domingo, 22 de janeiro de 2023

28/01/2023-Sábado Da III Semana Comum

MANTER A FÉ NO SENHOR EM TODOS OS MOMENTOS

Sábado Da III Semana Comum

Primeira Leitura: Hb 11,1-2.8-19

Irmãos, 1 a fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem. 2 Foi a fé que valeu aos antepassados um bom testemunho. 8 Foi pela fé que Abraão obedeceu à ordem de partir para uma terra que devia receber como herança, e partiu, sem saber para onde ia. 9 Foi pela fé que ele residiu como estrangeiro na terra prometida, morando em tendas com Isaac e Jacó, os coerdeiros da mesma promessa. 10 Pois esperava a cidade alicerçada que tem Deus mesmo por arquiteto e construtor. 11 Foi pela fé também que Sara, embora estéril e já de idade avançada, se tornou capaz de ter filhos, porque considerou fidedigno o autor da promessa. 12 É por isso também que de um só homem, já marcado pela morte, nasceu a multidão “comparável às estrelas do céu e inumerável como a areia das praias do mar”. 13 Todos estes morreram na fé. Não receberam a realização da promessa, mas a puderam ver e saudar de longe e se declararam estrangeiros e migrantes nesta terra. 14 Os que falam assim demonstram que estão buscando uma pátria, 15 e se se lembrassem daquela que deixaram, até teriam tempo de voltar para lá. 16 Mas agora, eles desejam uma pátria melhor, isto é, a pátria celeste. Por isto, Deus não se envergonha deles, ao ser chamado o seu Deus. Pois preparou mesmo uma cidade para eles. 17 Foi pela fé que Abraão, posto à prova, ofereceu Isaac; ele, o depositário da promessa, sacrificava o seu filho único, 18 do qual havia sido dito: “É em Isaac que uma descendência levará o teu nome”. 19Ele estava convencido de que Deus tem poder até de ressuscitar os mortos, e assim recuperou o filho — o que é também um símbolo.

Evangelho: Mc 4,35-41

35Naquele dia, ao cair da tarde, Jesus disse a seus discípulos: “Vamos para a outra margem!” 36Eles despediram a multidão e levaram Jesus consigo, assim como estava na barca. Havia ainda outras barcas com ele. 37Começou a soprar uma ventania muito forte e as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que a barca já começava a se encher. 38Jesus estava na parte de trás, dormindo sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?”  39Ele se levantou e ordenou ao vento e ao mar: “Silêncio! Cala-te!” O vento cessou e houve uma grande calmaria. 40Então Jesus perguntou aos discípulos: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?”  41Eles sentiram um grande medo e diziam uns aos outros: “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?”

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Fé É a Certeza Daquilo Que Não É Visito Com O Olhar Do Corpo

A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem”. 

O texto da Primeira Leitura que lemos hoje começa com um comentário bastante extenso sobre o tema da Fé. Para encorajar seus leitores a perseverarem na fé apesar de todos os tipos de dificuldades, o autor da Carta aos Hebreus apresenta alguns modelos do AT, pessoas que tiveram fé e foram fiéis a Deus nas circunstâncias mais difíceis. O autor da Carta aos Hebreus se dirige aos cristãos de origem judaica que a perseguição os afastará de Jerusalém. Como consequência, eles se sentirão desanimados e inquietos. O que devem fazer nesta situação? O autor os convida a adquirem um espirito de fé que só se prende ao invisível e se apoia na certeza de possuírem já o penhor das realidades celestes a exemplos de vários personagens do AT que o autor apresenta dentro do tema da fé. 

A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem”. É uma fórmula admirável que não deve ser deflorada com nenhum comentário excessivamente racional, mas que há que deixar ressoar indefinidamente em si mesmo.

A fé é um paradoxo: ela nos faz “possuir” já o que não temos e, além disso, ela nos faz “conhecer” o que está fora da capacidade de nossos sentidos. A fé nos aproxima de Deus para ouvir o inaudível e ver o invisível, isto é, enxergar aquilo que está além do visível. A fé nos faz enxergarmos o sentido das coisas criadas por Deus pelo bem do homem. “A fé não só olha para Jesus, mas olha também a partir da perspectiva de Jesus e com os seus olhos: é uma participação no seu modo de ver” (Papa Francisco: Carta Encíclica Lumen Fidei n.18). A fé é um dinamismo vital extraordinário; é uma aventura em companhia do Invisível. Isto significa que a fé é Deus no homem (companhia invisível); é um início do céu, pois o homem de fé está bem acompanhado por Deus; é a alegria eterna presente já no seio da vida cotidiana. A fé é a familiaridade com as realidades invisíveis. A fé é um novo modo de conhecimento, uns “olhos novos” para ver tudo de maneira novo e captar o sentido de cada coisa ou de cada acontecimento. 

Milhares de homens e de mulheres antigamente e atualmente, nem mais nem menos inteligentes que os demais que encontraram o sentido de sua vida pela fé em Deus. 

“Foi pela fé que Abraão obedeceu à ordem de partir para uma terra que devia receber como herança, e partiu, sem saber para onde ia”. Por causa de fé na Palavra de Deus, Abraão partiu sem saber para onde ia. Abraão simplesmente esperava a cidade assentada sobre cimentos cujo arquiteto e construtor é Deus. Nisto entendemos que a fé é confiar na palavra de Alguém que é maior do que nós; é pôr-se em caminho por ordem divina; é avançar na noite para chegar à luz; é esperar uma cidade perfeita onde tudo é edificado sobre o amor fraterno. Neste sentido, a fé é também trabalhar sem ver ainda os resultados, mas com a segurança porque Deus atua: Ele é, ao mesmo tempo, o arquiteto que faz plano e o construtor que realiza a obra diariamente. 

Ao lado de Abraão, o autor coloca como exemplo da vida conforme a fé é sua esposa, Sara: “Foi pela fé também que Sara, embora estéril e já de idade avançada, se tornou capaz de ter filhos, porque considerou fidedigno o autor da promessa”. Na sua velhice Sara gerou um filho, por causa da fé. Neste sentido, ter fé significa crer na fecundidade de minha vida apesar das aparências contrárias, pois Deus fecunda onde há esterilidade, vida onde há morte. Fé é confiar nas promessas de Deus, pois Ele é fiel a si mesmo. A resposta de Deus pode até demorar conforme Sua sabedoria, mas se torna realidade um dia. 

Somos peregrinos até a possessão dos bens definitivos. Diante de nós vai o Cristo que é o próprio Caminho para a casa do Pai (Jo 14,6) que dá sentido para nossa entrega, para nosso sacrifício. Não vamos atrás de um sonho nem de uma imaginação e sim atrás de uma realidade: a Glória, junto ao Filho de Deus sentado à direita do Pai. é verdade que se levantam muitas vozes que querem nos desanimar ou que querem que vivamos com o olhar posto unicamente no passageiro ou no efêmero. No entanto, não temos que perder de vista o chamado que Deus nos fez para que vivamos com Ele eternamente.

É Preciso Manter a Fé No Senhor Apesar Das Tempestades Da Vida, Pois Ele é o Senhor Dos Senhores e De Todas As Coisas

O tema da fé como confiança radical e total em Deus encontramos também no evangelho de hoje. O Senhor faz a seguinte pergunta aos discípulos: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?”. A esta pergunta, que é também uma reprovação, vem da parte dos discípulos uma resposta em forma de pergunta: “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?”. Esta pergunta da parte dos discípulos mostra que eles não conhecem bem seu Senhor. Foi maravilhoso o presente do céu que fizeram este descobrimento. Gradualmente, eles vão conhecendo o Senhor Jesus Cristo.

Depois da série de parábolas, Marcos aborda uma série de milagres. Os quatro milagres citados aqui não foram feitos na presença da multidão e sim diante dos discípulos para sua educação. 

A imagem de Jesus que contemplamos na leitura dos quatro milagres é esta: Jesus tem um poder supremo sobre as forças da natureza (Mc 4,35-41) e derrota uma legião de demônios (Mc 5,1-20); cura e salva uma mulher e vence a morte (Mc 5,21-43). Os dois últimos milagres se entrecruzam no relato. Ao relatar esses milagres Marcos quer nos transmitir uma certeza: Só Jesus pode salvar. Entram aqui os temas da fé e da salvação. Por isso, Marcos não se limita a contar os milagres. Marcos se sente um evangelista que anuncia, à luz da Páscoa, o que o Senhor fez e O anuncia para suscitar a fé em Jesus Cristo. Ainda hoje esses relatos são anúncios de salvação, pois ao lê-los e ao meditá-los, impõem-nos um exame de nossa fé. Temos fé em Jesus ou nós acreditamos mais na força do mal?

1. É Preciso Sair Ao Encontro Dos Outros

Depois que terminou o discurso das parábolas, Jesus e seus discipulos se afastam da multidão.  Jesus ordena, então, aos discípulos para cruzarem o mar da Galileia com ele: “Vamos para outro lado do mar”. O convite de Jesus é muito significativo: passar para outra margem. Está aberta uma nova etapa. É a chegada ao território dos pagãos (Mc 5,1). A travessia é difícil: “cai a tarde”(escuridão), a grande tempestade no mar. Os discípulos lhe obedecem. 

O episódio somente fala de Jesus e de seus discípulos. Ao se afastarem da multidão, eles passam para outra margem do mar (Lago). O meio para chegar a outra margem do Lago é barco. A barca é imagem da comunidade. O mar agitado, neste contexto, evoca as potências do caos. Com violência, essas potências do mal investem contra o espaço onde se encontra Jesus com seus discípulos (barco=comunidade).

Jesus convida os discípulos a ir a “outro lado do mar”. “Do outro lado” estão os pagãos, ou o território não- judeu. Jesus convida os discípulos para esse território para que lá possam semear também entre os pagãos a Boa Notícia do Reino, pois o amor de Deus é para todos, amor que salva, amor redentor. Atravessar, ou “ir para outro lado”, então, significa sair de si mesmo, é pensar nos outros e não ficar apenas no nosso lado. Precisamos ir a “outro lado”. "Levar os homens à verdade é o maior benefício que se pode prestar aos outros. O grande mistério da santidade é amar muito" dizia Santo Tomás de Aquino. Quem sabe no “outro lado” em vez de evangelizarmos os outros, seremos evangelizados. Travessia é muitas vezes sinônimo de abertura ao novo e diferente. Para atravessar é preciso encarar os desafios, superar os obstáculos e perseverar no alcance dos objetivos.

2. Só Jesus Pode Salvar

Na travessia Jesus parece ausente, pois dorme e parece estar completamente alheio à tragédia do mar (v.38a). O sono tranqüilo de Jesus simboliza uma confiança total em Deus.

A descrição detalhada de Marcos sobre o que estava acontecendo permite dar-se conta de que não há esperança alguma: “Começou a soprar uma ventania muito forte e as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que a barca já começava a se encher”. A barca está se afundando. Somente então é que os discípulos olham para Jesus que dorme e com tom de reprová-lo, o despertam com as seguintes palavras: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?”. Não conheciam Jesus. Não conseguiram imaginar e acreditar que, com Jesus, jamais podiam afundar-se. E Jesus se levantou e com seu poder Jesus acalmou o vento: “Silêncio! Cala-te!”. 

Por que Marcos descreve o relato do mar como se fosse um exorcismo? Na Bíblia, o mar e a escuridão são símbolos do caos inicial, dominado e vencido pela força criadora de Deus (cf. Gn 1). O mar é a sede de todas as forças hostis a Deus, mas são vencidas para sempre por Deus (cf. Ap 21,1). A vitória sobre as forças maléficas não está no homem e sim em Deus, o Único que “transformou a tempestade em leve brisa e as ondas emudeceram” (Sl 107,29). Marcos quer nos revelar a certeza de que o único Salvador, o único que pode salvar o homem de todas as forças maléficas é Jesus Cristo.

A natureza volta à calma; os discípulos não. Ficam ainda mais assustados e diziam: “Quem é este, a quem até o vento e o mar lhe obedecem?”.  E “eles sentiram um grande medo”, isto é, ficaram sob o efeito do sentimento de grande perturbação e medo: estáticos e reverenciais que sentem diante do divino. 

3. É Preciso Ter Fé Em Jesus Em Todos Os Momentos

Depois que acalmou o vento, Jesus faz uma censura aos discípulos sob a forma de dupla pergunta retórica, assim correspondendo e contestando a censura deles que foi também em forma de pergunta retórica: “Por que tendes medo? Ainda não tendes fé?”. O “ainda não” da pergunta de Jesus faz referência tanto para trás (passado) como para frente (futuro). Para trás (passado), refere-se à experiência prévia que os discípulos tiveram da poderosa palavra de Jesus demonstrada em ensinamentos e em milagres, uma experiência que deveria ter despertado a fé deles em Jesus, mas não aconteceu. Mas o “ainda não” também antecipa com expectativa algum momento futuro, quando os discípulos terão a fé. Com esta pergunta, Jesus exorta aos discípulos que confiem nele em todo momento e circunstância. Somente com a fé é possível manter-se firme diante da aparente ausência de Jesus. A falta de fé impede reconhecer a presença atuante de Deus no cotidiano.      

Depois destas palavras os discípulos ficam “muito cheios de medo”. É um medo diferente do anterior. Antes eles temiam que as forças ameaçadoras, as forças da morte não pudessem ser vencidas, por isso ficavam paralisadas e impotentes diante delas. Agora o medo os atinge ao perceberem tais forças vencidas. Esse medo é o temor reverencial diante do mistério da força e do poder de Deus em Jesus Cristo. Esse temor de Deus indica a aceitação da impossibilidade humana de vencer forças poderosas de morte e ao mesmo tempo o reconhecimento de que só Deus pode superá-las É preciso adorar a este Deus.

Ainda não tendes fé?”, Jesus perguntou retoricamente aos discípulos. Segundo a Carta aos Hebreus: ”A fé é a certeza daquilo que ainda se espera, a demonstração de realidades que não se vêem” (Hb11,1). Trata-se de uma fórmula admirável! A fé é um paradoxo. Ela nos faz “possuir” já o que não temos e nos faz “conhecer” o que está fora da capacidade de nossos sentidos. A fé é Deus no homem que nos leva ao entusiasmo (entusiasmo= Deus está dentro: em + theos); é um inicio do céu; é a alegria eterna, presente já no seio da monotonia cotidiana. A fé é um dinamismo vital extraordinária; uma aventura em companhia do Invisível; é a familiaridade com um imenso entorno de realidades invisíveis; é um novo modo de conhecimento, uns “olhos novos” para ver tudo com profundidade. A fé é confiar na palavra de alguém; é pôr-se em caminho; é atravessar a noite até a luz; é viver e esperar uma cidade perfeita onde tudo será edificado sobre o amor. A fé é crer na fecundidade de minha vida com a ajuda divina, apesar das aparências contrárias; é trabalhar segundo meus meios e confiar nas promessas de Deus que é muito fiel a Si próprio. “Ainda não tendes fé?” é a pergunta dirigida a cada um de nós que nos chama a verificarmos até que ponto temos realmente fé. "Quanto mais um ser se afasta de Deus, tanto mais ele se aproxima do nada. Quanto mais se aproxima de Deus, tanto mais se distancia do nada" dizia Santo Tomás de Aquino.

No Evangelho de hoje Jesus nos convida a um ato de fé nele. Talvez seja necessário que estejamos numa barquinha agitada pelo vento para que percebamos a presença de Deus. Há cristãos que só pensam em Deus quando ficam doentes, quando atingidos por alguma desdita (falta de sorte). Só então rezam com toda a devoção e pedem a Deus para que ele venha socorrê-los. Quando tudo corre bem o ser humano corre o risco de se tornar auto-suficiente. É a pedagogia da provação.

P. Vitus Gustama,svd

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