quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

30/01/2023-Segundaf da IV Semana Comum

A FÉ EM JESUS CRISTO E O ENCONTRO COM ELE NOS LIBERTAM

Segunda-Feira Da IV Semana Comum

Primeira Leitura: Hb 11,32-40

Irmãos, 32 que mais devo dizer? Não teria tempo de falar mais sobre Gedeão (Gideão), Barac, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e os profetas. 33 Estes, pela fé, conquistaram reinos, praticaram a justiça, foram contemplados com promessas, amordaçaram a boca dos leões, 34 extinguiram o poder do fogo, escaparam do fio da espada, recobraram saúde na doença, mostraram-se valentes na guerra, repeliram os exércitos estrangeiros. 35 Mulheres reencontraram os seus mortos pela ressurreição. Outros foram esquartejados, ou recusaram o resgate, para chegar a uma ressurreição melhor. 36 Outros ainda sofreram a provação dos escárnios, experimentaram o açoite, as correntes, as prisões. 37 Foram apedrejados, foram serrados, ou morreram a golpes de espada. Levaram vida errante, vestidos com pele de carneiro ou pelos de cabra; oprimidos e atribulados, sofreram privações. 38 Eles, de quem o mundo não era digno, erravam pelos desertos e pelas montanhas, pelas grutas e cavernas da terra. 39 E, no entanto, todos eles, se bem que pela fé tenham recebido um bom testemunho, apesar disso não obtiveram a realização da promessa. 40 Pois Deus estava prevendo, para nós, algo melhor. Por isso não convinha que eles chegassem à plena realização sem nós.

Evangelho: Mc 5,1-20

Naquele tempo, 1Jesus e seus discípulos chegaram à outra margem do mar, na região dos gerasenos. 2Logo que saiu da barca, um homem possuído por um espírito impuro, saindo de um cemitério, foi a seu encontro. 3Esse homem morava no meio dos túmulos e ninguém conseguia amarrá-lo, nem mesmo com correntes. 4Muitas vezes tinha sido amarrado com algemas e correntes, mas ele arrebentava as correntes e quebrava as algemas. E ninguém era capaz de dominá-lo.5Dia e noite ele vagava entre os túmulos e pelos montes, gritando e ferindo-se com pedras. 6Vendo Jesus de longe, o endemoninhado correu, caiu de joelhos diante dele 7e gritou bem alto: “Que tens a ver comigo, Jesus, Filho do Deus altíssimo? Eu te conjuro por Deus, não me atormentes! 8Com efeito, Jesus lhe dizia: “Espírito impuro, sai desse homem!”  9Então Jesus perguntou: “Qual é o teu nome?” O homem respondeu: “Meu nome é ‘Legião’, porque somos muitos”. 10E pedia com insistência para que Jesus não o expulsasse da região.11Havia perto uma grande manada de porcos, pastando na montanha. 12O espírito impuro suplicou, então: “Manda-nos para os porcos, para que entremos neles”. 13Jesus permitiu. Os espíritos impuros saíram do homem e entraram nos porcos. E toda a manadamais ou menos uns dois mil porcos — atirou-se monte abaixo para dentro do mar, onde se afogou. 14Os homens que guardavam os porcos saíram correndo e espalharam a notícia na cidade e nos campos. E as pessoas foram ver o que havia acontecido. 15Elas foram até Jesus e viram o endemoninhado sentado, vestido e no seu perfeito juízo, aquele mesmo que antes estava possuído por Legião. E ficaram com medo. 16Os que tinham presenciado o fato explicaram-lhes o que havia acontecido com o endemoninhado e com os porcos. 17Então começaram a pedir que Jesus fosse embora da região deles. 18Enquanto Jesus entrava de novo na barca, o homem que tinha sido endemoninhado pediu-lhe que o deixasse estar com ele. 19Jesus, porém, não permitiu. Entretanto, lhe disse: “Vai para tua casa, para junto dos teus e anuncia-lhes tudo o que o Senhor, em sua misericórdia, fez por ti”. 20E o homem foi embora e começou a pregar na Decápole tudo o que Jesus tinha feito por ele. E todos ficavam admirados.

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1. Firme e Perseverante Na Fé Apesar Das Dificuldades, Pois Deus Tem a Última Palavra Para a Humanidade

Irmãos, que mais devo dizer? Não teria tempo de falar mais sobre Gedeão, Barac, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e os profetas. Estes, pela fé, conquistaram reinos, praticaram a justiça, foram contemplados com promessas, amordaçaram a boca dos leões, extinguiram o poder do fogo, escaparam do fio da espada, recobraram saúde na doença, mostraram-se valentes na guerra, repeliram os exércitos estrangeiros”, escreveu o autor aos Hebreus que se encontram na dificuldade em termos da fé. 

O texto da Primeira Leitura é a continuação do texto do capítulo anterior (Hb 11,1-19) cujo objetivo é reanimar os convertidos do judaísmo que, por causa dos problemas e dificuldades na vivência da fé, querem voltar para a antiga crença.

O autor quer-lhes relembrar o exemplo dos passados judeus que eram sempre firmes e fieis  na provação, sem jamais voltar atrás, mas sempre prontos para a aventura da fé. O autor coloca, então, uma série de heróis na fé: Gedeão (um dos juizes de Israel que livrou o povo da opressão dos midianitas. Ele é descrito como um homem tímido e humilde, o qual Deus osou poderosamente devido à sua fé), Barac e Sanção, que subjugam os reinos (livro dos Juizes) e exercem a justiça; Davi, que alcança o cumprimento das profecias; os profetas, como Daniel, que fecha as fauces (boca) dos leões (Dn 6,23; Juiz 14,1-10), ou três meninos, que dominam a violência do fogo (Dn 3,49-50); outros profetas que, como Eleazar e os sete irmãos (2Macabeus 6-7), se deixaram torturar sem fraquejar, ou que deixaram acorrentar (Jr 20,2; 37,15) ou assassinar (Mt 23,34-35) ou deixar no deserto (1Rs 19) sem nunca perderem a fé no futuro de Deus que já começou no presente. Os antepassados suportaram tudo isto, quando não podiam ainda atingir a realização da promessa: “No entanto, todos eles, se bem que pela fé tenham recebido um bom testemunho, apesar disso não obtiveram a realização da promessa”. 

Os tempos em que todas essas pessoas viviam eram tão difíceis ou mais do que as nossas. O que acontece é que eles tiveram fé. Eles confiaram totalmente em Deus e perseveraram em seus caminhos. Eles não olharam para trás, mas para a frente. Eles não se refugiaram em uma atitude conservadora, mas arriscaram-se na aventura da fé. A carta diz que "o mundo não era digno deles". 

A fé, que é algo sobrenatural se vive dentro da experiência humana e se caracteriza pelo dom que fazemos de nós próprios para o futuro. É o risco que assumimos, ao abandonarmos nossa segurança, para nos tornar disponíveis à novidade de Deus. 

Numa época de mudança ou numa mudança de época como a em que vivemos, a fé não pode cotentar-se apenas com ser mera adesão a verdades. Mas a fé deve ser o dom de si mesmo ao futuro e à convicção de que a morte e o fracasso de certas estruturas não podem significar a última palavra para nossa vida. Dentro deste sentido, a Eucaristia da qual sempre participamos é profissão de fé, pois já antecipamos logo aqui na terra o Banquete eterno na fraternidade eterna. 

A fé dos mártires é uma das mais exemplares. Deram testemunho de Deus no absoluto de um risco total. Permaneceram fieis na prova, quando tudo desmoronou e nada restou senão Deus ... sozinho! Quando a fé traz segurança, consolação, vantagens humanas, é muito ambígua. Enquanto a perseguição, o julgamento, a indigência podem ser uma oportunidade para purificar a fé. Quando situações muito difíceis nos esmagam, é útil pensar sobre a fé dos mártires ... do passado e de HOJE. 

Acreditar significa confiar-se a um amor misericordioso que sempre acolhe e perdoa, que sustenta e guia a existência, que se mostra poderoso na sua capacidade de endireitar os desvios da nossa história. A fé consiste na disponibilidade a deixar-se incessantemente transformar pela chamada de Deus. Paradoxalmente, neste voltar-se continuamente para o Senhor, o homem encontra uma estrada segura que o liberta do movimento dispersivo a que o sujeitam os ídolos”, escreveu o Papa Francisco na Carta Enciclica Lumen Fidei n.13. “O contrário da fé é a idolatria. O ídolo é um pretexto para se colocar a si mesmo no centro da realidade, na adoração da obra das próprias mãos. A idolatria é sempre politeísmo, movimento sem meta de um senhor para outro. A idolatria não oferece um caminho, mas uma multiplicidade de veredas que não conduzem a uma meta certa, antes se configuram como um labirinto” (idem n.13). 

Portanto, teremos que rezar verdadeiramente o Salmo Responsorial de hoje (Sl 30) para nos arriscar mais: " Fortalecei os corações, vós que ao Senhor vos confiais!” e espera com confiança a recompensa de Deus que não faltará: “Amai o Senhor Deus, seus santos todos, ele guarda com carinho seus fiéis”. 

2. Jesus Nos Devolve a Autenticidade No Encontro Com Ele 

O evangelho de hoje nos relata que Jesus chega à região dos gerasenos, ou seja, a um território pagão. Isto quer nos dizer que a presença do Reino de Deus não se limita em determinados lugares e povo. O amor de Deus alcança qualquer povo ou pessoa. 

Na região dos gerasenos encontra-se um homem queDia e noite vagava entre os túmulos e pelos montes, gritando e ferindo-se com pedras” (Mc 5,5). É um homem privado de suas faculdades mentais, que não é dono de si mesmo e se converteu em seu próprio inimigo (“ferindo-se com pedras”). Esse mal é que Jesus vem combater, esse mal misterioso que hoje chamamos de “alienaçãoque divide o homem no mais profundo de si mesmo e o empurra contra si mesmo. Essa alienação é que nos afasta de nos mesmos e do amor de Deus.

O relato indica que o encontro com Jesus é um encontro de libertação para cada um encontrar-se consigo mesmo. Trata-se de uma conquista da própria autenticidade. O verdadeiro encontro com o Senhor nos torna autênticos. Isso é que aconteceu com o endemoniado: de um ser dividido e anti-social passa a ser um homem dono de si próprio, de um anti-social passa a ser irmão dos outros. Libertação é uma reconquista da própria autenticidade; é um encontrar-se consigo próprio. Este é o resultado de cada encontro verdadeiro com o Senhor: em vez de ser anti-convivência ou anti-social (o homem possuído morava no meio dos túmulos) se torna um irmão dos demais, vira um amigo dos outros (ser social). 

3. Para Jesus o Homem Vale Mais Do Que Qualquer Coisa Neste Mundo 

Libertação é uma reconquista da própria autenticidade; é um encontrar-se consigo próprio. Ao libertar o homem possuído pelo espírito do mal Jesus transformou o homem em serdono” de si próprio. O homem passou de um ser dividido para um irmão dos demais. Este é o resultado de cada encontro verdadeiro com o Senhor: em vez de ser anti-convivência ou anti-social (o homem possuído morava no meio dos túmulos) se torna um irmão dos demais, vira um amigo dos outros (ser social). 

um detalhe interessante na cena: os habitantes da região demonstram um duplo sentimento: por um lado, Jesus é para eles um ser superior; mas por outro lado, ele é uma espécie que incomoda. Eles intuem que a mensagem, por muito libertadora e benéfica que ela seja, os obrigará a transtornar seus modos rotineiros de vida. Por isso, eles suplicam que Jesus vá se embora daquela região. Eles não aceita a mudança de vida para uma vida de qualidade. O grande problema que temos não é implementar as coisas novas na nossa cabeça e sim tirar as coisas velhas dela que não mais nos ajuda a crescer. Mudança e transformação são, na verdade, o código do mundo que nos cerca. No entanto, nem sempre queremos mudar. Quando estamos felizes, desejamos que o relógio pare de andar, queremos que o tempo pare, queremos imobilizar o instante fugido. Apenas pensamos em mudança por necessidade. Mas ninguém pode parar o crescimento. Ou crescemos com o mundo no seu salto de qualidade, ou ficamos parados no tempo sem que haja nenhum crescimento. 

Para os gerasenos a libertação de um homem vale menos do que uma manada de porcos. As coisas (os porcos) são valorizadas mais do que a dignidade do homem. Trata-se de uma inversão de valores. Os negócios lhes interessam mais do que a vida do home libertado. O texto pretende nos dizer que a presença de Jesus, com sua Palavra que opera a libertação das pessoas, questiona todo o sistema de convivência humana, chegando mesmo até a sua base de sustentação. Os gerasenos optam pela solução menos custosa, enquanto que para Jesus conduzir um homem para sua dimensão humana tem um valor muito mais alto do que qualquer outra consideração. Por causa do homem, pelo seu bem, Jesus tinha coragem de “transgredirqualquer lei por sagrada que ele fosse para o pensamento do homem, pois para ele “o Sábado foi feito para o homem e não o homem para o Sábado”. Por causa de seu amor pelo homem, Jesus aceita ser crucificado inocentemente. Qualquer regra que não edifica o homem para Jesus precisa ser abandonada, pois cada pessoa humana é o filho e a filha de Deus que Jesus ensinou no Pai-Nosso em que todos chamam Deus de Pai (cf. Mt 6,9-15) 

Vale a pena cada um perguntar-se: “Quem é o homem para mim? Qual é o valor de um ser humano para mim? Um bom conceito sobre o ser humano leva a pessoa a tratar o outro com dignidade e respeito. Enquanto uma pessoa não tiver um conceito claro sobre quem é o ser humano, não podemos esperar um bom comportamento e um bom tratamento para com os outros dessa pessoa. 

4. Ser Enviado Da Misericórdia De Deus 

O que nos chama atenção do relato do evangelho de hoje é o seu fim. O homem curado pede que Jesus o deixe estar com ele: Enquanto Jesus entrava de novo na barca, o homem que tinha sido endemoninhado pediu-lhe que o deixasse estar com ele”. Trata-se de uma oração. Este homem quer estar com o Senhor. Pedirpara estar com Ele” é uma expressão que o evangelista Marcos usa na chamada dos Doze Apóstolos (Mc 3,14). “Estar com Jesus” significa ser discípulo de Jesus. Por isso, a expressãoestar com Ele” descreve a vocação apostólica; é o ir com Jesus itinerante para ser enviados por Ele. Trata-se de uma descrição da chamada dos Doze, daqueles que participam continuamente no mistério do Mestre e estão com Ele em função da Igreja, isto é, os apóstolos. 

O homem curado pede a Jesus para fazer parte do grupo, porém recebe uma resposta dura. É a resposta que nos recorda a dura resposta dada para a mulher Cananéia (Mc 7,27; compare Mc 5,37; Mc 1,35). Vai-te para tua casa, para junto dos teus e anuncia-lhes tudo o que o Senhor, em sua misericórdia, fez por ti” é a resposta de Jesus para o homem curado. Jesus que lhe dizer: esta não é para ti; esta não é tua vocação! E este se foi, apesar de sua decepção, obviamente, e começou a proclamar a misericórdia do Senhor “E todos ficavam admirados”.

Este episodio final nos chama para uma meditação sobre a vocação de cada um de nós. Mesmo que não tenha vocação dos Doze, cada um tem uma vocação do verdadeiro seguimento de Cristo e por isso, participa estreitamente de uma chamada. O evangelista Marcos usa uma linguagem bem precisa: “Vai-te para tua casa”. Trata-se de um envio missionário, da ordem para uma missão. Como se o Senhor quisesse dizer a este homem: “Vai salvar primeiro os teus. Eles precisam de tua ajuda!”. “... anuncia-lhes tudo o que o Senhor, em sua misericórdia, fez por ti”, acrescentou o Senhor. “Anunciar” e “proclamarsão termos típicos da atividade evangelizadora da Igreja. Jesus pede ao homem curado, como pede a cada um de nós, a proclamar a misericórdia de Deus. Sejamos misericordiosos nas nossas palavras e ações de cada dia, pois fomos criados por um gesto misericordioso, fomos feitos por mãos misericordiosas, e fomos idealizados por uma mente misericordiosa. Foi o Deus da misericórdia. E por isso, a misericórdia sempre vai além da justiça. 

Enquanto Jesus entrava de novo na barca, o homem que tinha sido endemoninhado pediu-lhe que o deixasse estar com ele.Vai-te para tua casa, para junto dos teus e anuncia-lhes tudo o que o Senhor, em sua misericórdia, fez por ti”, pediu Jesus a esse homem. Por quê? Jesus quer enviá-lo a anunciar. O homem deve voltar para os seus para anunciar as maravilhas da misericórdia de Deus. Isto quer nos dizer que cada encontro verdadeiro com Jesus tem como conseqüência o envio para evangelizar. Os que participam de qualquer atividade religiosa, seja oração, seja missa, seja retiro devem ser transformados em missionáriosevangelizadores da misericórdia de Deus.

P. Vitus Gustama,svd

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