesus Cristo.

Ser Cristão é Ser Mão Estendida De Jesus Cristo Para Ajudar Os Que Sofrem

Na época de Jesus todas as doenças eram consideradas como um castigo de Deus, como o reflexo ou consequência de uma enfermidade moral, mas a lepra era o próprio símbolo do pecado e era considerada como castigo divino por excelência (cf. Dt 28,27-35). E a lepra era considerada como a própria morte, pois dificilmente podia ser curada. A cura da lepra era, por isso, considerada um milagre, como se fosse uma ressurreição de um morto. Isto quer dizer que somente Deus podia curá-lo dessa lepra. Acreditava-se, além disso, que a lepra era um instrumento eficaz usado por Deus para castigar os invejosos, os arrogantes, os ladrões, os assassinos, os responsáveis por falsos juramentos e por incestos. Os leprosos deviam entrar nas cidades, rasgar suas roupas. E para todos os que se aproximavam deles, os leprosos deviam gritar: “Impuro! Impuro!”.

No tempo de Jesus, sob o nome de lepra incluíam diversas enfermidades da pele de caráter mais ou menos grave, entre as quais se incluía aquela que atualmente recebe o nome de lepra. O homem que a padecia se convertei em impuro, excluindo-o da comunidade cultual e social do povo de Israel.

No Antigo Testamento os leprosos eram considerados como impuros (cf. Lv 13,3), por isso eram excluídos de quaisquer direitos sociais e eram marginalizados do convívio da comunidade até a sua cura (eles deviam ficar fora dos povoados), pois a lepra era considerada como uma impureza contagiosa (cf. Lv 13,45-46). Qualquer judeu piedoso evitava o contato com um leproso para não se tornar impuro. O leproso sofria, então, não somente fisicamente, mas também psicológico e social e religiosamente. O leproso estava condenado à morte. O leproso é o protótipo da marginalização religiosa e social imposta pela Lei(Lv.13,45-46). E para a lepra não tinha nenhum remédio. Restava esperar um milagre para sobreviver. 

No meio da falta de solução e de saída, Jesus apareceu na vida do leproso para superar seu problema. Aproximou-se de Jesus um leproso e lhe suplicou: “Senhor, se queres, tu tens o poder de me purificar”. A oração desse leproso é breve e confiante. O leproso se aproxima de Jesus porque acredita no poder de Jesus para curá-lo. Ele deposita totalmente sua confiança em Jesus. E por isso ele toma coragem de se aproximar de Jesus apesar da proibição ritual.

São João, através do texto da primeira leitura (1Jo 5,5-13) lança a seguinte pergunta-resposta: “Caríssimos, quem é o vencedor do mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?”. No vocabulário de são João nós sabemos que o termo “mundo” significa “o homem fechado em si mesmo e tentado de construir-se e salvar-se por suas próprias forças”, mas acaba se destruindo e a vida termina com a morte, pois ele acredita apenas na vida aqui no mundo. O verdadeiro cristão vence essa tentação, pois ele não vive encerrado em si mesmo e sim aberto a Deus; vence a ridícula e vã tentativa de “divinizar-se” por si mesmo e deixa o êxito de toda sua vida nas mãos de Deus, a exemplo do leproso que se deixa tocar por Jesus para ser libertado daquilo que o impede de relacionar-se com Deus e com os demais homens. A verdadeira fé nos faz vencedores.

Nós estamos, certamente, entre os que crêem em Jesus como o Enviado e o Filho de Deus. Por isso, celebramos o Natal do Senhor com alegria e fé cristã. Cristo venceu o mundo (cf. Jo 16,33). Somos seguidores do Senhor, mas será que participamos já da mesma vitória de Cristo? Será que vencemos o mal que há em nós e no mundo? Quem crê em Cristo verdadeiramente, deve sentir já dentro de si a vida que Cristo lhe comunica. A fé é o fundamento da esperança. E a esperança é o horizonte da fé. Esperamos e por isso, cremos. E cremos e por isso, esperamos.

Como resposta ao pedido do leproso, Jesus estendeu a mão e tocou nele e disse: “Eu quero. Fica purificado”. A palavra de Deus se torna fato, se for escutada, obedecida e praticada. A força salvadora de Deus está na ação de Jesus. De fato, o leproso ficou curado. Podemos imaginar alegria deste homem que era solitário, abandonado, excluído e maldito pela sociedade, e agora feliz, pois volta a olhar para o futuro com muita esperança e otimismo. Quem devolveu essa esperança para ele é Jesus que veio para salvar a humanidade.

A mão estendida, o contato é um sinal de amizade. Jesus se apresenta como amigo do sofredor, do abandonado e se aproxima dele para dizer que o sofredor não está sozinho. Jesus não tem medo de ficar “impuro” segunda as regras rituais ao tocar no leproso. Com o gesto de tocar Jesus compartilha os dramas da humanidade. Por este humilde gesto Jesus reintegra o leproso curado na sociedade dos que o excluíam.

Esta mão estendida é também um gesto de vitória. Esta mão estendida é o gesto de amor. É uma mão pronta para ajudar como ajudou Pedro que estava para afogar. É uma mão que está pronta para ajudar quem se encontra em dificuldades. Não é por acaso que de vez em quando cantamos a música do compositor Nelson Monteiro de Mota: “Se as águas do mar da vida quiserem te afogar. Segura na mão de Deus e vai. Se as tristezas desta vida quiserem te sufocar. Segura na mão de Deus e vai. Segura na mão de Deus, pois ela te sustentará. Não temas, segue adiante e não olhes para trás. Segura na mão de Deus e vai. Se a jornada é pesada e te cansas da caminhada. Segura na mão de Deus e vai. Orando, jejuando, confiando e confessando. O Espírito do Senhor sempre te revestirá. Jesus Cristo prometeu que jamais te deixará. Segura na mão de Deus e vai”.

Todos nós somos débeis de alguma forma e necessitamos da ajuda permanente de Jesus. Nossa oração, confiada e simples, como a do leproso, se encontra sempre com o olhar de Jesus, com sua vontade de nos salvar. Jesus nos toca com sua mão diariamente. Mas muitas vezes estamos bem anestesiados pelas preocupações e agitações que acabamos não sentindo a mão de Jesus tocando nossa mão. Jesus nos alimenta com o Pão e o Vinho da Eucaristia, tocando nossa vida. Ele nos perdoa através da mão de seus ministros estendida sobre nossa cabeça, tocando e ungindo nossa testa e nossa mão com o óleo santo de batismo, de crisma, dos enfermos.

Olhando para Jesus que estendeu a mão para curar o leproso, como seguidores de Cristo nós devemos ser uma mão pronta para ajudar e não um dedo pronto para acusar e para apontar os erros dos outros. Jesus não tem mais suas mãos na terra para ajudar os homens, pois os próprios cristãos são suas próprias mãos. Seja você uma mão de Jesus para ajudar os outros! Ser solidário e estender a mão para quem sofre é já um meio para curá-lo. É dar-lhe esperança, como sempre fazia Jesus, como foi dito anteriormente.
P. Vitus Gustama,svd

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