segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

11/02/2021: Fé

É PRECISO TER E MANTER A

Quinta-Feira Da V Semana Comum

Primeira Leitura: Gn 2,18-25

18 O Senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele”. 19 Então o Senhor Deus formou da terra todos os animais selvagens e todas as aves do céu, e trouxe-os a Adão para ver como os chamaria; todo o ser vivo teria o nome que Adão lhe desse. 20 E Adão deu nome a todos os animais domésticos, a todas as aves do céu e a todos os animais selvagens, mas Adão não encontrou uma auxiliar semelhante a ele. 21 Então o Senhor Deus fez cair um sono profundo sobre Adão. Quando este adormeceu, tirou-lhe uma das costelas e fechou o lugar com carne. 22 Depois, da costela tirada de Adão, o Senhor Deus formou a mulher e conduziu-a a Adão. 23 E Adão exclamou: “Desta vez, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada ‘mulher’ porque foi tirada do homem”. 24 Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne. 25 Ora, ambos estavam nus, Adão e sua mulher, e não se envergonhavam.

Evangelho: Mc 7,24-30

Naquele tempo, 24 Jesus saiu e foi para a região de Tiro e Sidônia. Entrou numa casa e não queria que ninguém soubesse onde ele estava. Mas não conseguiu ficar escondido.25 Uma mulher, que tinha uma filha com um espírito impuro, ouviu falar de Jesus. Foi até ele e caiu a seus pés. 26 A mulher era pagã, nascida na Fenícia da Síria. Ela suplicou a Jesus que expulsasse de sua filha o demônio. 27 Jesus disse: “Deixa primeiro que os filhos fiquem saciados, porque não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo aos cachorrinhos”.28 A mulher respondeu: “É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem as migalhas que as crianças deixam cair”.29 Então Jesus disse: “Por causa do que acabas de dizer, podes voltar para casa. O demônio saiu de tua filha”. 30 Ela voltou para casa e encontrou sua filha deitada na cama, pois o demônio havia saído dela.

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Ser Homem É Ser Encontro, Dom, Participação, Amor 

Continuamos a acompanhar a leitura do Livro de Gênesis. O relato de hoje expressa a convicção do autor de que o homem só, sem companhia nem ajuda, não é homem nem pode viver como tal.

O homem não existe para si mesmo, não suporta estar só. O homem é um ser social, incapaz de realizar seu destino sem ajuda (Cf. Ecl 4,10; Tb 8,6). “Uma auxiliar semelhante a ele” ou “a ajuda adequada” inclui as noções de identidade de natureza e de complementaridade. O interesse divino fica refletido na conexão das ações: primeiro, Deus faz o homem cair no sono profundo (Cf. Gn 15,12; 1Sm 26,12; Is 29,10; Jó 4,13; 33,15). Em segundo lugar, Deus tira um costela do homem e faz mulher e depois cobriu o buraco, de onde foi tirada a costela, “com carne”. Como osso, a costela não é desprezível, visto que eles se associam ao espírito (Cf. Ecl 11,5) e visando definir um parentesco profundo, a linguagem bíblica recorre à frase: “O osso do meu ossos e a carne de minha carne(Cf. Gn 29,14; Jz 9,2; 2Sm 5,1; 19,13-14; 1Cr 11,1). Seja qual for a explicação, denota sempre um valor básico: a mulher é a outra parte, a ajuda correta, o complemento do homem e dele foi tirada (faz parte inseparável dele). A origem da mulher é o homem e não a terra. O que se enfatiza aqui é o cuidado do Senhor na formação da mulher e a pertença mútua de ambos os sexos. Nela e com ela atinge o ápice do processo criador. Por isso, para viver, o homem necessita que alguém exista com quem ele pode ou possa estar frente a frente com ele. Criado à imagem e à semelhança de Deus, o homem não pode viver sendo ele só. Somente no encontro e no relacionamento, ele se tornará ele mesmo. Porque ele nasceu de Deus, o homem é participação.  O nome dado por Adão à mulher é ´Ishah = mulher, que identifica como a que provém do ´Ish = varão. Do mesmo modo que ´Adam vincula o homem a ´adamah = terra, de onde foi tomado. Por toda a eternidade, Adão levará a cicatriz de sua carência, de sua autossuficiência impossível. Ele é um ser incompleto. Por isso, Eva, nascida da costela de Adão, será o símbolo vivente da complementariedade inalienável.

Mistério do homem é que para ser ele mesmo tem necessidade do outro; que para encontrar-se consigo mesmo, ele necessita compartilhar e dar para chegar a ser. Mistério do homem é que para poder existir como “Eu”, necessita que exista outro que lhe diga “tu”; que se descobre a si mesmo no olhar do outro; que tem conhecimento do mundo, das coisas e dos seres através de uma linguagem recebida dos outros. Mistério do homem é que ele é sociedade. Adão levará para sempre o sinal de que ele somente existe com os outros, por eles e para eles. O homem é, desde sua origem, um ser conjugal. Desde então, a parceria é sacramento de Deus. Se o ser humano fosse uma mônada fechada, não seria feito à imagem de Deus, porque um Deus com apenas uma pessoa não seria o Amor.

“Deus é Amor” (1Jo 4,8), e o Amor é encontro. Para existir como Amor, Deus tem que ser Trindade. Grandeza da parceria: se faz sacramento de Deus. “Não separeis o que Deus uniu”, dirá Jesus a seus ouvintes, especialmente para seus adversários. O matrimônio é um sacramento não porque consagre a promessa solene dos esposos, tampouco por fundar-se na mútua ternura. É sacramento por ser a imagem mais perfeita do que é Deus e do que é a vida segundo Deus. Na relação entre um homem e uma mulher descobrimos e experimentamos que Deus é encontro, dom, participação, amor.

A superioridade do homem sobre a forma da vida animal é traduzida por sua capacidade de nomear cada um. Dar nome para os animais equivale a dominá-los. Mas não pode ter o domínio onde o homem encontra a ajuda adequada, onde o homem pode realizar-se, e sim no diálogo com o “tu” semelhante, não dominado, e sim igual. O autor sagrado coloca nessa posição a mulher, que representa todos os “tu” humanos. 

Disse Santo Tomás de Aquino (Summa Theol I q.92ª. 2 e 3) que a mulher foi formada do homem, de uma costela deste, para indicar que não é a senhora nem a escrava do homem e sim seu companheira, para inculcar o homem que há de amar sua mulher, para expressar a íntima comunidade de vida entre o homem e a mulher, e finalmente, para simbolizar o nascimento da Igreja, a Esposa de Cristo.

Escreveu são Paulo: “A mulher foi tirada do homem, porém o homem nasce da mulher, e ambos vêm de Deus” (1Cor 11,12). Isto quer dizer que a mulher e o homem estão mutuamente subordinados. Os dois se complementam.

Mas em Eva não somente está representada a mulher, e sim todos os viventes e quer nos dizer o autor sagrado que onde o homem encontra a verdadeira ajuda para realizar-se como homem é na relação dialogal com o outro, na comunhão de vida com os demais seres da mesma condição. As coisas materiais nunca completam nem aperfeiçoam o homem.

Tudo isso era e continua sendo o maravilhoso plano de Deus sobre os homens. Que o homem viva me perfeita harmonia com a criação, sendo rei e senhor de toda a criação; que viva em perfeito equilíbrio interno consigo mesmo, sem conflitos psicológicos desnecessários; e que viva também em uma relação de amor com seus semelhantes que não são coisas nem animais, aos quais não se pode manipular para nosso proveito ou nosso prazer.

Este é um dos maravilhosos relatos do Paraíso. Todo homem leva dentro de seu coração o Paraíso como aspiração suprema. A história da salvação com Jesus, o verdadeiro Adão, será a história do retorno a esse Paraíso perdido por causa do pecado do homem. O Relato do Paraíso é uma proclamação de Deus sobre o que o homem está chamado a ser se aceita a graça de Jesus, o Salvador do mundo.

Quando conseguirmos dizer, um dia, ao nosso próximo: “Desta vez, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne!”, estaremos no Paraíso embora nossos pés ainda pisem sobre a terra. Tratar ao outro como igual é o plano de Deus para cada ser humano.

É Preciso Manter Nossa Fé Para Manter a Graça De Deus Fluir Até Nós

Jesus saiu e foi para a região de Tiro e Sidônia...”. Desta vez Marcos nos relata que Jesus deixou a terra de Israel, terra santa e vai a uma terra pagã, considerada sempreimpurapor Israel. Mas para o Senhor nenhuma terra é impura, pois tudo é obra de Suas mãos e toda obra de Deus é boa. Quando criou o universoDeus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). É o homem, com sua maldade que contamina e profana a obra de Deus.

Jesus entrou numa casa (na região de Tiro e Sidônia) e não queria que ninguém soubesse onde ele estava” (Mc 7,24). Jesus não busca as ações brilhantes. Ele é sempre o Messias discreto. Deus faz as coisas silenciosamente sem muito barulho. O bem não faz barulho. Ele não faz barulho nem busca fazê-lo. Deus está “no murmúrio de uma brisa ligeira” (cf. 1Rs 19,21b). Todas as grandes obras sempre foram e são frutos de um silêncio. Coisas vazias sempre fazem barulhos e o barulho sempre faz mal para a vida. Muitas vezes acontece que as palavras dizem tão pouco. Apenas fazem ruído. Somente no silêncio e na solidão é que podemos escutar o essencial. Nãoprogresso ou crescimento sem reflexão e silêncio. Por isso, o silêncio e a reflexão se tornam o maior luxo para qualquer lugar e época. A verdadeira ação, na verdade, procede dos momentos de silêncio. O silêncio é a plenitude de vida.

O grandioso do relato do evangelho deste dia é a forma como uma mulher pagã é colocada como modelo de entendida no seu sentido mais genuíno e original. Ela se abandona nos braços d’Aquele que vem da parte de Deus e se declara fraca e limitada humanamente diante do problema que afeta a vida de sua filha e conseqüentemente afeta também sua vida como mãe. A tristeza da filha é a tristeza dobrada para a mãe. O sucesso da filha é o sucesso dobrado para a mãe. A mãe reconhece a superioridade e poder de Jesus, mostrando ao mesmo tempo a gravidade do problema de sua filha. O problema de sua filha é insustentável. Na sua declaração essa mulher quer dizer a Jesus: “Sem sua ajuda, Jesus, sem seu poder, é impossível eu sair do meu problema!”. 

Essa mulher era uma Cananéia, uma pagã, uma estrangeira. Isto quer dizer que se trata de um ser impuro que faz os outros impuros. Mas não para Jesus, pois Ele que é o Santo de Deus (Mc 1,24) não pode fazer-se impuro e sim somente para purificar como fez com o leproso e com os pecadores, com os arrecadadores de impostos (publicanos), com a mulher de hemorragia e com os endemoniados. Agora Jesus está em contato com uma mulher duplamente impura: é uma pagã e mora em terra pagã com uma filha possuída pelo demônio. No entanto ela está ali aos pés de Jesus e lhe suplica que tire de sua filha o demônio.

Jesus não disse que não. Somente Jesus lhe diz que espere, que tenha paciência, queDeixa primeiro que os filhos fiquem saciados, porque não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo aos cachorrinhos”. “Filhos-cachorros”, isto é, judeus-pagãos. “Cachorro” é o termo usado para falar dos pagãos e estrangeiros. Jesus recorre a este termo para dar a entender que os pagãos não estão excluídos para sempre do banquete de salvação, do banquete dos filhos. Aqui se trata da salvação e da salvação para todos os povos (cf. Is 2,2-5; 25,6). Masumantes” e umdepoisque São Paulo observará em sua Carta para os romanos (Rm 1,16; cf. At 13,46). Mas Jesus aboliu tudo isso no dia de sua ressurreição ao dizer aos discípulos: “Há que proclamar o arrependimento para a remissão dos pecados a todas as nações, a começar por Jerusalém” (Lc 24,47). Em todo caso, o “depois” se antecipa aqui.

A mulher pagã confia na justiça e na misericórdia de Deus. Ela não perde sua mesmo que os obstáculos sejam grandes e desagradáveis. Por isso, ela responde sabiamente a Jesus: “É verdade, Senhor; mas os cachorrinhos também comem as migalhas que as crianças deixam cair”. Quanta nas palavras dessa mulher! Quanta humildade e quanta esperança! Ela chama Jesus de “Senhor”. É o titulo pascal ou pós-pascal, usado somente por essa mulher pagã no Evangelho de Marcos para assinalar que essa mulher tem e quando, há admissão para a mesa dos filhos. “Ter é assinar uma folha em branco, e deixar que Deus escreva o que quer” (Santo Agostinho). “Ter não é somente elevar os olhos a Deus para contemplá-Lo, é também olhar a terra com os olhos de Cristo” (Michel Quoist) 

Pela sua verdadeira e profunda e pela perseverança na sua oração essa mulher é premiada pela cura de sua filha. “Por causa do que acabas de dizer, podes voltar para casa. O demônio saiu de tua filha”, disse Jesus à mulher.  é crer no que não vemos. O premio da é ver o que cremos”, dizia Santo Agostinho (Serm. 43,1,1; cfr. Hb 11,1). A verdadeira é uma adesão a uma pessoa (Deus) e não a uma fórmula dogmática. 

O evangelho nos mostra a de uma mulher que não pertencia ao povo eleito, não pertencia à uma Igreja ou a uma religião, mas tinha confiança e no poder de Jesus. Ela pode não pertencer a uma religião ou a uma Igreja, mas ela pertence a Deus pela que tem no poder de Deus.

Ser pagão não depende da pertença ou não a uma religião ou a uma Igreja. Ser pagão se define a partir do modo de viver. Por isso, há cristãos pagãos como tambémpagãos cristãos. Há cristãos que perdem com facilidade sua e vive sem esperança. Sãocristãospagãos. Há muitos que são considerados pagãos pelos outros, como a mulher Cananéia, mas acreditam no poder de Deus incondicionalmente. Sãopagãoscristãos.

A mulher Cananéia não perde sua , não protesta, não se revolta ainda que experimente a humilhação. Ela conseguiu o que pedia, pois ela se abandonava totalmente nos braços de Deus e encarava todos os tipos de obstáculos e dificuldades. Santo Agostinho dizia que muitos não conseguem o que pedem porque são maus de coração e por isso, eles têm que ser, primeiramente, bons. Ou muitos não conseguem o que pedem porque pedem malmente, sem insistência no lugar de fazê-lo com paciência, com humildade, com e por amor. Há que esforçar-se por pedir o que bom para todos. A mulher Cananéia é boa mãe, pede algo bom e pede bem. Através do evangelho de hoje o Senhor quer nos mover a termos e perseverança e a vivermos na esperança porque Deus nos ama. Deus se vence com e não com orgulho. De Deus se obtém tudo com confiança. Em Deus sempre encontra uma acolhida quando cada um se aproxima com humildade e não com auto-suficiência. 

Essa mulher é um modelo acabado de e oração unidas. Ela chama Jesus de “Senhor”, um título dado a Jesus pós-pascal. Sua é orientada para a libertação do próximo, nesse caso de sua filha. E sua oração cumpre aquilo que Jesus pede: a , confiança, perseverança e sem desfalecimento. Ela nos ensina que a e a oração devem andar juntas. Quem tem em Deus precisa rezar. E quem reza, precisa ter . A é a atitude básica de qualquer crente, de qualquer cristão, pois ela é a resposta nossa diante da oferta do amor de Deus para nós. A oração evidencia, por sua vez, a presença e a vitalidade de nossa em Deus.

P. Vitus Gustama,svd

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