terça-feira, 15 de junho de 2021

Terça-feira Da XII Semana Comum,22/06/2021

É PRECISO MANTER A  FÉ EM DEUS E VALIZAR O VALIOSO

Terça-Feira da XII Semana Comum

Primeira Leitura: Gn 13,2.5-18

2 Abrão era muito rico em rebanhos, prata e ouro. 5 Ló, que acompanhava Abrão, também tinha ovelhas, gado e tendas. 6 A região já não bastava para os dois, pois seus rebanhos eram demasiado numerosos, para poderem morar juntos. 7 Surgiram discórdias entre os pastores que cuidavam da criação de Abrão, e os pastores de Ló. Naquele tempo, os cananeus e os fereseus ainda habitavam naquela terra. 8 Abrão disse a Ló: “Não deve haver discórdia entre nós e entre os nossos pastores, pois somos irmãos. 9 Estás vendo toda esta terra diante de ti? Pois bem, peço-te, separa-te de mim. Se fores para a esquerda, eu irei para a direita; se fores para a direita, eu irei para a esquerda”. 10 Levantando os olhos, Ló viu que toda a região em torno do Jordão era por toda a parte irrigada — isso antes que o Senhor destruísse Sodoma e Gomorra —, era como um jardim do Senhor e como o Egito, até a altura de Segor. 11 Ló escolheu, então, para si a região em torno do Jordão, e foi para oriente. Foi assim que os dois se separaram um do outro. 12 Abrão habitou na terra de Canaã, enquanto Ló se estabeleceu nas cidades próximas do Jordão, e armou suas tendas até Sodoma. 13 Ora, os habitantes de Sodoma eram péssimos, e grandes pecadores diante do Senhor. 14 E o Senhor disse a Abrão, depois que Ló se separou dele: “Ergue os olhos e, do lugar onde estás, olha para o norte e para o sul, para o oriente e para o ocidente: 15 toda essa terra que estás vendo, eu a darei a ti e à tua descendência para sempre. 16 Tornarei tua descendência tão numerosa como o pó da terra. Se alguém puder contar os grãos do pó da terra, então poderá contar a tua descendência. 17 Levanta-te e percorre este país de ponta a ponta, porque é a ti que o darei”. 18 Tendo desarmado suas tendas, Abrão foi morar junto ao Carvalho de Mambré, que está em Hebron, e ali construiu um altar ao Senhor.

Evangelho: Mt 7,6.12-14

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 6 "Não lanceis aos cães as coisas santas, não atireis aos porcos as vossas pérolas, para que não as calquem com os seus pés, e, voltando-se contra vós, vos despedacem. 12 Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a lei e os profetas. 13 Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram. 14 Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram”.

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Quem Escolhe Deus, Escolhe Vida e Salvação

A Primeira Leitura, tirada do Livro de Genesis, se encontra no conjunto das histórias patriarcais (Gn 12-50). Neste conjunto encontramos três famílias da mesma árvore genealógica com suas histórias próprias: Abraão com seu filho Isaac; Isaac e seus dois filhos: Esaú e Jacó; e Jacó com seus doze filhos, os pais dos tribos. 

E a história de Abraão e Ló (sobrinho de Abraão) faz parte do ciclo de Abraão e seu filho Isaac (Gn 12,1-25,18). O tema principal deste ciclo é a espera ansiosa de um filho que preencha a solidão de um casal de anciãos (Abraão e Sara). Para a crise inicial da falta de um filho é acrescentada a chamada de Deus dirigida a Abrão para abandonar tudo para ir a um lugar indicado por Deus (Gn 12,1-9). E Abraão responde com a mais absoluta fidelidade e com uma confiança total no Deus da promessa que o chamou. A vida de Abraão é fundamentada sobre a Palavra divina que escutou. Por causa de sua fé e confiança absoluta em Deus Abraão é qualificado como um homem de fé. Como recompensa por esta fé Abraão é plenificado pelas bênçãos divinas, pai de uma multidão de povos e ponte de salvação para todos os homens.

O texto da Primeira Leitura fala da separação entre Abraão e Ló. Encontramos nesta história um paradoxo: os conflitos (entre os clãs) surgem precisamente a partir das bênçãos de Deus e da prosperidade. Abraão e Ló estão ricos demais porque a certa altura os seus rebanhos, de tão numerosos, já não podem ficar juntos. Como sempre acontece, com a riqueza vieram os problemas dentro da própria família ou parentes. Enquanto eram pobres, eles se ajudavam mutuamente, viviam de acordo. Agora aparecem os motivos de disputa em nome de suas riquezas. 

Mas  Abraão, como um homem de Deus cheio de fé e cheio de espirito de fraternidade, foi magnânimo com o sobrinho Ló: com um gesto elegante, deixou Ló escolher as terras que queria com pasto para o seu gado. Ló escolheu o melhor, é claro. Abraão, portanto, fica com as terras mais secas. Mas, no fundo, Abraão escolhe Deus, e Deus parece querer recompensá-lo imediatamente, prometendo-lhe novamente a terra pela qual estão viajando, Canaã, para ele e seus descendentes. É importante notar que, apesar de ser chefe do clã, Abraão deixa Ló, seu sobrinho, escolher o lugar onde habitará: “Não deve haver discórdia entre nós e entre os nossos pastores, pois somos irmãos. Estás vendo toda esta terra diante de ti? Pois bem, peço-te, separa-te de mim. Se fores para a esquerda, eu irei para a direita; se fores para a direita, eu irei para a esquerda” (Gn 13,8-9). A proposta de Abraão é muito generosa e é realmente excepcional.

O texto quer nos mostrar que cada escolha não é fácil, pois há sempre alguma tentação ou algum desejo escondido, como também há engano em cada escolha.

Na sua escolha, Ló se deixa levar pela aparência, pelo que vê, como aconteceu com Eva (Gn 2,6): “Levantando os olhos, Ló viu que toda a região em torno do Jordão era por toda a parte irrigada, era como um jardim do Senhor e como o Egito, até a altura de Segor. Ló escolheu, então, para si a região em torno do Jordão, e foi para oriente” (Gn 13,10-11). Mas nem tudo que é brilho é de ouro. Ló acredita ter escolhido o melhor e não sabe onde se foi meter, em que dificuldades o porá a sua avidez. Uma vida vivida somente em função do prazer e não do bem e da salvação, mais tarde a própria pessoa que a escolheu vai ter que pagar caro, até com a própria vida ou a vida da própria família. Ló escolheu uma terra onde se encontra o povo de Sodoma que vive oposto a Deus. Ao separar-se de Abraão, Ló se separa do portador da bênção e se expõe à desventura (cf. Gn 18-19). 

Ao descrever a terra escolhida por Ló, a Bíblia usa estas palavras: "era como o paraíso, ou era como um jardim do Senhor". Lembramos que Deus proibiu nossos primeiros pais de voltar ao paraíso (Gênesis 3:24). Alguém pode pensar que é um ato de dureza. Na verdade, mais do que parte do castigo faz parte da salvação, como podemos aprender com os acontecimentos que aconteceram com Ló e sua família. Aquela terra que "era como o paraíso" será palco de acontecimentos constrangedores e dolorosos. Essa é a terra de Sodoma, onde a abundância de bens e prazeres criou um tipo de pessoas dedicadas apenas a agradar a si mesmas e buscar satisfação no refinamento e esquisitice até o ponto da depravação. O que parecia um paraíso se transformou em um inferno.

O Salmo Responsorial (Sl 14[15] de hoje, ecoando a atitude de Abraão, pergunta: "Senhor, quem morará em vosso Monte Santo?", o que hoje equivaleria a perguntar quem é um bom cristão?! A resposta é muito concreta e não se perde nas altas teologias: "É aquele que caminha sem pecado e pratica a justiça fielmente; que pensa a verdade no seu íntimo e não solta em calúnias sua língua. Que em nada prejudica o seu irmão, nem cobre de insultos seu vizinho; que não dá valor algum ao homem ímpio, mas honra os que respeitam o Senhor”. 

Concretamente, imitando Abraão, podemos nos perguntar como costumamos resolver as tensões que podem surgir em nossa convivência: somos capazes de ceder, como Abraão? Damos prioridade ao gosto dos outros ou o nosso gosto tem que prevalecer sempre e de qualquer maneira? Resolvemos possíveis conflitos na vida familiar ou comunitária, sacrificando-nos, se for necessário? Sabemos buscar a paz e a harmonia, falando como gente civilizada, antes mesmo de recorrer aos motivos mais sobrenaturais que Jesus nos ensina?

O que podemos aprender mias da história de Abraão e Ló? 

Nos conflitos com Ló, Abraão não exige seus direitos como o chefe do clã. Abraão não diz: “Quero meus direitos!”. A generosidade, a liberdade, a humildade e o desapego de Abraão em solucionar os conflitos nos surpreendem excepcionalmente. O que mais nos surpreende é que Abraão aceita a escolha de Ló. É coisa rara entre os homens! Abraão tem um coração simples e por isso, facilita tudo para não criar briga, pois sempre há vítima para qualquer tipo de briga ou de confronto.

“Escolhe tu primeiro, e eu me contentarei com o que me deixares!”. Esta é a decisão de Abraão. Por que Abraão tem tanta generosidade e desprendimento diante de Ló? Porque Abraão tem dentro de si algo mais. No seu coração tem um tesouro. Dentro do seu coração Abraão tem promessa de Deus. Ló não tem promessa. Esta promessa é para Abraão mais rica do que qualquer outra coisa e o torna livre, tranquilo, disponível, disposto a ceder a melhor parte ao sobrinho.  Abraão é como aquela pessoa na parábola de Jesus que, ao encontrar um tesouro escondido na terra, ela vende tudo que tem para comprar o terreno onde se encontra o tesouro (cf. Mt 13,44). 

O que você tem de valor dentro de seu coração que o torna livre, tranquilo, pacifico, despojado? Existe dentro de seu coração algum tesouro ou alguma promessa de Deus para sua vida? Como você resolve conflitos dentro de sua família: a partir dos direitos ou a partir da generosidade do seu coração?

Não deve haver discórdia entre nós e entre os nossos pastores, pois somos irmãos” é a frase de Abraão a Ló sobre a qual precisamos meditar. Esta frase sai do coração de Abraão porque ele é homem de fé e de oração e por isso, ele é fiel aos irmãos. Por causa de sua fé no Deus da promessa, Abraão é capaz de dar a parte melhor a outro (Ló). Para Abraão a paz (Shalom) já é um bem superior aos bens materiais. Antes de tudo é o amor fraterno que é essencial do Reino de Deus e sobre o qual seremos julgados (cf. Mt 25,31-45). 

O que nos falta em nossa vida de cristãos ou de religiosos oi de ministros ordenados não é a doutrina ou a fé e sim bom coração, o coração generoso. O Salmo Responsorial de hoje (Sl 14), fazendo-se eco da atitude generosa de Abraão faz a seguinte pergunta: “Senhor, quem morará em vosso Monte Santo?”. E a resposta é: “É aquele que caminha sem pecado e pratica a justiça fielmente; que pensa a verdade no seu íntimo e não solta em calúnias sua língua. Que em nada prejudica o seu irmão, nem cobre de insultos seu vizinho; que não dá valor algum ao homem ímpio, mas honra os que respeitam o Senhor”. 

Saber Valorizar o Valioso

Não deis aos cães as coisas santas, nem atireis vossas pérolas aos porcos; para que eles não as pisem e, voltando-se contra vós, vos estraçalhem” (Mt 7,6). É tirado do texto do Evangelho de hoje. 

Estamos no fim do Sermão da Montanha (Mt 5-7). A passagem do evangelho que serve para nossa meditação de hoje é outra parte da conclusão do Sermão da Montanha (Mt 7). No texto de hoje Jesus nos dá três lições importantes para nossa vida: viver na prudência; em cada ato praticado o outro deve ser levado em consideração (regra de outro); e o esforço na luta pela salvação (porta estreita).

No texto de hoje Jesus começa sua lição com as seguintes palavras: “Não deis aos cães as coisas santas, nem atireis vossas pérolas aos porcos; para que eles não as pisem e, voltando-se contra vós, vos estraçalhem” (Mt 7,6). Esta sentença enigmática, própria de Mateus, não tem nenhuma relação, ao parecer, com o que precede nem com o que segue (alguns especialistas colocariam o v.6 dentro do conjunto de Mt 7,1-4). Mas o que mais importante para nós é a lição escondida nessa sentença. 

Cães e porcos eram animais impuros para os judeus. A quem, então, Jesus se refere quando fala de cães e de porcos? Muitos interpretam que cães e porcos representam os pagãos. Na verdade, os cães e os porcos não designam aqui categorias particulares de homens: pagãos, fariseus, certas pessoas desviadas, hereges e assim por diante. Cães e porcos ilustram bem, aqui, duas recusas características do Evangelho: primeiro, a inconsciência dos que em nenhum momento pressentem (não percebem) o valor do Evangelho, e segundo, a violência perigosa dos que, decepcionados por não encontrar nele (no Evangelho) um alimento de seu gosto, se voltam contra os que propõem a vida de acordo com o Evangelho. Ainda que os discípulos não excluam ninguém de seu amor (Mt 5,38.43-48), mas eles têm que tomar cuidado com aqueles que buscam somente seu próprio interesse e cometem a injustiça contra o próximo. O conselho de Jesus no v.6 se encontra paralelamente no Livro dos Provérbios (Antigo Testamento): “Quem censura um mofador, atrai sobre si a zombaria; o que repreende o ímpio, arrisca-se a uma afronta. Não repreendas o mofador, pois ele te odiará. Repreende o sábio e ele te amará” (Pr 9,7-8). 

A expressão “as coisas santas” designa com frequência no Antigo Testamento as viandas (alimento) oferecidas em sacrifício e que somente os fieis podiam consumir “... para a expiação quando de sua tomada de posse e sua consagração. Estrangeiro algum comerá deles, porque são coisas santas” (Ex 29,33-34; cf. Lv 2,3;22,10.16; Nm 18,8.19). 

O paralelismo “coisas santas - pérolas” demonstra que a primeira dessas expressões deve ser entendida como uma imagem que designa o que é infinitamente precioso e pertence exclusivamente a Deus. “As pérolas” são imagem daquilo que tem um grande valor ou precioso (cf. Mt 13,46).

Não deis aos cães as coisas santas, nem atireis vossas pérolas aos porcos; para que eles não as pisem e, voltando-se contra vós, vos estraçalhem!”. Através deste conselho Jesus nos ensina a vivermos na prudência.     “A prudência é o olho de todas as virtudes”, dizia Pitágoras. Ser prudente é a primeira lição do evangelho de hoje.

A palavra “prudência” provém do latim “prudens-entis” que, na acepção própria, significa precavido, competente. Prudência é virtude que faz prever, e procura evitar as inconveniências e os perigos; cautela, precaução. A prudência é a capacidade de ver, de compenetrar-se e de ajustar-se à realidade. A prudência oferece a possibilidade de discernir o correto do incorreto, o bom do mau, o verdadeiro do falso, o sensato do insensato a fim de guiar o bom rumo de nossas ações. O prudente jamais se precipita no falar nem no agir sem conhecimento da causa ou da realidade. Tendo conhecimento da causa ou da realidade ele fala com cautela. A prudência é a faculdade que nos permite vermos e aprendermos a realidade tal como é. A prudência é o modo de viver dos sábios, pois o homem sábio é sempre guiado pela prudência. Por isso, o sábio dificilmente machuca os outros. 

A segunda lição que Jesus nos dá hoje é esta: “Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles. Nisto consiste a Lei e os Profetas” (Mt 7,12). Trata-se de uma regra de conduta e é considerada como a regra de ouro. A regra de ouro já era conhecida na antiguidade. Em Heródoto lemos: “Não quero fazer aquilo que censuro no próximo” (Heródoto, 3,142,3). Na sabedoria de Confúcio (551 antes de Cristo) lemos: “Não faça aos outros o que você não gostaria que fizessem a você”. Encontramos também esta regra nos ditos do famoso rabi Hillel: “Não faças a ninguém aquilo que te é desagradável; isso é toda a Torá, ao passo que o mais é explicação; vai e aprende!”. 

Esta regra de ouro nos ensina que em tudo que falarmos (comentarmos) ou fizermos a vida e a dignidade do outro devem ser levadas em consideração. Às vezes acontece que machucamos muito os outros porque ainda temos muitas feridas dentro de nós que ainda não são curadas. E muitas vezes avaliamos o outro a partir de nossas feridas e não a partir da própria realidade das coisas. Por trás de uma pessoa brava e grosseira, há uma pessoa frustrada.

O verdadeiro cristão faz muito mais além da regra de ouro. Ele é chamado e é enviado a fazer o bem ao próximo independentemente da retribuição ou do reconhecimento. Ele sempre age com um amor gratuito e de qualidade sem medir esforços, porque ele tem consciência clara de que ele é amado por Deus deste modo. Ele é sempre solicito e serviçal. Trata-se de a opção ou do estilo de vida com Deus traduzido na convivência fraterna com os demais. Todo trato cordial e fraterno jamais se baseia na lei de retribuição muito menos acontece por mera formalidade. O cristão existe para fazer o bem, e se não o fizer deixará de existir em Jesus Cristo que “passou a vida fazendo o bem” (At 10,38).

A terceira lição dada por Jesus no evangelho deste dia é esta: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso é o caminho que leva à perdição, e muitos são os que entram por ele! Como é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida! E são poucos os que o encontram”! (Mt 7,13-14). Estas palavras de Jesus recordam aquilo que Moisés falou, no Livro de Deuteronômio, para o povo eleito quando acabou de expor a Lei: “Olha que hoje ponho diante de ti a vida com o bem, e a morte com o mal. Mando-te hoje que ames o Senhor, teu Deus, que andes em seus caminhos, observes seus mandamentos, suas leis e seus preceitos, para que vivas e te multipliques, e que o Senhor, teu Deus, te abençoe na terra em que vais entrar para possuí-la.  Se, porém, o teu coração se afastar, se não obedeceres e se te deixares seduzir para te prostrares diante de outros deuses e adorá-los, eu te declaro neste dia: perecereis seguramente e não prolongareis os vossos dias na terra em que ides entrar para possuí-la, ao passar o Jordão.  Tomo hoje por testemunhas o céu e a terra contra vós: ponho diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas com a I tua posteridade, amando o Senhor, teu Deus, obedecendo à sua voz e permanecendo unido a ele. Porque é esta a tua vida e a longevidade dos teus dias na terra que o Senhor jurou dar a Abraão, Isaac e Jacó, teus pais” (Dt 30,15-20).  

Moisés falou de vida e de morte; Jesus, que já olha mais para além da vida neste mundo, fala de “vida e perdição”. Moisés mandou para “escolher o caminho”; Jesus manda “entrar pela porta estreita”, tomar o caminho que leva à vida. Moisés fala desta vida; Jesus fala da vida eterna da qual alcançarão os que seguem a senda estreita. 

“Como é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida!”.  O verbo grego para “apertado” usado em particípio se usa também para indicar aflição, tribulação e perseguição. São os obstáculos que tem que ser superados quando se recorre “a senda estreita”. 

Não percamos a ideia de “caminho”. A vida do cristão se concebe como um “caminho” (cf. At 9,2;13,10;18,25 etc.). Não se improvisa, recorre-se pouco a pouco com uma tensão contínua até o Pai. O amor nos faz encontrarmos Deus face a face um dia. Não precisaremos mais da fé e da esperança no momento em que estivermos face a face com Deus na eternidade. Como disse um pregador: “A fé e a esperança nos levam até a porta do céu. Mas o que nos faz entrar nele é o amor, pois ‘Deus é amor’ (1Jo 4,8.16)”.  

“Como é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida!”.  No Evangelho de João Jesus se apresenta como porta: “Eu sou a porta; quem entrar por mim será salvo” (Jo 10,9). O cristão se esforça por ser fiel a Deus e aos princípios evangélicos como solidariedade, fraternidade, igualdade, justiça, amor, bondade, solidariedade em vez de egoísmo, agressividade, violência. A santidade é a forma normal de viver os ensinamentos de Cristo no cotidiano. Mas para tudo isto se exige muito esforço. “Deus não condena quem não pode fazer o que quer, mas quem não quer fazer o que pode”, dizia Santo Agostinho (Serm. 54,2).

P. Vitus Gustama,svd

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