terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

06 de Fevereiro de 2021

 

DESCANSO NECESSÁRIO COM JESUS PARA PODER LEVAR ADIANTE A MISSÃO RECEBIDA

Sábado Da IV Semana Comum

Primeira Leitura: Hb 13,15-17.20-21

Irmãos, 15 por meio de Jesus, ofereçamos a Deus um perene sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que celebram o seu nome. 16 Não vos esqueçais das boas ações e da comunhão, pois estes são os sacrifícios que agradam a Deus. 17 Obedecei aos vossos líderes e segui suas orientações, porque eles cuidam de vós como quem há de prestar contas. Que possam fazê-lo com alegria, e não com queixas, que não seriam coisa boa para vós. 20 O Deus da paz, que fez subir dentre os mortos aquele que se tornou, pelo sangue de uma aliança eterna, o grande pastor das ovelhas, nosso Senhor Jesus, 21 vos torne aptos a todo bem, para fazerdes a sua vontade; que ele realize em nós o que lhe é agradável, por Jesus Cristo, ao qual seja dada a glória pelos séculos dos séculos. Amém!

Evangelho: Mc 6,30-34

Naquele tempo, 30os apóstolos reuniram-se com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado. 31Ele lhes disse: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco”. Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo que não tinham tempo nem para comer. 32Então foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado. 33Muitos os viram partir e reconheceram que eram eles. Saindo de todas as cidades, correram a , e chegaram antes deles. 34Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas.

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O Verdadeiro Louvor Se Traduz No Serviço Aos Irmãos

Irmãos, por meio de Jesus, ofereçamos a Deus um perene sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que celebram o seu nome. Não vos esqueçais das boas ações e da comunhão, pois estes são os sacrifícios que agradam a Deus” (Hb 13,15-16).

Terminamos hoje a leitura da Carta aos Hebreus que nos acompanhou durante quatro semanas nas Primeiras Leituras da missa semanalmente. 

No texto de hoje, o autor da Carta quer sublinhar a inseparabilidade entre o louvor a Deus e o serviço aos irmãos. O serviço aos irmãos é a tradução do verdadeiro louvor a Deus. Sem o serviço aos irmãos, o louvor a Deus carece de sentido. Por isso Jesus no Sermão da Montanha disse: “Nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino dos céus, e sim aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). A vontade do Pai consiste no amor a Deus e ao próximo.O verdadeiro louvor dever ser traduzido ou concretizado nas “boas ações” e na “comunhão”. O louvor consiste basicamente em unir-se a Cristo em sua proclamação do nome de Deus aos homens, em reconhecê-Lo como o único Nome sublime, declarar-se de acordo com Ele, aderir a Ele, confessá-Lo (cf. Hb 2,12) e viver como Jesus viveu.

O culto específico dos cristãos é formulado por São Paulo com as seguintes palavras dirigidas aos Romanos: “Eu vos exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso verdadeiro culto (Rm 12,1). Na mesma linha escreve agora o autor da Carta aos Hebreus. Aqueles cristãos para os quais a Carta é dirigida eram separados e excomungados da comunidade judaica por terem se convertidos ao cristianismo. Consequentemente, eles eram privados do solene culto judaico. Mas eles tinham algo melhor para oferecer. A imitação de Cristo deviam oferecer-se a si mesmo, converter-se eles mesmos em um sacrifício de louvor. 

Nossa vida cristã deveria ser um culto agradável a Deus. O “sim” de Cristo ao Pai, no Espirito Santo, faz possível nosso “Sim”, “pois nele todas as promessas de Deus são um ‘sim’. Por isso, também, é por ele que dizemos ‘amém’ a Deus para sua glória” (2Cor 1,20).

Este “sim” de Cristo encontra eco em todo coração que se faz transparente diante do olhar de Deus. Então, nossa pobreza se converte em oração e em missão, isto é, em abertura aos planos salvíficos e universais de Deus. Deus não espera grandes coisas de nós e sim somente que tenhamos um coração aberto e que saibamos fazer nosso “sim” de Jesus Cristo ao Pai. Nossa verdadeira riqueza consiste nesta capacidade de pronunciar continuamente o “sim” de Jesus ao Pai em meio de todas as circunstancias de nossa vida.          

A outra vertente do culto cristão é o serviço aos irmãos; é o exercício prático da caridade: “Não vos esqueçais das boas ações e da comunhão, pois estes são os sacrifícios que agradam a Deus”. O amor fraterno é o sacrifício que agrada a Deus. Este amor fraterno consiste em fazer o bem na solidariedade concreta com os necessitados (cf. Hb 6,10; 10,33). A prova mais clara de ter encontrado Deus é o amor fraterno. É o sinal de que nascemos para uma vida nova. 

Viver Na Comunhão Faz Parte De Ser Cristão

Obedecei aos vossos líderes e segui suas orientações, porque eles cuidam de vós como quem há de prestar contas. Que possam fazê-lo com alegria, e não com queixas, que não seriam coisa boa para vós”, orientou o autor da Carta para os Hebreus.

A verdadeira "comunhão" da Igreja supõe o esvaziamento de si mesmo ou das próprias vantagens. A kenosis e a obediência de Cristo ao Pai eram assim (Fl 2,8). Os líderes/dirigentes da comunidade, especialmente ao nível da Igreja universal (o Papa) e ao nível da Igreja particular (o bispo), fazem presente o Cristo sacerdote. São sempre sinais pobres da Igreja, não poucas vezes ridicularizados e criticados, porém são o necessário fundamento da unidade e comunhão eclesial. Eles são fatores da unidade eclesial. Obedecer a Cristo, escondido sob estes sinais, supõe correr a mesma sorte de crucificação e de morte, sem nenhuma vantagem humana. É fazer o bem pelo bem, a bondade pela bondade. É amar simplesmente por amor. Basta-nos saber que o próprio Cristo que fala e atua na Igreja e pela Igreja. 

Por fim, o autor da Carta deseja aos Hebreus: “O Deus da paz, que fez subir dentre os mortos aquele que se tornou, pelo sangue de uma aliança eterna, o grande pastor das ovelhas, nosso Senhor Jesus, vos torne aptos a todo bem, para fazerdes a sua vontade; que ele realize em nós o que lhe é agradável, por Jesus Cristo, ao qual seja dada a glória pelos séculos dos séculos. Amém!”. 

Jesus fez de sua vida uma “Páscoa”, isto é, um “passo” para o Pai. Oferecendo-se a Si mesmo no Espirito Santo transformou sua vida em oblação. Com Cristo estamos também passando ao Pai. “Cristo padeceu a fim de nos conduzir ao Pai” (1Pd 3,18). E já começamos a passar deste mundo ao Pai (Jo 13,1). O “passar” do tempo já não é um simples esfumar-se das coisas e sim uma “Páscoa” ou passo para a vida definitiva. Conforme vai passando os dias e as coisas, devemos ir descobrindo o próprio Deus que nos espera no fim de nossa passagem. Mas com sua divina providencia, Deus sempre vem ao nosso encontro para nos ajudar, guiar e alertar. Estejamos atentos! 

A Vida Sem Silêncio Se Torna Estéril

Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco!”. 

1. Revisão Da Vida Apostólica 

Anteriormente Jesus chamou os Doze para depois enviá-los à missão (Mc 6,7-13). Depois de sua primeiramissão”, os discípulos voltaram a se reunir com Jesus: “Naquele tempo, os apóstolos reuniram-se com Jesus...

Muitos cristãos compreendem hoje que sua se torna robusta quando decidem reunir-se, no espírito do Senhor, com outros irmãos para partilhar e dialogar sobre sua . Este é um dos sentidos da assembléia eucarística dominical: depois de sua missão durante a semana, os cristãos se reúnem junto a Jesus na companhia de outros irmãos da .

Os apóstolos contaram tudo (a Jesus) o que haviam feito e ensinado”. Trata-se de uma revisão da vida apostólica. Esta revisão de nossa vida com Jesus é uma das formas mais úteis de nossa oração. Cada noite nós deveríamos criar ocasião pararelatar” a Jesus “o que temos feito”. Se fizermos isso diariamente, a nossa participação na celebração eucarística dominical ficará mais rica e profunda.

2. Descansar Com Jesus Uma Solicitude Pastoral

Depois de ouvir seu relato Jesus convidou os Apóstolos: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco”.  Trata-se de uma necessidade de silêncio, de recolhimento, de solidão. É essencial para os homens de todas as épocas, especialmente é indispensável para o homem moderno na agitação de vida de hoje.

A resposta de Jesus se concreta em levá-los com Ele para um lugar onde ninguém possa perturbá-los para descansar com Ele e n’Ele. Esse convite nos recorda aquilo que o próprio Jesus disse no evangelho de Mateus sobre a importância do descanso com o Senhor e no Senhor: “Vinde a Mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e Eu vos darei descanso” (Mt 11,28). Jesus conjuga muito bem o trabalho e a oração. Dedica-se prioritariamente à evangelização, mas sabe buscar momentos de silêncio e oração para si e para os seus, mesmo que dure apenas pouco tempo como aconteceu no relato do evangelho de hoje. 

Convidar os discípulos para descansar na solidão também é um gesto muito humano de Jesus. Jesus sabe o que é a fadiga e busca, muitas vezes, a solidão (no monte, no campo ou de noite). O ativismo nos esgota e empobrece. Não é bom o “stress”, ainda que seja espiritual. Quando não há o equilíbrio interior, todos cairão no nervosismo e diminuirá a eficácia humana e evangelizadora. Necessitamos da paz e da serenidade. Todos os que trabalham, também pelo Reino, necessitam de uma certa serenidade e um certo equilíbrio mental e psíquico. As pessoas que trabalham pelo Reino têm que ser pessoas de paz e de serenidade.

O trabalho de um verdadeiro pastor ou de qualquer líder cristão não é fácil, pois ele tem que manter a unidade e a segurança do seu rebanho. Por isso, quem é enviado como pastor, e, quem é encarregado de ser líder dos outros numa comunidade necessita de descanso. Mas o descanso dos pastores e dos lideres cristãos é feito com e no grande Pastor. Eles fazem seu descanso no Pastor dos pastores. O descanso dos pastores consiste em saberestarcom Jesus: escutá-Lo, viver com Ele, aprofundar em sua comunhão de vida como pastor. É aprender do grande Pastor sobre como deve conduzir e rebanhar as ovelhas do qual ele próprio faz parte. As ovelhas são do Senhor (Jo 21,17) e não dos líderes.

Esse convite para descansar com e no Senhor é a primeira solicitude de Jesus como Pastor para aqueles que são encarregados de alguma tarefa na comunidade de irmãos. Esse convite tem como característica a comunhão de ministério com Jesus. Essa comunhão ajudará os pastores e os demais líderes da comunidade a terem a mesma solicitude de Jesus para com todos e para com a multidão que, em cada momento da história vive “como ovelhas sem pastor”, pois o pastor é Jesus e somente Ele. Entender isso significa entender a grande missão dos que são enviados, em Seu nome, com o objetivo de conduzir a humanidade para o grande Pastor, Jesus Cristo. 

3. Somos Chamados a Ser Seguidores Compassivos como Jesus 

Depois de um rápido descanso dos Doze com Jesus o evangelista Marcos nos relatou com as seguintes palavras: Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas.

Esta frase reproduz a situação refletida em 1Rs 22,17: “Vejo todo o Israel espalhado pelas montanhas como um rebanho sem pastor” (cf. Nm 27,17). Trata-se de uma imagem clássica na literatura bíblica no contexto de acusação aos pastores que não cumprem sua missão de rebanhar (unir e reunir) suas ovelhas. E Jesus se apresenta como o verdadeiro Pastor, pois elesua vida pelo rebanho (Jo 10,14-15). 

Cristo é o Bom Pastor (Jo 10,11-15). EleSua vida em todo momento, também quando não lhe resta tempo nem para comer. Ali está Ele, buscando um tempo para descansar em companhia de seus discípulos, mas para os necessitados de Deus, Ele oferece Seu amor. É como o pai de uma família que, depois de uma jornada cansativa, volta para casa com o único desejo de descansar. Mas ao ver que seus filhos lhe pedem algo que lhe é impossível humanamente, tira suas últimas forças para brincar e fazer felizes seus filhos, dando-lhes o melhor de si, ainda que o corpo exija um descanso.

Os cristãos dentro da comunidade, de um modo ou de outro, participam do serviço pastoral para com os demais, imitando e representando Jesus Cristo, Pastor de todos. Onde estiver e para onde for, o cristão faz tudo em nome de Cristo. Ele representa Cristo em qualquer lugar. Ele é cristão para todos os momentos e lugares.           

Jesus teve compaixão da multidão que vivia sem nenhuma orientação e começou a ensinar-lhes muitas coisas. Jesus teve tempo para a multidão necessitada. Ter tempo para os demais, especialmente para os necessitados é o ponto alto de uma vocação pastoral na Igreja de Jesus. Isso supõe a renúncia aos próprios planos, interesses e horários em função do bem de todos. O cristão existe para servir os demais. 

O mundo de hoje continua a estar desorientado comoovelhas sem pastor”, pois, no meio do avanço tecnológico, muitas pessoas morrem de fome. No meio da democracia ainda se encontram os ditadores que adormentam e sacrificam os pequenos e inocentes da sociedade. No meio de tanta facilidade tecnológica encontram-se os imprudentes que fazem tantas famílias chorarem pela perda de seus entes-queridos precocemente. No meio da luta pela solidariedade global encontram-se os gananciosos capazes de pisar sobre os outros em nome do prazer. O perigo e o prazer crescem no mesmo ramo. O fato de que em nossa civilização tão avançadatantos homens morrem de fome ou são vitimas de uma guerra ou de um poder desenfreado, ou de uma imprudência, demonstra que os chefes que dirigem atualmente o mundo não olham para o povo e sim para os próprios interesses ou para os interesses partidários. É preciso ter progresso na verdade, na justiça na caridade. 

Cristo quer que todos os cristãos ajudem esta humanidade a encontrar os caminhos da verdade e da felicidade, da paz e do verdadeiro progresso. Ser seguidor de Cristo significa aprender a olhar para os outros com um coração cheio de carinho, ser responsável pelos outros irmãos e falar-lhes do sentido da vida. A maneira com que tratamos um ser humano é a forma com que tratamos a nosso Senhor. Isso não exige explicação e sim contemplação (cf. Mt 25,40.45). O dia mais desperdiçado de todos é aquele no qual não conseguimos fazer alguém sorrir ou deixamos de fazer o outro sorrir. Um sorriso não custa tanto quanto a eletricidade, no entanto, ilumina muito mais do que ela.

P. Vitus Gustama,svd

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