terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

05 de Fevereiro de 2021

SER DEFENSOR E TESTEMUNHA DA VERDADE

Sexta-Feira da IV Semana Comum

Primeira Leitura: Hb 13,1-8

Irmãos, 1 perseverai no amor fraterno. 2 Não esqueçais a hospitalidade; pois, graças a ela, alguns hospedaram anjos, sem o perceber. 3 Lembrai-vos dos prisioneiros, como se estivésseis presos com eles, e dos que são maltratados, pois também vós tendes um corpo! 4 O matrimônio seja honrado por todos e o leito conjugal, sem mancha; porque Deus julgará os imorais e adúlteros. 5 Que o amor ao dinheiro não inspire a vossa conduta. Contentai-vos com o que tendes, porque ele próprio disse: “Eu nunca te deixarei, jamais te abandonarei”. 6 De modo que podemos dizer, com ousadia: “O Senhor é meu auxílio, jamais temerei; que poderá fazer-me o homem?” 7 Lembrai-vos de vossos dirigentes, que vos pregaram a palavra de Deus, e considerando o fim de sua vida, imitai-lhes a fé. 8 Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje e por toda a eternidade.

Evangelho: Mc 6,14-29

Naquele tempo, 14o rei Herodes ouviu falar de Jesus, cujo nome se tinha tornado muito conhecido. Alguns diziam: “João Batista ressuscitou dos mortos. Por isso os poderes agem nesse homem”. 15Outros diziam: “É Elias”. Outros ainda diziam: “É um profeta como um dos profetas”. 16Ouvindo isto, Herodes disse: “Ele é João Batista. Eu mandei cortar a cabeça dele, mas ele ressuscitou!” 17Herodes tinha mandado prender João, e colocá-lo acorrentado na prisão. Fez isso por causa de Herodíades, mulher do seu irmão Filipe, com quem se tinha casado. 18João dizia a Herodes: “Não te é permitido ficar com a mulher do teu irmão”. 19Por isso Herodíades o odiava e queria matá-lo, mas não podia. 20Com efeito, Herodes tinha medo de João, pois sabia que ele era justo e santo, e por isso o protegia. Gostava de ouvi-lo, embora ficasse embaraçado quando o escutava. 21Finalmente, chegou o dia oportuno. Era o aniversário de Herodes, e ele fez um grande banquete para os grandes da corte, os oficiais e os cidadãos importantes da Galileia. 22A filha de Herodíades entrou e dançou, agradando a Herodes e seus convidados. Então o rei disse à moça: “Pede-me o que quiseres e eu te darei”. 23E lhe jurou dizendo: “Eu te darei qualquer coisa que me pedires, ainda que seja a metade do meu reino”. 24Ela saiu e perguntou à mãe: “Que vou pedir?” A mãe respondeu: “A cabeça de João Batista”. 25E, voltando depressa para junto do rei, pediu: “Quero que me dês agora, num prato, a cabeça de João Batista”. 26O rei ficou muito triste, mas não pôde recusar. Ele tinha feito o juramento diante dos convidados. 27Imediatamente, o rei mandou que um soldado fosse buscar a cabeça de João. O soldado saiu, degolou-o na prisão, 28trouxe a cabeça num prato e a deu à moça. Ela a entregou à sua mãe. 29Ao saberem disso, os discípulos de João foram , levaram o cadáver e o sepultaram.

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Viver Como Autêntico Cristão 

Perseverai no amor fraterno. Não esqueçais a hospitalidade; pois, graças a ela, alguns hospedaram anjos, sem o perceber. O matrimônio seja honrado por todos e o leito conjugal, sem mancha; porque Deus julgará os imorais e adúlteros. Que o amor ao dinheiro não inspire a vossa conduta. Contentai-vos com o que tendes. Lembrai-vos de vossos dirigentes, que vos pregaram a Palavra de Deus, e considerando o fim de sua vida, imitai-lhes a fé”. Assim lemos, na Primeira Leitura, algumas exortações para os Hebreus para quem a Carta se dirige.

Estamos chegando ao final da Carta aos Hebreus. Depois da teologia, a Carta termina com recomendações muito concretas e variadas para a vida da comunidade cristã e de qualquer comunidade cristã.

Esta passagem, final da Carta, é uma espécie de poscriptum parenetico sobre as condições de vida cristã na ordem social e comunitária. O tom é muito diferente dos primeiros capítulos. No entanto, não se pode colocar dúvida sobre a autenticidade deste capítulo 13 da Carta. 

Neste capítulo, especialmente em Hb 6,1-6 são apresentadas algumas concretizações do culto agradável a Deus, que não consiste em ritos, cerimonias, práticas sacrificiais e sim no amor concreto e efetivo manifestado em obras.

A primeira manifestação do culto agradável a Deus é a da caridade fraterna (cf. Hb 6,10; 10,24) que se concretiza no amor aos cristãos como autênticos irmãos em Cristo (cf. Hb 2,11.17), na hospitalidade, na acolhida dos peregrinos, estrangeiros ou transeuntes , nos quais se fazem presentes os anjos e até o próprio Deus: “Não esqueçais a hospitalidade; pois, graças a ela, alguns hospedaram anjos, sem o perceber (Hb 13,2; cf. Gn 18-19; Tb 12,15-20; Jz 13,22); na solidariedade com os prisioneiros e perseguidos ou maltratados. A razão desta atitude é muito simples: se todos compartirem a condição de transeuntes deste mundo (somos verdadeiros peregrinos neste mundo), teremos a probabilidade de ser objeto da perseguição e da política ou de alguma religião (lembremo-nos dos imigrantes no mundo atual!).

Não esqueçais a hospitalidade; pois, graças a ela, alguns hospedaram anjos, sem o perceber. Os cristãos primitivos praticavam a hospitalidade. Sem essa virtude, o cristianismo provavelmente teria dificuldades para se expandir no mundo romano. Até a Carta aos hebreus que lemos hoje admoesta ou alerta os cristãos: “Não esqueçais a hospitalidade, pois, graças a ela, alguns, sem saber, acolheram anjos” (Hb 13,2). O que tem por traz desse alerta é a experiência de Abraão que hospedou três pessoas em sua casa sem saber que eram os três anjos para anunciar que Sara, apesar de sua velhice, geraria um filho chamado Isaac (Gn 18,3; 19,1-2: Lot convida os dois anjos para sua casa). Por isso, antigamente tratava o estrangeiro como sagrado. Com a hospitalidade nasce uma rede de amor entre as pessoas, derruba preconceitos e produz a alegria mútua. A hospitalidade possibilita o encontro e o diálogo e transforma o estrangeiro em amigo.

A segunda manifestação do culto agradável a Deus se refere ao matrimônio: “O matrimônio seja honrado por todos, e o leito conjugal, sem mancha; porque Deus julgará os imorais e adúlteros”. No matrimônio se realiza o culto agradável a Deus, e sua violação tem algo de idolatria (cf. Nm 25). O matrimonio deve ser honrado por todos que consiste em assumi-lo e não subtitui-lo mediante o adultério. Esta advertência também surge por causa de algumas tendências espiritualistas em que considera o casamento como algo indigno (cf. 1Tm 4,3). O leito nupcial é comparado a um verdadeiro templo, pois a expressão “sem mancha” ou “não manchado” era utilizada comumente pelos judeus para designar a pureza do Templo (2Mac 14,36; 15,34; veja Tg 1,27). O matrimônio é, portanto, para o cristão um autêntico lugar de culto, e a castidade exigida para este estado substitui as leis antigas da pureza legal. 

A terceira manifestação do culto agradável a Deus é não deixar-se subjugar ou dominar pelos bens terrenos: “Que o amor ao dinheiro não inspire a vossa conduta. Contentai-vos com o que tendes”. Por que não deve se deixar dominar pelos benrs terrenos? A resposta de Deus é esta: “Eu nunca te deixarei, jamais te abandonarei”. A avareza está caminhando lado a lado com a impureza e tem um forte conotação de idolatria, isto é, adorar à criatura em vez de adorar ao Criador das coisas. No fundo, um avarento não confia em Deus, o Criador de todas as coisas, ao colocar sua confiança nas posses que ele jamais vai levar quando morrer (cf. Mt 6,24; Ef 5,3; 4,19; Cl 3,5). 

A última manifestação do culto agradável a Deus é a veneração dos líderes das comunidades, o apega a seus ensinamentos: “Lembrai-vos de vossos dirigentes, que vos pregaram a Palavra de Deus, e considerando o fim de sua vida, imitai-lhes a fé”. O termo “guia” ou “dirigente” designativo destes líderes é o mesmo que se aplicava aos sumos sacerdotes judeus. Estes guias serão venerados como representantes de Cristo que sempre os assiste os Hebreus para quem a Carta é dirigida, incutindo-lhes coragem e inspirando-os em seu ensinamento. O termo grego para “dirigentes” expressa a ideia de conduzir, guiar, dirigir, presidir, como conotação de autoridade, de mando (Hb 13,17-18). De todos eles procede a Palavra de Deus que chegou à comunidade. São verdadeiramente promotores e modelos da fé para a comunidade. 

Entre os aspectos concretos da existência comunitária, o autor da Carta coloca em questão o próprio Cristo, fundamento único, definitivo, permanente, invariável da comunidade, de sua salvação: “Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje e por toda a eternidade” (Hb 13,8). Por isso, a fé em Jesus Cristo jamais pode ficar inabalável, aconteça o que acontecer. Ele continua a ser o mesmo Salvador para nós! 

Todos os conselhos neste texto da Primeira Leitura são de atualidade para o cristão de hoje. A motivação para a caridade e a hospitalidade é que na pessoa do próximo vemos a própria pessoa de Jesus Cristo: “Foi a mim que o fizestes” (cf. Mt 25,40.45). A exortação para evitar o adultério e todo tipo de atentado contra a santidade da vida matrimonial continua tendo plena atualidade. Vivemos em meio de um mundo de costumes não certamente inspirados no plano de Deus que espera dos esposos uma espiritualidade de autêntica santidade. É a mesma coisa sobre a recomendação para evitar a avareza, tentação que pode afetar a todos: leigos, religiosos e sacerdotes. E a respeito aos pastores da comunidade, com um olhar cheio de fé e desejos de prestar nossa ajuda e aprendamos deles. Tudo isto é motivado e expresso de nossa fé em Jesus Cristo, nosso Salvador para sempre. 

Procurar e Defender a Verdade

Estamos numa seção nova do relato de Marcos. Trata-se da seção Jesus e seus discípulos (Mc 6,6b-8,30). Enviados por Jesus (Mc 6,7-13), os discípulos vão Lhe dizer que o povo se converteu e realizaram muitos milagres em Seu nome. Na sua volta da missão, os discípulos são convidados por Jesus para ir com Ele a um lugar solitário, a sós. Nunca chegará a realizar perfeitamente esse convite, mas este convite marca o tom da seção: tem que seguir estando com Jesus (cf. Mc 3,13), aprendendo, refletindo sobre seu ser com Jesus, e, sobretudo, penetrando no mistério de Jesus para educar-se na n’Ele. Não se pode ser discípulos, continuadores de Sua obra sem entregar-se totalmente a Ele, sem crer n’Ele, pois sem a não se consegue dizer quem é Jesus. 

A partir da experiência dos discípulos nós também necessitamos refletir sobre nosso estar com Jesus e deixar-nos guiar e ajudar por Ele para alcançar uma enraizada em convicções mais profundas. 

1. Jesus Incomoda Os Injustos, e Serena Os Justos

Enquanto os Doze Apóstolos estão em missão (Mc 6,7-13), o evangelista Marcos volta a falar de seu tema principal: Quem é Jesus? Agora Jesus é muito conhecido pela multidão e por isso, sua fama se espalha rapidamente ao redor. 

A fama de Jesus chegou também aos ouvidos de Herodes. O texto diz que Herodes ouviu falar de Jesus. E diante dos testemunhos e opiniões do povo simples sobre Jesus, Herodes disse: “Ele é João Batista. Eu mandei cortar a cabeça dele, mas ele ressuscitou!”. O simples incomoda a consciência dos grandes. O simples é a voz de Deus, pois para o simples tudo é divino e para Deus tudo é simples. A simplicidade é a virtude dos sábios e a sabedoria dos santos.

Herodes não está orgulhoso de sua conduta, pois ele mandou matar João Batista injustamente. Esta conduta o faz inquieto. A presença de Jesus desperta sua consciência adormecida de sua culpa. Mas ele não quer aceitar Jesus, o Príncipe da Paz, e por isso, continua inquieto. Agora é que ele escuta sua consciência. E como sua consciência o incomoda!

Será que eu ouço meu coração? Será que a presença de Jesus incomoda meu coração adormecido? Será que aceito a presença de Jesus para serenar meu coração inquieto? O que me incomoda ao lembrar-me dele? Como posso sair dele? “Meu coração continua inquieto enquanto não repousar no Senhor”, dizia Santo Agostinho. 

2. João Batista: Firme Na Defesa da Verdade e Valente Na Denúncia Do Mal 

Herodes apreciava João Batista apesar da denúncia, pois o Batista era um homem honrado, ético, íntegro, santo e de caráter. Mas a debilidade desse rei volúvel e as intrigas da mulher e de sua filha acabaram com a vida do ultimo profeta do AT, o Precursor do Messias: João Batista.

Herodes é um rei orgulhoso no sentido de prepotente e arrogante. Ele se orgulha de seu poder e pode usá-lo para qualquer fim. Um orgulhoso, como Herodes, possui todos os vícios: egoísta, injusto, imoral. Como egoísta ele coloca sua pessoa no centro de tudo. Ele é a própria lei. Como injusto, ele não respeita os direitos dos outros. E como imoral, ele não respeita moral alguma. Ele quer entender somente seu Ego e “conversacom seu orgulho. Mas ele impõe moral para os demais e para ele próprio está livre de qualquer principio moral, pois ele se acha o próprio principio. 

Herodes é um misto de fraqueza e arrogância, de vilania e prepotência, de covardia e insolência. Ele é um velhaco. Um velhaco é covarde quando deveria ser corajoso, e torna-se impiedoso e cruel quando deveria ser clemente. Todo orgulhoso é fraco. Herodes, um rei débil, se converte em instrumento de vingança de uma mulher. Ele foi usado por uma mulher cheia de vingança e ódio no seu coração em nome da falsidade e de interesse pessoal. João Batista foi uma vitima de um poder. Herodes abusa da riqueza e do poder. Entregue totalmente aos prazeres, torna-se presunçoso e arrogante. O dominador se deixa enganar por uma bailarina e por sua vingativa mãe.  Age de maneira covarde e cruelmente, transformando-se em assassino de um inocente. 

O homem da verdade pode ser eliminado, mas a própria verdade não cabe em qualquer túmulo, pois ela habita na consciência do homem e ressuscita toda vez que for enterrada. 

A figura de João Batista é admirável por seu exemplo de interesse na defesa da verdade e sua valentia na denúncia do mal. Ele se torna conhecido pela sua firme defesa da verdade. Por causa da verdade vivida pelo João Batista, nem o rei feroz escapa de ser denunciado. Sua figura frágil não se intimida diante da fúria do rei Herodes e de sua concubina. Ele não teme pagar preço da verdade e de sua liberdade. Ele deve fidelidade a Deus, Suprema Verdade (Jo 14,6; cf. Jo 8,31-32). 

3. Somos Chamados a Ser Cristãos Coerentes A Exemplo De João Batista 

De João Batista aprendemos, sobretudo, seu firme caráter e a coerência de sua vida com o que prega e fala. Ele sempre vive na verdade e pela verdade. Prepara os caminhos do Messias, pregando a conversão. Mostra claramente o Messias quando apareceu. Não quer usurpar nenhum papel que não lhe corresponde: “Que Jesus cresça e eu diminua”, humildemente confessa (Jo 3,30). Aprendemos também de João Batista que o serviço do Reino da verdade e do amor comporta também o testemunho da verdade e do amor capaz de ter risco de “perdernossa vida. O testemunho de João Batista, o profeta da verdade, inspira a quem se torna o homem da verdade.

Haverá ocasiões em que também teremos que denunciar o mal onde existe. Faremos tudo isto com palavras valentes, mas, sobretudo, com uma vida coerente que por si mesma será um sinal profético no meio de um mundo que persegue os valores verdadeiramente humanos e cristãos. 

João Batista foi um grande defensor da verdade. A verdade é, às vezes, doce, às vezes, amarga. Porém, quando é amarga, possui propriedades que curam” (Sto. Agostinho. Epist.110). “Quem recusa a verdade é como um cego banhado pelo sol sem beneficiar-se de sua luz. Quem aceita a verdade e depois não a segue padece uma cegueira convencional” (idem. De doc. christ I, 9,9). Estejamos atentos de que como Deus não faz ouvir Sua voz para desmentir ninguém, encontramos muitos porta-vozes que se contradizem. Mas o próprio coração é o Supremo Tribunal para cada um de nós.

Para Refletir

Muitas vezes acontece que os defeitos dos outros são os nossos enxergados nos outros. Será que não existe um pequeno Herodes em nós? Ou, pelo menos, será que ele está adormecido e que pode acordar e se levantar em qualquer hora com sua fúria incontrolável? Estejamos vigilantes! Pare e pense! Reflita e não reaja! Fazer sem pensar pode sacrificar muitos inocentes.

“O homem, no que tem de animal, é violento, mas no que tem de espiritual, é não-violento. No momento em que ele se torna consciente do espírito interior, não pode permanecer violento. Jesus viveria e morreria em vão se não conseguisse nos ensinar a ordenarmos toda a nossa vida pela lei eterna do amor (Mahatma Gandhi).

P. Vitus Gustama,svd

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