segunda-feira, 7 de junho de 2021

XI Domingo Comum, 13/06/2021

CONFIAR NO PODER DE DEUS SENDO SEMEADOR DO BEM DIARIAMENTE

XI DOMINGO DOMUM ANO “B”

Primeira Leitura: Ez 17,22-24

22 Assim diz o Senhor Deus: “Eu mesmo tirarei um galho da copa do cedro, do mais alto de seus ramos arrancarei um broto e o plantarei sobre um monte alto e elevado. 23 Vou plantá-lo sobre o alto monte de Israel. Ele produzirá folhagem, dará frutos e se tornará um cedro majestoso. Debaixo dele pousarão todos os pássaros, à sombra de sua ramagem as aves farão ninhos. 24 E todas as árvores do campo saberão que eu sou o Senhor, que abaixo a árvore alta e elevo a árvore baixa; faço secar a árvore verde e brotar a árvore seca. Eu, o Senhor, digo e faço”.

Segunda Leitura: 2Cor 5,6-10 

Irmãos: 6 Estamos sempre cheios de confiança e bem lembrados de que, enquanto moramos no corpo, somos peregrinos longe do Senhor; 7 pois caminhamos na fé e não na visão clara. 8 Mas estamos cheios de confiança e preferimos deixar a moradia do nosso corpo, para ir morar junto do Senhor. 9 Por isso, também nos empenhamos em ser agradáveis a ele, quer estejamos no corpo, quer já tenhamos deixado essa morada. 10 Aliás, todos nós temos de comparecer às claras perante o tribunal de Cristo, para cada um receber a devida recompensa – prêmio ou castigo – do que tiver feito ao longo de sua vida corporal.

Evangelho: Mc 4, 26-34  

Naquele tempo, 26 Jesus disse à multidão: “O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. 27 Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece. 28 A terra, por si mesma, produz o fruto: primeiro aparecem as folhas, depois vem a espiga e, por fim, os grãos que enchem a espiga. 29 Quando as espigas estão maduras, o homem mete logo a foice, porque o tempo da colheita chegou”. 30 E Jesus continuou: “Com que mais poderemos comparar o Reino de Deus? Que parábola usaremos para representá-lo? 31 O Reino de Deus é como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes da terra. 32 Quando é semeado, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças, e estende ramos tão grandes, que os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra”. 33 Jesus anunciava a Palavra usando muitas parábolas como estas, conforme eles podiam compreender. 34 E só lhes falava por meio de parábolas, mas, quando estava sozinho com os discípulos, explicava tudo.

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A pregação de Jesus, no Evangelho de Marcos, começa com o anúncio da presença do Reino: “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo” (Mc 1,15). É deste Reino que nos falam as duas parábolas de hoje, explicadas aos discípulos “quando (Jesus) estava sozinho com os discípulos”.

Falar Do Semeador e Da Semente

Nas duas parábolas há uma mesma dinâmica: produz-se algo que não parece proporcionado a seu princípio, porque há uma força misteriosa que trabalha: a força de Deus. Em ambas é conjugado o trabalho da semente e da terra, e fica em segundo lugar o trabalho dos homens: “Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece”. A Primeira Leitura afirma muito explicitamente que o Senhor Quem “abaixa a árvore alta e eleva a árvore baixa”. E o Salmo Responsorial comenta esta “plantação” do Senhor: “O justo crescerá como a palmeira, florirá igual ao cedro que há no Líbano; na casa do Senhor estão plantados” (Sl 91/92).

Mesmo que o trabalho dos homens esteja em segundo lugar, mas não significa que seja dispensável. Tal como no cultivo do trigo, assim também na obra da graça divina deve haver um semeador. A terra por si mesma jamais produziria o trigo. Sozinha a terra pode produzir espinhos e abrolhos, mas nunca o trigo. A mão humana precisa arar a terra e espalhar a semente, senão jamais haverá colheita de trigo. 

Da mesma maneira, o coração humano jamais voltará, por seu próprio impulso, para Deus, mas somente arrependendo-se, crendo n´Ele e obedecendo-Lhe. Jesus Cristo precisa espalhar sobre ele a boa semente de sua Palavra, através da mão cooperadora dos homens chamados para este trabalho. Ao conferir aos homens a sua graça, Deus opera normalmente através de meios apropriados pelo seu crescimento no coração de cada homem.

Além disso, somos ensinados que na obra da graça há muita coisa que ultrapassa o poder de compreensão e de controle dos homens. O mais sábio e experiente agricultor jamais será capaz de explicar exatamente o que ocorre a um grão de trigo após tê-lo semeado. O semeador planta a semente e deixa o crescimento dela aos cuidados de Deus. Pois o Senhor Quem “abaixa a árvore alta e eleva a árvore baixa”. “Deus...dá o crescimento” (1Cor 3,7).

Da mesma forma, as operações da graça divina, no coração de um homem, são inteiramente misteriosas e insondáveis. Não podemos explicar definitivamente e totalmente por qual razão a Palavra de Deus produz efeitos numa pessoa e na outra pessoa nada produz. Nem sabemos explicar bem, que apesar de muitas exortações ou advertências, certas pessoas rejeitam a Palavra de Deus e continuam mortas e infelizes em seus delitos e pecados. 

As habilidades mais elevadas, a mais poderosa oratória, a mais diligente atuação humana, não podem garantir o sucesso. Somente Deus é capaz de dar a vida eterna. A nossa principal tarefa consiste em semear a Palavra de Deus, e o seu crescimento está no poder de Deus. Feito isso, podemos esperar os resultados da fé e de nossa paciência. Devemos descansar, noite e dia, deixando nas mãos do Senhor o resultado de nosso trabalho. Somente o Senhor pode determinar o resultado, e se achar conveniente, Ele dár o sucesso.

Falar Da Semente De Mostarda 

Além disso, aprendemos das duas parábola, especialmente da parábola da semente de mostarda, que a vida se manifesta gradualmente. A natureza nada faz rapidamente ou apressadamente. A planta precisa passar por vários estágios antes de atingir a maturidade. O mundo rural está acostumado ao lento desenvolvimento da vida: semeando, crescendo, amadurecendo e colhendo. A evolução da natureza, a história dos povos, o desenvolvimento das pessoas, a ação criadora e redentora de Deus, são mais assimiláveis ao crescimento vegetativo do que à produção industrial. Às vezes, o vegetativo e o industrial se cruzam. A necessidade ou pressa do mundo hoje produz animais que engordam rapidamente e, nas fazendas modernas, os pássaros (galinhas) se parecem mais com máquinas de fazer ovos do que com animais vivos.

Semelhantemente a obra da graça divina vai-se desenvolvendo no coração humano por etapas. Os filhos de Deus não nascem perfeitos na fé, na esperança, na caridade, no conhecimento ou na experiência cristã. Eles vão crescendo aos poucos. Não há nada que eles não possam aprender diariamente. Com todas as suas debilidades e fraquezas, os filhos de Deus vão vivendo com dignidade.

Outra coisa que aprendemos da parábola da semente é que nenhum agricultor pensaria em cortar o trigo que está brotando, quando ainda está verde. Quando as espigas estiverem cheias, maduras e douradas, então ele lançará a foice para recolher o trigo.

Deus age precisamente dessa mesma maneira. Normalmente, Ele jamais remove o homem deste mundo enquanto não estiver maduro e preparado. O grande agricultor jamais arranca o seu trigo enquanto ele não está maduro.

A semente da mostarda é menor de todas as sementes, mas que chega a ser um arbusto notável. Novamente, a desproporção entre os meios humanos e a força de Deus.               

O evangelho de hoje nos ajuda a entendermos como conduz Deus nossa história. Se esquecermos seu protagonismo e a força intrínseca que tem seu Evangelho, seus sacramentos e sua Graça poderão acontecer duas coisas: se tudo for bem, pensamos que mérito seja nosso. Se tudo for mal, nos afundamos. Não teríamos que nos orgulhar nunca, como se o mundo se salvasse por nossas técnicas e esforços. Não podemos esquecer aquilo que São Paulo nos aconselhou: “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fez crescer. Assim, nem o que planta é alguma coisa nem o que rega, mas só Deus, que faz crescer. O que planta ou o que rega são iguais; cada um receberá a sua recompensa, segundo o seu trabalho.  Nós somos operários com Deus. Vós, o campo de Deus, o edifício de Deus. Segundo a graça que Deus me deu, como sábio arquiteto lancei o fundamento, mas outro edifica sobre ele. Quanto ao fundamento, ninguém pode pôr outro diverso daquele que já foi posto: Jesus Cristo” (1Cor 3,6-11).                 

Jesus quer nos dar lição de que os meios podem ser muito pequenos, mas podem produzir frutos inesperados, não proporcionados nem a nossa organização nem a nossos métodos e instrumentos. A força da Palavra de Deus vem do próprio Deus e não de nossas técnicas. Quando em nossa vida há uma força interior, a eficácia do trabalho cresce notavelmente. Mas quando essa força interior é o amor que Deus nos tem, ou seu Espírito ou a Graça salvadora de Cristo ressuscitado, então, o Reino de Deus germinará e crescerá poderosamente. O que devemos fazer é colaborar com nossa liberdade. Mas o protagonista é Deus. Não é que sejamos convidados a não fazer nada e sim a trabalhar com o olhar posto em Deus, sem impaciência, sem exigir frutos a curto prazo, sem absolutizar nossos méritos e sem demasiado medo ao fracasso. Há que ter paciência como a tem o lavrador esperando a colheita.

Basta ter um pouco de amor no coração, a paciência será nossa parceira inseparável para esperar os frutos abundantes que virão da própria mão de nosso Pai celeste. Por isso, Deus quer que entremos na aliança de amor com Ele. Ao entrar em comunhão de vida com ele, Deus quer nos fazer sinais de seu amor para com os outros. Mas Deus jamais deixa de nos amar, pois Ele é amor (1Jo 4,8.16). Deus nos ama e cremos no seu amor. Se quisermos que a Palavra de Deus chegue aos demais não somente como informação e sim como testemunho de vida, nós devemos ter a abertura suficiente ao dom de amor de Deus.                 

Em outras palavras, podemos dizer que o Reino de Deus, a Palavra de Deus, tem dentro de si uma força misteriosa que apesar dos obstáculos encontrados no seu caminho vai germinar e dar fruto. Com esta parábola Jesus quer sublinhar a força intrínseca da graça e da intervenção de Deus. O protagonista da parábola não é o lavrador nem o terreno bom ou mau e sim a semente. O Reino de Deus já está no meio de nós. Este Reino cresce em segredo em nosso mundo, alimentado pelo próprio Deus que o põe no coração dos crentes como uma semente que, pouco a pouco, dá abundantes colheitas de solidariedade e de serviço entre as pessoas de boa vontade. Essas duas parábolas podem alimentar e fortalecer nossa esperança. Pouco importam os aparentes fracassos e as grandes dificuldades. É o próprio Deus Pai que faz crescer e germinar seu Reino, muitas vezes, através dos caminhos misteriosos e desconhecidos por nós, pobres pecadores. Vamos semear o bem, a bondade, o amor e os resultados vamos deixar por conta de Deus.

Resumindo.....

1.    O protagonista da primeira parábola é a semente, não tanto o lavrador ou a qualidade do terreno (como na parábola do semeador). A semente tem dentro de si uma força (“virtus”, “dynamis”) que faz a semente germinar, brotar, crescer, amadurecer. Quando em nosso atuar humano há uma força interior (o amor, a fé, a esperança, o interesse, a bondade etc.), a eficácia pode crescer notavelmente. Mas quando esta força interior é o amor que Deus nos tem, ou seu Espírito, ou a graça salvadora de Cristo Ressuscitado, então o Reino de Deus germina e cresce poderosamente. O homem pode e deve colaborar, mas a força é de Deus. Deus é o “Autor”, ainda que sua presença esteja escondida. A força do Espírito no mundo, na Igreja, em cada um de nós: este é o fator decisivo. Por isso, a parábola é um convite para que saibamos descobrir a presença deste Espírito e desta força interior. O Reino cresce de dentro, porque Cristo está vivo e ativo, porque seu Espírito é protagonista. A força do Evangelho, a eficácia dinâmica da Palavra de Deus são algo que vem do próprio Deus, não de nossas técnicas. A Palavra de Deus tem uma vitalidade própria e se desenvolve vitoriosamente até a colheita, mas com a colaboração do homem, isto é, com a livre resposta do homem à Palavra de Deus. 

2.    O Reino, sendo obra divina, se constrói, vive e se desenvolve de acordo com a maneira de agir de Deus: este é o sentido da segunda parábola. Este modo de agir está de acordo com o poder divino, que nem o tempo nem a pequenez dos meios empregados o fazem falhar. O crescimento do Reino supõe uma desproporção absoluta entre a fragilidade dos meios em jogo e o brilho dos resultados esperados. Como essa desproporção pode ser explicada? Pelas razões já sublinhadas: sendo o Reino obra de Deus, deve ser a manifestação do poder divino; uma manifestação necessária para quem, olhando de fora, tem necessidade de perceber o sentido profundo - divino - da obra que se instaura, e para quem, trabalhando eficazmente a serviço do Reino, tem frequentemente necessidade de ver a prioridade da ação divina no que diz respeito aos meios que os humanos empregam, por mais pobres que sejam necessários.

O "sonho" ou o “sono” do semeador (“Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece”) significa particularmente a prioridade da ação divina, especialmente para aqueles que se lembram do valor simbólico que Marcos dá a este termo, como testemunha esta frase de Jesus: "A menina não morreu; ela está dormindo" ( Mc 5, 39). O sono é a imagem da morte. Conforme foi dito, por mais que o semeador adormeça na morte, o Reino continua crescendo; e quando vem o despertar da ressurreição, é que "a colheita está pronta". O Reino não vem como um exército de ocupação nem como uma revolução espetacular: vem como uma semente insignificante, mas cheia de vigor interior, como disse a primeira parábola, e é por isso que cresce e dá frutos. 

É um convite também para nós, a sabermos ver como também na nossa história o humilde e o simples, o quotidiano e o nada espetacular, podem ser o lugar de encontro com um Deus que salva. Tendemos a apreciar técnicas chamativas. Deus age de um jeito diferente. Como disse Nossa Senhora no seu Magnificat, são precisamente os humildes, os pobres e os famintos que Deus exalta, fecunda e enche de boas coisas. E não os ricos e aqueles que se acham poderosos.

P. Vitus Gustama,svd

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