quarta-feira, 23 de junho de 2021

Segunda-feira Da XIII Semana Comum, 28/06/2021

SEGUIR A JESUS PARA ALCANÇAR A SALVAÇÃO E SALVAR O PRÓXIMO

Segunda-Feira da XIII Semana Comum

Primeira Leitura: Gn 18,16-33

16Os homens levantaram-se e partiram na direção de Sodoma. Abraão acompanhava-os para encaminhá-los. 17 E o Senhor disse consigo: “Acaso poderei ocultar a Abraão o que vou fazer? 18 Pois Abraão virá a ser uma nação grande e forte e nele serão abençoadas todas as nações da terra. 19De fato, eu o escolhi, para que ensine seus filhos e sua família a guardarem os caminhos do Senhor, praticando a justiça e o direito, a fim de que o Senhor cumpra em favor de Abraão tudo o que lhe prometeu”. 20Então, o Senhor disse: “O clamor contra Sodoma e Gomorra cresceu, e agravou-se muito o seu pecado. 21Vou descer para verificar se as suas obras correspondem ou não ao clamor que chegou até mim”. 22Partindo dali, os homens dirigiram-se a Sodoma, enquanto Abraão ficou na presença do Senhor. 23Então, aproximando-se, disse Abraão: “Vais realmente exterminar o justo com o ímpio? 24Se houvesse cinquenta justos na cidade, acaso iríeis exterminá-los? Não pouparias o lugar por causa dos cinquenta justos que ali vivem? 25Longe de ti agir assim, fazendo morrer o justo com o ímpio, como se o justo fosse igual ao ímpio. Longe de ti! O juiz de toda a terra não faria justiça?” 26O Senhor respondeu: “Se eu encontrasse em Sodoma cinquenta justos, pouparia por causa deles a cidade inteira”. 27Abraão prosseguiu dizendo: “Estou sendo atrevido em falar a meu Senhor, eu que sou pó e cinza. 28Se dos cinquenta justos faltassem cinco, destruirias por causa dos cinco a cidade inteira?” O Senhor respondeu: “Não destruiria, se achasse ali quarenta e cinco justos”. 29Insistiu ainda Abraão e disse: “E se houvesse quarenta?” Ele respondeu: “Por causa dos quarenta, não o faria”. 30Abraão tornou a insistir: “Não se irrite o meu Senhor, se ainda falo. E se houvesse apenas trinta justos?” Ele respondeu: “Também não o faria, se encontrasse trinta”. 31Tornou Abraão a insistir: “Já que me atrevi a falar a meu Senhor, e se houver vinte justos?” Ele respondeu: “Não a iria destruir por causa dos vinte”. 32Abraão disse: “Que o meu Senhor não se irrite, se eu falar mais uma vez: e se houvesse apenas dez?” Ele respondeu: “Por causa dos dez, não a destruiria”. 33Tendo acabado de falar, o Senhor retirou-se, e Abraão voltou para a sua tenda.

Evangelho: Mt 8,18-22

Naquele tempo, 18 vendo uma multidão ao seu redor, Jesus mandou passar para a outra margem do lago. 19 Então um mestre da Lei aproximou-se e disse: “Mestre, eu te seguirei aonde quer que tu vás”. 20 Jesus lhe respondeu: “As raposas têm suas tocas e as aves dos céus têm seus ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. 21 Um outro dos discípulos disse a Jesus: “Senhor, permite-me que primeiro eu vá sepultar meu pai”. 22 Mas Jesus lhe respondeu: “Segue-me, e deixa que os mortos sepultem os seus mortos”.

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Ser Intercessor Pela Necessidade e Salvação Dos Outros

O texto da Primeira Leitura, tirado do livro de Gênesis, nos apresenta Abraão em diálogo de amizade com Deus sobre a destruição das cidades: Sodoma e Gomorra. Entre os relatos da teofania de Mambré (Gn 18,1-15: Primeira Leitura do sábado passado) e a recordação da intercessão de Abraão em favor de Sodoma, o autor introduz dois monólogos divinos (Gn 18,17-19 e 20-21). A finalidade da tradição Javista (que escreveu este texto) ao introduzir estes monólogos é muito clara: mostrar que é o Senhor quem dirige toda a história da salvação; O Senhor intervém na história humana.

Segundo o livro de Gênesis, Sodoma e Gomorra são lugares depravados por excelência onde a paixão impura se impõe sobre a sagrada lei da hospitalidade (Gn 19,1-11), onde Dina (filha de Lia e Jacó) é violada (Gn 34,1-5) e as esposas dos patriarcas não estão seguras (Gn 12,10-20; 26,1-11). Nisto Abraão se esforça para praticar uma ação de misericórdia (intercessão) com a esperança de que a bondade de uns possa salvar os outros. 

No Israel antigo há uma mentalidade coletivista: o pecado de um é pago por todos (o profeta Ezequiel lutará contra esta mentalidade: cf. Ez 14,12-20; 18,5-9). Mas no texto da Primeira Leitura de hoje a abordagem é diametralmente diferente, mesmo em um contexto de mentalidade antiga. A presença do justo não poderia ter uma função protetora da totalidade? Deus não poderia manifestar sua justiça levando em consideração a minoria inocente e, assim, perdoando a coletividade? Essa forma de pensar é única, e a passagem é o produto de uma reflexão teológica única sobre a justiça divina escrita pela tradição javista. Em todo caso, o pensador buscou uma solução para o problema que contém muita verdade: o que alguns constroem serve a todos.

No monólogo de vs. 20-21, uma acusação séria foi feita contra Sodoma e Gomorra, e Deus decide fazer uma investigação pessoal para ver se a situação é tão séria quanto dizem. No vs. 22-33 mostra um diálogo intrépido entre Deus e Abraão (muito frequente nos relatos javistas em todo o Pentateuco: cf. Gn 4,13-16: entre Caim e o Senhor ...). Abraão é um mediador arriscado que faz de tudo para salvar Sodoma e Gomorra. “Longe de ti fazer tal coisa!”, O juiz do universo (Deus) deve medir bem suas ações e não pode condenar o inocente com o culpado (v. 25). Abraão conseguirá reduzir o número de cinquenta inocentes para dez: a inocência desses poucos não trará perdão a todos? Abraão intercede sem desistência, mas, aparentemente, a cidade nem mesmo abriga um inocente. E diante de tanta maldade, Deus vai mandar a morte, como aconteceu com o dilúvio, da qual só Ló e alguns poucos serão poupados por causa de Abraão (Gn 19).

Abraão intercede junto a Deus em nome de seus; para ele, não pede nenhum privilégio. A mesma atitude tem Moisés em Ex 32,32: O povo de Israel é tão teimoso que Deus decide aniquilá-lo, e Ele só quer salvar Moisés por meio do qual um novo povo nascerá. O líder de Israel (Moisés) poderia ter caído na tentação de se sentir privilegiado, mas não o permitirá. Moisés intercederá em favor dos seus, desejando sofrer o mesmo destino: a morte. 

Será que nossos líderes, sejam religiosos, sejam políticos, fazem como fizeram Abraão e Moisés? Será que cada um de nós intercede pela coletividade: pela família, pela comunidade, pela paróquia, cidade, município, estado, país e assim por diante?

A conversa amigável de Abraão com o Senhor mostra que Deus governa o mundo com justiça soberana. Ele aparece como o Juiz ideal, que não se deixa influenciar por meros rumores e verifica os fatos que provam. 

Além disso, a intercessão de Abraão pelos justos de Sodoma é o primeiro grande exemplo e o modelo permanente de toda oração de petição. Abraão é insistente e humilde, ao mesmo tempo. Cada vez Abraão vai um pouco mais longe no seu pedido ou intercessão: dos cinquenta inocentes que bastariam para impedir a destruição da cidade, para quarenta e cinco, quarenta, trinta, vinte, dez. Tal descrição só pode ser entendida - embora no final a súplica não possa ser atendida, pois não há nem mesmo dez justos em Sodoma - como um estímulo totalmente singular para encorajar o crente a penetrar no coração de Deus até a compaixão que está  nele começa a brotar. Somos perseverantes nas nossas orações por causa da bondade e da misericórdia de Deus. 

Do ponto de vista cristão, interceder é unir-se a Jesus Cristo, único Mediador entre Deus e os homens (Cf. 1Tm 2,5), e participar, de alguma maneira, em sua mediação salvífica. Mas Jesus Cristo, na Cruz, é um exemplo mais admirável, pois Ele não oferece somente sua oração, mas também sua própria vida para salvar a humanidade. Na intercessão, com efeito, o orante não busca seu próprio interesse e sim o interesse dos demais, inclusive, o interesse dos que lhe fazem mal (pedir a salvação dos que praticam o mal). Normalmente, intercede-se por alguém que está em necessidade, em perigo ou em dificuldade. Assim faz Abraão diante da situação de Sodoma e Gomorra que foram destruídas por sua maldade sem limite. A oração de intercessão agrada a Deus, porque é a própria de um coração conforme à misericórdia do próprio Deus. Mas a eficácia divina, obtida pelo intercessor, pode encontrar aceitação ou rejeição na pessoa por quem intercede. Diante da intercessão de Abraão, Deus salva Ló e suas filhas, mas Sodoma e Gomorra são destruídas pelo fogo por causa de sua maldade. 

É Preciso Seguir a Jesus Para Alcançar a Salvação

“É graça divina começar bem. Graça maior, persistir na caminhada certa, manter o ritmo... Mas a graça das graças é não desistir. Podendo ou não podendo, Caindo, embora aos pedaços, Chegar até o fim...” (Dom Hélder Câmara)

O evangelho de Mateus foi escrito em torno dos anos 80 para os fieis de sua comunidade. Os fieis de sua comunidade já tinham feito sua escolha cristã. Mas em determinado tempo vacilavam por causa das dificuldades, e abatidos por causa de duras perseguições. Por isso, veio a exortação para que os fiéis retomassem consciência mais viva de sua identidade cristã, chamados a transformar a história humana em história de salvação.

Nesta perspectiva Mt coloca dois personagens para transmitir essa exortação. O primeiro é um especialista da Lei que escolheu ser cristão. Trata-se de um letrado que reconhece em Jesus um mestre superior a si mesmo e decide seguir a Jesus, o grande mestre. Mas ele ainda não é comprometido com o cristianismo e por isso, ele é alertado antecipadamente para não tomar uma decisão superficial e ilusória. “As raposas têm suas tocas e as aves têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeção”. Para o letrado o caminho de Jesus tem seu termo. Mas Jesus alerta ao letrado que toda a vida de Jesus, até o momento de Sua morte, será uma entrega total, sem instalação nem descanso.

Para ser um verdadeiro cristão, um verdadeiro seguidor de Cristo, é preciso ter espírito de despojamento e de pobreza, pois aquele que está cheio de coisas do mundo não sobra nenhum espaço para Deus nem para o próximo. O cristão existe para fazer o bem permanentemente. Fazer o bem não tem descanso nem tem término. Ninguém ama suficientemente nem definitivamente. O amor sempre deixa quem ama em dívida. O amor não descansa nem cansa.

As raposas têm suas tocas e as aves dos céus têm seus ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8,20). O instinto de segurança e a necessidade de estabilidade estão inscritos profundamente na natureza humana: o homem busca o calor de um refúgio, uma fogueira, uma casa para morar, uns objetos que lhe pertencem. Os animais têm este mesmo instinto de propriedade.                 

Jesus desde que saiu de sua casa familiar de Nazaré, deixando sua mãe sozinha, não tem seu próprio lugar, vive como nômade, como viajante: “Não tenho onde reclinar minha cabeça”. Renunciou o calor de um lugar, renunciou a toda propriedade.                 

Seguir a Jesus é fazer forçosamente certa escolha; é renunciar a uma série de coisas; é viver na segurança com Deus que criou tudo. Jesus quer que estejamos sempre caminhando em busca da perfeição. Jesus quer que estejamos abertos ao novo, à novidade, ao impulso do seu Espírito. Jesus não quer que estejamos parados, pois o Espírito de Deus sopra para onde quer. Jesus não quer que fiquemos apegados às coisas mortas, pois elas servem apenas de meio e não de fim.                 

Por esta razão Jesus adota para si o título de “Filho do Homem”. O duplo título “Filho do Homem” indica unicidade e excelência: é “Homem acabado”, o modelo de homem, por possuir em plenitude o Espírito de Deus. Para chegar a ser um homem acabado, pleno do Espírito de Deus, o cristão precisa participar da missão de Jesus, precisa levar adiante a Palavra de Deus. 

A mensagem cristã é exigente. Não se trata de aderir a uma doutrina, mas a uma pessoa; não se trata de adotar um modo de pensar, mas de orientar-se para um modo de viver: o modo de viver de Jesus Cristo. Um cristão que se contenta de não fazer mal a ninguém não é suficiente. É preciso fazer o bem em função do bem e não em função do mal. É colocar o interesse do Reino de Deus acima de todas as preocupações pessoais assim como dos afetos mais caros, com plena dedicação. É viver aberto diante de Deus permanentemente. 

O segundo personagem já é discípulo, mas ainda não compreendeu todas as exigências de sua escolha. Por isso, o texto diz que ele pede um período de interrupção antes de seguir o Mestre. Ele quer ser um cristão periódico. Cristão de estação. É um cristão que procura Deus quando estiver livre de tudo, quando tiver tempo livre. É um cristão que procura Deus de vez em quando. Mas para este tipo de cristão Jesus faz prevalecer a exigência de uma escolha coerente, total e radical para si que é escolha para toda a vida. 

Este segundo personagem pede a Jesus permissão para enterrar o pai, mas recebe de Jesus esta resposta: “Segue-me! Deixa que os mortos sepultem os seus mortos”. A menção do pai nos leva ao episódio relacionado com a chamada de Eliseu no Antigo Testamento. Eliseu pediu licença a Elias para ir despedir-se de seu pai (cf. 1Rs 19,20). No Antigo Testamento a tradição (o pai) estava viva, mas para Jesus está morta.

Segue-me! Deixa que os mortos sepultem os seus mortos”. Não se trata da falta com os deveres de piedade para o pai defunto. O “pai” aqui representa uma tradição que não mais salva. Abandonar o “pai” significa ficar independente da tradição transmitida que não tem mais valor para ser mantida. O pedido para “enterrar o pai” indica a veneração, o respeito e a estima pelo passado que não mais salva homem algum. Por isso, os mortos aqui são os que professam essas tradições mortais. São figuras de um mundo de morte, sem salvação. A tradição morta ou a cultura de morte gera morte e mortos. 

O discípulo, o cristão, ao contrário, é chamado a ser defensor e protetor da vida em qualquer instância e circunstância, pois a vida é o dom de Deus, e o próprio Jesus se identifica com a Vida: “Eu sou a Vida e a Ressurreição” (Jo 11,25; cf. 14,6). 

Segue-me! Deixa que os mostos sepultem seus mortos”. Jesus não quer que descuidemos dos nossos falecidos. Isto seria falta de caridade e da humanidade. O que Jesus quer é que abandonemos todos os hábitos que não nos fazem crescer como pessoas e filhos de Deus e irmãos dos outros. Precisamos deixar o modo de viver e de pensar que nos fazem como mortos: sem vida, sem horizonte, sem criatividade e assim por diante. A tradição morta gera a morte e mortos. Ao contrário, precisamos seguir Aquele que nos faz viver, Aquele que nos diz: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6). Precisamos crer n’Aquele que nos garante a vida: “Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crer em mim, ainda que esteja morto, viverá” (Jo 11,25).     

Precisamos olhar com carinho e seriedade para o nosso modo de viver para descobrirmos nele os hábitos que não nos fazem crescer ou não nos fazem viver com dignidade e avançar na caminhada da perfeição cristã. Sabemos que nosso grande problema não é implementar as coisas novas na nossa cabeça e sim tirar as coisas velhas e mortas de nossa cabeça. Ao mesmo tempo precisamos olhar para o modo de viver de Jesus para que sejamos homens acabados como foi ele. “Se queres seguir a Deus, deixa-O ir adiante. Não queiras que Ele te siga” (Santo Agostinho. In ps. 124,9). Para estar aberto diante de Deus é preciso abandonar hábitos negativos, isto é, todos os hábitos ou costumes que não nos levam à vida plena. Nos ensinamentos de Jesus encontramos o caminho para a verdadeira vida. Vale a pena encarar todas as dificuldades, pois a vitória está reservada para quem é perseverante neste caminho (cf. Mt 10,22; Jo 16,33).

P. Vitus Gustama,svd

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