DOMINGO DE RAMOS
A semana Santa é inaugurada pelo
Domingo de Ramos no qual são celebrados dois aspectos centrais do mistério
pascal: a vida ou o triunfo, mediante a procissão de ramos em honra de Cristo
Rei. O que importa nessa primeira parte não é somente o ramo bento e sim a
celebração do triunfo de Jesus. A segunda parte é a leitura da Paixão de Jesus
ou a morte de Jesus. Devido a dois aspectos que tem este dia o Domingo de Ramos
(rosto vitorioso) é chamado também de o “Domingo da Paixão” (rosto doloroso).
A procissão segue imediatamente a
Eucaristia. Do aspecto glorioso dos ramos passamos ao aspecto doloroso da
Paixão. Esta transição não se deduz somente do modo histórico em que
transcorreram os fatos e sim porque o triunfo de Jesus no Domingo de Ramos é
sinal de seu triunfo definitivo. Os ramos nos mostram que Jesus vai sofrer, mas
como Vencedor; vai morrer, mas para ressuscitar. Em outras palavras, o Domingo
de Ramos é inauguração da Páscoa ou passagem ou passo das trevas à luz, da
humilhação à glória, do pecado à graça e da morte à vida.
Jesus é saudado e aclamado como rei,
rei dos judeus. Mas ele usa um jumento na sua entrada triunfal em Jerusalém e
não um cavalo real ou um cavalo de guerra. Jumento é animal usado pelos pobres.
Por isso, Jesus é um rei diferente e o Messias humilde.
Jesus É Um Rei Diferente
Jesus é chamado e saudado como Rei dos judeus no
relato da Paixão. Mas Jesus é um rei diferente. O verdadeiro rei é aquele que
salva a vida do povo mesmo que, por isso, sacrifique a própria vida. O
verdadeiro rei é aquele que conquista os corações para Deus em vez de
dominá-los para o próprio interesse. O verdadeiro rei é aquele que liberta em
vez de dominar. O verdadeiro rei é aquele que protege e cuida dos outros. Jesus
é o rei que protege o necessitado, sustenta o fraco, visita e cura o doente e
ferido, e procura o perdido. Por isso, o reinado de Jesus é diferente. Não é um
reinado opressivo e tirânico; não se baseia na violência nem na exploração
social e econômica. É um reinado de misericórdia caracterizado pelo serviço
humilde e pela paz.
Por isso, ele não é bem aceito pela poderosa elite
local. O projeto libertador de Jesus entrou em choque com a atmosfera de
egoísmo, de má vontade, de opressão que dominava o mundo. As autoridades
políticas e religiosas sentiram-se incomodadas com a denúncia de Jesus: não
estavam dispostas a renunciar a esses mecanismos que lhes asseguravam poder,
influência, domínio, privilégios; não estavam dispostas a arriscar, a
desinstalar-se e a aceitar a conversão proposta por Jesus. Por isso, prenderam
Jesus, O julgaram e O pregaram numa cruz. A morte de Jesus é a conseqüência
lógica daquilo que Jesus pregou com palavras e com gestos: o amor, o dom total,
o serviço.
Por isso, celebrar a paixão e a morte de Jesus é
abismar-se na contemplação de um Deus a quem o amor tornou frágil… Por amor,
Ele veio ao nosso encontro, assumiu os nossos limites e fragilidades,
experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu a dureza das tentações,
experimentou a angústia e o pavor diante da morte; e, estendido no chão,
esmagado contra a terra, atraiçoado, abandonado, incompreendido, continuou a
amar. Desse amor resultou vida plena, que Ele quis repartir conosco “até ao fim
dos tempos”: esta é a mais espantosa história de amor que é possível contar;
ela é a boa notícia que enche de alegria o coração de qualquer pessoa.
Contemplar a cruz onde se manifesta o amor e a
entrega de Jesus significa assumir a mesma atitude que Ele assumiu e
solidarizar-se com aqueles que são crucificados neste mundo: os que sofrem
violência, os que são explorados, os que são excluídos, os que são privados de
direitos e de dignidade… Olhar a cruz de Jesus significa denunciar tudo o que
gera ódio, divisão, medo, em termos de estruturas, valores, práticas,
ideologias; significa evitar que os homens continuem a crucificar outros
homens; significa aprender com Jesus a entregar a vida por amor… Viver deste
jeito pode conduzir à morte; mas o cristão sabe que amar como Jesus é viver a
partir de uma dinâmica que a morte não pode vencer: o amor gera vida nova e
introduz na nossa carne os dinamismos da ressurreição.
Jesus É Um Messias Humilde
Jesus veio como o Messias humilde, simbolizado pelo
uso do jumento na sua entrada em Jerusalém. No patíbulo da cruz, a humildade
divino-humana de Jesus desmascara a escravidão culpável da arrogância. Todo o
drama da redenção é o caminho vitorioso da humildade magnânima de Jesus que nos
convida e nos torna aptos para o seu seguimento.
Pela virtude da humildade, Deus nos incute coragem
para reconhecer a verdade que engrandece e liberta (cf. Jo 8,32), ao mesmo
tempo, que nos faz perceber que a arrogância amesquinha e degrada o ser humano.
O olhar simples de uma fé humilde nos permite recordarmos a nossa criação do
nada, como pura graça, e participar na comunhão d’Aquele que é a origem de toda
a vida e de toda a felicidade. O olhar simples de uma fé humilde nos permite
reconhecermo-nos como pó, terra cuja salvação depende do Criador com a própria
colaboração humilde.
Daqui brota para nós aquela humildade forte e
corajosa que nos permite olharmos com serenidade para os nossos aspectos menos
claros e para o peso dos nossos pecados, sem nos esquecermos de louvar o poder
humilde, purificador e santificador de Deus.
Ser humilde é aceitar as próprias qualidades e os
defeitos. Ser humilde é aceitar os próprios limites e respeitar os próprios
limites e, ao mesmo tempo, aceitar o Infinito que está nesses limites. Quanto
mais sábia for uma pessoa, tanto mais humilde será. Um sábio tem consciência em
relação ao que não sabe. “Simular humildade é a maior das soberbas” (Santo
Agostinho). Ser humilde é ser você mesmo com suas qualidades e seus defeitos. O
orgulhoso, ao contrário, julga ser o que não é. O orgulhoso vive na ilusão em
relação a si mesmo. O orgulhoso tenta preencher sua carência com vaidade. E o
vaidoso é alguém inseguro, que tem necessidade de exagerar, de inventar
histórias para conferir consistência a seu ego. No fundo o orgulhoso e o
vaidoso são frutos de uma vida de angústia. São angustiados porque não se
aceitam como são. Não admitem seus limites e defeitos. Por isso, vivem na
ilusão. E o mundo cultiva o orgulho e por isso, que existe um número crescente
de angustiados.
Jesus é o Amor que se rebaixa até nós para nos
exaltar. Esta humildade real e divina que habita em Jesus nos enobrece e nos
oferece a incomparável dignidade de filhos e de filhas de Deus. Por isso, a
humildade em seu grau mais perfeito não está em ser pequeno, mas em fazer-se
pequeno para engrandecer os outros. De fato, Deus não é pequeno, mas faz-se
pequeno para salvar a humanidade por amor.
Hoje Jesus quer também entrar triunfante na vida dos
homens, em cada coração, em cada família, na sua família, e quer que demos
testemunho dele com a simplicidade do nosso trabalho bem feito, com a nossa
preocupação pelos outros, com nosso respeito pelos outros. Quer fazer-se
presente em nós através das circunstâncias do viver humano vividas na
simplicidade e na humildade. Deus criou tudo porque ele é generoso. E os mais humildes
costumam ser mais generosos. E a generosidade é uma forma de prolongar o ato
criador de Deus que criou tudo gratuitamente.
O homem humilde é ateu de si, é aquele que não se
considera deus; a humildade é o ateísmo de si mesmo. Que sejamos ateus de nós
mesmos para que Deus seja verdadeiro Deus na nossa vida.
P. Vitus Gustama,svd
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