Irmãos, 7 escutai o que declara o Espírito Santo: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, 8 não endureçais os vossos corações, como aconteceu na provocação, no dia da tentação, no deserto, 9 onde vossos pais me tentaram, pondo-me à prova, 10 embora vissem as minhas obras, durante quarenta anos. Por isso me irritei com essa geração e afirmei: sempre se enganam no coração e desconhecem os meus caminhos. 11 Assim jurei na minha ira: não entrarão no meu repouso”. 12 Cuidai, irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela incredulidade, levando-o a afastar-se do Deus vivo. 13 Antes, animai-vos uns aos outros, dia após dia, enquanto ainda se disser “hoje”, para que nenhum de vós se endureça pela sedução do pecado – 14 pois tornamo-nos companheiros de Cristo, contanto que mantenhamos firme até o fim a nossa confiança inicial.
Evangelho: Mc 1,40-45
Naquele
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Somos Chamados a Ser Fiéis Ao Senhor Permanentemente
“Não endureçais os vossos corações, como aconteceu na provocação, no dia da tentação, no deserto... Cuidai, irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela incredulidade, levando-o a afastar-se do Deus vivo. Antes, animai-vos uns aos outros, dia após dia, enquanto ainda se disser “hoje”, para que nenhum de vós se endureça pela sedução do pecado –pois tornamo-nos companheiros de Cristo, contanto que mantenhamos firme até o fim a nossa confiança inicial”, assim a Primeira Leitura nos alerta.
Como fez São Paulo em 2Cor 10, o autor da Carta aos hebreus faz uma ampla alusão às murmurações de Israel no deserto (cf. Sl 94/95,7-11; Ex 15,23-24; Nm 20,5) para alertar os cristãos-hebreus, aos quais se dirige a Carta. A murmuração era uma tentação séria. Murmurar equivalia para os hebreus no deserto não aceitar seu estado de nomadismo pelo deserto rumo à Terra prometida. Murmurar seria voltar para o passado de escravidão. Murmurar seria recusar a perceber a presença de Deus na situação atual para se refugiar num sonho em que Deus fosse supostamente mais encontrável.
Sem dúvida, o autor da Carta aos hebreus percebe que os cristãos-hebreus para quem a Carta é dirigida vivem murmurando pela situação na qual vivem. Daí a exortação: “Não endureçais os vossos corações, como aconteceu na provocação, no dia da tentação, no deserto... Cuidai, irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela incredulidade, levando-o a afastar-se do Deus vivo”.
O autor da Carta fala sobre o coração. O coração simboliza para a grande maioria das culturas, o centro da pessoa onde gira a unidade e se funde a múltipla complexidade de suas faculdades, dimensões: o espiritual e o material, o afetivo e o racional, o instinto e o intelectual. O coração é o centro de nosso ser, a fonte de nossa personalidade, o motivo principal de nossas atitudes e escolhas livres, o lugar da misteriosa ação de Deus. Através de suas escolhas, de seu comportamento diariamente, todos vão perceber se você é uma pessoa com coração ou sem coração. Muitos tem sabedoria na cuca, mas ignorantes de coração; sábios intelectualmente, mas pobres de coração. Para o homem antigo ter coração equivale a ser uma personalidade íntegra.
A espiritualidade do coração é uma verdadeira espiritualidade, pois inclui a oração, a conversão, a escuta do Espírito, o cuidado para o próximo, a compaixão, a solidariedade e a partilha: “... animai-vos uns aos outros, dia após dia, enquanto ainda se disser “hoje”, para que nenhum de vós se endureça pela sedução do pecado”.
Nos seis primeiros versículos de Hb 3 o autor da Carta começa a propor a contemplar a fidelidade de Jesus Cristo. Jesus Cristo se manteve fiel a Deus na missão de “construir a casa como Filho”, isto é, de salvar os homens pela entrega total de si mesmo até a morte (cf. Jo 13,1). A partir da fidelidade de Jesus, o autor exorta aos cristãos, da segunda geração, à fidelidade aos ensinamentos de Cristo. É a segunda geração, pois trata-se de uma geração que não conheceu Jesus com os olhos da carne: “Cuidai, irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela incredulidade, levando-o a afastar-se do Deus vivo”.
Nós somos os cristãos da segunda geração. É uma geração que se tornou cristã. Qual é o ambiente que reina em qualquer geração que se tronou cristã? É a negação, a despreocupação, a típica indiferença de que se sabe cristã e nunca pensou em abandonar a fé cristã precisamente porque já não lhe preocupa. É a situação de mediocridade totalmente contrária à conversão permanente que pode terminar na apostasia. Por isso, o autor exorta: “Cuidai, irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela incredulidade, levando-o a afastar-se do Deus vivo”. A incredulidade pode esconder-se no coração na maior tranquilidade do mundo. É um problema de fé.
Cuidado Com o Coração
O método científico está cada vez mais eficaz para a saúde física. Mas não é bem assim com a saúde espiritual. Cuidamos do órgão do coração, mas esquecemos aquilo que nos adverte a Carta aos Hebreus: “Cuidai, irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela incredulidade, levando-o a afastar-se do Deus vivo” (Hb 3,12). Quando se fala do “coração”, deve ser entendido no sentido de toda a interioridade da pessoa, o centro da vida, das decisões e do encontro pessoal com Deus. Se o coração for bom, os gestos de relacionamento humano obedecem aos imperativos de humanizar, de fraternizar, de respeitar e de santificar a convivência. A pureza do agir depende da pureza do coração. Mas se o coração for mau, a vida é envenenada pela insatisfação, pela inveja, pelo ciúme, pela calúnia, pela difamação, pela discriminação, pelo sensualismo, pelas más intenções e assim por adiante.
Seguindo a linha de pensamento do Salmo 94, que, por isso, é também o Salmo Responsorial de hoje, a leitura bíblica convida os cristãos a não caírem na mesma tentação dos israelitas no deserto: o desânimo, o cansaço, a dureza de coração. Esquecendo-se de tudo que Deus havia feito por eles, os israelitas “endureceram seus corações”, “transviou o coração”, “não conheceram os caminhos de Deus”, “desertaram do Deus vivo”.
Coração duro, ouvidos surdos, desvio progressivo até perder a fé. É o que passou aos israelitas. E poderá acontecer com os cristãos se não ficarem atentos. Podemos cair na tentação do desânimo e nos esfriar na fé inicial, ou a linguagem do Apocalipse de são João: nem quente nem frio (cf. Ap 3,15).
Escutemos com seriedade a advertência: “Não endureçais vossos corações como no deserto”, “Ouvi hoje Sua voz”. Deus foi fiel e continua sendo fiel. Cristo foi fiel e continua a estar conosco (Mt 28,20). Nós cristãos devemos ser fieis.
É difícil ser cristão no mundo de hoje. Sabemos disso. Pode descrever-se nossa existência em tons parecidos à travessia dos israelitas pelo deserto durante tantos anos. Os entusiasmos da primeira hora em nossa vida cristã, religiosa, vocacional ou matrimonial, podem chegar a ser corroídos pelo cansaço ou pela rotina ou pelas tentações do mundo. Podemos cair na mediocridade, na indiferença, no conformismo com o mal. Inclusive podemos chegar a perder a fé.
Por isso, nos vem bem na hora o convite da Carta aos Hebreus: “Cuidai, irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela incredulidade, levando-o a afastar-se do Deus vivo” (Hb 3,12). Há que continuar lutando e mantendo uma sã tensão na vida. Para esta luta temos, antes de tudo, a ajuda de Jesus Cristo: “Somos partícipes de Cristo”. Além disso, temos outra fonte de fortaleza: “Animai-vos uns aos outros, dia após dia, enquanto ainda se disser ‘hoje’”. O bom exemplo e a palavra amiga dos outros nos dão força. Portanto, minhas palavras de ânimo podem também ter uma influência decisiva nos outros para se manter firme na sua fé. Meu exemplo de vida pode ajudar a manter a esperança nos outros. O apio fraterno é um dos elementos mais eficazes em nossa vida de fé. A Carta aos Hebreus nos desperta do engano individualista e do egoísmo mortal e isolador.
Jesus Quer Nos Curar De Nossas “Lepras” Que Discriminam e Excluem As Pessoas
Lepra! Que horrível é a lepra. Ainda hoje o leproso fica marginalizado da sociedade, fechado numa leprosaria. Mas há uma vantagem: a medicina se interessa por ele; a investigação cientifica busca sua cura. Na época de Jesus não era assim.
O
Os
Ao aproximar-se de Jesus, o leproso personifica
ou representa a multidão de marginalizados que se movem em busca de salvação
apesar de todos os tipos de obstáculos. A necessidade de vida e de salvação faz
com que tenhamos coragem de encarar todas as dificuldades apresentadas pela
vida. E Jesus,
Em resposta à fé e à coragem e ao
reconhecimento do leproso, Jesus se sente profundamente compassivo e solidário.
O gesto exterior de Jesus de tocar o leproso é dramatização plástica e corporal
de sua identificação interior profunda em que os dois corpos se unem numa só
paixão que provoca compaixão. As
O
O
O
O
O
“Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!”, assim disse Jesus ao homem curado da lepra. Mas como pode o homem que foi tocado pelo amor de Deus permanecer calado? É impossível! Muitos cristãos permanecem calados para dar testemunho sobre o amor de Deus, o amor que cura e salva. Será que ainda não foram tocados pelo amor de Deus que cura? Muitos cristãos permanecem calados cheios de medo, vivendo como faziam os leprosos, isolados da comunidade. É necessário que peçamos a Jesus: “Senhor, se queres, podes purificar-me”. Ao mesmo tempo é necessário que Jesus nos diga outra vez: “Eu quero: fica curado!”. Creio que Jesus vai fazer toda vez que lhe fizermos o mesmo pedido. Só assim ficaremos cheios de vida no Espirito. Assim uma vez tocados pelo amor de Deus que cura, nos converteremos em verdadeiras testemunhas deste amor no mundo.
“
P. Vitus Gustama,svd
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