segunda-feira, 21 de junho de 2021

XIII Domingo Comum,27/06/2021

É PRECISO TER FÉ NO DEUS DA VIDA QUE PÕE VIDA ONDE HÁ MORTE

XIII DOMINGO COMUM B

Primeira Leitura: Sabedoria 1,13-15;2,23-24

1,13 Deus não fez a morte, nem tem prazer com a destruição dos vivos. 14 Ele criou todas as coisas para existirem, e as criaturas do mundo são saudáveis: nelas não há nenhum veneno de morte, nem é a morte que reina sobre a terra: 15 pois a justiça é imortal. 2,23 Deus criou o homem para a imortalidade e o fez à imagem de sua própria natureza; 24 foi por inveja do diabo que a morte entrou no mundo, e experimentam-na os que a ele pertencem.

Segunda Leitura: 2Cor 8,7.9.13-15

Irmãos: 7 Como tendes tudo em abundância – fé, eloquência, ciência, zelo para tudo, e a caridade de que vos demos o exemplo – assim também procurai ser abundantes nesta obra de generosidade. 9Na verdade, conheceis a generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo: de rico que era, tornou-se pobre por causa de vós, para que vos torneis ricos, por sua pobreza. 13Não se trata de vos colocar numa situação aflitiva para aliviar os outros; o que se deseja é que haja igualdade. 14Nas atuais circunstâncias, a vossa fartura supra a penúria deles e, por outro lado, o que eles têm em abundância venha suprir a vossa carência. Assim haverá igualdade, como está escrito: 15“Quem recolheu muito não teve de sobra e quem recolheu pouco não teve falta”. 

Evangelho: Mc 5,21-43

Naquele tempo, 21Jesus atravessou de novo, numa barca, para a outra margem. Uma numerosa multidão se reuniu junto dele, e Jesus ficou na praia. 22 Aproximou-se, então, um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo. Quando viu Jesus, caiu a seus pés, 23 e pediu com insistência: “Minha filhinha está nas ultimas. Vem e põe as mãos sobre ela, para que ela sare e viva!” 24Jesus então o acompanhou. Uma numerosa multidão o seguia e o comprimia. 25Ora, achava-se ali uma mulher que, há doze anos, estava com uma hemorragia; 26tinha sofrido nas mãos de muitos médicos, gastou tudo o que possuía, e, em vez de melhorar, piorava cada vez mais. 27Tendo ouvido falar de Jesus, aproximou-se dele por detrás, no meio da multidão, e tocou na sua roupa. 28Ela pensava: “Se eu ao menos tocar na roupa dele, ficarei curada”. 29A hemorragia parou imediatamente, e a mulher sentiu dentro de si que estava curada da doença. 30Jesus logo percebeu que uma força tinha saído dele. E, voltando-se no meio da multidão, perguntou: “Quem tocou na minha roupa?” 31Os discípulos disseram: “Estás vendo a multidão que te comprime e ainda perguntas: ‘Quem me tocou?’” 32Ele, porém, olhava ao redor para ver quem havia feito aquilo. 33A mulher, cheia de medo e tremendo, percebendo o que lhe havia acontecido, veio e caiu aos pés de Jesus, e contou-lhe toda a verdade. 34Ele lhe disse: “Filha, a tua fé te curou. Vai em paz e fica curada dessa doença”. 35Ele estava ainda falando, quando chegaram alguns da casa do chefe da sinagoga, e disseram a Jairo:  “Tua filha morreu. Por que ainda incomodar o mestre?” 36Jesus ouviu a notícia e disse ao chefe da sinagoga: “Não tenhas medo. Basta ter fé!” 37E não deixou que ninguém o acompanhasse, a não ser Pedro, Tiago e seu irmão João. 38Quando chegaram à casa do chefe da sinagoga, Jesus viu a confusão e como estavam chorando e gritando. 39Então, ele entrou e disse: “Por que essa confusão e esse choro? A criança não morreu, mas está dormindo”. 40Começaram então a caçoar dele. Mas, ele mandou que todos saíssem, menos o pai e a mãe da menina, e os três discípulos que o acompanhavam. Depois entraram no quarto onde estava a criança. 41Jesus pegou na mão da menina e disse: “Talitá cum” – que quer dizer: “Menina, levanta-te!” 42Ela levantou-se imediatamente e começou a andar, pois tinha doze anos. E todos ficaram admirados. 43Ele recomendou com insistência que ninguém ficasse sabendo daquilo. E mandou dar de comer à menina.

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Deus Nos Criou Para a Imortalidade

Deus criou o homem para a imortalidade e o fez à imagem de sua própria natureza; foi por inveja do diabo que a morte entrou no mundo, e experimentam-na os que a ele pertencem”, diz o texto do livro de Sabedoria que lemos na Primeira Leitura.

Deus criou o homem para a imortalidade e o fez à imagem de sua própria natureza”, escreveu o autor do livro de Sabedoria.

A morte é uma questão sempre aberta. A fé de Israel, expressa na narração do Paraíso, é que Deus não quer a morte e sim a vida; que o homem não está destinado à morte e sim que seu destino original, isto é, no desígnio de Deus, que é a verdadeira origem do homem é a vida plena: “Deus criou o homem para a imortalidade e o fez à imagem de sua própria natureza”. O dom da imortalidade é um dom gratuito que vai além de todas as possibilidades e as forças do universo do qual fazemos parte. E que os anseios de vida inscritos em nosso coração têm sua origem n´Aquele que nos criou, e apontam para o dom gratuito e inédito que nos dá em Jesus Cristo, o Senhor. Não é estranho que Jesus seja Portador de vida (Cf. Jo 10,10) e triunfe sobre a morte (Cf. Jo 11,25-26). O Reino de Deus que Jesus anuncia é o Reino de vida. 

Dentro deste contexto podemos entender a inclusão do Salmo 29 como Salmo Responsorial para este domingo: “Eu vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes, e não deixastes rir de mim meus inimigos! Vós tirastes minha alma dos abismos e me salvastes, quando estava já morrendo!”. Trata-se de uma oração extraordinária! É para recitá-la quando nos sentimos livres de uma pena ou tragédia  (a enfermidade, a enfermidade de uma pessoa amada, uma desgraça que nos oprime, e assim por diante). É para recitá-la no momento da morte de um amigo crente. É para cantá-la com o Senhor Ressuscitado celebrando sua Páscoa. 

Mas, “... foi por inveja do diabo que a morte entrou no mundo, e experimentam-na os que a ele pertencem”. O autor do livro de Sabedoria fala aqui da morte espiritual, da separação definitiva de Deus, e também da existência sem fim junto a Deus, isto é, da imortalidade bem-aventurada. Separar-se de Deus significa a morte eterna; unir-se a Deus significa imortalidade (Cf. Jo 11,25-26).

O ódio, o egoísmo, a insolidariedade/falta de solidariedade, a injustiça, a passividade diante da dor e da necessidade alheias geram morte. Quem luta contra as formas de morte, cria e comunica vida. Quem arrisca sua vida sem retirar-se, sem cansar-se, sem desanimar-se, quem dá sua vida por amor faz possível a esperança e a vida dos outros. Somente o amor cria vida e a devolve a quem a perdeu. O egoísmo, ao contrário, sufoca e mata. 

São Paulo pede, na Segunda Leitura, aos Coríntios que sejam generosos, como Jesus: Ele veio nos salvar onde estamos (no domínio da morte) e nos enriquece com sua pobreza. Ao submeter-se à morte, Jesus nos abre uma vida plena e nos devolve à imagem original (o Deus imortal) apagada pelo pecado. O texto nos convida também a falar de uma maneira muito realista e muito humana da comunicação de bens. Os bens deste mundo pertencem ao Deus Criador e são criados para a felicidade de todos os homens neste mundo. Distribui-los e partilhá-los aos irmãos fazem parte da vida de quem se reconhece criatura de Deus. Não somente na escala pessoal e domestica, mas também na escala mundial: entre os países da abundância (países ricos) e os países de fome(países pobres).

“Irmãos: Como tendes tudo em abundância – fé, eloquência, ciência, zelo para tudo, e a caridade de que vos demos o exemplo – assim também procurai ser abundantes nesta obra de generosidade, escreveu são Paulo aos Coríntios. São Paulo é muito humano e sensível. Os bens da terra são destinados por Deus, Criador do céu e da terra, para todos: pratiquemos, portanto, a generosidade como prolongamento da generosidade do Deus-criador que criou tudo para nosso bem, o bem da humanidade inteira. O que podemos fazer? Para os cristãos, o exemplo de Jesus Cristo jamais pode nos deixar em paz. Se ele nos enriqueceu com sua pobreza (assumindo a pobreza humana, mesmo a morte e a morte na cruz), não podemos ser insensíveis diante da extrema miséria daqueles irmãos pelos quais o Senhor também morreu, se acreditamos verdadeiramente no Deus da vida. Deus quer a vida em abundância para todos (Cf. Jo 10,10). 

É Preciso Manter a Fé No Deus Da Imortalidade Para Experimentar a Eternidade Com Deus 

No texto do Evangelho de hoje contam-se dois milagres de Jesus intercalados um no outro: quando está indo para a casa de Jairo para curar sua filha, que no entanto já morreu, Jesus cura a mulher que padece, já faz doze anos, a hemorragia. São duas cenas muito expressivas do poder salvador de Jesus Cristo. 

Os dois relatos estão ligados por elementos comuns:

·      Os principais destinatários da ação de Jesus são duas mulheres.

·      As duas mulheres estão unidas em uma relação cronológica em torno dos doze anos. A idade da menina corresponde aos anos de doença da mulher.

·      A multidão está alheia a ambos os milagres. No caso da cura da mulher de sua hemorragia, as pessoas, embora estejam por perto, não percebem o milagre. No milagre da menina de doze anos, a multidão fica do lado de fora.

·      Ambas (menina e mulher), por causa de suas doenças, estão excluídas da sociedade.

A criança não morreu, mas está dormindo”, disse Jesus no Evangelho de hoje. Geralmente nós nos sentimos desamparados diante da enfermidade que nos arranca, pouco a pouco, a vida, e diante da morte. Mas o Senhor da Vida e da Ressurreição nos salva destas situações extremas. O Evangelho e as demais leituras deste domingo são um convite para a fé em Jesus Cristo, o Deus-conosco, o Senhor Ressuscitado: Jesus nos salva destas situações desesperadas e faz brilhar esplendorosamente a imagem do Deus imortal, inscrita em nosso ser desde o primeiro momento de nossa existência: “Deus criou o homem para a imortalidade e o fez à imagem de sua própria natureza” (Sb 2,23).

O primeiro milagre que Jesus realizou neste evangelho (a menina voltou a viver), põe em destaque que o amor do Pai misericordioso é gratuidade que inclui também aos funcionários da sinagoga. Jesus estava convencido de que a sinagoga era uma instituição que cobrava a vida dos indefesos, a vida dos simples da história. No texto podemos observar como um funcionário da instituição religiosa vive na própria carne a injusta realidade da morte prematura de sua filha, sem poder fazer nada. 

E na segunda cena do Evangelho de hoje fala-se da cura da hemorragia de uma mulher que a sofreu durante doze anos. Não podemos esquecer o costume religioso judaico de que a mulher por padecer a hemorragia é considerada “impura” e está marginalizada pela sociedade. Ou seja, trata-se de uma enfermidade triplamente grave: pelo sofrimento físico, o empobrecimento econômico e sua exclusão religiosa (não podia participar no culto segundo Lv 15,25 para não tornar os outros participantes impuros). Mas ela não tem medo deste costume e decide aproximar-se de Jesus e somente quer uma coisa: poder tocar no manto de Jesus para ficar curada de sua doença. Era comum na época tentar tocar o taumaturgo para alcançar um milagre, que por causa da multidão era impossível solicitá-lo pessoalmente. A mulher que ouviu falar de Jesus usa esse método. 

A aproximação da mulher enferma para tocar em Jesus Cristo não tem uma motivação mágica ainda que o pareça. O evangelista Marcos descobre a verdade de sua atitude: a “força” que havia em Jesus Cristo era algo escondido para o não-crente. A mulher foi curada não pelo fato de ter tocado em Jesus e sim pela sua fé em Jesus Cristo. A mulher tocou a fonte da vida (Jesus). E de Jesus não brota outra coisa a não ser a vida em sua plenitude. A fé é uma condição fundamental para que os milagres ocorramSe de Jesus sai apenas a vida em sua plenitude, da vida de cada seguidor de Cristo, de cada cristão que tem fé no Deus da vida, deve sair apenas aquilo que faz os outros terem mais vida e dignidade. O anterior (fé) confirma que não é o contato físico que salva, e sim o encontro pessoal com Jesus pela fé.

Por isso, no primeiro caso (Jairo) diante da aproximação generalizada de que Jesus não pode tudo (“Tua filha morreu. Por que ainda incomodar o mestre?”), Jesus destaca a fidelidade de Jairo: “Não tenhas medo. Basta ter fé!”.

Em dois milagres no evangelho de hoje, Jesus apela, então, à fé, pois não quer que as curas sejam consideradas como algo mágico: “Filha, a tua fé te curou. Vai em paz e fica curada dessa doença”, disse Jesus à mulher curada de sua hemorragia. “Não tenhas medo. Basta ter fé!”, disse Jesus a Jairo, pai da menina que voltou a viver. 

A fé é um ato pessoal: a resposta livre do homem para a iniciativa de Deus que se revela. Mas a fé não é um ato isolado. Ninguém deu a fé a si mesmo, como ninguém deu a vida a si próprio. O crente recebe a fé do outro e deve transmiti-la a outro. Nosso amor a Jesus e aos homens nos impulsiona a falar de nossa fé aos outros. Cada crente é como um elo na grande corrente de crentes. Não posso acreditar sem ser sustentado pela fé dos outros e, com a minha fé, contribuo para sustentar a fé dos outros (Cf. Novo Catecismo Da Igreja Católica, 166). Quem crê nunca utiliza Deus.

A fé coloca no centro de nosso coração a certeza de que tudo o que em nossa vida sucede, tem em si mesma um germe de eternidade, uma semente de vida que um dia há de germinar, florescer e frutificar ou amadurecer, ainda que seja, como toda semente, antes há de morrer e cair na terra (Cf. Jo 12,24).

A fé é a certeza da companhia do Senhor todos os dias (Cf. Mt 28,20), a luz que ilumina o nosso caminho (Cf. Jo 8,12). A certeza da companhia do Senhor nos faz ter certeza daquilo que não se vê e a antecipação daquilo que se espera (Cf. Hb 11,1). 

Jesus, o Senhor, continua curando e ressuscitando. Como então nas terras da Palestina, Ele continua enfrentando agora duas realidades importantes: a doença e a morte. A Igreja como Corpo Místico do Senhor encara continuamente as mesmas realidades: a doença e a morte. É preciso que a Igreja ouça os gritos de socorro pela vida em jogo da humanidade, e se deixe tocar pelos enfermos, pelos famintos, pelos excluídos, pelos marginalizados, e assim por diante, e tire de si própria as forças necessárias recebidas do Senhor Ressuscitado, especialmente através dos sacramentos que são forças do próprio Senhor. Como lemos no Novo Catecismo da Igreja Católica: “Os sacramentos são ‘forças que saem’ do Corpo de Cristo, sempre vivo e vivificante; são ações do Espírito Santo operante no corpo de Cristo, que é a Igreja; são ‘as obras-primas de Deus’ na Nova e Eterna Aliança” (n.1116). 

A enfermidade, como experiência de debilidade, e a morte, como uma grande interrogação, tem em Cristo um sentido profundo. Deus nos tem destinados à saúde e à vida. Continua em pé a promessa de Jesus, sobretudo, para nós que celebramos a Eucaristia: “Quem crê em Mim, ainda que morra, viverá; quem come minha Carne e bebe Meu sangue tem vida eterna”. 

A ação salvadora de Cristo está sempre em ato. Mas não atua mágica ou automaticamente. Também a nós o Senhor diz: “Não tenhas medo. Basta ter fé!”. Talvez nos falte esta fé de Jairo ou da mulher enferma para nos aproximarmos de Jesus e pedir-Lhe humilde e confiadamente que nos cure e salve. 

O Texto Do Evangelho De Hoje É Um Texto Simbólico

O texto do evangelho está carregado de uma simbologia maravilhosa que se faz necessário entendê-la para poder assumir os conteúdos do dito milagre. Trata-se de uma mulher jovem, nos diz o texto, que apenas tinha doze anos; isto é, era uma mulher que apenas começava a viver. Não é normal que uma pessoa começando a viver, tem que morrer. Por isso, ela, que simboliza o novo Israel que nasce, tem que ser auxiliada por Jesus, para que a vida não seja consumida pelas estruturas de morte. Jesus sabe que somente sua mão generosa e sua palavra veraz farão possível o milagre da vida para que o novo Israel que saiu d´Ele, chegue a sua plenitude. Trata-se de uma menina que tinha doze anos e que, por si mesma, podia ser dada em matrimônio.  A menina que tinha doze anos e que Jesus fez tudo para ela voltar a viver é figura do novo Israel a quem Jesus simbolicamente desposará, mas que vive por seu amor e por seu cuidado. É muito importante ressaltar no relato do milagre o papel que desempenha o pai da menina. Ele, um funcionário da sinagoga, roga a Jesus pela sua filha. A sinagoga reconhece que o amor gratuito de Deus está em outra parte: está em Jesus, encarnação do amor do Pai. O legalismo, o contrário à gratuidade de Deus, tornou enfermo, espiritualmente, o povo. Jesus oferece o amor incondicional de seu Pai para todos os que se encontram dominados pela dita estrutura e os inclui em seu projeto de libertação. A vida dedicada para salvar vidas sempre gera vida. Onde há vida e amor, está ai Deus.

P. Vitus Gustama,SVD

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