segunda-feira, 21 de abril de 2014


O SENHOR QUER ABRIR NOSSA INTELIGÊNCIA E DAR A PAZ

Quinta-Feira da I Semana da Páscoa
 24 de Abril de 2014


Evangelho: Lc 24,35-48

Naquele tempo, 35os discípulos contaram o que tinha acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão. 36Ainda estavam falando, quando o próprio Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: “A paz esteja convosco!” 37Eles ficaram assustados e cheios de medo, pensando que estavam vendo um fantasma. 38Mas Jesus disse: “Por que estais preocupados, e por que tendes dúvidas no coração? 39Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede! Um fantasma não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho”. 40E dizendo isso, Jesus mostrou-lhes as mãos e os pés. 41Mas eles ainda não podiam acreditar, porque estavam muito alegres e surpresos. Então Jesus disse: “Tendes aqui alguma coisa para comer?” 42Deram-lhe um pedaço de peixe assado. 43Ele o tomou e comeu diante deles. 44Depois disse-lhes: “São estas as coisas que vos falei quando ainda estava convosco: era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”. 45Então Jesus abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras, 46e lhes disse: “Assim está escrito: o Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia 47e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. 48Vós sereis testemunhas de tudo isso”.
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A cena do texto do evangelho lido neste dia é continuação da cena do evangelho do dia anterior. O relato começa com o testemunho dos discípulos de Emaús, isto é, aqueles que em sua trajetória viveram a experiência pessoal do encontro com o Senhor ressuscitado no caminho e na fração do pão. É a experiência que enche seus corações e os impulsiona a anunciarem ou contarem a grande noticia de que Jesus vive e vive realmente. A experiência é tão intensa a ponto de eles não conseguirem segurá-la só para si, mas eles têm pressa de contá-la ou de partilhá-la com os outros discípulos que se encontram em Jerusalém. A graça de Deus não admite demora, igual à sede que tem pressa para ser saciada.    
       
            
Durante a partilha dessa experiência, Jesus aparece no meio deles e os saúda com o Shalom (paz): “A paz esteja convosco!”. Shalom para os judeus é um desejo que tudo esteja bom na vida para quem esse desejo é endereçado. A tradução mais ou menos completa para a língua portuguesa do termo “shalom” é “tudo de bom em tudo”.


Em que consiste a paz que Jesus nos oferece? A paz que o Senhor ressuscitado nos oferece não consiste na tranqüilidade que se sente quando um está plácido e comodamente está sentado ou vive sem que ninguém ou nada o incomode. A paz de Cristo ressuscitado que nos oferece consiste em saber que somos amados até o fim (cf, Jo 13,1; 3,16), amparados e compreendidos por Deus (cf. Jo 14,18). Além disso, precisamos conscientes de que Jesus não nos promete a paz, mas nos dá a paz (cf. Jo 14,27). Trata-se de um dom para a humanidade. Por isso, é preciso receber a paz dada por Cristo com o coração aberto.


Mas receber a paz de Deus não é suficiente para um cristão. Quando a paz começar a se instalar no nosso coração, seremos instrumentos da paz para os outros; seremos pessoas de paz, e resolveremos tudo na paz de Cristo. Nossa verdadeira união com Deus nos leva a nos unirmos aos irmãos na paz de Cristo. A discórdia acontece quando dois corações não estão de acordo ou não se entendem nem se compreendem. É sinal de que o Príncipe da paz está excluído de nosso coração. Em nome do Ressuscitado devemos viver e proclamar este shalom para o mundo a fim de que todos voltem a conviver como filhos e filhas de Deus e a receber o Seu perdão. Dizia Santo Agostinho: “Não basta ser pacifico. É necessário ser promotor da paz. Não basta estar disposto a perdoar ou ignorar os inimigos, é preciso amá-los e ter compaixão... Deves amar a paz sem odiar os que fazem a guerra” (Serm. 357,1).


Na Eucaristia o Senhor se faz presente entre nós para nos manifestar todo o amor que ele nos tem. A partir desse amor é que Ele nos concede seu perdão e sua paz. Ao participar da Eucaristia, nós devemos nos sentir amados por ele. E a participação na Eucaristia nos compromete a darmos testemunho da vida nova que Deus infundiu em nós. Somos chamados e enviados a ser construtores da paz (shalom). Trata-se de uma paz que brota do amor sincero que nos faça próximos do nosso próximo em suas angustias e esperanças.


O evangelista nos relatou que Jesus ressuscitado apareceu no meio dos discípulos que estavam conversando sobre Jesus (a partilha dos dois discípulos de Emaús), mas dentro ainda do clima de medo. Jesus já tinha prometido aos discípulos: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou Eu no meio deles” (Mt 18,20). Jesus deve ter lugar central na nossa vida e nos nossos trabalhos para que tudo ocorra bem. Cada conversa sobre Jesus e assuntos ligados a ele, Jesus está presente para dar o shalom, a paz e para acalmar qualquer situação por fervente que ela pareça ser. Ele está presente para dar Sua ajuda em cada conversa sobre ele e sobre os seus ensinamentos. Jesus aparece no momento em que a experiência individual começa a ser coletiva, comunitária em Jesus, sem destruir a experiência pessoal/individual. O Ressuscitado é a força que interpela à comunidade e é experiência de unidade. Por isso, desta vez, Jesus é reconhecido na comunidade reunida em Seu nome.


A dúvida e o medo dos discípulos são evidentes, como em todas as aparições do Ressuscitado. E Jesus tem que acalmá-los: “Por que estais preocupados e por que tendes dúvidas no coração?”. Para acabar com a dúvida dos discípulos Jesus come com eles. Isto significa que a comunidade tem algo para oferecer a Jesus, é algo que os alimenta diariamente: o peixe: “Tendes aqui alguma coisa para comer?”, pergunta-lhe Jesus. “Deram-lhe um pedaço de peixe assado”, comenta o evangelista Lucas.


Vamos fazer um pouco do exame de consciência. Será que temos algo a oferecer a Jesus ou somente pedimos algo de Jesus? O que devemos oferecer a Jesus e de que maneira podemos oferecer algo a Jesus? Jesus quer receber algo de nós nos pequeninos irmãos, nos irmãos necessitados com os quais Ele se identifica (cf. Mt 25,40.45).


O fruto da presença de Jesus no meio dos discípulos que conversam sobre ele é a abertura do entendimento, o horizonte ampliado sobre a vida: “Jesus abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras”, assim comenta o evangelista Lucas. Em outras palavras, Jesus abriu a mente dos discípulos.


A mente é um lugar de grande armazenamento e ali onde as mudanças devem começar primeiro, e onde o homem deve eliminar todos aqueles conceitos que prejudicam sua vida e sua convivência. Tudo começa na cabeça do homem. Jesus começa a renovar seus discípulos a partir de suas cabeças, a partir de sua inteligência: “Jesus abriu a inteligência dos discípulos...”.  Nossa capacidade de inovação que nos leva à criatividade e superação nos permitirá que conquistemos tudo que empreendemos. As pessoas renovadas costumam dizer a si mesmas: “Quero mais”, “Vou melhorar naquela parte...”, “Vou um pouco mais”, “Vou estudar mais para superar mais limites existentes”, “Vou estender mais meu horário”. O que identifica e diferencia uma pessoa de sucesso das demais pessoas é sua capacidade de sempre ir além, de estender sua hora ou seu dia. Por isso, ela sempre se destaca na multidão. As pessoas de sucesso sempre renovam e desafiam seus pensamentos a cada manhã.


Deixar Jesus ser centro de nossa vida, de nosso trabalho nos ajuda a entendermos melhor tudo no Espírito do Senhor, pois Jesus é Aquele que renova tudo em nós.


Nós podemos também reconhecer Jesus na fração do pão eucarístico, na Palavra bíblica proclamada, meditada e partilhada, e na comunidade reunida em Seu nome partilhando o que se tem para quem é carente em tudo. Nós necessitamos, como a primeira comunidade, de uma catequese especial para que seja aberto nosso entendimento a fim de entendermos a vida e as coisas que acontecem nela, pois nada escapa do olhar de Deus quando deixamos que ele tenha espaço nas nossas conversas e quando seu lugar está bem no meio de nós. Em cada Eucaristia ele aparece no meio de nós e é o principal alimento no qual se encontra a força necessária para nossa vida. Ao se alimentar da Eucaristia, cada um deve se converter em força para os outros, especialmente para aqueles que não têm mais ânimo para lutar, pois estão céticos em tudo e sobre tudo na vida. Estas pessoas precisam escutar novamente a promessa infalível de Jesus: “No mundo vocês terão tribulações, mas tenha coragem: eu venci o mundo” (Jo 16,33b). Cada cristão deve se converter nesta frase: “Não tenha medo! Jesus venceu o mundo”. O cristão é aquele que acalma e serena os outros, pois ele sabe que está sempre com o Jesus ressuscitado.


Com os olhos da fé na Fração do Pão e na força de sua Palavra é que saiamos da celebração para dar testemunho de Cristo na vida. Aos Apóstolos, a ultima palavra que lhes dirige é esta: “Vós sereis testemunhas de tudo isso”. Desde princípio, ser apóstolo é ser testemunha da ressurreição de Jesus Cristo (At 1,22). Ser cristão é ser testemunha de que viver a vida com Deus e com todas as suas conseqüências é uma vida vitoriosa, uma vida que não termina na morte, e sim na ressurreição com Jesus. Deus pode tardar, mas nunca falha. Atrás da cruz de Jesus está a vida sem fim. Precisamos ter um olhar penetrante além dos sentidos para entender o recado de Deus.


Pedimos permanentemente ao Senhor que abra nossa inteligência a cada manhã para que possamos viver com sabedoria diariamente.

P. Vitus Gustama,svd

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