Domingo,02/02/2020
FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR
Assim diz o Senhor: 1 Eis que envio meu anjo, e ele há de preparar o
caminho para mim; logo chegará ao seu templo o Dominador, que
tentais encontrar, e o anjo da aliança, que desejais. Ei-lo que vem, diz o
Senhor dos exércitos; 2 e quem poderá fazer-lhe frente, no dia de sua chegada?
E quem
poderá resistir-lhe, quando ele aparecer? Ele é como o fogo da forja e como a barrela dos lavadeiros; 3 e estará a postos, como para fazer derreter e
purificar a prata: assim ele purificará os filhos de Levi e os refinará como
ouro e como prata, e eles poderão assim fazer oferendas justas ao Senhor. 4
Será então aceitável ao Senhor a oblação de Judá e de Jerusalém, como nos
primeiros tempos e nos anos antigos.
Segunda Leitura: Hb 2,14-18
Irmãos,14 Visto que os filhos têm
em comum a carne e o sangue, também Jesus participou da mesma condição, para
assim destruir, com a sua morte, aquele que tinha o poder da morte, isto é, o
diabo, 15 e libertar os que, por
medo da morte, estavam a vida toda sujeitos à escravidão. 16 Pois, afinal,
não veio ocupar-se com os anjos, mas com a descendência de Abraão. 17 Por isso
devia fazer-se em tudo semelhante aos irmãos, para se tornar um sumo-sacerdote
misericordioso e digno de confiança nas coisas referentes a Deus, a fim de
expiar os pecados do povo. 18 Pois, tendo ele próprio sofrido ao ser tentado, é
capaz de socorrer os que agora sofrem a tentação.
Evangelho: Lc 2,22-40
22 Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho,
conforme a lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de
apresentá-lo ao Senhor. 23 Conforme está escrito na lei do Senhor: “Todo
primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor”. 24 Foram também
oferecer o sacrifício — um par de rolas ou dois pombinhos — como está ordenado
na Lei do Senhor. 25 Em Jerusalém, havia um homem chamado Simeão, o qual era
justo e piedoso, e esperava a consolação do povo de Israel. O Espírito Santo
estava com ele 26 e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias
que vem do Senhor. 27 Movido pelo Espírito, Simeão veio ao Templo. Quando os
pais trouxeram o menino Jesus para cumprir o que a Lei ordenava, 28 Simeão
tomou o menino nos braços e bendisse a Deus: 29 “Agora, Senhor, conforme a tua
promessa, podes deixar teu servo partir em paz; 30 porque meus olhos viram a
tua salvação, 31 que preparaste diante de todos os povos: 32 luz para iluminar
as nações e glória do teu povo Israel”. 33 O pai e a mãe de Jesus estavam
admirados com o que diziam a respeito dele. 34 Simeão os abençoou e disse a
Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de
reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. 35 Assim
serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te
traspassará a alma”. 36 Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de
Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada; quando jovem, tinha sido
casada e vivera sete anos com o marido. 37 Depois ficara viúva, e agora já
estava com oitenta e quatro anos. Não saía do Templo, dia e noite servindo a
Deus com jejuns e orações. 38 Ana chegou nesse momento e pôs-se a louvar a Deus
e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. 39
Depois de cumprirem tudo, conforme a Lei do Senhor, voltaram à Galileia, para
Nazaré, sua cidade. 40 O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria;
e a graça de Deus estava com ele.
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Um
Pouco da História Da Festa Da Apresentação do Senhor
Ainda que a festa da Apresentação do Senhor caia
fora do tempo do Natal, porém, na verdade, ela faz parte inseparável do relato
do Natal do Senhor. Trata-se de outra Epifania do Senhor no quadragésimo dia. Natal,
Epifania e Apresentação do Senhor são três aspectos inseparáveis do Natal.
É uma festa antiquíssima de origem oriental. A
Igreja de Jerusalém celebrava esta festa
já no século IV. Celebrava-se ali aos quarenta dias da festa da Epifania, no
dia 14 de fevereiro. A peregrina Eteria, que conta isto em seu famoso diário
com seu comentário de que “ celebrava-se com o maior gozo, como se fosse a Páscoa
mesma”. De Jerusalém, a festa se propagou para outras igrejas de Oriente e de
Ocidente. No século VII, se não antes, a festa foi introduzida em Roma. Associou-se
com esta festa uma procissão das velas. A Igreja romana celebrava a festa
quarenta dias depois do Natal.
Entre as igrejas orientais se conhecia esta
festa como “A
festa do Encontro”, “Ipapante” (em grego, Hypapante),
nome muito significativo e expressivo, que destaca um aspecto fundamental da
festa: o encontro do Ungido de Deus com seu povo. São Lucas evangelista narra o
fato no capitulo dois de seu evangelho. Obedecendo à Lei de Moisés, os pais de
Jesus levara seu filho ao templo quarenta dias depois de seu nascimento para apresenta-lo
ao Senhor e fazer uma oferenda por Ele (Cf.
Levítico
12,2-5; Êxodo 13,1-3; Números 18,15-16).
No século V, para sublinhar as palavras do cântico
de Simeão “Lumen ad revelationem gentium”, eram usadas tochas a fim de tornar a
festa mais expressiva. São Cirilo de Alexandria (+ 444) diz: “Celebremos o mistério
deste dia com lâmpadas flamejantes” (Hom.div.XII: PG 77,1040).
Esta festa começou a ser conhecida no Ocidente, desde o século X, com o
nome de Purificação
da Bem-aventurada Virgem Maria (De purificatione Mariae). E foi
conservada com este título no Missal romano de Pio V.Foi incluída entre as
festas de Nossa Senhora. Mas isto não era correta totalmente, pois a Igreja
celebra neste dia, essencialmente, um mistério de nosso Senhor.
No calendário romano, revisado em 1969, a festa mudou de
nome por “A Apresentação
Do Senhor”. Este novo nome para a festa é uma indicação mais
verdadeira da natureza e do objeto da festa. No entanto, não quer dizer que
desvalorizemos o papel importantíssimo de Maria nos acontecimentos que
celebramos. Os mistérios de Cristo e de Sua Mãe, Maria Santíssima, estão estreitamente
ligados, de modo que nos encontramos aqui com uma espécie de celebração dual:
uma festa de Cristo e de Maria.
A benção das vela antes da missa e a procissão
com as velas acesas são marcas da celebração atual. O Missal romano mantém
estes costumes, oferecendo duas formas alternativas de procissão.
A apresentação de Jesus no Templo, como narra
o evangelho de Lucas (Lc 2,22-38) funde duas prescrições legais diferentes que
eram, na legislação do tempo de Jesus,
referentes à mãe que tinha dado à luz; a outra era a lei do primogênito.
O aspecto a ser escolhido (no texto do Evangelho)
é o significado da lei sobre o primogênito. Este, antes da libertação do Egito,
estava na escravidão e, portanto, na morte. Somente a intervenção de Deus pode
salvá-lo e libertá-lo. A apresentação do primogênito no templo significa que
ele é oferecido a Deus como lembrança dos eventos do êxodo e Deus o restitui a
seus pais. O sacrifício e o resgate expressam o sinal da vontade salvífica e
libertadora de Deus. Maria e José, apresentando-o no templo, reconhecem que
Jesus é “propriedade” de Deus e entra no plano da atuação do desígnio divino
porque é “salvação e a luz para todos os povos” (Lc 2,30-32).
São Lucas vai além: ele vê no fato uma
manifestação do Senhor. A profetisa Ana se une a Simeão para anunciar a notícia
da vinda do Senhor para a salvação do seu povo. Jesus é aclamado por Simeão
como “luz que veio para iluminar as nações e a glória do povo de Israel”. Os termos
“luz”
e “glória”,
sobretudo “glória”, querem indicar uma realidade divina e exprimem a esperança,
que é certeza, da habitação de Deus no seu templo em meio ao seu povo (Cf. Jo
1,14).
A Liturgia da Palavra anuncia o mistério com
o texto do profeta Malaquias (3,1-4), que fala d iminência do “Dia do Senhor”,
momento em que “vai chegar ao seu Templo o Senhor que vocês procuram”. Na Sgunda Leitura, é lida a perícopes da Carta
aos Hebreus (2,14-18). Cristo mediador devia tornar-se em tudo semelhante aos
irmãos, menos no pecado. Assim “justamente porque foi colocado à prova e porque
sofreu pessoalmente, ele é capaz de vir em auxílio daqueles que estão sendo
provados”. O evangelho é o texto de Lucas (2,22-40), que narra a apresentação
do Senhor no Templo.
O comportamento da Igreja na celebração desse
mistério da salvação é o mesmo comportamento de alegria de Simeão ao acolher
Cristo: “Os meus olhos viram a tua salvação, que preparastes diante de todos os
povos”, e é também o comportamento da oferta pela qual a Igreja se vê
simbolizada em Maria, que apresenta Jesus ao Pai.
Estendamos um pouco mais nossa meditação sobre o significado da
Festa da Apresentação do Senhor!
I. A FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR E SEU SENTIDO
1. Jesus Na Apresentação
A festa da Apresentação celebra uma chegada e
um encontro: a chegada do Senhor desejado, núcleo da vida religiosa do povo e o
bem-vindo concedido a ele pelos representantes dignos do povo eleito: Simeão e
Ana. Por sua idade avançada os dois personagens simbolizam os séculos de espera
e de anseio fervente dos homens e das mulheres devotos da Antiga Aliança
(Antigo Testamento). Pode-se dizer que os dois simbolizam a esperança e o
anseio da humanidade.
Ao festejar e reviver este mistério na fé, a
Igreja dá novamente as boas vindas para Jesus Cristo. Este é o verdadeiro
sentido da festa. É a festa do encontro: encontro de Cristo e a sua Igreja.
Isto vale para qualquer celebração litúrgica, mas especialmente para esta
festa. A liturgia nos convida a dar boas vindas a Cristo e à sua Mãe, como
fizeram Simeão e Ana. Ao celebrar esta festa a Igreja professa publicamente a
fé na Luz do mundo (Jo 8,12), Luz de revelação para a humanidade.
A festa da apresentação é uma festa de
Cristo, por excelência. É um mistério da salvação. O nome “apresentação” tem um
conteúdo rico. Fala de oferecimento, de sacrifício. Recorda a auto-oblação
inicial de Cristo, Palavra Encarnada, quando entrou no mundo: “Eis me aqui que
venho para fazer Tua vontade”. Aponta para a vida de sacrifício e para a
perfeição final dessa auto-oblação na colina do Calvário.
2. A Presença De Maria Na Apresentação E Seu
Significado
Qual é o papel de Maria e José nessa Apresentação?
Eles simplesmente cumprem o ritual prescrito, uma formalidade praticada por
muitos outros casais?
Para Maria, a Apresentação e oferenda de seu
Filho no Templo não era um simples gesto ritual. Indubitavelmente, Maria não
estava consciente de todas as implicações nem da significação profética desse
ato. Ela não consegue alcançar todas as conseqüências de sua Fiat na
Anunciação. Mas foi um ato de oferecimento verdadeiro e consciente. Significava
que ela oferecia seu Filho para a obra da redenção, renunciando aos seus
direitos maternais e toda a pretensão sobre seu Filho. Ela oferecia seu Filho à
vontade de Deus Pai. São Bernardo comentou que Santa Virgem ofereceu seu Filho
e apresenta ao Senhor o fruto bendito de seu ventre e o oferece para reconciliação
de todos os homens (citado na Enciclica Marialis
Cultius do Papa Paulo VI).
Existe uma conexão entre esse oferecimento e
o que sucederá na Gólgota quando se executam as implicações do ato inicial de
obediência de Maria: “Faça-se em mim segundo Tua Palavra” (Lc 1,38b).
Na Apresentação Maria põe seu Filho nos
braços do ancião Simeão. Esse gesto é simbólico. Ao atuar dessa maneira, ela
oferece seu Filho não somente para Deus Pai, mas também para o mundo
representado por aquele ancião. Dessa maneira, Maria desempenha seu papel de
Mãe da humanidade e nos é recordado que o dom da vida vem através de Maria.
A festa deste dia não permite apenas
revivermos um acontecimento passado. Ela também nos projeta para o futuro. Ela
prefigura nosso encontro final com Cristo na sua segunda vinda, na Parusia. A
procissão representa a peregrinação da própria vida. O povo peregrino de Deus
caminha penosamente através deste mundo, no tempo, guiado pela Luz de Cristo e
sustentado pela esperança de encontrar finalmente o Senhor da glória em Seu
Reino eterno. Na bênção das velas o sacerdote pronuncia as seguintes palavras:
“... Fazei que, levando as velas nas mãos em vossa honra e seguindo o caminho
da virtude, cheguemos à luz que não se apaga”. A vela acesa na nossa durante a
procissão recorda a vela de nosso batismo.
II. ALGUMAS MENSAGENS A PARTIR DO TEXTO DO EVANGELHO
DA FESTA
1. A Importância De Jerusalém Para Lucas
Para Lucas, Jerusalém é importante, pois é
centro de tudo. Por isso, todos os acontecimentos importantes da vida de Jesus
acontecem em Jerusalém. Jerusalém é mencionado no início e no fim do relato (vv.22.25.38). A apresentação do
Senhor acontece em Jerusalém. E em Jerusalém acontecerão sua morte e
ressurreição. De Jerusalém ele subirá ao céu. E de Jerusalém partirá a missão
cristã para o resto do mundo (cf. Lc
2,41-52;4,9-13;9,31.51.53;13,22;17,11;18,31;19,11.28-48;24,47-53;At 1,4.8).
2. A
Imposição Do Nome De Jesus
Lucas, neste relato, quer sublinhar a
importância da imposição do nome de Jesus que se afirma na frase principal:
“Foi-lhe dado o nome de Jesus” (v.21). O nome “Jesus” foi escolhido pelo
próprio Deus (Lc 1,31;2,21;cf. Mt 1,21).
Para os judeus, o nome expressava a
identidade e o destino pessoal que cada um devia realizar ao longo de sua
vida. E quando uma pessoa é eleita para
uma nova missão, recebe um nome novo, em função da etapa de vida que começa (cf. Gn 17,5;17,15;32,29; Mt 16,18;
cf. 2Rs 23,34;24,17;Is 62,2;65,15).
Não há nenhum nome que coincidiu tão
perfeitamente com o nome como no caso de Jesus. Jesus significa Salvador. Desde
o primeiro instante de sua existência até a morte na cruz, ele foi o que
significa seu nome: Salvador.
Por isso, o nome de Jesus como Senhor e
Salvador é invocado ao longo da história do cristianismo por bilhões de cristãos.
O nome de Jesus é invocado, pois ele é o Senhor de tudo. Está acima de todo
principado, de todo poder, de toda dominação e potência. Por mais poderoso que
seja um político ou um atleta, um dia a morte o vencerá. Por mais rico que seja
alguém, um dia a morte levará a melhor. Ao contrário, Jesus venceu a morte,
pois ele ressuscitou. Por isso, São Paulo afirma: “Se confessas com tua boca
que Jesus é o Senhor, e crês em teu coração, que Deus o ressuscitou dos mortos,
tu serás salvo”(Rm 10,9; cf. Rm 8,35-39). Jesus é o Senhor porque vive uma vida
sobre a qual a morte não tem poder algum. Ele detém a chave do segredo da vida
e ilumina o mistério da vida.
A soberania do Senhor Jesus pode nos dar uma
força imensa para combater o mal dentro de nós e o mal ao nosso redor. Jesus é
Senhor exprime uma fé libertadora que tira de nossas vidas toda a angústia
exagerada. Jesus é Senhor implica que ele é Senhor de nossa vida. Exprime uma
entrega, um total abandono nas mãos do Senhor. Implica construir a vida sobre
ele (cf. Mt 7,24-25) e não sobre os fundamentos fracos e frágeis(cf. Mt
7,26-27).
3. Jesus
É Sinal De Contradição
Israel tinha murmurado contra Deus na
passagem do deserto (Nm 20,1-13;Dt 32,51). Na apresentação do Senhor no templo,
Simeão profetiza a nova rebelião de Israel contra Jesus, que será relatada no
evangelho da vida pública e da paixão e a rejeição da missão cristã em Israel
que será contada no livro de Atos. Tudo isto resulta também no sofrimento de
sua mãe, Maria.
Lucas relata ao longo de sua obra que diante
de Jesus e sua missão, uns são a favor, outros contra; uns abrem os olhos à
luz, outros os fecham; uns encontram força nele e por isso, se levantam,
enquanto os outros tropeçam e caem por não crer. Isto quer dizer que ninguém
pode ficar indiferente diante de Jesus: ou aceitar Jesus para ser libertado ou
rejeitá-lo que significa tropeço na caminhada.
Jesus e seu evangelho continuam sendo em
todos os tempos e lugares sinal de divisão e de contradição. Perante Jesus e
seu evangelho ninguém pode ficar indiferente: ou aceitar ou rejeitar, com
conseqüências para cada opção feita. A salvação é oferecida a todos, mas não é
dada automaticamente nem pode ser recebida passivamente. Ela tem que ser
recebida conscientemente como um compromisso a ser assumido a vida toda. O
Evangelho de Jesus, quando for proclamado e vivido verdadeiramente, sempre
incomoda tanto para quem o prega e vive como para quem o escuta, pois ele é
como uma luz que brilha na escuridão: revela o verdadeiro ser de pessoas e das
coisas. Aquele que quer manter uma vida falsa e dupla ou camuflada, a presença
do Evangelho funciona como se fosse um espinho que irrita a carne. Se alguém
não tiver medo de ser feliz, a presença incômoda do Evangelho será um momento
oportuno de libertação. Para quem vive somente em função do prazer, não tem
prazer de viver. O prazer tem que ser fruto de um viver bem.
4. Nós
E Ancião Simeão
Na parte central do relato (vv.25-35)
encontramos o ancião Simeão. Ele é apresentado como um homem justo e piedoso,
isto é, um homem fiel aos mandamentos de Deus. Ele se deixa guiar pelo Espírito
Santo e por isso, compreende o sentido de sua existência. Ele é o símbolo da
perseverança. Apesar de ter consciência de sua iminente morte, continua
esperando a salvação. Na sua velhice ele é premiado, pela sua fidelidade e
perseverança, pela presença do Messias esperado. Ele é uma pessoa que sabe
olhar para frente para viver melhor o presente.
A partir de Deus e com Deus nada é perdido no
mundo. Simeão é a testemunha e prova disto. Ele nos ensina a conversarmos com
Deus permanentemente e a olharmos para a frente. Ele nos ensina a olharmos para
Jesus, o nosso Salvador e a irmos ao Seu encontro. No encontro com Jesus, como
aconteceu com Simeão, são realizadas nossas esperas e esperanças, encontramos
alegria e paz, nossos olhos são iluminados para ver as pessoas e as coisas no
seu justo valor, como também a nossa própria vida. Mas para que o nosso
encontro com Jesus aconteça, precisamos nos deixar guiar pelo Espírito Santo.
5. O
Silêncio De Maria E O Nosso Silêncio
No relato, Maria é descrita como uma
personagem que não profetiza nem fala. Em outras palavras, ela está em silêncio
total. Ela acolhe na obediência as profecias sobre o futuro de seu Filho
silenciosamente.
Maria nos ensina a fazermos o silêncio
obrigatório no meio de nossa vida e trabalho para vermos melhor as coisas, os
acontecimentos e as pessoas na sua justa perspectiva e no seu justo valor. O
silêncio chega quando as nossas energias começam a descansar e nos acolhe
quando o nosso ego fica em paz e sossego. Quando não sabemos o que é descansar,
não sabemos também o que é viver. O nosso ego não é o nosso centro de
gravidade. O ego é o centro de todos os desejos desenfreados, dos lucros,
possessões e domínios. Hoje em dia há uma dependência exagerada do trabalho.
Quando há dependência, não existe liberdade. Há pessoas que se entregam a tudo
desde que não fiquem no vazio. A vida nunca é o que se consegue. Não é o que se
tem. A vida é o que se é. Não se pode ignorar que tudo quanto se alcança, se
perde. Só o que se é, permanece. O silêncio, por isso, é tão importante, pois
ele nos leva a encontrarmos o nosso eixo. As nossas palavras serão boas, se
brotarem do silêncio. E Deus nunca cessa de clamar, mas para escutarmos a sua
voz é preciso criarmos o silêncio dentro de nós. E a escuta exige uma atenção
total e plena. O silêncio é um vazio que faz tornar presente a plenitude. Mas a
plenitude não se torna presente de repente. É preciso tempo. Na semente está a
qualidade do fruto, mas naturalmente é preciso tempo. Dizia Cícero: “Há três
coisas na vida nas quais não pode haver pressa: a natureza, um ancião e a ação
dos deuses na tua história”. O silêncio é esvaziar-se para receber. No silêncio
diminuem as defesas e fica-se pronto para receber o que vier. O silêncio quando
se souber aproveitá-lo melhor, ele será frutificante e benéfico para quem o
cria e consequentemente para os que o cercam.
P.
Vitus Gustama,svd
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