quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

13/01/2020

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É PRECISO CAMINHAR ATRÁS DE JESUS PARA ALCANÇAR A SALVAÇÃO
Segunda-Feira da I Semana Comum

Primeira Leitura: 1Sm 1,1-8
1 Havia um homem sufita, oriundo de Ramá, no monte Efraim, que se chamava Elcana, filho de Joroam, filho de Eliú, filho de Tou, filho de Suf, efrainita. 2 Elcana tinha duas mulheres; uma chamava-se Ana e a outra Fenena. Fenena tinha filhos; Ana, porém, não tinha. 3 Todos os anos, esse homem subia da sua cidade para adorar e oferecer sacrifícios ao Senhor todo-poderoso, em Silo. Os dois filhos de Heli, Ofni e Finéias, eram sacerdotes do Senhor naquele santuário. 4 Quando oferecia sacrifício, Elcana dava à sua mulher Fenena e a todos os seus filhos e filhas as porções que lhes cabiam. 5 A Ana, embora a amasse, dava apenas uma porção escolhida, pois o Senhor a tinha deixado estéril. 6 Sua rival também a magoava e atormentava, humilhando-a pelo fato de o Senhor a ter tornado estéril. 7 E isso acontecia todos os anos. Sempre que subiam à casa do Senhor, ela a provocava do mesmo modo. E Ana chorava e não comia. 8 Então, Elcana, seu marido, lhe disse: “Ana, por que estás chorando e não te alimentas? E por que se aflige o teu coração? Acaso não sou eu melhor para ti do que dez filhos?”


Evangelho: Mc 1,14-20
14 Depois que João Batista foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: 15 “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!” 16 E, passando à beira do mar da Galileia, Jesus viu Simão e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. 17 Jesus lhes disse: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens”. 18 E eles, deixando imediatamente as redes, seguiram a Jesus. 19 Caminhando mais um pouco, viu também Tiago e João, filhos de Zebedeu. Estavam na barca, consertando as redes; 20 e logo os chamou. Eles deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados, e partiram, seguindo Jesus.
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Deus Ouve a Oração Dos Simples e Pobres

Durante cinco semanas seguintes meditaremos a história de Davi, precedida da história de Samuel. No desenvolvimento da história de Israel, o período de Davi é um período de estabilidade: Davi, jovem pastor de uma humilde família de Belém é o verdadeiro fundador da realeza.

O texto da Primeira Leitura de hoje inicia o ciclo de Samuel, um personagem que viveu uns mil anos antes de Cristo, e que ia ter muita influência na história do povo judeu como o último dos juízes que Deus colocou diante de seu povo e como instaurador da monarquia.

A cena do texto de hoje é muito própria da vida familiar: Ana, uma das duas mulheres de Elcana, é estéril, e isso a faz totalmente infeliz, pois na época na ter filho significava a maldição de Deus. Ana chora desconsolada apesar do afeto de seu marido (1Sm 1,8). Ela se sente marginalizada e fracassada e sofre muita humilhação. Outra mulher de Elcana chamada Fenena não era estéril e se sente mais abençoada do que Ana. Mas mais tarde, a oração de Ana será atendida por Deus com o nascimento de Samuel, cujo texto vamos ler no dia seguinte (Terça-feira).

Esta é um quadro realista da condição feminista em relação ao ano 1000 antes de Jesus Cristo: Ana, mulher de Elcana, é estéril - e isso já cria uma atmosfera de dolorosa frustração. Além disso, a poligamia da época reforça a o infortúnio da pobre Ana, porque a rival Fenena, outra mulher de Elcana, com seus afrontamentos diários, mantém o clima de angústia, quase sustentável para Ana. A moral é muito baixa nessa família. E o pobre marido Elcana não sabe como ajudar a sua mulher, Ana. Elcana, na sua limitação somente pode dizer a Ana: “Ana, por que estás chorando e não te alimentas? E por que se aflige o teu coração? Acaso não sou eu melhor para ti do que dez filhos?”.

Nesta situação de extrema pobreza espiritual, Ana descobrirá a maravilha do amor de Deus para com ela.

Ao relatar este tipo de episódio, o autor sagrado quer colocar em evidência que “a fecundidade de uma e a esterilidade da outra destacam o caráter  maravilhoso do nascimento: o nascituro será filho da promessa e da oração, mais que simples filho da carne. O Senhor da vida demonstra o seu poder precisamente na fraqueza, outorgando com sua palavra explícita uma fecundidade que o homem ia considerar natural” (Luís Alonso Schökel: veja a Bíblia Do Peregrino: comentário sobre 1Sm 1).

Deus parece que, para realizar seus planos de salvação, tem particular gosto, ao longo da história, em escolher pessoas que humanamente parece pouca coisa ou não se contam na sociedade. Deus é capaz de tirar vida da esterilidade. O que humanamente parece impossível, para Deus não o é. Assim se vê melhor que é Deus Quem salva, e não as qualidades e as iniciativas humanas. Na vida quem fez mais o bem nem sempre quem é mais brilhante e sim aquele que sabe ser melhor colaborador nas mãos de Deus, isto é, aquele que se apoia totalmente em Deus.

Para Deus nada é impossível. Por isso quem confiar em Deus, jamais será defraudado. Quando parece que a vida se torna complicada para nós, confiemos no Senhor! Deus vela sempre por nós. Não somente é n Deus; é nosso Pai cheio de bondade e de ternura para conosco. Disso tudo aprendemos que em nossas atividades e projetos deveríamos colocar nossa confiança mais na força de Deus do que em nossas pedagogias e trabalhos. Isso nos manterá na humildade quando houver êxito, e não ficaremos desanimados demasiadamente quando fracassarmos depois de ter posto toda nossa boa vontade na tarefa.

Durante as primeiras nove semanas do Tempo Comum proclamamos o Evangelho de Marcos. Com um estilo simples, concreto e popular, Marcos fará passar os fatos e as palavras de Jesus diante de nossos olhos: os fatos são mais proeminentes que as palavras. Marcos não nos dá, por exemplo, tantos discursos de Jesus como Mateus ou tantas parábolas como Lucas. Ele está mais interessado na pessoa do que na doutrina. Jesus está presente em suas páginas, com sua história palpitante, suas reações, seus olhares, seus sentimentos de afeto ou de raiva. O que Marcos quer, e ele diz desde o início, é apresentar-nos "o Evangelho de Jesus Cristo (Messias), Filho de Deus" (Mc 1,1). No final do livro, ele colocará as mesmas palavras nos lábios do centurião: "Este homem verdadeiramente era o Filho de Deus" (Mc 15,39).

Vamos meditar sobre algumas mensagens do texto do Evangelho proclamado hoje!

1. Deus Busca Os últimos

Terminada a atividade de João Batista que representa o fim do tempo de Moisés (Lei) e dos Profetas, começa a atividade de Jesus que é o início da nova época do relacionamento de Deus com a humanidade. Jesus começa sua atividade na Galileia. A Galileia era considerada pelos rabinos de Jerusalém como um lugar onde a obediência à Lei (Torah) não era tão exata, e também era um lugar onde acontecia o contato com os pagãos que causou o sincretismo religioso. E Jesus escolheu a Galileia como o centro de sua missão salvífica (cf. Mc 1,16.28.39;3,7;7,31;9,30).

Quando começa sua missão, Jesus se dirige à Galileia, região campesina de gente pobre; não se dirige a Jerusalém, centro político e espiritual de Palestina e do judaísmo. Ele se dirige aos últimos, aos explorados por um sistema político a serviço do governo romano, por um sistema militar que oprime e explora o povo empobrecido mediante a cobrança de tributo para o império, por um sistema religioso que justifica a situação presente em nome de Deus. 

O Deus de Jesus Cristo é realmente um Deus de surpresa, pois ele vai na direção em que o homem nunca pensou em  trilhar. Os conterrâneos desprezavam a Galileia e Jesus a escolheu como o centro de sua missão. E nós, seguidores de Jesus, temos que andar atrás do Mestre e que muitas vezes não sabemos para onde ele vai nos levar, pois ele apenas nos diz: “Segue-me!”, mas não devemos ter medo de nos levar para onde ele quer ou quiser, pois ele é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6).

2. Deus Quer Nos Encontrar No Nosso Lugar

Nessa região pobre é que ele chama seus parceiros, seus primeiros discípulos. Jesus não se encontra com o homem em uma esfera particularmente religiosa ou privilegiada de algum modo e sim na beira do Lago onde vive verdadeiramente o homem, na vida cotidiana.
         
O “lago” é o lugar no qual vivem as pessoas da Galileia e ali é que elas trabalham para buscar o seu sustento. Certamente Jesus procura e encontra o povo ou cada um de nós em sua própria situação e lugar. E Jesus chama cada um de nós a segui-lo ali onde se encontra, na própria situação concreta. Ele apresenta a cada um o convite ali onde se encontra, numa situação comum, honesta e honrada como aquela dos pescadores ou, então, numa situação desonrada e moralmente difícil como aquela do cobrador dos impostos, como Levi (cf. Mc 2,14) etc.

Se Jesus quer encontrar cada um de nós ali onde se encontra, vamos ficar, então, no nosso lugar. Como as letras de um canto que dizem: “Quando Jesus passar eu quero estar no meu lugar”. Se eu não ocupar meu lugar, por simples que ele seja, ele não vai me encontrar. Consequentemente surge uma pergunta para mim: “Onde está o meu lugar?”

3. Deus Precisa De Cada Um De Nós Como Parceiro Do Bem 

“Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens”. Esta frase é dirigida para os primeiros discípulos do Senhor: Simão e André, seu irmão; e Tiago e João, filhos de Zebedeu. Todos são pescadores. O que se sublinha no chamamento é o aspecto pessoal: através de um colóquio familiar. Jesus vê Simão e André, Tiago e João e aproxima-se deles familiarmente, fala com eles e os chama. Ele faz lhes ouvir aquela palavra de esperança e de confiança que é o chamado a segui-lo. Jesus não se encontra com o homem para dirigir-lhe o convite numa esfera particularmente religiosa ou privilegiada de algum modo, e sim na beira do lago onde vive verdadeiramente o homem, na vida cotidiana: “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens”. 

A chamada de Cristo para segui-Lo exige uma separação. Não se trata de deixar as redes ou um trabalho. Trata-se de deixar riquezas (cf. Mc 10,21), de abandonar o caminho de domínio e de poder onde são defendidos os privilégios com toda a força de quem os tem (cf. Mc 8,34).

Seguir Jesus significa servir, dar a vida como “resgate”, o mesmo que Jesus fez por nós; é solidarizar-se com os homens e assumir nossa responsabilidade, como um parente que paga a fiança para obter a liberdade de seus irmãos; é não tomar distância dos que necessitam de nossa ajuda; é sentir-se afetado pelo sofrimento alheio. Isso é significativo para compreendermos o significado do seguimento que, em primeiro lugar, não está a doutrina e sim, uma pessoa e um projeto de existência. No seguimento evangélico, o fato essencial é a pessoa de Jesus. Unicamente Ele é quem dá forma e conteúdo para a relação com os discípulos-seguidores. Numa escola rabínica é a doutrina que ocupa o primeiro lugar. O discípulos se une ao rabino porque busca sua doutrina e quer converter-se em mestre. O discípulo evangélico, por sua vez, renuncia a tudo para seguir Jesus e compartilhar seu destino. Por isso, ser discípulo de Jesus é uma condição permanente. O abandono confiante  a Jesus é necessário para poder percorrer o caminho em direção ao conhecimento da vida e do mistério de Jesus.         

Simão e André abandonam imediatamente sua forma de vida anterior. E Tiago e João desvinculam-se da tradição (o pai) e do ambiente social (os dois têm nomes hebraicos). Não é fácil abandonar um hábito ou modo de viver para assumir um outro novo modo de viver. Somos, normalmente, resistentes diante do novo por causa da insegurança e por causa dos hábitos enraizados. Mas a vida é um êxodo, é uma caminhada, é uma peregrinação. A vida é sempre para frente e cheia de surpresas de Deus. É preciso caminhar para ver mais, aprender mais e crescer mais.

Os primeiros discípulos abandonaram imediatamente tudo depois que ouviram o convite de Jesus: “Eles, deixando imediatamente as redes, seguiram a Jesus”. Jesus não é um Mestre que ensina sentado em sua cátedra. Jesus é um Mestre que caminha na frente. Os discípulos não são tanto os que aprendem coisas de Jesus e sim os que O seguem, os que caminham com Jesus. É mais importante a pessoa do que a doutrina.

Eles, deixando imediatamente as redes, seguiram a Jesus”. Isso nos mostra uma boa disposição daqueles pescadores. Às vezes, os laços de parentesco (são irmãos) ou sociais (os quatro primeiros discípulos são pescadores) ou alguma posição social de privilégio (o pai dos irmãos Tiago e João) tem também sua influência na vocação e no seguimento. Logo irão madurecendo-se, mas já desde agora manifestam uma fé e uma entrega total à causa de Jesus. A exemplo dos quatro primeiros discípulos somos convidados a escutar Jesus, nosso autêntico Mestre, pois Ele tem algo para nos dizer e para o levarmos adiante. É a escola de Jesus, o verdadeiro Evangelizador.

Os primeiros discípulos abandonaram imediatamente tudo depois que ouviram o convite de Jesus. Para nós isto significa que em cada momento em que a Boa Nova nos é oferecida, Jesus nos convida a segui-Lo e ao mesmo tempo nos dá o poder de começar a nova caminhada. Isto requer a conversão, pois sem ela não há boa notícia.

Seguir significa recorrer o caminho do Mestre, realizar seus gestos preferidos. Mais uma vez, seguir significa servir, dar a vida pelo bem dos outros, assumir todas as responsabilidades que Cristo deixou. E no seguimento evangélico o fato essencial é a pessoa de Jesus e seu projeto de vida: vida para todos (cf. Jo 10,10). A mensagem de Jesus não nos deixa indiferentes. Ele quer que tomemos uma posição radical permanentemente. O seguimento determina nossas opções de cada dia, nossas escolhas na vida, nossas decisões. Ser discípulo é uma coisa séria e permanente.
P. Vitus Gustama,svd

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