quarta-feira, 9 de junho de 2021

Quarta-feira Da XI Semana Comum,16/06/2021

VIVER NA INTERIORIDADE RESULTA NO VIVER NA AUTENTICIDADE E NA GENEROSIDADE

Quarta-Feira da XI Semana Comum

Primeira Leitura: 2Cor 9,6-11

Irmãos, 6 “quem semeia pouco colherá também pouco e quem semeia com largueza colherá também com largueza”. 7 Dê cada um conforme tiver decidido em seu coração, sem pesar nem constrangimento; pois Deus “ama quem dá com alegria”. 8 Deus é poderoso para vos cumular de toda sorte de graças, para que, em tudo, tenhais sempre o necessário e ainda tenhais de sobra para toda obra boa, 9 como está escrito: “Distribuiu generosamente, deu aos pobres; a sua justiça permanece para sempre”. 10 Aquele que dá a semente ao semeador e lhe dará o pão como alimento, ele mesmo multiplicará as vossas sementes e aumentará os frutos da vossa justiça. 11 Assim, ficareis enriquecidos em tudo e podereis praticar toda espécie de liberalidade, que, através de nós, resultará em ação de graças a Deus. 

Evangelho: Mt 6,1-6.16-18

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 1“Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus. 2Por isso, quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. 3Ao contrário, quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita, 4de modo que, a tua esmola fique oculta. E o teu Pai, que vê o que está oculto, te dará recompensa. 5Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar em pé, nas sinagogas e nas esquinas das praças, para serem vistos pelos homens. Em verdade, vos digo: eles já receberam a sua recompensa. 6Ao contrário, quando tu orares, entra no teu quarto, fecha a porta, e reza ao teu Pai que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa. 16Quando jejuardes, não fi­queis com o rosto triste como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto, para que os homens vejam que estão jejuando. Em verdade, vos digo: Eles já receberam a sua recompensa. 17Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, 18para que os homens não vejam que estás jejuando, mas somente teu Pai, que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa”.

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Ser Generoso É a Manifestação Da Gratidão Pela Generosidade De Deus Pelo Que Somos e Temos 

Deus é poderoso para vos cumular de toda sorte de graças, para que, em tudo, tenhais sempre o necessário e ainda tenhais de sobra para toda obra boa... Aquele que dá a semente ao semeador e lhe dará o pão como alimento, ele mesmo multiplicará as vossas sementes e aumentará os frutos da vossa justiça”, escreveu São Paulo para os Coríntios no texto que lemos na Primeira Leitura.

Segundo os especialistas o capitulo nove da Segunda Carta aos Coríntios é um bilhete que São Paulo escreveu para outras comunidades cristãs na região de Corinto sobre o tema da coleta para a Igreja-mãe de Jerusalém. Por ser do mesmo tema, mais tarde foi inserido logo depois do capítulo oito da mesma Carta com as mesmas ideias e argumentações. 

Segundo São Paulo, a caridade não empobrece ninguém, pois Deus retribui a quem a pratica com bens e bênçãos (2Cor 9,6-10). A caridade praticada é para o homem como a sementeira. A colheita, como retribuição de Deus, corresponderá ao que foi semeado: “O generoso será abençoado porque reparte seu pão com o pobre” (Pr 22,8). A imagem da colheita é símbolo da recompensa no tribunal de Deus no julgamento final (cf. Mt 25,31-45).

Além disso, a gratidão dos beneficiados será expressa em forma de agradecimento a Deus, origem de todo o bem. A caridade também é um dos instrumentos para levar os beneficiados a se aproximarem de Deus pelo bem recebido. O bem e a bondade praticados convencem os outros a acreditarem em Deus. E Deus compensa a caridade concedendo-lhe sempre a possibilidade de praticar novos atos caritativos. 

Na prática da caridade São Paulo apela para a espontaneidade sem constrangimento nem coação nem má vontade nem pressão exterior.  Por isso, São Paulo afirma: “Deus ama a quem dá com alegria” (2Cor 9,7). Repartir com alegria o que se tem é um gesto muito nobre. Quando tivermos consciência de que tudo de bom recebemos de Deus, repartiremos gratuitamente o que temos com os que se encontram na extrema necessidade. 

“Aquele que dá a semente ao semeador e lhe dará o pão como alimento, ele mesmo multiplicará as vossas sementes e aumentará os frutos da vossa justiça”. A caridade é como uma semente. O gesto humano se amplifica  e se converte em uma colheita. Mas ao semear se corre um risco: não se sabe como será a colheita nem sequer se sabe se haverá a colheita. Mesmo assim tempo que investir na caridade que nunca falha, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).

Deus ‘ama quem dá com alegria’”. Decididamente a “alegria” é um dos temas desta Carta (2Cor) e se repete em cada página de são Paulo. Para São Paulo, nenhum obstáculo ou dificuldade é capaz de impedir a verdadeira alegria, pois ela é um dos frutos do Espírito Santo (cf. Gl 5,22). Trata-se da origem superior, e por isso, está acima de tudo que é passageiro. A alegria brota de dentro e tem sua origem no Espírito Deus. Aquele que permanece no Espirito Santo está com alegria no Senhor. A alegria começa a partir do momento em que cada um de nós suspender seu esforço de busca da própria felicidade para procurar a dos outros. Para sermos felizes temos que fazer a felicidade dos outros sem esperar nada em troca. É simplesmente manifestação da minha entrega a Deus, pois Ele se entregou por minha causa. A entrega a Deus é a entrega à alegria.

Somos Chamados a Viver Na Interioridade e Na Autenticidade 

Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus” (Mt 6,1). O texto do evangelho de hoje pertence ao Sermão da Montanha (Mt 5-7). Através de sua Palavra de hoje o Senhor nos convida a vivermos na interioridade e na autenticidade, pois esse modo de viver nos traz a paz e a felicidade. Quando nossa interioridade ficar vazia, procuraremos algo fora de nós para nos apoiar. Somente usa a bengala quem tem pernas fracas para caminhar. Quem vive na interioridade a partir da interioridade, isto é, viver de acordo com os valores, não precisa provar que é importante. uma pessoa é valorizada pelos valores vividos e não pelos bens que se tem.

Através do Sermão da Montanha, Jesus quer que nossa vida seja na interioridade e na autenticidade; que não busquemos elogios nem a aprovação nem a recompensa; que busquemos apenas o bem e vivamos de acordo com ele. Simplesmente trabalhemos pelo bem. Em nome do bem, não temamos a reprovação nem o esquecimento nem a ingratidão. Basta viver com Deus, para Deus e na Sua presença. O que conta na nossa vida não é a opinião que os demais podem/possam ter de nós, e sim o que pensa Deus de nós, pois somente Deus tem capacidade de nos ver por dentro. É um deixar-se julgar por Deus, deixar-se interrogar por Ele, deixar-se impugnar por Ele. Por isso, é uma exigência muito mais forte do que a exigência dos homens e de todos os tipos de comentários.

Agradar a Deus exige um desprendimento de si infinitamente maior do que agradar os homens. Mas esta exigência é apaziguadora porque procede do interior, não busca vaidade nem vantagens humanas, nem exibicionismo nem apresentação teatral ao ajudar os demais ou ao fazer o bem. É preciso viver na autenticidade. É preciso saber distinguir o que apresentamos e o que representamos; o que é apresentação e o que é representação. Não basta apresentação, é preciso saber o que você está representando em tudo que você diz, comenta e faz.

Jesus nos alerta para vivermos na interioridade porque os mais belos gestos da verdadeira religião como a esmola, jejum e oração, podem, por desgraça, ser desviados de seu sentido: busca apenas de si mesmo, dos próprios interesses. A hipocrisia religiosa é pior de todas porque ela pode afastar as pessoas de Deus, especialmente os mais simples. Que nossa caridade seja invisível para os olhos dos homens, mas visível para os olhos de Deus. As obras de piedade não devem ser praticadas para ganhar prestígio diante dos homens e com isto, adquire uma posição de poder ou privilégio. Quem faz assim se priva da comunicação divina, cessa a relação de filho-Pai com Deus.

Quando se trabalha somente por Deus ou para Deus no bem praticado pelo bem do homem não há perigo de cair na demagogia, na adulação e no compromisso interesseiro. Na presença de Deus não há lugar para oportunismos nem para os oportunistas. A vida cristã há de ser vivida na simplicidade. Não podemos confundir o testemunho com teatralidade. 

Três Práticas de Piedade: a Esmola, a Oração e o Jejum 

Dar a esmola é uma prática comum no AT (cf. Dt 15,7-10; PR 11,17; Tb 4,7-11; Dn 11,17). É um convite para a prática de misericórdia para os pobres. A esmola une quem a dá com quem a recebe e com Deus, segundo os antigos. Por isso é que Jesus disse: “Quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti..”, isto é, não buscar a própria glória, humilhando o pobre, pois perderia a recompensa de Deus e diante de Deus. É preciso ajudar o pobre pelo seu bem e não pelo bem de quem presta a ajuda. É o bem pelo bem. Mais nada! O fim da própria atuação ao dar esmola é unir-se a Deus, o Pai que vê tudo em segredo. 

No NT, a comunidade cristã vive profundamente esse compromisso (cf. Lc 4,18-21; At 2,42-46; 4,32.37; 2Cor 8,9.13). Quem dá esmola quer restabelecer a relação com o pobre. A situação de pobreza é contrária à vontade de Deus (cf. Mt 5,1-12) e, por isso, quem dá esmola cumpre a vontade de Deus. No entanto, o gesto de dar esmola deve ser fruto de cálculos egoístas e sim de uma verdadeira comunhão de bens: “Que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita”. Ao mesmo tempo a esmola não pode favorecer à preguiça pela facilidade em ganhar bens (dinheiro e outros bens materiais) por parte de quem a recebe. Não podemos trabalhar somente pelo pobre; temos que trabalhar com o pobre. Se você fizer um benefício ou um bem, nunca se lembre dele; se você receber um, nunca se esqueça dele.

A segunda prática de piedade é a oração. Não tem como não rezar se o homem leva a sério seu ser; se o homem vive sua vida na profundidade. A oração aproxima a terra ao céu. A oração derruba o muro que separa a humanidade de Deus. Oração leva quem reza para a esfera divina e introduz o homem no terreno sagrado. Mas Jesus nos alerta que o momento de oração não é um momento de ostentação. Quem reza, busca Deus e não a própria glória ou para ser visto pelos demais. Por isso, Jesus insiste na prática da interioridade. Jesus nos ensina que precisamos buscar momentos de encontro pessoal com o Pai e manter as conversas com Ele. 

Além disso, Jesus acrescenta que o importante na oração não é a materialidade das palavras e sim como se vivem essas palavras no coração e como se pode expressar através delas a própria relação com o Pai e sentir-se em sintonia com Ele. Se o momento de oração é o momento de conversar com o Pai, logo o momento de oração é o momento de Deus se revelar. Para Deus se revelar é preciso criar o silêncio. O silêncio possibilita a presença da Eternidade no nosso presente. 

A terceira prática da piedade é o jejum. Na tradição do Povo de Deus tanto o jejum como a esmola e a oração são fundamentos da relação: Deus-homem (eu)-irmãos. No AT se pratica também o jejum comunitário, por exemplo, no dia da Expiação (cf. Lv 16,29; 23,27). Jesus não elimina a prática de piedade; Ele quer que a cumpramos com sinceridade, sem nenhum tipo de hipocrisia. Todo sinal externo de jejum pessoal deve desaparecer para converter-se em um ato dirigido exclusivamente para Deus. A prática do jejum tem como objetivo buscar um contato mais íntimo com Deus, com Seu perdão, com Sua benevolência e com Sua graça. O jejum bíblico é um ato essencialmente de buscar o contato íntimo com Deus para que vivamos como irmãos. O profeta Isaias critica duramente quem pratica o jejum, mas oprime o irmão (cf. Is 58,3-9). Os elementos essenciais de um jejum agradável a Deus: o jejum unido à oração e encontra sua expressão mais autentica no serviço aos pobres. Trata-se de um jejum com uma dimensão social. 

Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus” (Mt 6,1) é o recado de Jesus para nós todos. Vivamos na interioridade e na autenticidade para que sejamos felizes e firmes nesta vida.

P. Vitus Gustama, SVD

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