HIPOCRISIA E DIGNIDADE HUMANAE
VIVER NA VERDADE E NA DIGNIDADE AFASTA A HIPOCRISIA
Terça-Feira Da XXVIII Semana
Comum
14 de Outubro de 2014
Evangelho: Lc 11,37-41
Naquele tempo, 37
enquanto Jesus falava, um fariseu convidou-o para jantar com ele. Jesus
entrou e pôs-se à mesa. 38 O fariseu ficou admirado ao ver que Jesus não
tivesse lavado as mãos antes da refeição. 39 O Senhor disse ao fariseu:
“Vós, fariseus, limpais o copo e o prato por fora, mas o vosso interior está
cheio de roubos e maldades. 40 Insensatos! Aquele que fez o exterior não
fez também o interior? 41 Antes, dai esmola do que vós possuís e tudo
ficará puro para vós”.
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O texto do evangelho de hoje nos
apresenta a questão sobre a purificação (ato de se tornar puro). E os fariseus
davam máxima importância ao cumprimento dos preceitos e ritos da purificação. Sem relação direta com a moralidade, a pureza
assegura a aptidão legal para alguém poder participar do culto (cf. Lv 11-16). A
pureza cultual inclui a limpeza física. Antes de comer, por exemplo, os
comensais devem lavar as mãos (cf. Mc 7,2). Este rito faz parte da limpeza física
para se afastar do que é sórdido ou das imundícies (cf. Dt 23,13ss). A maior
parte das impurezas são apagadas pela ablução do corpo ou das vestes (cf. Ex
19,10; Lv 17,15s), ou por sacrifícios expiatórios (cf. Lv 12,6s).
A partir desse conceito (sobre a
pureza) vem a pergunta: quem é puro perante Deus? Para os fariseus , os puros são
aqueles que guardam os preceitos de purificação cultual; aqueles que limpam a
parte externa dos pratos e dos cálices.
“Vós fariseus, limpais o copo e o
prato por fora, mas o vosso interior está cheio de roubos e maldades”, assim
Jesus disse aos fariseus. Os fariseus se importam com o exterior e não com o
interior da pessoa. Eles se descuidam da pureza da consciência. Trata-se de uma
vida na aparência, de uma vida incoerente. A maneira de viver assim é conhecida
como hipocrisia. Os fariseus são chamados de insensatos por Jesus.
“Insensatos! Aquele que fez o
exterior não fez também o interior?”. Deus só dá importância para a
pureza ética que Jesus prega para todos. Quando a consciência estiver livre da
injustiça e de qualquer atitude imoral, então o homem ou a mulher fica puro
diante de Deus. Todo mandamento de Deus se refere à relação ética e ao amor
fraterno. A partir da vida ética e da convivência fraterna é que se joga e se
julga a fidelidade daquele que se diz crente.
É importante ter a pureza do coração
para podermos ver Deus em suas obras e para ver o outro como irmão, irmã,
filhos e filhas de Deus. Uma coisa que não nos ajuda a crescermos na santidade
e na fraternidade é maximizar o que não é importante e minimizar o que é
importante. Hoje em dia, como no tempo de Jesus, muitos dão muita importância
para a exterioridade. Das coisas verdadeiramente importantes, edificantes e
dignificantes dependerá nossa vida moral.
“Antes, dai esmola do que vós
possuís e tudo ficará puro para vós”. Para Jesus a pureza interior é
adquirida ou alcançada através da esmola e das obras de caridade. O coração se
torna puro através da vivencia fraterna que inclui a ajuda aos necessitados. O amor
fraterno torna puro o coração humano. o coração é puro quando o amor fraterno é
vivido. Como diz São Paulo aos romanos: “A caridade é o pleno cumprimento
da lei” (Rm 13,10). Por isso, Santo Agostinho dizia: “Ama e faze o
que quiseres” (In epist. Ad Gal. 57,6,1). A glória da vida consiste
em amar, perdoar, dar, servir e assim por diante.
A maneira de viver dos fariseus que
se preocupam apenas com o exterior é uma maneira de viver como hipócrita. A palavra
hipócrita designava no mundo grego antigo o ator que, com uma máscara e um
disfarce, assumia uma personalidade alheia. O ator representa um papel, não o
que ele é inteiramente. É apresentação sem representação. Fingia diante do
público ser outra pessoa freqüentemente sem nada a ver com a sua própria
personalidade, porque trabalhava para a platéia. Ele não vivia sua própria
identidade.
Todo hipócrita é exibicionista. Na
verdade, um exibicionista é uma pessoa de personalidade superficial, fútil e
sem sólidos ideais. Ele vive mendigando louvores e os procura de todas as
maneiras. Ele se preocupa mais em ostentar do que em ser alguma coisa. Sua
preocupação é colocar-se em evidência, ser notado, elogiado. Tudo o que ele faz
é na perspectiva de algum louvor. Ele considera bons ou maus os seus atos não
por estarem de acordo ou não com as normas éticas, mas por serem capazes ou não
de atrair a atenção e despertar admiração.
Segundo o Evangelho de hoje
hipócrita é aquele que vive só na aparência e longe da verdade. É aparentar ser
bom, sem sê-lo. É uma incoerência de vida. É uma duplicidade, um fingimento.
Ele extremamente se apresenta como um homem religioso, alguém que faz questão
de proferir palestras bonitas sobre o amor, sobre a paz, sobre o respeito para
com os outros, quando ninguém o vê viver assim. É aquele que vive de etiqueta,
mas continua pagando dívidas sem fim.
A hipocrisia, que tenta esconder
atrás da fachada limpa a podridão interior, não convém ao cristão que é chamado
a viver e proclamar publicamente a palavra recebida de Jesus. O Senhor quer que
tenhamos diante d’Ele e diante dos outros uma única vida, sem disfarces e
mentiras, pois n’Ele mesmo encontramos a plenitude da unidade de vida, a mais
profunda união entre as palavras e as obras. A verdade é sempre um reflexo de
Deus e deve ser tratada com muito respeito. Ao buscar sempre a verdade, fugindo
da duplicidade ou da hipocrisia, o cristão se torna uma pessoa honrada e
respeitada. A falta de veracidade que se manifesta na mentira ou na hipocrisia
ou na falta de unidade de vida, revela uma discórdia interior. Por isso, o
Senhor diz no Sermão da Montanha: “Seja o vosso Sim, sim e o vosso Não, não. O
que passa disso vem do Maligno” (Mt 5,37).
A dignidade da pessoa humana não
consiste em parecer bom, mas em ser bom. O verniz encobre o mal, mas não o
suprime. O hipócrita não percebe que tudo que vem de fora não atinge o seu
interior e que essa satisfação proveniente da aprovação dos outros é efêmera,
superficial e inútil.
Se deixarmos crescer o medo de ser
nós mesmos, acabaremos não sabendo quem nós somos. Nunca seremos autenticamente
nós enquanto estivermos subordinados à opinião e às expectativas dos outros. A
nossa riqueza consiste em que sejamos nós mesmos e não em que nos pareçamos com
os outros ou com o que os outros esperam de nós. Os homens verdadeiros e
autênticos podem ser aplaudidos ou condenados, amados ou odiados, mas sempre
despertam nossa admiração.
P. Vitus Gustama,svd
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