quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Domingo, 07 de Fevereiro de 2021

SOMOS CHAMADOS A LEVANTAR E A SERVIR OS DEMAIS COMO JESUS

V Domingo Do Tempo Comum “B”

Primeira Leitura: Jó 7,1-4.6-7

Jó disse: 1“Não é acaso uma luta a vida do homem sobre a terra? Seus dias não são como dias de um mercenário? 2 Como um escravo suspira pela sombra, como um assalariado aguarda sua paga, 3 assim tive por ganho meses de decepção, e couberam-me noites de sofrimento. 4 Se me deito, penso: Quando poderei levantar-me? E, ao amanhecer, espero novamente a tarde e me encho de sofrimentos até ao anoitecer. 6 Meus dias correm mais rápido do que a lançadeira do tear e se consomem sem esperança. 7 Lembra-te de que minha vida é apenas um sopro e meus olhos não voltarão a ver a felicidade!

Segunda Leitura: 1Cor 9,16-19.22-23

Irmãos: 16 Pregar o Evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade para mim, uma imposição. Ai de mim se eu não pregar o Evangelho! 17 Se eu exercesse minha função de pregador por iniciativa própria, eu teria direito a salário. Mas, como a iniciativa não é minha, trata-se de um encargo que me foi confiado. 18 Em que consiste, então, o meu salário? Em pregar o Evangelho, oferecendo-o de graça, sem usar os direitos que o Evangelho me dá. 19 Assim, livre em relação a todos, eu me tornei escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível. 22 Com os fracos, eu me fiz fraco, para ganhar os fracos. Com todos, eu me fiz tudo, para certamente salvar alguns. 23 Por causa do Evangelho eu faço tudo, para ter parte nele.

Evangelho: Mc 1,29-39

Naquele tempo, 29 Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, para a casa de Simão e André. 30 A sogra de Simão estava de cama, com febre, e eles logo contaram a Jesus. 31 E ele se aproximou, segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se. Então, a febre desapareceu; e ela começou a servi-los. 32 À tarde, depois do pôr do sol, levaram a Jesus todos os doentes e os possuídos pelo demônio. 33 A cidade inteira se reuniu em frente da casa. 34 Jesus curou muitas pessoas de diversas doenças e expulsou muitos demônios. E não deixava que os demônios falassem, pois sabiam quem ele era. 35 De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto. 36 Simão e seus companheiros foram à procura de Jesus. 37 Quando o encontraram, disseram: “Todos estão te procurando”. 38 Jesus respondeu: “Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim”. 39 E andava por toda a Galileia, pregando em suas sinagogas e expulsando os demônios.

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Um Olhar Geral Sobre As Leituras Deste Domingo

O tema que destaca nas leituras deste domingo é o do sofrimento do homem, que encontra seu refúgio e sua libertação em Jesus Cristo. “O Senhor veio como médico dos que estão enfermos. Ele mesmo afirma: ‘Não são os sãos os que que tem necessidade de médico e sim os enfermos; não veio chamar os justos e sim, os pecadores’” (Santo Ambrósio: Comentário sobre São Lucas,45-46).

O texto de Jó, que lemos na Primeira Leitura, contém uma grande carga ou peso de humanidade. Jó fala de sua vida em termos dramáticos e pessimistas. Ele considera sua vida como uma escravidão, como um trabalho que se impõe a ele, e por isso, quer buscar um pouco de sombra, de paz, de serenidade: “Como um escravo suspira pela sombra, como um assalariado aguarda sua paga, assim tive por ganho meses de decepção, e couberam-me noites de sofrimento”. Sua herança é vista como um novo fardo, portanto, o futuro parece incerto e ameaçador: “Meus dias correm mais rápido do que a lançadeira do tear e se consomem sem esperança. Lembra-te de que minha vida é apenas um sopro e meus olhos não voltarão a ver a felicidade!”. Aparentemente, Jó exagera sua desgraça ou ele perdeu sua fé. Mas, na verdade, trata-se da expressão de um coração aflito pela dor, penetrado pelo sofrimento e que clama a Deus a partir da própria miséria.

Um dos dados mais comuns de nossa existência humana é o do sofrimento humano. O sofrimento que se encontra em todas as partes, em todas as gerações, em todos os povos, em todas as circunstâncias. Este sofrimento não suscita pequenas questões para o homem, especialmente quando se trata do sofrimento dos inocentes, ou quando é um sofrimento que parece não ter sentido, nem fruto: sofrimento aparentemente inútil. Todo homem experimenta sofrimento e todo homem busca dar sentido a isso. Por isso de seus lábios se eleva frequentemente uma oração em busca de ajuda para compreender o porquê de tanto mal. Para Jó, o terrível de sua situação não é a perda de seus bens materiais nem sequer a perda de seus seres queridos, e sim, sobretudo, sentir que Deus o abandonou; que aquele Deus em quem tinha posta suas esperanças se esqueceu dele. Esta é a experiência mais terrível da noite da fé. Somente que já passou pelas dolorosas provas, pode compreender o que sucede no coração de Jó.

O Salmo Responsorial de hoje (Sl 146/147) nos mostra como se pode passar desta lamentação cheia de desespero para uma confiança profunda em Deus, pois “O Senhor Deus conforta os corações despedaçados, ele enfaixa suas feridas e as cura”. A Bíblia, especialmente os Salmos, nos oferecem uma rica variedade de orações em meio da tribulação.

Para a oração do homem aflito ou atribulado, Deus responde de maneira excepcional com Seu Enviado, Jesus Cristo. Ele é libertador no sentido mais profundo da palavra. Ele é o Redentor que tem que anunciar a Boa Nova por todas aldeias. Assim Jesus recorre a Galileia pregando nas sinagogas e expulsando os demônios porque para isso é que Ele foi enviado como relatou o evangelho deste domingo. Cristo cumpre com fidelidade a missão para a qual foi enviado. É consciente de que Ele deve anunciar a Boa Nova da salvação e que deve vencer o mal com sua obediência até a morte de Cruz.

Por isso, o sofrimento humano somente encontra uma resposta no amor de Deus que mostrou sua onipotência de maneira mais misteriosa, isto é, por meio da aniquilação voluntária e na ressurreição de seu Filho, pelas quais o mal foi vencido. Há que ter a plena certeza, mesmo em meio de grandes e prolongadas tribulações, de que Deus Pai, em Jesus Cristo, vence o mal e a morte, e que as aparências deste mundo passam para dar lugar à pátria celeste. 

A vocação cristã implica a vocação apostólica. Todo cristão deve ser um bom apóstolo. Por isso diz são Paulo, na Segunda Leitura de hoje, (1Cor 9,16-19.22-23): “Pregar o Evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade para mim, uma imposição. Ai de mim se eu não pregar o Evangelho!”. Palavras densas que expressam uma clara consciência da própria dignidade e da própria vocação como seguidor de Cristo. Assim devemos ser nós cristãos: devemos levar em nosso coração, por onde passar, o anseio ardente para que os outros conheçam Jesus Cristo, o Libertador, O amem e deem um sentido para suas vidas. O amor de Cristo em nós urge a cada um de nós a melhorar este mundo. “Como Cristo já não vem a nós na carne, vem na palavra: e aonde quer que a fé nasça da mensagem, e a mensagem consiste em falar de Cristo, ali a fé nos liberta da escravidão do demônio, enquanto que os demônios, de ímpios tiranos, converteram-se em prisioneiros” (São Pedro Crisólogo, sec. V: Sermão 18 em PL 52,246-249).

Um Olhar Específico Sobre O Evangelho Deste Domingo

No evangelho do domingo anterior lemos que Jesus curou uma pessoa dominada pelo espirito mau num sábado na sinagoga (Mc 1, 21-27). Hoje ele entra na Casa de Simão, cura e come, cura as pessoas à porta da casa e sai para outro lugar. Trata-se de um caminho exemplar em três partes: (1) Em plena luz do dia, ele entra na casa de Simão e cura a sogra, que, logo em seguida, os serve, aparecendo bem como a primeira verdadeira seguidora de Jesus. (2) No início da noite, ele sai à porta da casa e cura todos os enfermos e possessos que se aproximam dele, implorando por ajuda. (3) No amanhecer no dia seguinte, ele sai para o campo aberto para orar e começa uma jornada do evangelho através de todas as aldeias vizinhas, contra Simon que queria fazer dele um curandeiro a seu serviço, diante de sua casa.

1. Somos Levantados e Chamados Por Jesus Para Servir Os Demais: A Cura em Casa

Cristo fixou-se nos gemidos da enferma (sogra de Pedro), dirigiu sua atenção ao ardor daquela que estava sob a ação da febre. Viu o perigo daquela que estava para além de toda esperança, e imediatamente coloca mãos para a obra de sua deidade: Cristo nem se sentou para tomar alimento humano, antes que a mulher que jazia na cama se levantasse para as coisas divinas. ... A enfermidade não resiste, onde o autor da saúde assiste; a morte não tem acesso algum, onde entrou o doador da vida” (São Pedro Crisólogo, sec.V: Sermão 18, em PL 52,246-249)

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Depois da cura do endemoninhado na Sinagoga de Cafarnaum (veja o 4º Domingo) que é o primeiro milagre de Jesus segundo Marcos, o evangelista narra como o segundo milagre, no fim do primeiro dia de atividade de Jesus, a cura da febre da sogra de Simão na intimidade de uma casa (não mais na sinagoga). Isto nos mostra que Jesus é o libertador tanto para o ambiente oficial (sinagoga, onde se encontra o endemoninhado) como para os ambientes privados (casa, onde se encontra a sogra de Simão).          

A casa onde acontece a cura da sogra de Simão não significa apenas como lugar de moradia ou centro produtivo (onde se fabrica o pão, o azeite, o vinho, manteiga, queijo etc.), mas principalmente, neste caso, como símbolo de um novo sistema de relações de convivência oposto ao espaço oficial simbolizado pela sinagoga. A casa, aqui, simboliza um sistema de convivência alternativa, onde as pessoas têm posse de sua própria vida, e onde existem relações imediatas sem nenhuma formalidade, pois todos se sentem à vontade, e em casa todos têm o domínio sobre o próprio espaço. Em casa todos tem seu nome e cada membro é chamado pelo nome e não pelo título. 

A família e o lar são nosso ninho, o centro de nossa vida, o eixe do qual se prolongam todas as experiências cotidianas. Seja quando crianças ou adultos, nosso lar e nossa família são onde devemos nos sentir mais confortáveis no mundo. Um lar saudável é um ingrediente vital na busca de uma vida significativa. É no lar que aprendemos a sobreviver e a ser produtivos, a trabalhar e a brincar. Precisamente, Jesus quer entrar no espaço de nosso lar, pois com a presença do Senhor tudo se ilumina e acabaremos enxergando o que não está em bom funcionamento dentro de nosso lar. A presença do Senhor no nosso lar é uma presença curativa e libertadora. Quando o Senhor se tornar membro permanente de nosso lar, a família brilhará, em consequência, para fora dela, iluminando outros lares ao redor. 

Faz parte da missão é congregar as pessoas (formar família) em torno do Senhor para criar uma comunidade cristã em que Jesus é a cabeça da comunidade (Cl 1,18). É preciso combater o poder do mal que aliena e desune as pessoas.          

A sogra de Pedro se encontra com a febre. Para os antigos, as doenças e principalmente a febre eram obra do demônio ou de origem demoníaca (cf. Lc 13,11-16), que suga a saúde das pessoas que resulta na diminuição da capacidade de viver e de usufruir a vida na sua plenitude (“está de cama”, prostrada). Por isso, Jesus expulsa a febre como se expulsasse o demônio (cf. Lc 4,39), o mesmo termo que se usa em Mc 1,25. No v. 31 diz-se que “a febre a deixou”. É uma frase que poderia ser entendida como “o demônio da febre foi embora”.          

No relato da cura não se narra gestos mágicos de Jesus como ordenar a saída do demônio (Mc 1,25). Jesus se mostra, aqui, solidário com a humanidade sofrida: ele se aproxima, abaixa-se, tomar a mão da mulher e fá-la levantar-se. A força da solidariedade sempre causa o reerguimento de quem estiver prostrado sobre o peso de problemas da vida.          

O relato sublinha também o uso de determinados termos que para Marcos têm significado próprio, como “tomar pela mão” e “fazer levantar”. Estas duas expressões são usadas em cenas de ressurreição. O termo “levantar-se” (o verbo em grego “egeiro”, “levantar” também significa “ressurgir da morte”, cf. Mc 14,28; 12,26) aparecerá também na cura do paralítico (Mc 2,9-11) e na do cego de Jericó (Mc 10,49). E o mesmo termo será usado no anúncio da ressurreição do próprio Jesus (Mc 16,6). Em outras palavras, o gesto de Jesus de levantar a sogra de Simão antecipa a vitória de Jesus sobre a morte. A expressão “tomar pela mão” também tem um significado como um gesto típico da salvação de Deus quando resolve levantar o seu povo abatido (cf. Is 41,13;42,6;45,1; Sl 73,23-24).          

Jesus ajuda a sogra de Simão a se levantar que a impedia de servir, pois, de fato, logo depois, “ela se pôs a servi-los” (v.31b). Isto significa que a sogra de Simão, mulher ressuscitada, vai começar a fazer parte da casa de Jesus ou do grupo dos seus discípulos. Aqui a sogra de Simão que foi curada representa todos os pequeninos levantados por Jesus (a mulher era desvalorizada).         

Seguir Jesus, neste sentido, significa servir e não dominar nem alienar. O Reino de Deus é, certamente, caracterizado por um amor serviçal. O serviço é a atitude característica de quem segue a Jesus. Cada pessoa é levantada por Jesus para se integrar à comunidade de servidores. O serviço constitui a identidade cristã (cf. Rm 12,9-13; Gl 5,13; Fl 2,5-7; Ef 5,21). E Jesus vai educando ou ensinando os discípulos lentamente a viver esse novo caminho de vida (cf. Mc 9,35;10,43-45). E o próprio Jesus se propõe como modelo (cf. Mc 10,45; Lc 12,37; Jo 13,1-17). Nós acolhemos o Reino de Deus quando colocamos a nossa vida a serviço dos demais (cf. Mc 9,33-35). Mas quando se fala do serviço não se trata do serviço escravo, que degrada a pessoa. Trata-se do serviço fraterno, expressão de amor. O amor é que dá dignidade ao serviço.          

A comunidade cristã primitiva não estava interessada nos milagres de Jesus meramente como fatos extraordinários. Eles são uma manifestação do poder de Deus que se atua em Jesus e ao mesmo tempo, são uma proclamação da plenitude do tempo (cf. Mc 1,15). O poder de Jesus proclama a realidade presente do Reino de Deus (cf. At 2,22). Eles acreditam que Jesus é o Salvador e que através das obras de sua vida terrena, ele antecipa as realidades divinas comunicadas aos fiéis. Entendido desta maneira, o relato se torna um retrato simbólico para os fiéis onde eles, antes, se prostravam sob o poder do pecado, mas agora são levantados por Jesus, e são chamados a servi-lo (v.31). Faz parte da missão é a preocupação com os doentes, com os necessitados, com os excluídos para que possam se levantar e voltar a prestar serviço aos demais. 

2. A Cura Diante Da Casa, À Porta Da Casa          

A segunda parte tem um gênero literário típico conhecido como “sumário”. Este gênero pode encontrar-se em outras partes deste evangelho (cf. Mc 1,14-15;3,7-12;6,6b; veja também At 2,42-47;4,32-37;5,12-16).

Frente à Sinagoga dos “endemoninhados” (veja o evangelho do IV Domingo) surge aqui a Igreja que está à porta da casa de Simão onde, em plena rua, ao anoitecer, se junta a multidão daqueles que querem escutar e ser curados. O povo do entorno vem trazendo diante da casa de Simão seus enfermos para que Jesus os cure (Mc 1,32-34), pois são muitos os que continuam oprimidos pelo mal, endemoninhados. Precisamente, quando acaba o Sábado judaico do culto e o descanso religioso que não conseguiram curar os doentes, o tempo messiânico da cura pode começar para os pobres.

Este é, sem dúvida, um texto irônico. É como se tivesse de esperar o fim do tempo da religião (sábado sagrado) para receber o dom de Deus (a cura feita por Jesus, o Cristo). Diante da porta da casa de Simão, as multidões da cidade, no verdadeiro culto da miséria (estão trazendo os doentes e possuídos pelo demônio) esperam ouvir a palavra de esperança e de cura de Jesus. 

O espaço que está diante da casa de Simão se converte em uma espécie de Igreja domestica, onde se reúnem os cristãos de Cafarnaum. Para os leitores de Marcos, que celebravam seu culto em Igrejas domésticas (cf. Mc 2,1-2.15; 3,20 etc.) são muito importantes: mostram a forma em que Jesus manifestou seu poder nas casas (ante as casas) durante o tempo de seu ministério público. Da mesma maneira Jesus se manifesta hoje em dia, nas casas, através de sua presença continuada nas pequenas comunidades cristãs. 

Temos passado, então, da Sinagoga (em Mc 1,21-28) para a casa de Simão, isto é, para a Igreja domestica, vinculada à casa (em Mc 1,29-34).

A população se aglomera diante da casa e não diante da sinagoga. Ali, diante da porta da casa de Simão onde Jesus curou a sogra, se amontoam as pessoas, esperando as curas feitas por Jesus. Quando Marcos descreve essas curas, ele acrescenta que Jesus não permite que os demônios falem “porque sabiam quem ele era”. Jesus não quer propaganda, não quer que os endemoninhados revelem Sua glória. Jesus quer curar, em gesto silencioso de amor, em gesto forte de serviço. “O bem não faz barulho e o barulho não não faz bem”, dizia o Papa Paulo VI.

Além disso, esta ordem de calar os demônios tem por finalidade de alertar o povo/leitor para que não faça um conclusão apressada ou precipitada sobre a verdadeira identidade de Jesus antes de sua manifestação definitiva: a morte e a ressurreição. Esta ordem também quer ressaltar a ignorância humana acerca do Messias Jesus: os demônios conhecem quem é Jesus, enquanto que os próprios seguidores não conhecem quem ele é. Só pode ser uma ironia.          

Nunca podemos decifrar definitivamente o mistério da pessoa de Jesus. Ninguém pode fazer uma conclusão apressada ou precipitada a respeito de Jesus. Somos convidados, por isso, a decifrar progressivamente, dia após dia, o enigma da presença de Jesus na nossa vida e o segredo da força misteriosa que tem produzido tantos mártires na história do cristianismo. É uma força inexplicável que faz alguém abandonar tudo para se agregar a Jesus. É uma força que alguém encontrou para se levantar novamente. Só em Jesus podemos encontrar resposta.  

Será que nossa fé nos liberta ou nos oprime? Será nossa casa é realmente uma Igreja domestica? Será que somos exibicionistas ou propagandistas do “bem” ou da “bondade” que praticamos? Ou deixamos que o bem praticada ou a bondade vivida fale ou grite por si mesmo?    

Três vezes temos visto Jesus curando o povo: primeiro, ele curou alguém na sinagoga; segundo, ele curou a sogra de Simão na sua casa; e terceiro, ele curou a multidão na porta (rua). Jesus não escolhe nem o lugar nem a pessoa. Ele realiza o clamor da humanidade em necessidade. Onde quer que se encontre uma enfermidade, Jesus está lá pronto para usar o seu poder de cura. A salvação é destinada a todos, especialmente aos marginalizados em todos os sentidos. 

3. Oração e Ação São Inseparaveis

De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto” (Mc 1,35).

Para o evangelista Marcos parece que o apostolado de Jesus ficaria incompleto se não tivesse o momento de oração. Marcos não dá uma informação precisa da oração de Jesus, porém nos indica que Jesus ora com frequência e que o faz sozinho no lugar deserto. Jesus se preparava para o combate apostólico da pregação e, mais tarde da paixão, na oração, no encontro com o Pai.

Todo aquele que, como Jesus, se dedica ao apostolado, deve recorrer à oração para obter ali, a força para lutar, a força para resistir, e a força para perseverar no caminho. Ao ver Jesus orar, nos vem à mente a necessidade que temos também de nos retirar para orar. Por isso, é sempre bom nos perguntarmos: Como está minha vida de oração? Qual frequência eu rezo? Qual profundidade que faço de oração? Reservo todos os dias algum momento da jornada para conversar com Deus para pedir-Lhe que me ilumine na tomada de minhas decisões; para pedir-Lhe por todos aqueles que entrarão em contato comigo e por todos aqueles que sofrem? A oração é como elevação de nossa mente e de nosso coração para Deus a fim de que Deus ilumine e fortaleça todo nosso caminhar. A oração para nós cristãos é como o ar que respiramos. Sem respirar o ar, morreremos.

4. Jesus Vai Ao Encontro Dos Outros Necessitados: A Cura Ao Redor

Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim”. 

Marcos não quer encerrar Jesus numa casa. Não quer estabelecer Jesus num lugar em contra de Simão e companheiros. O próprio de Jesus é a mensagem aberta, a missão do Reino que ele oferece a sua Igreja. Opõem-se os projetos “eclesiais” de Simão e de Jesus.

Da Sinagoga (judaísmo) e da casa de Simão (Igreja) nos conduz o evangelho ao serviço missionário. O Papa Francisco tem razão ao escrever: “Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo! Repito aqui, para toda a Igreja, aquilo que muitas vezes disse aos sacerdotes e aos leigos de Buenos Aires: prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos” (Evangelii Gaudium n.49).

Jesus, um caminho aberto. Jesus se vai. “De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou”. Estas palavras são como um anúncio da ressurreição: “De madrugada, no primeiro dia da semana, elas foram ao túmulo ao nascer do sol” (Mc 16,2). Recordamos que em ambos casos se fala no dia depois do sábado (cf. Mc 1,32; 16,1). Entre a noite e a manhã há uma grande mudança em termo de clara evocação pascal: Jesus se levanta, como o dia da ressurreição... e se vai a outro lugar (cf. Mc 5,42; 8,31; 9,9.31; 10,34; 12,18.23; 13,2). Jesus se levanta de manhã (ressuscita) para orar num lugar deserto (Mc 1,35). É como retornar à experiência de encontro com Deus (Batismo) e compromisso messiânico (tentação). Não se fica no fato, busca em Deus (em oração e discernimento) o que deve fazer. 

Simão persegue Jesus, como cabeça de grupo (vem com os seus: Mc 1,36) apelando à necessidade da multidão (todos te buscam: Mc 1,37). É o primeiro enfrentamento, a primeira discussão messiânica. Simão é sinal de uma Igreja que quer utilizar Jesus para serviço próprio, convertendo-O em curandeiro doméstico, estabelecido em sua própria casa a qual os necessitados e os enfermos ao redor acorrem (Mc 1,33-34).

Simão não quer servir aos demais e sim servir-se de Jesus para seu proveito, interpretando em forma egoísta sua pesca (Mc 1,16-20). Evidentemente, quer fazer-se “dono” de Jesus, representante de sua empresa. Simão necessita que Jesus fique, instalando uma “oficina de curas” à porta de sua casa para prestigio social e ou econômico do grupo. 

Será que somos, como Maria Santíssima, portadores de Jesus para os outros ou queremos usar Jesus para nosso próprio proveito a exemplo de Simão e seus companheiros? É preciso siarmos de nosso canto para ir ao encontro dos que necessitam de Jesus, nosso Senhor que nos liberta e nos chama a formar uma família. O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. Este é um risco, certo e permanente, que correm também os crentes” (Papa Francisco: Exortação Apostólica Evangelii Gaudium n.2).

P. Vitus Gustama,SVD

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