segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

11/01/2020

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TESTEMUNHAR JESUS COM HUMILDADE COMO JOÃO BATISTA

  Sábado Após Epifania

Primeira Leitura: 1Jo 5,14-21
Caríssimos, 14 esta é a confiança que temos no filho de Deus: se lhe pedimos alguma coisa de acordo com a sua vontade, ele nos ouve. 15 E se sabemos que ele nos ouve em tudo o que lhe pedimos, sabemos que possuímos o que havíamos pedido. 16 Se alguém vê seu irmão cometer um pecado que não conduz à morte, que ele reze, e Deus lhe dará a vida; isto, se, de fato, o pecado cometido não conduz à morte. Existe um pecado que conduz à morte, mas não é a respeito deste que eu digo que se deve rezar. 17 Toda iniquidade é pecado, mas existe pecado que não conduz à morte. 18 Sabemos que todo aquele que nasceu de Deus não peca. Aquele que é gerado por Deus o guarda, e o Maligno não o pode atingir. 19 Nós sabemos que somos de Deus, ao passo que o mundo inteiro está sob o poder do Maligno. 20 Nós sabemos que veio o Filho de Deus e nos deu inteligência para conhecermos aquele que é o Verdadeiro. E nós estamos com o Verdadeiro, no seu Filho Jesus Cristo. Este é o Deus verdadeiro e a Vida eterna. 21 Filhinhos, guardai-vos dos ídolos.

Evangelho: Jo 3,22-30
Naquele tempo, 22Jesus foi com seus discípulos para a região da Judeia. Permaneceu aí com eles e batizava. 23Também João estava batizando, em Enon, perto de Salim, onde havia muita água. Aí chegavam as pessoas e eram batizadas. 24João ainda não tinha sido posto no cárcere. 25Alguns discípulos de João estavam discutindo com um judeu a respeito da purificação. 26Foram a João e disseram: “Rabi, aquele que estava contigo além do Jordão e do qual tu deste testemunho, agora está batizando e todos vão a ele”. 27João respondeu: “Ninguém pode receber alguma coisa, se não lhe for dada do céu. 28Vós mesmos sois testemunhas daquilo que eu disse: ‘Eu não sou o Messias, mas fui enviado na frente dele’. 29É o noivo que recebe a noiva, mas o amigo, que está presente e o escuta, enche-se de alegria ao ouvir a voz do noivo. Esta é a minha alegria, e ela é completa. 30É necessário que ele cresça e eu diminua”.
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Oração e Pecado

Lemos hoje a conclusão da Primeira Carta de são João. A leitura da Carta de são João termina neste último dia do Tempo do Natal, com várias ideias mais ou menos repetidas de dias anteriores.

O texto de hoje é um convite à oração, em particular à oração pelos pecadores (oração e pecado): “Caríssimos, esta é a confiança que temos no filho de Deus: se lhe pedimos alguma coisa de acordo com a sua vontade, ele nos ouve. E se sabemos que ele nos ouve em tudo o que lhe pedimos, sabemos que possuímos o que havíamos pedido” (1Jo 5,14-15).

A seção conclusiva da Primeira Carta de são João, que serve como a Primeira Leitura deste dia, volta a falar de dois temas já tratados em outra parte de sua Carta: o tema sobre a confiança na oração (1Jo 5,14-15) e o tema sobre a condição do crente: o pecado e a impecabilidade (1Jo 5,18-21).

Sobre o primeiro tema são João afirma que a oração é como o sinal de nossa “comunhão” com Deus. Nossa comunhão de vida com Jesus Cristo nos enche de confiança agora e diante do momento de juízo. Nossa oração será escutada. Esta confiança se estende também ao caso do pecado. Todos somos pecadores, mas Jesus Cristo nos dá força em nossa luta contra o mal. A oração é o testemunho de que estamos em “unidade” com Deus, de que “vivemos em conformidade com a vontade de Deus”. Este é o convite de Jesus no Pai Nosso: “Seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu” (Mt 6,10b). Mas devemos estar conscientes de que a oração de petição não é para mudar Deus e sim para nos mudarmos. Orar não é fazer pressão a Deus e sim deixar-nos guiar e ajudar a guiar o mundo pelas sendas do amor fraterno.

Quando orarmos, não buscamos satisfazer nossos próprios desejos e sim para descobrir a vontade de Deus a fim de poder cumpri-la. Assim viveremos conforme aquela petição do Pai-Nosso: “Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu”. O Senhor nos pede a orarmos sem cessar. Somente Deus sabe quais são os caminhos pelos quais Deus vai nos guiando para que alcancemos a salvação que nos oferece.

Por isso, a vida de união com Deus não nos tapa os olhos. Pelo contrário, esta união deveria nos fazer mais atentos a certas coisas. Adotar os pontos de vista de Deus quer dizer ser lúcido para ver o “mal”; detectar onde há egoísmo e falta de amor; sentir pena no íntimo de si mesmo por tudo que se opõe a Deus e a Sua vontade. O exercício espiritual chamado “revisão de vida” ou “exame de consciência” comporta esta busca em um acontecimento, em um fato de vida, para descobrir o pecado que está escondido, os contravalores, não para condenar ou julgar com certa altivez (arrogância) e sim para contemplar a obra salvadora de Deus e rogar para que a salvação de Deus progrida. Ali onde há pecado, está Deus como Salvador. Para isso é que Deus se fez carne. Sabemos que Jesus veio “não para os sãos e sim para os que necessitam do médico”. O pecado suscita a oração e não a condenação. Adotar os pontos de vista de Deus é chegar a ser salvador com Ele. Jesus nos repetiu que “Deus ama aos pecadores”, que Ele é essencialmente bom, que “faz brilhar o sol sobre os bons e sobre os maus” (Mt 5,45).

O segundo tema é o do pecado. São João utiliza aqui uma distinção que o próprio Jesus usava também, mas não se trata forçosamente da distinção clássica entre “pecado venial” e “pecado mortal”, e sim do que Jesus chamava o “pecado contra o Espírito Santo”, isto é, a recusa da luz. É fechar-se diante da salvação oferecida por Deus. É mais grave.

No texto de hoje há afirmações que fazem referência ao “pecado que leva à morte” e que se contrapõe ao “pecado que não leva à morte”. Não se trata de o pecado venial e de o pecado mortal, como foi dito anteriormente.

Dentro do pensamento joanino, o pecado que verdadeiramente leva à morte é pecado de homicídio: “Quem odeia seu irmão é assassino. E sabeis que a vida eterna não permanece em nenhum assassino” (1Jo 3,15). Quem odeia “permanece na morte”, não “passa da morte para a vida”. Da mesma forma que o amor leva à vida, o ódio leva à morte (cf. 1Jo 3,11-12.14-15). Para o homem da Bíblia, pecado e morte estão sempre juntos ou unidos (os primeiros capítulos do Genesis nos recordam, entre outras coisas, a união entre pecado e morte). A morte que está ligada ao pecado é a morte espiritual. A morte espiritual é a separação de Deus ou da comunhão com Deus, e portanto, da salvação.

Dentro do pensamento de são João surge a seguinte pergunta: Será que temos plena consciência da grave consciência do ódio que é a separação de Deus que significa a exclusão da salvação? Ainda somos teimosos em permanecer no ódio? Não nos pede o Senhor para que haja sempre o espaço para o perdão sem limite: setenta vezes sete? (cf. Mt 18,21-22).

Temos experiência de que muitos de nossos pecados, em lugar de nos afastar de Deus, nos conduzem a Ele, sempre e quando somos leais e lúcidos, isto é, quando reconhecemos nossos limites e nossa incapacidade de realizar, segundo Deus, nossa vida somente por nossas forças humanas. Em outras palavras, não nos deixamos levar pelo pecado cometido e decidimos voltar para Deus (conversão).

Há um elemento que impregna estes versículos: o “nós sabemos”. Trata-se da certeza profundamente arraigada na fé. Nos escritos joaninos, a fé comporta uma profundidade no conhecimento do mistério que nos é revelado em Jesus. O verbo “conhecer” quer dizer “com-nascer, nascer com; fazer-se um com outro. Somente conhecemos o outro, entregando-nos a ele e aceitando que ele se entregue a nós. Trata-se de uma relação existencial. A profundidade dá firmeza para a convicção do crente. A profundidade do conhecimento dá muita segurança para o crente. Para são João, fé e conhecimento são inseparáveis e quase se identificam. O conhecimento só, ao contrário, leva o homem à autossuficiência fechada sobre si mesma. Sem fé não há verdadeiro conhecimento. O ideal é a união do conhecimento com a espiritualidade. Jesus crescia na sabedoria e na graça diante de deus e dos homens (cf. Lc 2,52).

A Carta termina com uma advertência surpreendente: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (1Jo 5,21). A idolatria é adorar, não a Jesus Cristo e sim a outros deuses criados por nós e pelo mundo. Se não crermos em Jesus, creremos nos horóscopos ou nos vários messias falsos que tentam cruzar nosso caminho

Deus Se Manifesta a Nós Ao Se Encarnar e Somos Enviados Para Ser Testemunhas Do Amor De Deus Para a Humanidade

A última das manifestações de Jesus na semana da Epifania (último dia do tempo do Natal) nos é apresentada através do evangelho de hoje: o testemunho de João Batista.

Os discípulos de João Batista sentem zelos porque Jesus está batizando: “Rabi, aquele que estava contigo além do Jordão e do qual tu deste testemunho, agora está batizando e todos vão a ele”. Será que os discípulos de João acham que se trata de uma rivalidade, de um conflito entre duas escolas, de uma batalha entre dois batismos, de uma concorrência entre dois pregadores celebres?

Mas João Batista, seguro e rápido, toma uma atitude nobre de um homem que sabe olhar para Deus e não para si mesmo: “Ninguém pode receber alguma coisa, se não lhe for dada do céu”. João Batista manifesta a grandeza de seu coração e a coerência com sua postura de Precursor. Ele recorda aos seus discípulos: “Eu não sou o Messias” nem o “Esposo” e sim apenas “amigo do Esposo”. E acrescenta: “É necessário que Ele cresça e eu diminua” e “Ninguém pode receber alguma coisa se não lhe for dada do céu”. Tudo o que há de bom em mim e no outro vem de Deus. Tudo o que há de amoroso em mim e no outro vem de Deus. É preciso saber reconhecer a bondade e o amor em mim e no outro, pois são sinais próprios da presença de Deus.

“Ninguém pode receber alguma coisa se não lhe for dada do céu”. “É necessário que Ele cresça e eu diminua”.   São palavras cheias de fé da boca de João Batista. Na expressão de João Batista encontram-se humildade, veracidade e serenidade. João Batista é um santo por excelência. Ele mesmo define sua santidade através desta frase: “Eu sou o amigo do Esposo”. Uma santidade cheia de alegria e de amor que o põe em seu lugar e que o faz humilde e ao mesmo tempo grande. “Amigo de esposo” são termos de bodas e de amor, de comunhão e de vida. Por isso, não há concorrência entre João Batista e Jesus.

É o noivo que recebe a noiva, mas o amigo, que está presente e o escuta, enche-se de alegria ao ouvir a voz do noivo”, disse João batista. Uma longa e admirável tradição do Antigo Testamento apresentava Deus como o Esposo da humanidade (cf. Os 2,21; Ez 16,8; Is 62,4). E essa tradição continuou no Novo Testamento (cf. 2Cor 11,2; Ef 5,25; Ap 21,2; 22,17). Deus-Esposo. Deus-Amor. Deus-Aliança. Trata-se de uma realidade misteriosa que temos que viver meditar.

João Batista prepara as pessoas para o encontro com o Cristo chamando-as à conversão e pregando a verdade. São João Batista foi testemunha da verdade até a morte. Morreu por causa da verdade.

João Batista nos ensina a cumprirmos nossa missão que adquirimos no dia de nosso batismo: ser testemunha de Cristo vivendo na verdade de Sua Palavra e transmitir esta verdade a quem não a tem, por meio de nossa palavra e exemplo de vida. Ele nos ensina a reconhecermos Jesus como o mais importante, como diz o próprio João Batista: “Que Ele cresça e eu diminua”. Ele renuncia a qualquer ambição pessoal sem amargura. Nisto consiste a alegria de João Batista. Ele nos ensina a reconhecermos Jesus como a própria verdade que devemos seguir (cf. Jo 14,6). Ele nos ensina a vivermos na humildade e sensatez para ficarmos longe da vaidade e dos aplausos das massas. Ele nos ensina a vivermos na sinceridade e na honradez para afastar qualquer tipo de falsidade: “Eu não sou Messias. Eu sou apenas uma voz”, confessou ele. Trata-se de uma humildade, veracidade e serenidade. Não há nenhuma concorrência entre João Batista e Jesus. João Batista tem plena consciência de sua missão de Precursor. O Messias é o próprio Jesus e não João Batista. Ele sabe dar lugar para Aquele que é mais importante do que ele. Ele nos ensina a vivermos na justiça e no amor como frutos de uma verdadeira conversão. Através do testemunho de sua vida, João Batista nos ensina que ser cristão é ser testemunho de Jesus Cristo, ser honesto, justo e sem se deixar subornar. A vida de união com Deus não tapa nossos olhos. Ao contrário nos faz mais atentos a tudo. É ser lúcido para detectar o mal, o egoísmo e a falta de amor em nós.

O Tempo de Natal termina que concluímos com o Domingo onde celebraremos o Batismo do Senhor. O Natal que é a experiência do amor que Deus nos tem e a convicção de que somos Seus filhos em Jesus, de que somos irmãos de Cristo e irmãos uns dos outros deve nos deixar como consequência uma atitude mais positiva e uma opção mais clara por esses valores cristãos. Precisamos nos empenhar em lutar contra a falta de fraternidade por causa do mal em nossa vida. “Uma verdadeira fraternidade entre os homens supõe e exige uma paternidade transcendente. A partir do reconhecimento desta paternidade, consolida-se a fraternidade entre os homens, ou seja, aquele fazer-se ‘próximo’ para cuidar do outro”, disse Papa Francisco na sua mensagem para o XLVII DIA MUNDIAL DA PAZ de 2014. Precisamos nos empenhar para que o mal não avance. É preciso que os bons não se silenciem para que o mal não se torne gritante ensurdecendo nossa consciência.
P. Vitus Gustama,svd

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