11 de Abril de 2014
Primeira Leitura: Jr 20,10-13
10 Eu ouvi as injúrias de tantos
homens e os vi espalhando o medo em redor: “Denunciai-o, denunciemo-lo”. Todos
os amigos observam minhas falhas: “Talvez ele cometa um engano e nós poderemos
apanhá-lo e desforrar-nos dele”. 11 Mas o Senhor está ao meu lado, como forte
guerreiro; por isso, os que me perseguem cairão vencidos. Por não terem tido
êxito, eles se cobrirão de vergonha. Eterna infâmia, que nunca se apaga! 12 Ó
Senhor dos exércitos, que provas o homem justo e vês os sentimentos do coração,
rogo-te me faças ver tua vingança sobre eles; pois eu te declarei a minha
causa. 13 Cantai ao Senhor, louvai ao Senhor, pois ele salvou a vida de um
pobre homem das mãos dos maus.
Naquele tempo ,
31os judeus pegaram pedras para apedrejar
Jesus. 32E ele lhes disse: “Por
ordem do Pai ,
mostrei-vos muitas obras boas. Por qual delas me quereis apedrejar ?” 33Os
judeus responderam: “Não queremos te
apedrejar por
causa das obras
boas, mas por
causa de blasfêmia ,
porque sendo apenas
um homem ,
tu te
fazes Deus !” 34Jesus disse: “Acaso não está escrito na vossa
Lei : ‘Eu
disse: vós sois deuses ’? 35Ora ,
ninguém pode anular
a Escritura : se a Lei
chama deuses
as pessoas às quais
se dirigiu a palavra de Deus , 36por
que então
me acusais de blasfêmia ,
quando eu
digo que sou Filho
de Deus , eu
a quem o Pai
consagrou e enviou ao mundo ? 37Se
não faço as obras
do meu Pai ,
não acrediteis em
mim . 38Mas ,
se eu as faço, mesmo
que não
queirais acreditar em
mim , acreditai nas minhas
obras , para que saibais e reconheçais que
o Pai está em
mim e eu
no Pai ”. 39Outra vez
procuravam prender Jesus, mas
ele escapou das mãos
deles. 40Jesus passou para o outro lado do
Jordão, e foi para o lugar
onde , antes ,
João tinha batizado .
E permaneceu ali . 41Muitos foram ter com ele , e
diziam: “João não realizou nenhum sinal , mas tudo o que ele disse a
respeito deste homem ,
é verdade ”. 42E muitos ,
ali , acreditaram nele.
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As duas leituras
deste dia nos apresentam dois justos que sofrem: o profeta Jeremias e Jesus. Os
adversários os atacam porque os dois fizeram o bem. Quando os nossos próprios
interesses estiverem em jogo, seremos incapazes de enxergar o que é bom e
correto, pois pensaremos e defenderemos apenas as nossas próprias vantagens.
Muitos ainda não entenderam que o que ganhamos aqui neste mundo, materialmente,
vai ficar aqui mesmo. O que tem marca do mundo fica no mundo. O que tem marca
divino, vai para a eternidade.
Jeremias foi chamado por Deus para
ser profeta quando tinha menos de vinte anos. Ele foi chamado por Deus para
anunciar desgraça e catástrofes se o povo não se converter. Mas sua mensagem
foi mal recebida pelo povo, por seus familiares e pelas autoridades. Eles
tramaram a morte do profeta Jeremias, e ele estava consciente disso. Apesar
disso, o profeta continuava a confiar em Deus firmemente: “O Senhor está ao
meu lado, como forte guerreiro; por isso, os que me perseguem cairão
vencidos... Ele salvou a vida de um pobre homem das mãos dos maus”.
Jeremias representa tantas pessoas
que sofrem como inocentes e justos neste mundo, mas que continuam a pôr sua
confiança em Deus e seguem adiante nesta vida. Como o Salmista eles continuam a
rezar: “Meu Deus, sois o rochedo que me abriga, minha força e poderosa
salvação, sois meu escudo e proteção: em vós espero!” (cf. Sl 17- Salmo
responsorial).
O evangelho
nos apresenta um
clima cada
vez mais
tenso entre
os judeus e Jesus. Contra Jesus os
adversários reagiram com mais violência ainda em comparação com a violência
contra o profeta Jeremias que terminará na crucificação de Jesus. Os seus
adversários seguraram pedras nas mãos para eliminar Jesus.
Os judeus
querem uma declaração clara de Jesus sobre suas origens: “Quem és tu?” (Jo
8,25). Mas eles estão instalados em sua ortodoxia e com um pensamento já feito
ou preestabelecido. E por isso, eles não permitem outros pontos de vista. A
pior prisão é a prisão mental em que não tem mais humildade em aprender e que
se torna um obstáculo para desfrutar e atingir o que está por vir. Nada mudará
enquanto a minha mente não mudar. A maior meta que cada um deve ter é mudar a
si mesmo, mudar a maneira de pensar para mudar a maneira de viver e de
conviver.
O evangelho
de hoje nos
relata que os judeus
pegaram pela segunda
vez pedras
para apedrejar Jesus. Mas Jesus lança
a seguinte pergunta :
“Tenho-vos mostrado muitas obras boas
da parte de meu
Pai . Por
qual dessas obras
me apedrejais? (...) Mas se as faço, e se não
quiserdes crer em
mim , crede nas minhas
obras , para que saibais e reconheçais que
o Pai está em
mim e eu
no Pai ” (Jo 10,32. 38). As obras de Jesus pelo bem da humanidade , especialmente pelos
necessitados, demonstram sua unidade com Deus . Quem
pratica o bem é de Deus ,
embora ele
não confesse expressamente
sua fé
em Deus. Quem é de Deus e tem fé em Deus, deve praticar o bem como Jesus. Mas
essas obras não convencem os contemporâneos de Jesus porque suas cabeças estão
cheias de “razoes”. Ao contrário, pegaram pedras para atirar em Jesus. Quem
atira pedras nos outros é porque tem um coração de pedra. Um coração de pedra
sempre machuca e fere os outros.
“O coração
do homem é como a mó de um moinho; se jogardes trigo, tereis farinha; se
jogardes pedras, tereis cascalho” (Fulton Sheen).
Jesus sofreu sua Paixão muito antes
da Sexta-Feira Santa. Ele viveu as ultimas semanas de Sua vida terrena rodeado
de inimigos que querem eliminá-lo para sempre deste mundo. Ele experimenta o
sofrimento moral e psicológico: ele é mal julgado pelas pessoas que deformam a
verdade. Tudo isto é doloroso.
Jesus sempre nos relembra que
somente os limpos de coração verão a Deus (cf. Mt 5,8). Se eu não estou
preparado para amar, se não há em mim um desejo sincero de conhecer Deus, não O
verei na minha vida e em outras pessoas, mesmo que tenha tantas evidências,
como aconteceu com os contemporâneos de Jesus. Que essa cegueira seja
temporária.
“Crede nas minhas
obras ”. “Olham para
minhas obras !”,
diz Jesus. A qualidade do homem , em certo sentido ,
se aprova pelas suas obras . Jesus demonstra ser enviado e Filho
de Deus com
as obras de amor
que realiza. As únicas coisas que
testemunham uma missão divina não são sequer as palavras (se não
quiserdes crer em
mim ) e sim
as obras . Santo
Agostinho dizia: “O homem não se torna bom por possuir coisas boas.
Ao contrário , o homem
bom torna
boas as coisas que
possui, ao usá-las bem ”. A própria pessoa que pratica as boas obras
pode até ficar
calada ou
estar em silêncio , mas
as obras gritam por
si e por
ele . Das obras
boas de Jesus devem deduzir a unidade
entre Ele
e o Pai (v. 38b). O Pai
e Jesus têm o mesmo objetivo :
dar vida ao homem : “Eu vim para que todos tenham vida
e a tenham em abundancia” (Jo 10,10).
O evangelho
de são João quer
explicar a seus
leitores quem
é realmente Jesus, em
nome de quem
vem e atua. Também quer
explicar-lhes porque as autoridades do seu
tempo chegaram a crucificar
Jesus: porque não
entenderam Suas palavras
nem interpretaram seus
gestos e seus
milagres (sinais ).
A bondade
é o preço de aluguel
que devemos pagar
pelo espaço que ocupamos neste planeta ,
pois o planeta
não é nosso
e sim é de Deus
que o recebemos de graça. Deus criou tudo pela pura
bondade e por amor à humanidade. O “preço” que devemos “pagar” é a bondade
praticada e o amor fraterno vivido diariamente.
O evangelho de hoje nos disse que
os contemporâneos de Jesus pegaram pedras para atirar em Jesus, o inocente e
justo. Que tipo de “pedras” que nós atiramos nos outros e que causaram
sofrimentos neles? Que tipo de pedras que recebemos dos outros e que nos
causaram sofrimento? O que fazemos com estas pedras? “Um monte de pedras
deixa de ser um monte de pedras no momento em que um único homem o contempla,
nascendo dentro dele a imagem de uma catedral” (Antoine de
Saint-Exupéry). “Um dos segredos da vida é fazer degraus com as pedras em que
tropeçamos” (Jack Penn).
P. Vitus Gustama,svd
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