DEUS NOS AMA
Quarta-Feira da II Semana da Páscoa
30 de Abril de 2014
Evangelho: Jo 3,16-21
16Deus amou tanto o mundo,
que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas
tenha a vida eterna. 17De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo
para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. 18Quem
nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, porque não
acreditou no nome do Filho unigênito. 19Ora, o julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens
preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más. 20Quem
pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não
sejam denunciadas. 21Mas quem age conforme a verdade aproxima-se da
luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus.
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“Deus amou tanto o mundo, que deu o seu
Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida
eterna” (Jo 3,16). Palavras profundas nas quais o nosso coração deve
abismar-se. Deus se dá a Si mesmo. Com Ele nos é dado tudo, pois Ele se dá a Si
mesmo. Deus se converte em dom para nós todos. É um dom de tal categoria que o
próprio dom nos concede a graça de recebê-lo. Somente na medida em que
reconhecermos isso, nós possuiremos aquilo que nos é dado.
“Deus amou tanto o mundo, que
deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a
vida eterna” (Jo 3,16).
Esta frase é uma síntese bíblica
que condensa todo o quarto Evangelho (Evangelho de João). O quarto Evangelho
foi escrito para que acreditemos em Jesus, oferta de amor e salvação de Deus
para a humanidade, e para que, crendo nele, tenhamos a vida em seu nome (cf. Jo
20,31). E esta oferta tem um motivo e uma finalidade e um meio. O motivo da
oferta é o amor apaixonado de Deus pela humanidade: “Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho único”. E a
finalidade desta oferta é a salvação da humanidade: “... para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”.
E o meio para que o amor de Deus chegue até a humanidade é a encarnação de Deus
em Jesus Cristo. Jesus é a manifestação tangível do amor do Pai (1Jo 4,9). O
objeto da fé em Jo é acreditar em um Deus que nos ama e que este Deus acampou
no meio de nós (Jo 1,14).
“Deus amou tanto o mundo, que
deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a
vida eterna” (Jo 3,16).
No vocabulário do cristianismo
primitivo essa maneira de falar está sempre em relação à cruz. É uma reflexão
sobre a morte na Cruz de Jesus por amor à humanidade. Nesta entrega do Filho
único há uma recordação do sacrifício que outro pai fez também de seu filho
único: Abraão (cf. Gn 22,2). Aquele sacrifício não chegou a realizar-se. O
cordeiro que substitui Isaac e se sacrifica sem resistência é este Cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo (cf. Jo 1,29). O Pai não envia o Filho para a
morte e sim para o cumprimento fiel de sua missão de revelar o amor de Deus,
Sua misericórdia sobre todos os homens, e a morte de Jesus na cruz é a
conseqüência desse amor levado até o fim (cf. Jo 13,1).
“Deus amou tanto o mundo, que
deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a
vida eterna” (Jo 3,16).
A partir desta frase sabemos quem é
Deus? Muitas definições foram feitas sobre Deus tanto a partir da filosofia
como da teologia em geral e outras disciplinas científicas e exatas, mas
nenhuma definição mais certa e curta do que a de São João: “Deus é amor” (1Jo
4,8.16). Esta frase é carregada de mistério e de promessa, toda nossa história.
É a frase nuclear e radiante. Esta frase, ao meditá-la e vivê-la no dia-a-dia,
tem a capacidade de manter a esperança no mundo e tem uma força tremenda para o
homem continuar sua luta pela dignidade, pois o amor é a ultima palavra da
vida. “O Amor é a nossa origem. O Amor é o chamado constante na vida. O Amor é
a plenitude da vida. No entardecer da nossa vida seremos julgados no amor”
(Santo Agostinho).
A resposta para o porquê da
criação, da encarnação e da redenção é o amor de Deus por todos nós. Toda a
atividade de Deus é uma atividade amorosa. Se cria, Ele cria por amor; se
governa as coisas, o faz no amor; quando julga, julga com amor. Tudo quanto faz
é expressão de sua natureza, e sua natureza é amar. Amar é dar-se a si mesmo. O
plano de salvação não tem outro fundamento que o incompreensível amor de Deus
por nós todos e por cada um de nós em particular. Por amor anda Deus em nossa
busca pelos caminhos do mundo. É um Deus que não tem medo de sacrificar até o
próprio Filho para resgatar todos nós, pecadores e perdidos, por amor. O homem
nenhum na face da terra sacrificaria seu próprio filho para resgatar os outros.
Somente o Deus apaixonado por nós todos.
Deixar de olhar para Deus que se
encarna em Jesus será para nós uma perdição eterna e será para nós uma
infelicidade sem fim. Levado por seu amor, Deus salta o abismo que nos separava
dele e se aproxima de nós para nos dar o que mais quer: seu “único Filho”. Mais
ainda, entregou seu único Filho à morte para que todos nós tenhamos vida. E
esta vida dada para nós gratuitamente se renova em cada Eucaristia para que
sejamos um dom para os outros; para que façamos o bem também para os outros.
Jamais um cristão pode fazer o mal ou ser cúmplice do mal.
O melhor comentário para este texto
de Jo 3,16 é a primeira carta de São João 4,18-21: “No amor não há temor.
Antes, o perfeito amor lança fora o temor, porque o temor envolve castigo, e
quem teme não é perfeito no amor. Mas amamos, porque Deus nos amou primeiro. Se
alguém disser: Amo a Deus, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que
não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê. Temos de
Deus este mandamento: o que amar a Deus, ame também a seu irmão”. Será que amamos realmente a Deus no próximo?
(cf. Jo 15,12).
A Paixão e morte de Jesus Cristo é
a manifestação suprema do amor de Deus pelos homens. Deus é amor, amor que se
difunde e se prodiga; e tudo se resume nesta grande verdade que tudo explica e
o ilumina. É necessário ver a história de Jesus sob esta luz. “Ele me amou e
sacrificado por mim”, escreveu São Paulo (Gl 2,20). Cada um precisa repetir
esta frase a si mesmo. O amor de Deus por nós culmina no sacrifício do
Calvário. A entrega de Cristo constitui uma chamada estimulante e apressada
para corresponder a esse amor: amor com amor se paga. O homem foi criado à
imagem e semelhança de Deus (Gn 1,27), e Deus é amor (1Jo 4,8.16). Por isso, o
coração do homem está feito para amar e quanto mais se ama, mais se identifica
com Deus e somente quando ama, o homem pode ser feliz.
Num mundo acostumado ao comércio,
ao preço das coisas, é difícil entender a gratuidade, é difícil entender a ação
de Deus que quer dialogar, amar com liberdade a todos, oferecendo a
oportunidade de salvação, graça e vida. Nós, na nossa vida cotidiana, damos uma
parte de nossa vida, enquanto Deus dá tudo para a humanidade. Por isso, quando
ele pedir do homem, Deus não pede muito do homem, mas pede tudo do homem.
“Deus não enviou o seu Filho ao
mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele”. Segundo o Evangelho de João, o cristão não tem
que ter medo do juízo último, pois o juízo não é algo externo e sim dentro do
próprio homem. O cristão sabe que o juízo está nele e depende de sua própria
escolha. A partir de Deus tudo é governado por amor. E a partir do homem?
P. Vitus Gustama,svd
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