quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

23/01/2023-Segundaf Da III Semana Comum

UNIR-SE A JESUS CRISTO PARA ELIMINAR O PODER DO MAL

Segunda-Feira Da III Semana Comum

Primeira Leitura: Hb 9,15.24-28

Irmãos, 15 Cristo é mediador de uma nova aliança. Pela sua morte, ele reparou as transgressões cometidas no decorrer da primeira aliança. E, assim, aqueles que são chamados recebem a promessa da herança eterna. 24 Jesus não entrou num santuário feito por mão humana, imagem do verdadeiro, mas no próprio céu, a fim de comparecer, agora, na presença de Deus, em nosso favor. 25 E não foi para se oferecer a si muitas vezes, como o sumo sacerdote que, cada ano, entra no Santuário com sangue alheio. 26 Porque, se assim fosse, deveria ter sofrido muitas vezes, desde a fundação do mundo. Mas foi agora, na plenitude dos tempos, que, uma vez por todas, ele se manifestou para destruir o pecado pelo sacrifício de si mesmo. 27 O destino de todo homem é morrer uma só vez, e depois vem o julgamento. 28 Do mesmo modo, também Cristo, oferecido uma vez por todas, para tirar os pecados da multidão, aparecerá uma segunda vez, fora do pecado, para salvar aqueles que o esperam. 

Evangelho: Mc 3, 22-30

Naquele tempo, 22os mestres da Lei, que tinham vindo de Jerusalém, diziam que ele estava possuído por Beelzebu, e que pelo príncipe dos demônios ele expulsava os demônios. 23Então Jesus os chamou e falou-lhes em parábolas: “Como é que Satanás pode expulsar a Satanás? 24Se um reino se divide contra si mesmo, ele não poderá manter-se. 25Se uma família se divide contra si mesma, ela não poderá manter-se. 26Assim, se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, não poderá sobreviver, mas será destruído. 27Ninguém pode entrar na casa de um homem forte para roubar seus bens, sem antes o amarrar. depois poderá saquear sua casa. 28Em verdade vos digo: tudo será perdoado aos homens, tanto os pecados, como qualquer blasfêmia que tiverem dito. 29Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca será perdoado, mas será culpado de um pecado eterno”. 30Jesus falou isso, porque diziam: “Ele está possuído por um espírito mau”.

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Jesus Cristo É o Nosso Eterno Sumo Sacerdote Que Tirou Nossos Pecados e Intercede Por Nós Para Sempre

Cristo é mediador de uma nova aliança. Pela sua morte, ele reparou as transgressões cometidas no decorrer da primeira aliança. E, assim, aqueles que são chamados recebem a promessa da herança eterna”.

O texto da Primeira Leitura faz parte da seção absolutamente central para a Carta aos Hebreus (Hb 9,11-28). Esta parte é dedicada para o sacrifício eficaz e definitivo de Jesus Cristo.

Neste capítulo 9 e no capítulo anterior da Carta, o sacerdócio de Cristo é apresentado como algo diferente e superior ao sacerdócio do Antigo Testamento. O Templo de Jerusalém, construído por homens, era apenas uma imagem pálida do verdadeiro templo ou casa de Deus. A distância que vai da terra para o céu, do trabalho dos homens para a obra de Deus, não é maior que a distância que separa o sacerdócio de Cristo de qualquer outro sacerdócio. Pois somente Cristo entra no céu e oficia diante do próprio Deus. 

Por isso, a palavra “sacrifício” aqui não pode ser entendida no sentido expiatório nem sequer principalmente cultual. O sentido fundamental do autor é apresentar a morte de Jesus Cristo como o momento de sua total intercessão, sua “ordenação sacerdotal”, que une para sempre Deus com o homem e o homem com Deus, eliminando os obstáculos que se opõem para esta união. Este era um dos sentidos, para não dizer principal, dos sacrifícios antigos pelo qual não resulta inadequado falar da morte de Cristo com esta categoria. Cristo oferece a si mesmo uma vez e de verdade. Por isso, o sacrifício de Cristo é mais que suficiente para acabar com o pecado e constitui o momento culminante de toda a história.

Dentro deste sentido, a Eucaristia (missa) não é uma repetição do único sacrifício de Cristo e sim sua atualização. É o próprio sacrifício de Cristo feito presente na fé e para a fé da Igreja. De maneira que nós cristãos temos ocasião de nos associar ao sacrifício de Cristo, de nos comprometer com Ele em sua entrega a Deus por todos os homens. Aceitar Cristo, Pão da Vida, é entregar a vida para o bem dos irmãos como fez Jesus.

Deus estabelece que o homem morra uma só vez (Hb 9,27). Também Cristo morreu uma vez só como todos os homens. Mas Cristo cumpriu de uma vez por todas, fazendo de sua vida um único sacrifício válido para sempre. Assim alcançou o perdão para todos os homens que creem nele. Jesus não voltará para começar de novo para voltar a morrer e alcançar outra vez o perdão. Crer em Jesus Cristo é viver e morrer como Jesus Cristo e esperando sua vinda. Se Deus estabelece que o homem morra uma só vez, isto dá seriedade para nossas vidas e nos carrega de responsabilidade aqui e agora, no presente. Em cada momento da vida estamos fazendo a escolha de como vamos nos sentir. Geralmente, as oportunidades surgem em quantidade quase igual para todos, mas o que fazemos com elas é uma questão individual. Como serei no futuro depende de como sou e faço no presente. 

O efeito da ação de Cristo é definitivo. Porém, o efeito não é automático. É preciso pensar em sua eficácia autêntica, na real destruição do negativo, do pecado, que Cristo levou a cabo com sua morte (e Ressurreição). Aceitar Cristo é esforçar-se para destruir o pecado que cria a barreira entre o homem e Deus e entre so próprios homens. “O pecado e o inferno estão casados. A não ser que o arrependimento anuncie o divórcio. ... Se Cristo morreu por mim, eu não posso brincar com o mal que matou meu melhor amigo. ... Olhe para Cruz e odeie o seu pecado, pois o pecado pregou o seu amado na Madeira. ... Há pecado até na nossa santidade, há incredulidade na nossa fé, há ódio no nosso próprio amor, há lama  da serpente na mais bela flor do nosso jardim”, disse um pregador britânico, Charles Spurgeon. Jesus jamais deixou o pecado e o inferno casados. Jesus é “o Cordeiro que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29).  Estar em união total com Cristo significa ganhar a força mais do que suficiente para combater o mal dentro de nós e entre nós e fora de nós.

Estar Com Cristo Para Combater o Mal 

Voltamos novamente a acompanhar as controvérsias entre Jesus, de um lado e seus adversários (fariseus e escribas), de outro lado. Novamente Jesus se encontra em casa. A multidão composta na sua maioria pelos marginalizados e pecadores se sente atraida por “tudo o que Jesus fazia” (Mc 3,7-8; 2,15) e se apinha ao seu redor. 

O evangelho deste dia nos relata que Jesus encara seus adversários vindos de Jerusalém, cidade onde ele sofrerá a Paixão e morte. Na discussão Jesus é considerado como uma pessoafora de si” (=louco) pelos parentes (Mc 3,21), e “Ele está possuído por Belzebu, chefe dos demônios”, pelos escribas (Mc 3,22). Em outras palavras, Jesus é recusado “pelos seus” e “pelas autoridades religiosas”. Jesus é recusado, desconhecido e ignorado. Jesus é contestado, não é escutado, não é seguido. Jesus é deixado de lado. “Belezebu” significa “Senhor da morada, da casa”. “Baal” é famosa divindade cananeia, degradada pelo moteismo a “princípe dos demônios”. Pode-se compreender que, como contra-ataque, Jesus usa as comparações do reino e da casa: “Se um reino se divide contra si mesmo, ele não poderá manter-se. Se uma família se divide contra si mesma, ela não poderá manter-se”.

Até este ponto precisamos entrar no nosso íntimo para cada um se perguntar: “Qual é a minha maneira pessoal de recusar Jesus na minha própria vida? Quando foi que eu deixei de lado esse Jesus Salvador nas minhas decisões, no meu modo de me comportar? Quando foi que ignorei Jesus na minha vida e na convivência com os demais?”. Se Jesus que é a Luz do mundo (Jo 8,12) não ocupar seu devido lugar na minha vida, então a minha vida vai ser muito desorientada e escura. Em nossa vida temos que conjugar os esforços humanos com a confiança em Deus e a docilidade aos seus planos.

Jesus começou a ser conhecido pela multidão (Mc 1,28), pois Elefala como quem tem autoridade e não como os escribas” (Mc 1,22), pois Ele se preocupa com a dignidade de todas as pessoas, especialmente com os excluídos. A fama de Jesus também chegou aos ouvidos das autoridades. E estas começaram a fazer uma campanha de difamação contra Jesus. “Ele estava possuído por Beelzebu, e que pelo príncipe dos demônios ele expulsava os demônios”, dizem eles sobre Jesus. Ao chamar Jesus de “chefe dos demônios”, as autoridades querem dizer a todos que Jesus é o inimigo de Deus (gente de demônio) e por isso, não merece nenhuma credibilidade.  Ao desqualificar Jesus, eles querem desqualificar sua obra. Desta maneira eles poderiam impedir a crescente popularidade de Jesus. Trata-se de um jogo das autoridades para não perder o poder sobre o povo. Todo julgamento esconde a arrogância de quem se acha dono da verdade e também revela grande insegurança. Aquele que julga se comporta como soberano e crítico das ações alheias. Num mundo de trabalho interesseiro, num mundo de luta pelo poder, os bons, os justos, os honestos são sempre vitimas e são excluídos ou eliminados, mas o bem vivido ganhará reconhecimento de Deus (cf. Mt 25,40.45; 7,21-27). 

Se aprofundarmos mais esse assunto, perceberemos que o que está em jogo na discussão com os adversários de Jesus é a luta entre o espírito do mal e o espírito do bem. Por isso, merece o duríssimo ataque de Jesus. O que eles fazem é considerado como uma blasfêmia contra o Espírito Santo. Pecar contra o Espírito Santo significa negar o que é evidente, negar a luz de Deus permanentemente, tapar-se os olhos para não ver, para negar a verdade, para negar a salvação definitivamente. Por isso, enquanto lhes durar essa atitude obstinada e esta cegueira voluntária, eles mesmos se excluem do perdão e do Reino. O Reino de Deus está aberto para quem quiser entrar nele. 

Creio que nós não somos certamente dos que negam a Jesus permanentemente. Ao contrário, não somente cremos nele e sim que seguimos a Jesus e celebramos seus sacramentos e meditamos sua Palavra iluminadora. E nós cremos que Jesus é mais forte e por isso, Ele nos ajuda na nossa luta contra o mal. E para afastar o mal precisamos viver e praticar o bem, mas não simplesmente para afastar o mal. Fazer o bem é o verdadeiro caminho divino e por isso, precisamos optar por este caminho. Ser cristão não é apenas aquele que evita o mal, mas principalmente fazendo o bem ele afasta o mal. Se Jesus que é mais forte do que qualquer mal está entre nós, então precisamos estar com ele permanentemente, colocando-o no centro de nossa vida para ganhemos também Sua força. 

Mesmo assim, podemos nos perguntar se alguma vez nos obstinamos em não ver tudo o que teríamos que ver no evangelho ou nos sinais dos tempos que vivemos. Ao olhar para os escribas que julgaram Jesus sem piedade, não temos certa tendência a julgar drasticamente os que não pensam como nós, na vida de família, no trabalho, na comunidade ou na Igreja? 

Na Vigília Pascal, quando renovamos o nosso compromisso batismal, fazemos cada ano uma dupla opção: renunciar ao pecado e ao mal e professar nossa em Deus. Hoje o Evangelho nos mostra Cristo como Libertador do mal para que durante toda jornada colaboremos com ele em tirar o mal de nosso meio. 

Para Refletir Mais:

Como é que Satanás pode expulsar a Satanás? Se um reino se divide contra si mesmo, ele não poderá manter-se. Se uma família se divide contra si mesma, ela não poderá manter-se”.

A divisão ou desunião é causa de uma grande fragilidade, de uma falta de força diante de qualquer desafio ou dificuldade. Dividir para dominar é uma das táticas de quem quer poder, de qualquer jeito. Como os fariseus e os escribas fazem com Jesus: difamar para dividir o povo. Onde tiver espaço para a desunião haverá entrada para o inimigo. Onde prevalecer o egoísmo, a soberba, a arrogância, não haverá espaço para o bem, e o mal tomará conta de tudo. Quem for na direção do mal, ele se afastará de Deus, pois o caminho que conduz para Deus é o caminho ao bem, à prática da justiça e do amor. “Deus, de quem separar-se é morrer, a quem retornar é ressuscitar, com quem habitar é viver”, dizia Santo Agostinho (Solil. 1,1,3).

A unidade, a solidariedade, a comunhão, a concórdia e assim por diante são aspirações de todos os tempos e para qualquer família humana. O homem aspira a paz, a concórdia, a fraternidade, a felicidade. “Vede: como é bom, como é agradável habitar todos juntos, como irmãos”, assim reza o salmista (Sl 133,1). Esse desejo ideal de comunhão procede do mais íntimo e profundo do homem, do ponto central onde Deus habita: o coração de cada pessoa. Cada ser humano é imagem de Deus. Deus não é divisão, poisDeus é amor” (1Jo 4,8.16). Deus é um mistério de comunhão entre três que somente fazem um . 

O amor mútuo entre todos os irmãos que habitam em uma casa é a maior bênção. A unidade é força e ao mesmo tempo, é felicidade na família ou num grupo em que todos vivem juntos em harmonia. Se todas as pessoas têm o mesmo sangue que corre em suas veias, por que um irmão persegue, maltrata outro irmão? Por que um irmão discrimina outro irmão? Por que um irmão difama outro irmão? Por que um irmão destrói outro irmão?

Será que na minha vida familiar, matrimonial, profissional, eclesial há aspirações para a solidariedade, a unidade, a partilha, a comunhão?

Para participar na vitória de Cristo sobre as forças do mal que nos querem dominar temos que ser dóceis ao Espírito Santo e temos que reconhecer o poder que atua em Cristo.

P. Vitus Gustama,SVD

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