quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

15 de Fevereiro de 2021

RECONHECER OS SINAIS DE DEUS E SER SINAL DE DEUS

Segunda-Feira da VI Semana Comum

Primeira Leitura: Gn 4,1-15.25

1 Adão conheceu Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz Caim, dizendo: “Gerei um homem com a ajuda do Senhor”. 2 E deu também à luz Abel, irmão de Caim. Abel foi pastor de ovelhas e Caim, agricultor. 3 Aconteceu, tempos depois, que Caim ofereceu frutos da terra como sacrifício ao Senhor, 4 e Abel ofereceu primogênitos do seu rebanho, com sua gordura. O Senhor olhou para Abel e sua oferenda, 5 mas para Caim e sua oferenda não olhou. Caim encheu-se de cólera e seu rosto tornou-se abatido. 6 Então o Senhor perguntou a Caim: “Por que estás cheio de cólera e andas com o rosto abatido? 7 É verdade que, se fizeres o bem, andarás de cabeça erguida; mas se fizeres o mal, o pecado estará à porta, espreitando-te. Tu, porém, poderás dominá-lo”. 8 Caim disse a seu irmão Abel: “Vamos ao campo”. Logo que chegaram ao campo, Caim atirou-se sobre o seu irmão Abel e matou-o. 9 E o Senhor perguntou a Caim: “Onde está o teu irmão Abel?” Ele respondeu: “Não sei. Acaso sou o guarda do meu irmão?” 10 O Senhor lhe disse: “Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão está clamando por mim, da terra. 11 Agora, pois, serás amaldiçoado pela terra que abriu a boca para receber das tuas mãos o sangue do teu irmão! 12 Quando tu a cultivares, ela te negará seus frutos. E serás um fugitivo, vagando sobre a terra”. 13 Caim disse ao Senhor: “Meu castigo é grande demais para que eu o possa suportar. 14 Se, hoje, me expulsas desta terra, devo esconder-me de ti, tornando-me um fugitivo a vaguear sobre a terra; qualquer um que me encontrar me matará”. 15 E o Senhor lhe disse: “Não! Mas aquele que matar Caim, será punido sete vezes!” O Senhor pôs, então, um sinal em Caim, para que ninguém, ao encontrá-lo, o matasse. 25 Adão conheceu de novo sua mulher. Ela deu à luz um filho, a quem chamou Set, dizendo: “O Senhor deu-me um outro descendente no lugar de Abel, que Caim matou”.

Evangelho: Mc 8,11-13

Naquele tempo:  11Os fariseus vieram e começaram a discutir com Jesus. E, para pô-lo à prova, pediam-lhe um sinal do céu. 12Suspirando profundamente em seu espírito ele disse: “Por que esta geração procura um sinal? Em verdade vos digo, a esta geração nenhum sinal será dado”. 13E, deixando-os, Jesus entrou de novo na barca e se dirigiu para a outra margem.

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Somos Cuidadores e Protetores Do Nosso Irmão, Nosso Próximo

Continuamos a acompanhar a leitura do livro de Gênesis nas Primeiras Leituras da Missa. Mesmo que afastado da “árvore da vida”, o casal Adão-Eva consegue perpetuar a vida no primogênito e cumpre-se a mensagem contida no nome de Eva, mãe do gênero humano, mãe dos viventes.  

Há duas perguntas primordiais de Deus para o ser humano. A Primeira pergunta: Onde tu estás?” (Gn 3,9). Deus não precisaria fazer esta pergunta porque Ele é onisciente: sabe de tudo. Esta pergunta tem como objetivo induzir Adão a tomar consciência da situação em que se encontra. Deus quer lhe dizer: “Em que estado te encontras em tua relação comigo, com tua companheira, com o mundo em que vives? Por que estás nessa situação?”. 

A segunda pergunta primordial de Deus para nós se encontra no texto da Primeira Leitura de hoje: “Onde está o teu irmão Abel?”. Com esta pergunta Deus quer nos dizer que todos nós somos irmãos uns aos outros e por isso, devemos proteger os outros como nossos irmãos, em vez de prejudica-los ou destruí-los.

Em um mundo “muito bom” tal como saiu das mãos divinas surgiu a maldade humana. De quem é culpa? O redator dos onze capítulos de Gênesis a atribui ao ser humano. Inconformado com sua condição humana, o ser humano intenta escalar o posto de Deus (Gn 3,5). Assim se inicia um processo fatídico (desgraça), e irreparável, de ruptura com Deus e com o irmão.

 

O texto de Caim (= Conseguido graças ao Senhor) e de Abel (= Sopro vital, fragilidade) descreve o primeiro fratricídio humano. O autor de Gn 2-3 da fonte Yahvista nos fala da violenta conduta humana nos começos da história. E este pecado de violência é totalmente deliberado. O confronto entre os irmãos (Caim e Abel) que leva ao fratricídio é um tema conhecido.

A vida agrícola e a vida pastoril representadas por Caim e Abel, simbolizam dois tipos diversos de vida humana. Mas esta diversidade não é tão importante para o autor como o fato de que os dois são irmãos (até sete vezes é mencionado). Unidos como irmãos, diferentes ou diversos em sua profissão. É diversidade na unidade. A relação de fraternidade pertence à essência do ser humano. Mas o ódio pode acabar com a fraternidade.

Caim não aceita o êxito de seu irmão com o Senhor (o autor não explica o porquê são mais gratas as oferendas de Abel) e se enfurece contra ele. O pecado pode dominar o homem a qualquer momento. Caim poderia dominá-lo, como qualquer homem: “Por que estás cheio de cólera e andas com o rosto abatido? É verdade que, se fizeres o bem, andarás de cabeça erguida; mas se fizeres o mal, o pecado estará à porta, espreitando-te. Tu, porém, poderás dominá-lo”, assim Deus alerta a Caim. Nunca faltam alertas ou advertências na nossa vida tanto de dentro de nós como as advertências vindas de fora. Mas ao não aceitar o irmão, Caim é dominado pelo pecado.  Assim se comete o primeiro fratricídio da história. O ódio, nascido da inveja, ocasionou a ruptura da fraternidade humana. A tentativa de querer ser como deuses faz com que não possamos suportar quem está ao nosso lado, mesmo que ele seja nosso irmão de sangue.

Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão está clamando por mim, da terra. Agora, pois, serás amaldiçoado pela terra que abriu a boca para receber das tuas mãos o sangue do teu irmão!”. A interrogação divina exige contas porque Deus está interessado na justiça entre os homens. O homem pode matar outro homem, mas o valor da vida humana não é trivial aos olhos divinos. O sangue inocente grita e o Senhor não pode deixar de escutar. É por isso que Caim é amaldiçoado e forçado para o desterro; a mesma terra, o solo que ele cultivou, também sofre as conseqüências do sangue derramado: ele é amaldiçoado, sua força materna é negada.

Apesar do fratricídio, Caim segue com vida. Deus nunca destrói o homem e sim que sempre cuida dele. É um grave delito de ele não ter querido aceitar a obrigação de ser guardião responsável de seu irmãos, mas o Senhor proíbe terminantemente a vingança.  Quem matar Caim, o pagará sete vezes (Gn 4,14-15).

Entender a história de Caim e Abel é muito fácil, aplique-a à nossa vida, não tanto. Estamos sempre falando de compreender o outro, mas na maioria das vezes tudo é um jogo floral de palavras. O que nós realmente tentamos é agir como um guardião repressivo com o irmão, forçando-o a fazer o que queremos. A violência ideológica na Igreja, nos partidos políticos ... continua a andar à vontade. Tentamos justificar essa uniformidade apelando para a disciplina do partido, para que a Igreja seja um corpo social, etc. Mas são meras desculpas.

As guerras, assassinatos ..., diferenças políticas, religiosas, econômicas ..., são sempre injustificáveis. Essa é uma lição que deduzimos desta linda história do Gênesis. E infelizmente esse tem sido o comportamento humano de todos os tempos; basta rever a História Civil e a da Igreja. O homem deve aproveitar a fera e, fazendo uso da razão, resolver os problemas levantados através do diálogo, dos pactos. É necessário que o homem seja sempre o guardião responsável pelo irmão. Nem sempre é fácil comportar-se como irmão. Estejamos vigilantes! Nunca faltam as advertências!

Todos nós somos um pouco Caim. A inveja e a intolerância continuam a existir em nosso mundo. Jesus a quem seus inimigos invejaram e levaram à morte, como Abel - nos ensinou a amar uns aos outros, também quando não coincidimos em caráter e quando há ofensas. Mas é o que mais nos custa: as relações com os que convivem conosco. Muitas vezes, somos complicados, egoístas, suscetíveis.

Reconhecer Os Sinais Da Presença De Deus No Nosso Cotidiano    

Jesus entra novamente na controvérsia com os fariseus. Os fariseus não querem abrir os olhos, muito menos o coração para reconhecer as obras de Jesus pelo bem da humanidade. A arrogância impede os fariseus de reconhecerem a bondade praticada por Jesus. A arrogância é como o mau hálito: todos o percebem, exceto quem dele padece. Os fariseus se preocupam com o próprio prestigio e poder. Por isso, eles sempre querem derrubar Jesus de qualquer modo, pois não admitem a existência de rivais. No evangelho de hoje “Para pôr Jesus à prova os fariseus pediam-lhe um sinal do céu”.

Segundo os fariseus, Jesus deve oferecer provas de suas pretensões de ser profeta esperado ou de um Messias sonhado. Quando reclamaram um sinal do céu, os fariseus exigiam que Deus desse diretamente uma prova da messianidade de Jesus. Tudo isso quer mostrar, na verdade, a incredulidade dos fariseus. Na verdade Jesus já lhes tinha dado um sinal ao expulsar demônios (Mc 3,23), e suas obras mostravam que nele se cumpriu aquilo que foi anunciado pelo profeta Isaías: os paralíticos, os surdos, e os mudos são curados e os mortos ressuscitam (Is 35,5-6). 

Diante da incredulidade dos fariseus Jesus fica indignado. Para falar desta indignação, Mc usa a seguinte expressão: “Suspirando profundamente em seu espírito, Jesus disse: ‘Por que esta geração procura um sinal?’” (Mc 8,12). “Suspirando profundamente” expressa uma grande pena e tristeza de Jesus. É a contrariedade baseada no dom do Espírito que o une a Deus (cf. Mc 7,34).

Jesus também usa a expressão “Esta geração”. No NT a expressão “esta geração” denota sempre um juízo negativo (Mc 8,38; 9,19; Mt 12, 39-45; 16,4, 17,17; Lc 9,41; 11,29; Fl 2,15).  No AT a palavra “esta geração” é um termo de condenação que faz a alusão à “geração do deserto” que contestou Deus, que pus Deus à prova reclamando sempre novas provas ou mostras do poder divino (cf. Ex 15,22-17,7; Sl 95,9-10). O poder de Deus não se manifesta através do exibicionismo, e sim através da simplicidade. E a simplicidade não faz nenhum barulho. Para Deus tudo é simples e para o simples tudo é divino.

“Em verdade vos digo, a esta geração nenhum sinal será dado”. É a primeira vez que Jesus é tão duro. Na expressão “Em verdade” ou “eu asseguro” escuta-se a voz do juiz que condena. 

Jesus sempre recusa sinais que possam ser interpretados apenas como atos exibicionistas (cf. Mc 4,5-7 e Lc 4,9-12). Os atos exibicionistas são pedidos por quem não tem fé (cf. Mc 3,22-30).

Quando buscamos ou damos outro sinal, como os fariseus, é prova de que vivemos ainda na imaturidade da fé ou na incredulidade, pois ainda precisamos de muletas para poder nos mover. Os milagres são um presente que Deus nos faz e não se podem converter em uma manipulação dos demais. Jesus quer que nós mesmos sejamos esse sinal através das boas obras que fazemos. As boas obras que fazemos são provas de nossa união com Cristo e por isso, elas sempre apontam para Cristo, pois fazemos tudo no espírito do Senhor. Os milagres supõem uma fé básica. Mas nossa verdadeira fé não depende de milagres, pois sabemos que Deus nos ama e cremos no Seu amor. A consciência plena do amor de Deus por nós é o grande milagre para nossa vida diariamente. O amor nos tranquiliza, nos serena e nos faz crescer como filhos e filhas de Deus e nos faz mais humanos e irmãos.

Os fariseus pedem a Jesus um sinal ou uma prova do céu para comprovar a Sua messianidade, esquecendo-se da prova que está tão perto deles: o próprio Jesus. É preciso nós dirigirmos nosso olhar para duas direções: para o céu e para a terra, simultaneamente. Olhar para o céu é olhar para Deus, origem de todas as coisas; é reconhecer nele a fonte de onde saiu tudo de bom para o mundo: “Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. Nele havia vida e a vida era a luz dos homens” (Jo 1,3-4). Olhar para a terra é olhar para a obra de Deus. Antes de qualquer um ter nascido, já tinha tudo na terra e no universo. Vivemos, realmente, no mundo de gratuidade e por isso, no mundo do amor divino. Justamente, a maior prova de que Deus nos ama consiste em que, sendo nós pecadores, nos enviou seu próprio Filho (Jo 3,16) que entregou sua vida para nos libertar da morte e da escravidão do pecado. Deus nos ama. Deus é o Deus-Conosco (Mt 1,23;18,20;28,20). Deus não somente se fez próximo de nós em Jesus Cristo, mas ele fez sua morada em nós mesmos ao vivermos seus mandamentos, resumidos no amor fraterno (Jo 14,23; 1,14; cf. Jo 13,35; 15,12). 

Por isso, Jesus é o próprio retrato de Deus, pois ele ama até o fim (Jo 13,1), ele perdoa, ele faz todo mundo irmão, ele ressuscita, ele entrega sua vida para o bem de todos. Se Jesus é o próprio retrato de Deus, cada cristão deve ser o próprio retrato de Jesus Cristo. O cristão, através de seu modo de viver deve ser sinal ou reflexo de Deus no mundo (Cf. Mt 5,14-16). Deus se reconhece na vida do homem, pois o homem é a imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26). A vida do cristão deve brilhar de tal modo que os outros percebam algo de Deus nele. 

Em outras palavras podemos dizer que a prova maior de que Deus nos ama consiste em que, sendo pecadores, Ele nos enviou Seu próprio Filho, o qual entregou Sua vida para nos libertar da morte e da escravidão do pecado. Isto é o que celebramos na Eucaristia. Deus nos ama. Deus é o Deus-Conosco. Deus não somente é próximo de nós e sim fez Sua morada em nós. Apesar disso, nossa vida de cristãos constantemente está submetida a uma serie de tentações que só poderemos superá-las permanecendo no Senhor (cf. Jo 15,5) para que o mal não nos domine. “Sabemos que nunca conhecemos Deus se não combatermos o mal, mesmo ao preço de nossas vidas. Quanto mais tentarmos nos purificar, mais nos aproximaremos de Deus” (Mahatma Gandhi).

Em outras palavras, nós precisamos estar conscientes de que, apesar de o Senhor habitar em nós e caminhar conosco, as provas jamais desaparecerão de nossa vida como aconteceu com o nosso Senhor, Jesus Cristo. O próprio Jesus foi tentado até a morte, como foi tentado também no evangelho deste dia. Ser tentado é ser predileto de Deus, pois é sinal de que alguém está caminhando com o Senhor. Nossa vida está submetida a uma série de tentações que, ao serem vencidas pela força do Espírito Santo, nos tornaremos mais maduros na fé e mais humanos na convivência fraterna. Por isso, é preciso que abramos nosso coração à Sabedoria de Deus para que, na nossa atuação como filhos e filhas de Deus, sejamos guiados pelos critérios do bem, do amor, da verdade, da solidariedade, da justiça, da honestidade e assim por diante. Nossa fé não pode ser movida por qualquer vento.

P. Vitus Gustama,svd

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