quinta-feira, 10 de junho de 2021

Sexta-feira Da XI Semana Comum,18/06/2021

CORAÇÃO POSTO EM DEUS É O CORAÇÃO DE TESOURO

Sexta-Feira da XI Semana Comum

Primeira Leitura: 2Cor 11,18.21b-30

Irmãos, 18 já que muitos se gloriam segundo a carne, eu também me gloriarei. 21b O que outros ousam dizer em vantagem própria, eu também o digo a meu respeito, embora fale como insensato. 22 São hebreus? Eu também. São israelitas? Eu também. São da descendência de Abraão? Eu também. 23 São servos de Cristo? Como menos sensato digo: Eu ainda mais. De fato, muito mais do que eles: pelos trabalhos, pelas prisões, pelos açoites sem conta. Muitas vezes, vi-me em perigo de morte. 24 Cinco vezes recebi dos judeus quarenta açoites menos um. 25 Três vezes, fui batido com varas. Uma vez, fui apedrejado. Três vezes, naufraguei. Passei uma noite e um dia em alto-mar. 26 Fiz inúmeras viagens, com inúmeros perigos: perigos de rios, perigos de ladrões, perigos da parte de meus compatriotas, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos em lugares desertos, perigos no mar, perigos por parte de falsos irmãos. 27 Trabalhos e fadigas, inúmeras vigílias, fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez! 28 E, sem falar de outras coisas, a minha preocupação de cada dia, a solicitude por todas as Igrejas! 29 Quem é fraco, que eu também não seja fraco com ele? Quem é escandalizado, que eu não fique ardendo de indignação? 30 Se é preciso gloriar-se, é de minhas fraquezas que me gloriarei!

 

Evangelho: Mt 6,19-23

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 19 “Não junteis tesouros aqui na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e os ladrões assaltam e roubam. 20 Ao contrário, juntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça e a ferrugem destroem, nem os ladrões assaltam e roubam. 21 Porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração. 22 O olho é a lâmpada do corpo. Se o teu olho é sadio, todo o teu corpo ficará iluminado. 23 Se o teu olho está doente, todo o corpo ficará na escuridão. Ora, se a luz que existe em ti é escuridão, como será grande a escuridão.

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Evangelizar Sem Explorar a Comunidade Para a Própria Vantagem É a Verdadeira Evangelização a Exemplo de São Paulo 

O texto da Primeira Leitura nos convida a contemplarmos o apóstolo Paulo em sua grandeza e em suas angústias pelo zelo do Reino de Deus em Jesus Cristo. É a primeira parte de sua “confissão”, que continuará na liturgia de amanhã. 

A série de títulos de nobreza: ser hebreu, israelita, descendência de Abraão, ministro de Cristo (servo de Cristo) honram são Paulo a quem se sente vinculado ao passado histórico e à novidade do Evangelho. Por isso, há que agradecer a Deus. 

E a série de adversidades, trabalhos, prisões, açoites, apedrejamentos, naufrágios.... deixam o corpo e a alma selados e preparados para qualquer trabalho. É impressionante a lista de contratempos que são Paulo suportou durante sua vida por amor a Cristo e por amor ao seu ministério: cárceres, fatigas, açoites, dias sem comer.... Tudo isso é que faz crível sua pregação. Além disso, a preocupação diária que são Paulo tem por todas as comunidades e a solidariedade com os que sofrem.

Por qual razão são Paulo apresenta tanto a série de títulos de nobreza como a série de adversidades ou contratempos? Na comunidade de Corinto há um grupo que perturba a paz da comunidade que questiona a autoridade apostólica de são Paulo. Trata-se de os judaizantes que ironicamente são chamados pelo são Paulo de “super-apóstolos” (2Cor 11,5). Mas, não se trata dos apóstolos de Jerusalém, a quem são Paulo se refere quando usa a expressão de “super-apóstolos”. Mas a maneira de falar de são Paulo mostra que os perturbadores da comunidade vieram de Jerusalém (2Cor 11,22) e se cobriram com sua autoridade para fazerem valer seus direitos como “apóstolos” de Cristo. Mas, na verdade, são “falsos apóstolos”, “enganadores” e “servos de Satanás” (2Cor 11,13-14). Na realidade, nenhum deles poderia suportar um confronto com a abnegação e os sacrifícios com que são Paulo realiza seu ministério (2Cor 11,24-29). 

Em que, então, eles confiam para lançar dúvidas sobre a autoridade do Apóstolo? Simplesmente no fato de que Paulo não afirmou seu direito, próprio de todo apóstolo, de ser mantido pela comunidade. 

Ao se defender dessa acusação hipócrita, são Paulo nos permite vislumbrarmos como se produziu a fundação das comunidades. Que são Paulo trabalhava para ganhar seu próprio sustento parece ser uma de suas características, desde o início de suas viagens missionárias. Assim ele recordava também aos cristãos de Tessalônica (1Ts 2,9), reconhecendo que esta era uma renúncia pessoal sua (1Ts 2,7). Ele disse isso em termos semelhantes aos cristãos de Corinto (1Cor 9, 3-18) e agora insiste que não pretende mudar de atitude (2Cor 11,9-10). É precisamente isso que quiseram os que o acusam, pois, no fundo, a atitude de são Paulo denuncia a falácia do comportamento desses enganadores ou falso apóstolos  e, ao mesmo tempo, faz saber aos Coríntios que, se alguém o ajudava em momentos de necessidade, não era precisamente eles , mas os irmãos da Macedônia (2Cor 11,8-9). 

Comparados com são Paulo que foi um verdadeiro gigante da evangelização não nos sentimos pequenos? Recebemos um só “açoite” por causa de Cristo ou por causa de um “açoite” logo nos desistimos de trabalhar pelo Reino de Deus na nossa comunidade? Já ficamos presos por causa da valentia na evangelização, como são Paulo, ou fugimos para nosso comodismo? Já passamos fome e outros sofrimentos por causa do trabalho valente na comunidade em nome de Cristo, ou deixamos que os outros membros da comunidade se virem, desde que não sejamos perturbados?

São Paulo se identificou de tal maneira com Cristo Jesus que ele revive em sua própria história a Páscoa de Jesus e morre um pouco de cada dia, para ressuscitar e receber a vida d´Ele. Sua fraqueza não o deprime, mas reforça sua convicção de que é Deus quem age ou atua nele. Por isso, são Paulo conclui seu apelo contra os "super-apóstolos" com uma frase cheia da sabedoria da Cruz: “Se é preciso gloriar-se, é de minhas fraquezas que me gloriarei!” (2Cor 11,30). 

Educar e Proteger o Coração Para Ser Tesouro Divino e Humano

“Onde está o teu tesouro, lá também está teu coração”, disse Jesus no Evangelho de hoje. Ainda estamos no Sermão da Montanha onde encontramos várias orientações de Jesus para seus seguidores, para os cristãos de todos os tempos e lugares (Mt 5-7). 

Lugar Devido Para O Coração

Depois dos três atos fundamentais de culto: esmola, jejum e oração, no texto do evangelho de hoje Jesus fala sobre lugar devido para nosso coração. O que devemos fazer para que não nos convertamos em materialistas ou secularizados? No uso dos bens o importante é fazer escolhas claras e limpas: “Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furtam nem roubam. Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração” (Mt 6,19-21). Jesus personaliza ao máximo seu ensinamento e por isso, ele passa de “vós” para “tu” na sua afirmação. Com isso o texto quer nos mostrar que Jesus está interessado em nossa situação pessoal.

Jesus reconhece a tendência do homem a acumular os bens terrenos. Mas nos diz onde devemos investir nossos bens e como devemos fazer. Jesus nos diz que coloquemos nosso capital no “banco” de Deus onde os ladroes não conseguem roubar e onde o capital produz o máximo. Assim, pois, o texto convida positivamente a acumular tesouros celestes investindo no céu através da caridade e da ajuda aos necessitados com boas ações.

Jesus usa uma imagem inesquecível: traça. Traça é um pequeno inseto, mas destrói móveis: casa ou armário e os demais moveis de madeira. Com esta imagem Jesus quer nos dizer que não podemos nos concentrar somente nas coisas elementares da vida capazes de destruir nossa dignidade de filhos e filhas de Deus. É preciso que nos concentremos nas coisas essenciais; é preciso que tratemos mais coisas essenciais capazes de construir nossa vida e nossa convivência como filhos e filhas de Deus, capazes de nos levar para a comunhão com Deus. “Ajuntai para vós tesouros no céu”. A riqueza “no céu” é Deus mesmo (cf. Mt 19,21). “No céu” significa “em Deus”. O que é investido em Deus tem seu valor duradouro. Charles Chaplin dizia: “Não se mede o valor de um homem pelas suas roupas ou pelos bens que possui, o verdadeiro valor do homem é o seu caráter, suas ideias e a nobreza dos seus ideais”.             

O oposto a acumular riquezas é compartilhar o que se tem, obra de generosidade. O apego ao dinheiro faz do homem um miserável; é precisamente o desapego, que se traduz no dom é que dá valor à pessoa. Jesus põe o valor da pessoa no desprendimento, que manifesta o amor.             

O Evangelho de hoje, na verdade, é uma explicação do conteúdo da primeira bem-aventurança: “Bem-aventurados os pobres no espírito, porque deles é o reino do céu” (Mt 5,3). “Pobre no espírito” consiste no desapego interior às riquezas; também significa são os humildes de coração em oposição aos orgulhosos (interpretação dos Padres da Igreja); significa os que se submetem interiormente, sem resistência, à vontade de Deus, os que aceitam humildemente o senhorio de Deus sobre suas vidas. É uma atitude de humildade diante de Deus, nascida da fé em Deus, da experiência de Deus e que se traduz em atitudes e condutas de bondade e de mansidão, de misericórdia e de compaixão, de tolerância e de compreensão. São atitudes opostas às de orgulho, de prepotência e da violência, do endurecimento e da intransigência. Jesus foi um pobre espiritualmente porque seu alimento foi sempre a vontade do Pai (cf. Jo 4,34), sendo obediente até a morte, e morte de cruz.             

Onde está o teu tesouro, aí estará o teu coração”. Neste texto Jesus usa a palavra “tesouro”.  Como podemos definir “meu tesouro”? Como Jesus define o “tesouro” e de que forma o define?

Para nós o “tesouro” são os bens materiais que possuímos ou conjunto de riquezas de qualquer tipo: dinheiro que temos e que investimos em distintas atividades para acumular mais ainda, joias, pedras e metais preciosos, bens valiosos, guardadas ou escondidas. No entanto, a experiência nos mostra que nada é seguro neste mundo. Deste pensamento Jesus define o tesouro a partir do lugar onde se recorre: se é na terra, não está seguro; se é no céu, está seguro. Seremos ricos e poderemos possuir e acumular verdadeiros tesouros somente se vivermos em Deus.

Isto quer dizer que o homem se define pelos valores que estima e as seguranças que busca. E estes valores que ele escolhe orientam sua vida, influenciam nas opções diárias e marcam sua personalidade. A avareza obscurece nossa visão das pessoas, das coisas e da vida. Tudo que amamos por causa de nós mesmos, fora de Deus, só cega nosso intelecto e paralisa nosso julgamento sobre os valores morais; vicia nossas opções, de maneira que não podemos distinguir com nitidez o bem do mal nem saber qual é a vontade de Deus. Dizia Santo Agostinho: “Possuamos as coisas terrenas sem deixar-nos possuir por elas. Que não nos deslumbre sua multiplicação nem nos afunde sua carência. Façamos que elas nos sirvam sem fazer-nos seus servidores”.                    

Onde está o teu tesouro, aí estará o teu coração”. Na linguagem bíblica, o coração designa toda a personalidade em seu conjunto, a vida interior, o caráter, a atividade consciente e volitiva do eu humano. O coração é feito para Deus e para os semelhantes (próximos). Não coloquemos nosso coração nas coisas, porque elas vão se destruir, elas vão acabar um dia, elas não serão levadas quando partirmos deste mundo, como dizia Santo Agostinho: “Essa vida mortal, mais que uma morada de residentes por direito, é uma pousada de viajantes em trânsito”. Podemos ter muitas coisas na vida ou muitos bens materiais, mas eles continuam a ser alheios a nós; eles nunca serão nossos próximos. “Sem amigos ninguém escolheria viver, mesmo que tivesse todos os outros bens”, dizia Aristóteles. Nosso próximo é sempre o ser humano e não a coisa. Podemos ter as coisas, mas as coisas não podem nos possuir. Ao contrário, coloquemos nosso coração em Deus e nas pessoas, pois são eles que nos levam a Deus. Dentro do coração de Jesus encontraremos infinitos tesouros de amor. Procuremos que o nosso coração se assemelhe ao dele.     

A partir desse primeiro pensamento, é muito útil nos perguntarmos todos os dias: onde tenho o meu coração? Onde eu coloco o meu coração? Qual é o centro da minha vida?           

Olhar São Expressa o Coração São

Jesus também nos diz: “O olho é a luz do corpo. Se teu olho é são, todo o teu corpo será iluminado. Se teu olho estiver em mau estado, todo o teu corpo estará nas trevas. Se a luz que está em ti são trevas, quão espessas deverão ser as trevas!” (Mt 6,22-23).  Na Bíblia, “corpo” não é somente nossa materialidade. “Corpo” representa a totalidade da pessoa humana na medida em que pode visualizar-se e distinguir-se dos demais como ser individual, isto é, a pessoa em sua individualidade, capaz de relacionar-se com os demais, sendo sempre ela mesma, capaz de ser interpelada como um “tu”. Para que a pessoa (o corpo) possa atuar, necessita de luz para poder ver. E o “ver” vai muito mais além do órgão material “olho”, pois também pode se ver com a mente. “Ver” é um ato que implica a toda a pessoa. Ver exterioriza os sentimentos do coração, ao referir-se ao “olho bom”, a Bíblia fala dos olhos dirigidos ao Senhor porque liberta e ajuda (Sl 25,12; 123,1; 141,8). Quando fala do “olho malvado” assinala para o homem vaidoso e avaro: “O olhar do avarento é insaciável a respeito da iniquidade: só ficará satisfeito quando tiver ressecado e consumido a sua alma. O olhar maldoso só leva ao mal; não será saciado com pão, mas será pobre e triste em sua própria mesa” (Eclo 14,9-10). 

Se o olho estiver são veremos bem; se ele estiver enfermo, veremos apenas a escuridão ao nosso redor. Se o nosso olhar estiver posto em Deus, que é a luz de toda luz, o mistério da escuridão humana será iluminado e veremos tudo a partir de Deus. Se o nosso olhar não for posto em Deus, viveremos nas trevas, dentro do mistério da própria escuridão e a nossa visão será limitada. Como o coração pode escolher, assim também o olho. Se for dirigido a Deus, escolherá Deus e será envolto pela luz e verá com clareza a vida. “Ora, se a luz que existe em ti é escuridão, como será grande a escuridão”. É o convite de Jesus para que nosso olhar fixe permanentemente em Deus para que nossa vida não se transforme em escuridão total. 

Reflita sobre a verdade das palavras seguintes de Mahatma Gandhi: “Plenamente liberto e livre é somente o homem que, depois de se consolidar definitivamente no mundo espiritual, volta ao mundo material sem se materializar; o seu reino não é daqui, mas ele ainda trabalha aqui, como se fosse o mais profano dos profanos. Somente um homem plenamente espiritual pode admitir aparências de materialidade sem desmentir a sua espiritualidade. De um homem que nada espera do mundo, tudo pode o mundo esperar”.

P. Vitus Gustama,SVD

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