sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

26/01/2023: Quintaf Da III Semana Comum

SER REFLEXO DE CRISTO PARA OS QUE AINDA ANDAM NA ESCURIDÃO

Quinta-Feira Da III Semana Comum

Primeira Leitura: Hb 10,19-25

19 Sendo assim, irmãos, temos plena liberdade para entrar no Santuário, pelo sangue de Jesus. 20 Ele nos abriu um caminho novo e vivo, através da cortina, quer dizer, através da sua humanidade. 21 Temos um grande sacerdote constituído sobre a casa de Deus. 22 Aproximemo-nos, portanto, de coração sincero e cheio de fé, com coração purificado de toda má consciência e o corpo lavado com água pura. 23 Sem desânimo, continuemos a afirmar a nossa esperança, porque é fiel quem fez a promessa. 24 Sejamos atentos uns aos outros, para nos incentivar à caridade e às boas obras. 25 Não abandonemos as nossas assembleias, como alguns costumam fazer. Antes, procuremos animar-nos mutuamente, e tanto mais quanto vedes o dia aproximar-se.

Evangelho: Mc 4,21-25

Naquele tempo, Jesus disse à multidão: 21 “Quem é que traz uma lâmpada para colocá-la debaixo de um caixote, ou debaixo da cama? Ao contrário, não a põe num candeeiro? 22 Assim, tudo o que está escondido deverá tornar-se manifesto, e tudo o que está em segredo deverá ser descoberto. 23 Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça”. 24 Jesus dizia ainda: “Prestai atenção no que ouvis: com a mesma medida com que medirdes, também vós sereis medidos; e vos será dado ainda mais. 25 Ao que tem alguma coisa, será dado ainda mais. Do que não tem, será tirado até mesmo o que ele tem”.

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Em e Com Cristo o Homem Tem Acesso Livre Até Deus 

Temos plena liberdade para entrar no Santuário, pelo sangue de Jesus. Ele nos abriu um caminho novo e vivo, através da cortina, quer dizer, através da sua humanidade. Temos um grande sacerdote constituído sobre a casa de Deus”.

 A parte central da Carta aos Hebreus se conclui com uma enumeração dos privilégios para os cristaos no novo estado por causa de Cristo, e ao mesmo tempo, o início de uma exortação.

Há três aspectos que caracterizam o novo estado. Primeiro, temos um acesso livre e seguro até Deus, porque Jesus nos purificou de nossas culpas. Ele é o Cordeiro que tira o pecado do mundo (Jo 1,29). Por isso, em Cristo Jesus não há mais separação entre nós e Deus. Ele nos abriu a porta do céu. Segundo, temos o caminho, vivo e novo que é a realidade humana glorificada por Cristo. Aquele que disse "Eu sou o caminho" (Jo 14,6), foi antes de nós para a presença de Deus. aceitar Jesus como o Caminho, jamais ficaremos perdidos. Quem carrega o Caminho, está no caminho certo. Aquele que disse "eu sou a porta" (Jo 10,9) abriu-nos a porta para o Reino. Terceiro, temos o Sacerdote Mediador que entrou no Santuário do céu através de sua morte e ressurreição que abriu sua humanidade para a nova existência. Como o Sacerdote Mediador, Cristo nos coloca em contato com Deus junto a Cristo. Estar com Jesus significa não conhecer a morte eterna, pois a morte é apenas uma Páscoa, uma passagem para a glória de Deus.

Por essas razões e outras tantas, o autor da Carta aos Hebreus nos dá a exortação para que tenhamos a fidelidade, a constância e a perseverança no nosso seguimento de Cristo: Aproximemo-nos, portanto, de coração sincero e cheio de fé, com coração purificado de toda má consciência e o corpo lavado com água pura. Sem desânimo, continuemos a afirmar a nossa esperança, porque é fiel quem fez a promessa.

Às vezes, por causa da falta de confiança em Deus, ou por causa do cansaço existencial, ou por causa das tentações do mundo ao nosso redor, pode acontecer a perda de fervor e a decadência em nosso seguimento de Cristo. 

A Palavra de Deus nos encoraja hoje a crescermos nas três principais virtudes: "de coração sincero e cheio de fé", "continuemos a afirmar a nossa esperança", "para nos incentivar à caridade".

Além disso, o autor da Carta nos exorta sobre a importância de nossas celebrações/assembleias: Não abandonemos as nossas assembleias, como alguns costumam fazer. Antes, procuremos animar-nos mutuamente, e tanto mais quanto vedes o dia aproximar-se”. 

Ir ou não ir à missa é uma espécie de termômetro da fidelidade a Cristo e de nossa pertença à comunidade de Cristo. A Eucaristia nos vai ajudando a aprofundarmos em nossas raízes, em nossa identidade como cristãos. Participar da Eucaristia dominical faz parte de nossa identidade. Os muçulmanos nas sextas-feiras (dia sagrado). Os judeus aos sábados (dia de descanso). A Eucaristia nos alimenta, nos guia e nos dá forças. A Carta nos deu outra motivação para não faltar para nossoa convocação dominical: nossa presença ajuda os irmaos, assim como nossa ausência lhe debilita: “Sejamos atentos uns aos outros, para nos incentivar à caridade e às boas obras”. Em outras palavras, o autor da Carta chama nossa atenção para a fidelidade ao nosso compromisso batismal. Trata-se da fidelidade ao batismo, tanto a seus efeitos interiores com a seus efeitos externos (Hb 10,22-23), porque Deus é fiel por sua parte a suas promessas. Em segundo lugar, é a caridade mútua, porque a salvação não se vive isoladamente e sim em comunidade e no amor mútuo (Hb 10,24-25).

Portanto, de todos estes conselhos vamos nos fixar preferencialmente no significado das assembleias litúrgica às quais não há que renunciar, pois são a realização prática da salvação e contribuem para seu cumprimento até o “Dia” em que se torne uma realidade completa. O cristão deve ter à vista o Dia do Senhor (Hb 10,25). Esta afirmação é particularmente preciosa: significa que o autor da Carta é consciente da eficácia da assembleia litúrgica na ordem da salvação. Ao longo do tempo em que a Igreja vive sua condição terrestre, a assembleia é o sinal visível da congregação de todos os homens no Reino. Por outro lado, esse sinal é eficaz: a reunião na assmbleia litúrgica é realmente causa de salvação e mediação desta em favor de todos os homens. O que supõe seu caráter importante, para não dizer obrigatório.

 Crer em Cristo é aceitar em nós Sua Luz e, ao mesmo tempo, comunicar com nossas palavras e nossas obras essa mesma luz através da caridade mútua para uma humanidade que anda sempre na escuridão.

Uma Palavra De Esperança

As palavras que se cruzam no texto do evangelho de hoje são muito significativas. Os termos usados: lâmpada, caixote (vasilha), cama e candeeiro explicam o caminho que a lâmpada acesa evita para alcançar seu objetivo: estar no candeeiro, iluminar, fazer visível o que está escondido. “Porventura vem a lâmpada para ser colocada debaixo do alqueire(caixote) ou debaixo da cama?”. 

A primeira imagem é a da luz. No texto original não se usa “uma lâmpada” e sim “a lâmpada” (o aritgo definitivo). Em Mateus (Mt 5,14-16), a luz são os próprios discípulos a brilhar como o testemunho da glória de Deus diante do mundo. Para João (Jo 8,12), a luz é o próprio Jesus que brilha nas trevas e comunica guia e vida. Mateus (Mt 6,22-23) e Lucas (Lc 11,33-36) fazem também uma outra aplicação da imagem: a lâmpada do corpo é o olho que revela sua transparência. É preciso que a luz que se encontra em cada um dos cristãos não se degrade em trevas. Em Marcos (Mc 4,21) e em Lucas (Lc 8,16), a luz é a própria Palavra de Jesus. É a única luz que ilumina a vida dos homens. 

Da reflexão sobre a lâmpada brota naturalmente outra reflexão sobre o versículo 22: “Assim, tudo o que está escondido deverá tornar-se manifesto, e tudo o que está em segredo deverá ser descoberto”. Aqui Jesus fala para seus discípulos e lhes explica que todo o escondido, se manifestará ou se revelará inclusive para os que estão fora do círculo dos seguidores de Jesus. A revelação da força salvadora de Deus em Jesus, que até então permanece escondida para quem não se converte, um dia será descoberta ou posta em claro. Em outras palavras, um dia Deus, com um ato de Sua força fará visível e será revelada aos que estão de fora Sua força que salva.

Assim, tudo o que está escondido deverá tornar-se manifesto, e tudo o que está em segredo deverá ser descoberto”. Estas palavras, lidas no contexto da vida terrena de Jesus, recusadas pelo seu povo, ressoam como um ato de esperança. E para nós hoje os três primeiros versículos do texto do evangelho de hoje (vv.21-23) ressoam como o convite de Jesus: “Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça”. Isto quer nos dizer que somos convidados a viver a mesma esperança de Jesus. “A esperança é o sonho do homem acordado”, dizia o filósofo Aristóteles.  A esperança seria a maior das forças humanas, se não existisse o desespero” (Victor Hugo). 

Ser Luz Que Se Consome Para Iluminar A Vida Dos Demais

Quem é que traz uma lâmpada para colocá-la de baixo de um caixote ou em baixo da cama? Ao contrário, não a coloca num candeeiro?”. 

Jesus é um observador do real. Nada escapa do seu olhar e de sua observação. É um homem atento em todo momento e em qualquer lugar. Sem dúvida, ele via a sua Mãe, Maria, na casa acendendo a lâmpada ao anoitecer para colocá-la, não de baixo da cama onde resultaria inútil e sim no centro da sala, sobre um candeeiro a fim de iluminar o mais possível a casa.

Através deste simples gesto familiar, belo humanamente, Jesus viu umsímbolo”. Cada realidade material evoca para Ele o invisível. Jesus se experimentou como uma lâmpada que se consumiu entregando-se no serviço de uma causa para os demais a fim de salvá-los das trevas da morte. Como uma vela, sua vida terrena foi acabando iluminando a humanidade para que essa pudesse encontrar o caminho da verdadeira vida (cf. Jo 8,12). 

A Palavra de Deus não foi feita para ser guardada para si. Ninguém recebe a Palavra de Deus verdadeiramente se não comunicá-la para os demais. Toda vida cristã que se fecha em si mesma no lugar de irradiá-la não é querida por Jesus. Crer em Jesus Cristo significa aceitar em nós Sua luz e por nossa vez temos que ser reflexos da verdadeira Luz comunicando essa mesma luz aos outros com nossas palavras e nossas obras. 

Na celebração do Batismo, e logo em sua anual renovação na Vigília Pascal, a vela de cada um, acendida do Círio Pascal é um formoso símbolo da Luz que é Cristo, que se comunica a nós e que se espera que logo se difunda através de nós aos demais. Não podemos escondê-la. Segundo Santo Tomás de Aquino, o ser humano está ordenado à felicidade sobrenatural pelos princípios do entendimento e pela tendência natural de sua vontade ao bem. Ao não obedecer à sua tendência natural para o bem o homem ficará longe da felicidade e ainda fará os outros infelizes, pois o ser humano não somente vive, mas convive. 

Medida De Deus Sobre Nós

Prestai atenção no que ouvis: com a mesma medida com que medirdes, também vós sereis medidos; e vos será dado ainda mais. Ao que tem alguma coisa, será dado ainda mais. Do que não tem, será tirado até mesmo o que ele tem”.

Qual é a medida do amor que Deus usou para nós? Para saber disso, precisamos contemplar Cristo morto e ressuscitado por nós. Em Jesus conhecemos o amor que Deus tem por nós. São João expressa esse amor com a seguinte frase: Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna” (Jo 3,16). 

É importante compreender que Cristo, ao pagar por pura misericórdia o que não devia na justiça, fez da misericórdia Sua lei fundamental e a condição indispensável para poder aproveitar o dom gratuito que a redenção significa, essa redenção sem a qual todos estaríamos irremissivelmente perdidos para sempre.

Sendo portadores de Cristo, pois somos chamados de cristãos, devemos ser um sinal claro de seu amor para todos os homens. Para isso, Jesus nos alimenta constantemente, na Eucaristia, com Seu Corpo entregue por nós e com Seu Sangue derramado para o perdão de nossos pecados. Ao celebrar a Eucaristia, fazemos nosso o compromisso de deixar que o Senhor nos converta num sinal claro, nítido, brilhante de Seu amor no mundo. 

Quem participa da Eucaristia não pode passar a vida como destruidor do próximo. Não pode viver uma intimista, de santidade personalista. Deus nos encheu de sua própria vida (Gn 2,7) fazendo-nos filhos seus para que convivamos como irmãos e irmãs, filhos e filhas do mesmo Pai celeste. Por isso, os que fazem parte da Igreja de Cristo devem ser os primeiros em ser luz para os demais, em lutar pela paz; os primeiros em trabalhar por uma autêntica justiça social. Se somente professamos nossa nos templos e depois vivemos como ateus, então não temos direito de voltar a Deus para escutá-Lo somente pelo costume. Os cristãos fazem parte e devem fazer parte dos responsáveis por um mundo que seja cada vez mais justo e fraterno. 

Por isso, resta para nós estas perguntas: Será que iluminamos e comunicamos e esperança aos que estão ao nosso redor? Será que somos sinais e sacramentos do Reino em nossa família, em nossa comunidade e em nossa sociedade?  Será nossa vida, nossas escolhas de cada dia assinalam para o Reino de Deus? Nenhum cristão se anula no testemunho de uma vida digna de um filho de Deus nesta terra. O testemunho é a entrega da própria vida para que outro viva; consumir-se ajudando outros para que tenham vida, não escondendo-se e sim entregando sua vida por uma causa digna. Se nãoentrega não se pode pedir a outro que se entregue, porque o Reino de Deus se faz com a entrega de uns aos outros. Quem não se entrega, se empobrece e se anula por si .

P. Vitus Gustama, SVD

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