quarta-feira, 9 de junho de 2021

Quinta-feira Da XI Semana Comum,17/06/2021

PAIZINHO NOSSO QUE ESTÁ NO CÉU E NA TERRA

Quinta-feira da XI Semana Comum

Primeira Leitura: 2Cor 11,1-11

Irmãos: 1 Oxalá pudésseis suportar um pouco de insensatez, da minha parte. Na verdade, vós me suportais. 2 Sinto por vós um amor ciumento semelhante ao amor que Deus vos tem. Fui eu que vos desposei a um único esposo, apresentando-vos a Cristo como virgem pura.  3 Porém, receio que, como Eva foi enganada pela esperteza da serpente, também vossos pensamentos se corrompam, afastando-se da simplicidade e pureza devidas a Cristo.  4 De fato, se aparece alguém pregando um outro Jesus, que nós não pregamos, ou prometendo um outro Espírito, que não recebestes, ou anunciando um outro evangelho, que não acolhestes, vós o suportais de bom grado.  5 No entanto, entendo que em nada sou inferior a esses 'super-apóstolos'!  6 Mesmo que eu seja inábil na arte de falar, não o sou quanto à ciência: eu vo-lo tenho demonstrado em tudo e de todas as maneiras.  7 Acaso cometi algum pecado, pelo fato de vos ter anunciado o evangelho de Deus gratuitamente, humilhando-me a mim mesmo para vos exaltar?  8 Para vos servir, despojei outras igrejas, delas recebendo o meu sustento. 9 E quando, estando entre vós, tive alguma necessidade, não fui pesado a ninguém, pois os irmãos vindos da Macedônia supriram as minhas necessidades. Em todas as circunstâncias, cuidei - e cuidarei ainda - de não ser pesado a vós.  10 Tão certo como a verdade de Cristo está em mim, essa minha glória não me será arrebatada nas regiões da Acaia. 11 E por quê? Será porque eu não vos amo? Deus o sabe!

Evangelho: Mt 6,7-15

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7 ”Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras. 8 Não sejais como eles, pois vosso Pai sabe do que precisais, muito antes que vós o peçais. 9 Vós deveis rezar assim: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; 10 venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus. 11 O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. 12 Perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. 13 E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. 14 De fato, se vós perdoardes aos homens as faltas que eles cometeram, vosso Pai que está nos céus também vos perdoará. 15 Mas, se vós não perdoardes aos homens, vosso Pai também não perdoará as faltas que vós cometestes”.

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Ser Fiel Aos Ensinamentos De Cristo Para Se Manter Na Pureza Até a Vinda Do Senhor

Sinto por vós um amor ciumento semelhante ao amor que Deus vos tem. Fui eu que vos desposei a um único esposo, apresentando-vos a Cristo como virgem pura.  Porém, receio que, como Eva foi enganada pela esperteza da serpente, também vossos pensamentos se corrompam, afastando-se da simplicidade e pureza devidas a Cristo”, é o texto que São Paulo escreveu aos Coríntios na sua Segunda Carta que lemos hoje.

São Paulo continua preocupado pelos cristãos de Corinto. Uns pregadores novo, judaizantes, acusam são Paulo que sua doutrina é demasiadamente aberta e pouca respeitosa à tradição judaica. O pior é que a comunidade de Corinto que são Paulo custou tanto fundar dá ouvidos a esses pregadores que são Pulo os chama ironicamente “super-apóstolos”. São Paulo sente zelo pela comunidade de Corinto.

São Paulo usa uma metáfora para falar do seu relacionamento profundo com a comunidade de Corinto. Ele usa a metáfora de casamento judaico. Conforme os costumes judaicos, um amigo íntimo da noiva é encarregado para cuidar da noiva para que seja mantida pura até o dia de casamento em que ela é entregue ao noivo. 

Nesta Carta (como também em outra carta: Ef 5,25-32; Rm 7,3s) São Paulo apresenta Jesus Cristo como o noivo. A comunidade de Corinto é a noiva. E o amigo da noiva é São Paulo. Como amigo, São Paulo cumpriu sua missão de levar a comunidade de Corinto pura para Cristo. E São Paulo quer continuar a cumprir esta missão alertando aos Coríntios sobre o perigo da infidelidade. São Paulo luta para que, quando Cristo se manifestar na sua glória, a comunidade de Corinto se encontre pura. A fidelidade ameaçada é descrita aludindo ao relato da queda de Eva no paraíso ao aceitar a tentação provocada pela serpente para consumir a fruta proibida. A pureza da esposa/noiva poderia ser maculada, não por tentações morais e sim por doutrinas errôneas e falsas convicções de fé pregadas por determinadas pessoas.

Os tempos vão mudando e as tentações se manifestam em outras formas para nos desviar dos valores que Jesus Cristo nos ensinou através dos Apóstolos. Quantos sacerdotes, religiosos e leigos que sofrem ou duvidam de sua vocação na Igreja ou da existência de Deus por causa das mudanças. 

Além disso, no mundo atual há vozes sedutoras que nos distraem, que corrompem a sã doutrina ou que conduzem a um modo de trabalhar para agradar o mundo e não ao estilo do Evangelho que chama para a conversão. O amor a Cristo e o amor à humanidade devem nos guiar em nossa entrega e em nosso testemunho, como São Paulo. Para isso temos que nos familiarizar com a Palavra de Deus que é “Lâmpada para nossos pés e luz para o nosso caminho” (Sl 119,105).

Nosso Deus É Nosso Papaizinho Que Está Aqui Na Terra

O nome mais adequado ao Deus que reina, o nome mais sábio da teologia definitiva, o nome que exalta a transcendência da divindade e a revela próxima a nós e imanente como fonte de nossa vida, o nome que Jesus acendeu sobre o mundo e entregou às almas em busca de uma linguagem para dirigir-se a Deus, é o dulcíssimo, humaníssimo e sublime nome de Pai (...) A religião nova nasce daqui: Pai nosso, que estais nos céus. Um novo modo de ser nasce daqui: sejais perfeitos, como vosso Pai é perfeito” (Papa Paulo VI). 

De todas as revoluções do Evangelho, a mais profunda e a mais radical é a revelação de Deus como Pai, e consequentemente Deus como amor, como o Pai mais carinhoso e entranhável. O Pai-Nosso nos mostra que cada homem é um filho, pois Deus é o Pai Nosso; que cada homem tem uma interioridade, a parte que o liga com a eternidade, com o céu apesar de estar na terra e por isso, necessitamos rezar, pois a oração é o meio eficaz para penetrar no céu do Pai Nosso; que cada homem precisa de pão para viver e de perdão para conviver na fraternidade; que cada homem continua lutando contra o mal que o destrói e destrói a convivência; que esta terra é o único lugar do encontro com Deus, Pai-Nosso. Por isso, o Pai Nosso não está somente no céu, mas também o Pai Nosso que está na terra. Quando na terra prepararmos espaço devido para o Pai Nosso, então nossa terra vai virar o céu aqui na terra.

Estamos ainda no Sermão da Montanha (Mt 5-7) onde podemos encontrar vários ensinamentos fundamentais de Jesus para nós, seus seguidores. No evangelho de hoje Jesus nos dá seu conselho sobre oração. 

Rezar significa abrir-se para Deus. Nossa vida não pode estar centrada em nós mesmos ou só nas coisas deste mundo. Rezar é saber escutar a Palavra d’Aquele que é maior do que nosso cérebro e dirigir-lhe, pessoal e comunitariamente nossa palavra de louvor e de súplica com confiança de filhos. A oração é mais do que recitar umas fórmulas, é, sobretudo, uma convicção íntima de que Deus é nosso Pai e que quer nosso bem. A oração nos situa diante de Deus e nos faz reconhecer tal como somos já que somos criados à imagem de Deus. A oração vai nos descobrindo o que temos de ser em cada momento. A oração nos humaniza, faz-nos mais humanos, mais criaturas, e não criadores. Se não rezarmos é impossível que nos conheçamos a fundo, porque não saberemos o que poderíamos ser, não saberemos até onde vamos. A oração nos possibilita dizermos em profundidade o que somos, o que pensamos e o que vivemos e para onde vamos.

No texto do evangelho anterior o aspecto individual da oração é destacado com a advertência sobre o perigo de exibicionismo:Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar em pé, nas sinagogas e nas esquinas das praças, para serem vistos pelos homens” (Mt 6,5). Na prática de Jesus a oração individual e a oração comunitária são da mesma importância. 

“Vós, portanto, orai assim: Pai nosso que estás nos céus....”, diz nos Jesus. De todas as revoluções do Evangelho, a mais profunda e a mais radical é a revelação de Deus como Pai, e consequentemente Deus como amor, como o Pai mais carinhoso e entranhável. A tradução mais fiel da palavra “Abba” não é simplesmente “Pai” e sim “Papaizinho”. Qualquer pai sabe muito bem como se sente ao ouvir o apelido “paizinho”. E qualquer filho sabe muito bem como se sente ao chamar seu pai de “paizinho”. Só pode ser uma grande intimidade e ternura. Ao ensinar seus discípulos a chamarem Deus como Pai na oração, Jesus quer enfatizar a simplicidade, a proximidade, a ternura e a familiaridade. A palavra “pai” é algo que tem a ver com a família, a intimidade e a informalidade.

Quando dizemos “Pai nosso que está no céu” não indicamos a distância e sim a transcendência e a invisibilidade de um Deus, que se relaciona individual e comunitariamente com os seres humanos que, por isso, passam a ser considerados filhos.

O Pai-Nosso não é uma simples oração apesar de ser breve. O Pai-Nosso é uma síntese de tudo o que Jesus viveu e sentiu a propósito de Deus, do mundo e de seus discípulos. Chamar Deus de “Pai” é algo insólito, inimaginável que expressa a máxima confiança, proximidade e ternura. Jesus quer nos dizer que Deus é o nosso Pai que está sempre ao nosso lado, cheio de cuidados e ternura para cada um de seus filhos e filhas. Com a palavra “Pai” abre-se um mundo novo nas relações de Deus para com o homem. A vida cristã está banhada de alegria, pois sabemos que somos filhos e filhas de Deus independentemente de nossa situação e de nosso modo de viver.

Além do mais, ao chamar Deus de Pai precisamos estar conscientes de que precisamos viver como irmãos e irmãs, como recorda Santo Tomás de Aquino: “Ao dizermos Pai, recordemos duas obrigações que temos para com os semelhantes: Primeiro, devemos amá-los porque são nossos irmãos, pelo fato de serem filhos de Deus (cf. 1Jo 4,20). Segundo, devemos reverenciá-los, tratando-os como filhos de Deus (cf. Ml 2,10; Rm 12,10; Hb 5,9) “.     

Rezar o Pai-Nosso é seguir Jesus Cristo, aprendendo dele a maneira de viver, de escolher e também o modo de enfrentar a morte; quais são as razões profundas, as raízes da própria existência. Dizer “Pai” nos torna disponíveis, enche-nos de confiança, facilita a nossa entrega, pois estamos certos de sermos ouvidos, e isto nos permite superar as barreiras do medo e da incerteza. Dizer “Pai” significa que eu devo me comportar como filho diante dele e como irmão diante dos outros, pois eu sou irmão de muitos outros irmãos. Dizer “Pai” faz nascer a certeza de que somos amados, isto é, nos leva a um ato de inteiro abandono em Deus. Quem chama Deus de “Paizinho” (Abba) jamais pode perder a perspectiva na vida apesar dos problemas e da idade avançada. Em Deus Pai sempre ganhamos novas perspectivas e o maior horizonte na nossa frente, pois Deus Pai está nos nossos olhos para podermos ver muito além da visão humana. 

O Pai-Nosso é um modelo de oração que Jesus nos ensina. Primeiro, esta oração nos faz pensar em Deus que é nosso Pai: Seu nome, Seu Reino, Sua vontade. Jesus quer estejamos em sintonia com Deus, nosso Pai. Logo em seguida, passa para nossas necessidades que devemos pedir ao Pai: o pão de cada dia, o perdão de nossas faltas, a força para não cair em tentação e vencer o mal. Trata-se de uma oração de uma espiritualidade equilibrada. E esta oração confirma nossa condição de filhos para Deus e também nossa condição de irmãos dos demais, dispostos a perdoar, porque todos nós somos filhos do mesmo Pai.

Diante de um mundo que prescinde de Deus, Jesus propõe como primeira petição, como ideal supremo do discípulo, o desejo da glória de Deus: “Santificado seja Vosso nome!”. Nessa petição situa Deus acima de tudo e de todos, exalta sua majestade e deseja que seja proclamada sua glória.

Diante de um mundo onde predomina o ódio, a violência, a vingança, a crueldade, Jesus pede que seja instaurado o Reino de Deus, o Reino de justiça, de amor, de compaixão, de paz, de fraternidade onde um cuida do outro, pois o outro é o filho de Deus e por isso, é meu irmão. Só assim será instaurado o Reino de Deus nesta terra.

Como terceiro centro de interesse da oração, aparece a comunidade. Esse pequeno grupo de seguidores de Jesus necessita diariamente o pão, o perdão, a ajuda de Deus para se manter firme. São petições que podemos fazer como indivíduos, mas estão concebidas por Jesus de forma comunitária. Por isso, usa-se palavra “nós”, “nosso”. 

Em outras palavras, como uma comunidade de irmãos, filhos do mesmo Pai celeste, os seguidores de Jesus precisam diariamente do pão que sustenta a vida, pois a vida é sagrada, do perdão mútuo, pois todos são pessoas com suas limitações e fraquezas, e da ajuda de Deus para manter-se firmes até o fim. Por isso, a partir da dimensão comunitária (Pai nosso), a oração do Pai nosso é um convite para estabelecermos com Deus uma relação de confiança e intimidade e uma relação de fraternidade com os demais com uma disposição constante de perdão. 

A vida sem oração se reduz na busca das próprias vantagens para servir aos próprios interesses. A vida sem amor se apaga. Há sempre sinais que podem aparecer para qualquer idade e que sempre revelam um processo de envelhecimento espiritual, ou uma enfermidade espiritual em que nada aparece algo novo no horizonte de nossa existência: os mesmos hábitos, os mesmos esquemas e costumes, nenhum objetivo novo, nenhum ideal, a perda da capacidade de escutar a voz interior que de dentro somos chamados a viver uma vida mais elevada através da união com Deus na oração e no bem que deve ser praticado. A história de nossa vida como cristãos é a história de nossa oração. Trata-se de uma história com Deus que termina feliz. 

Portanto, a oração é a verdadeira protagonista da história, mestra da vida. Quem reza entra no fluxo da história guiado por Deus. Todo aquele que reza passa a fazer parte da história da salvação como filho e como irmão. Ele está situado nas profundezas das intenções finais de Deus, o arquiteto e construtor da história. Quem reza o Pai Nosso não se torna charlatão. Rezar o Pai Nosso, como Jesus nos ensinou, é uma pedagogia que nos leva ao essencial, colocar Deus em primeiro lugar, sentindo os outros como irmãos. É por isso que Jesus une os dois quando nos convida a rezar: Pai nosso ... A Igreja nunca se cansa de obedecer ao Mestre, repetindo várias vezes todos os dias: Pai nosso ...

P. Vitus Gustama, SVD


PAI NOSSO
Do Tratado sobre a Oração do Senhor, de SÃO CIPRIANO, bispo e mártir

(Nn. 8-9: CSEL 3,271-272)(Séc. III)

Nossa oração é pública e universal

Antes do mais, o Doutor da paz e Mestre da unidade não quis que cada um orasse sozinho e em particular, como rezando para si só. De fato, não dizemos: Meu Pai que estais no céus; nem: Meu pão dai-me hoje. Do mesmo modo não se pede só para si o perdão da dívida de cada um ou que não caia em tentação e seja livre do mal, rogando cada um para si. Nossa oração é pública e universal e quando oramos não o fazemos para um só, mas para o povo todo, já que todo o povo forma uma só coisa.


O Deus da paz e Mestre da concórdia, que ensinou a unidade, quis que assim orássemos, um por todos, como ele em si mesmo carregou a todos.

Os três jovens, lançados na fornalha ardente, observaram esta lei da oração, harmoniosos na prece e concordes pela união dos espíritos. A firmeza da Sagrada Escritura o declara e, narrando de que maneira eles oravam, apresenta-os como exemplo a ser imitado em nossas preces, a fim de nos tornarmos semelhantes a eles. Então, diz ela, os três jovens, como por uma só boca, cantavam um hino e bendiziam a Deus. Falavam como se tivessem uma só boca e Cristo ainda não lhes havia ensinado a orar.

Por isto a palavra foi favorável e eficaz para os orantes. De fato, a oração pacífica, simples e espiritual, mereceu a graça do Senhor. Do mesmo modo vemos orar os apóstolos e os discípulos, depois da ascensão do Senhor. Eram perseverantes, todos unânimes na oração com as mulheres e Maria, a mãe de Jesus, e seus irmãos. Perseveravam unânimes na oração, manifestando tanto pela persistência como pela concórdia de sua oração, que Deus que os faz habitar unânimes na casa, só admite na eterna e divina casa aqueles cuja oração é unânime. De alcance prodigioso, irmãos diletíssimos, são os mistérios da oração dominical! Mistérios numerosos, profundos, enfeixados em poucas palavras, porém, ricas em força espiritual, encerrando tudo o que nos importa alcançar!

Rezai assim, diz ele: Pai nosso, que estais nos céus.

O homem novo, renascido e, por graça, restituído a seu Deus, diz, em primeiro lugar, Pai!, porque já começou a ser filho. Veio ao que era seu e os seus não o receberam. A todos aqueles que o receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, aqueles que crêem em seu nome. Quem, portanto, crê em seu nome e se fez filho de Deus, deve começar por aqui, isto é, por dar graças e por confessar-se filho de Deus ao declarar ser Deus o seu Pai nos céus.

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