Sexta-Feira Da XXVIII
Semana Comum
FESTA DE SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA
Evangelho: Lc 12,1-7
Naquele tempo, 1 milhares
de pessoas se reuniram, a ponto de uns pisarem os outros. Jesus começou a
falar, primeiro a seus discípulos: “Tomai cuidado com o fermento dos fariseus,
que é a hipocrisia. 2 Não há nada de escondido que não venha a ser
revelado, e não há nada de oculto que não venha a ser conhecido. 3 Portanto, tudo o que tiverdes dito na escuridão,
será ouvido à luz do dia; e o que tiverdes pronunciado ao pé do ouvido, no
quarto, será proclamado sobre os telhados. 4 Pois bem, meus amigos, eu vos digo: não tenhais medo daqueles que matam o
corpo, não podendo fazer mais do que isto. 5 Vou mostrar-vos a quem
deveis temer: temei aquele que, depois de tirar a vida, tem o poder de
lançar-vos no inferno. Sim, eu vos digo, a este
temei. 6 Não se vendem cinco pardais por uma pequena quantia? No
entanto, nenhum deles é esquecido por Deus. 7 Até mesmo os cabelos de
vossa cabeça estão todos contados. Não tenhais medo! Vós valeis mais do que
muitos pardais”.
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I. SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA
(+ cerca de 110)
No dia 17 de outubro a Igreja
celebra a festa de Santo Inácio de Antioquia. Ele é bispo de Antioquia no
começo do século II, no momento em que a Igreja tem 50 anos de existência. Sob
o imperador Trajano da Síria (85-117) ele foi preso e condenado às feras na
arena em Roma. Durante a travessia a Roma, ele escreveu sete cartas: quatro de
Esmirna dirigidas às Igrejas de Éfeso, Magnésia e Trales, na Ásia menor e três
de Trôade. Em seguida escreveu aos romanos. Quem lê a carta dele aos Romanos aí
encontra um dos testemunhos mais comoventes da fé, o grito do coração, que não
pode enganar nem ser enganado, que comove porque diz a verdade.
Ele possui senso humano e respeito
ao homem. Ele escreveu: “A dificuldade não está em amar os homens todos, mas em
amar cada um deles; e em primeiro lugar, o pequeno, o fraco, o escravo, aquele
que nos magoa ou que nos faz sofrer. Amar suficiente homens para corrigi-los
sem feri-los”.
Ele conquistou o domínio de si a
custa de paciência, palavra que lhe é querida e que o caracteriza e chegou ao
amadurecimento que muda sua lucidez em vigilância, sua força em persuasão, sua
caridade em delicadeza. À vaidade ele opõe a humildade, às blasfêmias a
exortação, aos erros a firmeza da fé, à arrogância uma educação sem falha. Ele
não dá ordens, mas prefere convencer. Não precipita nada, mas acha melhor
esperar. Ele transforma sua crítica em humildes sugestões.
Inácio não tem outra paixão senão a
de imitar o Cristo. Para ele só importa uma coisa: alcançar Deus: “Como é
glorioso ser um sol poente, longe do mundo, em direção a Deus. Que eu me possa
levantar em sua presença”.
Sobre a eucaristia ele escreveu: “Em
mim já não existe atração pela matéria; só há uma água viva que murmura dentro
de mim dizendo-me: Vem para o Pai. Não encontro mais prazer no alimento
corruptível nem nas alegrias desta vida; o que desejo é o Pão de Deus, este Pão
que é a carne de Jesus Cristo, o Filho de Davi; e, como bebida, quero o Seu
Sangue, que é o amor incorruptível”. E acrescentou: “Não ofereçais ao mundo
quem deseja ser de Deus, não o enganeis com a fascinação da matéria. E não
sejais dos que invocam Jesus Cristo mas desejam o mundo”
Inácio não tem outra paixão senão a
de imitar o Cristo: “Que nada de visível ou de invisível me impeça de alcançar
Cristo. Que todos os tormentos do demônio se desencadeiem sobre mim, contanto
que eu alcance o Cristo... Para mim, é mais glorioso morrer pelo Cristo do que
reinar até os limites extremos da terra. E a ele que busco, ele, este Jesus que
morreu por nós. É ele que eu quero, ele que ressuscitou por nossa causa. Neste
momento é que começarei a viver”.
A todas as comunidades ele recomenda
a caridade e a fé: “A fé é o princípio, a caridade, a perfeição. A união das
duas é o próprio Deus; todas as outras virtudes formam o seu cortejo, para
conduzir o homem à perfeição”.
E diante do seu martírio iminente
ele escreveu: “Deixai-me ser pasto das feras, pelas quais chegarei a Deus. Sou
o trigo de Deus e sou moído pelos dentes das feras para tornar-me o pão puro de
Cristo. Para mim, é melhor morrer para ir ao encontro de Cristo Jesus do que
reinar sobre as extremidades da terra. É a ele que procuro, ele que morreu por
nós; é a ele que quero, ele que ressuscitou por nós. Meu nascimento
aproxima-se...Permiti que eu seja um imitador da paixão de meu Deus...Meu desejo
terreno foi crucificado e já não há em mim ardor para amar a matéria, mas uma
água viva que murmura em mim e que diz no meu interior: Vem para o Pai...”.
Ele foi o primeiro a empregar a
expressão “Igreja Católica” numa carta que escreveu aos cristãos de Esmirna
pelo ano 110 em que diz: “Onde está o Bispo, aí deve estar a multidão dos
crentes; assim como onde está Jesus Cristo, aí está a Igreja Católica”(Ad
Smyr.8,2). A expressão “Igreja Católica” não se encontra na Bíblia; a idéia,
porém, que Jesus Cristo e os Apóstolos nos dão da Igreja está bonissimamente
expressa no vocábulo grego “católica” que significa “universal”.
“O martírio de S. Policarpo” (155)
emprega a expressão “Igreja Católica” em três passagens diferentes
(8,1;16,2;11,2).
No princípio do século III já era
evidente o sentido dogmático da palavra “católica”; a verdadeira Igreja é a
Igreja chamada “católica”. Tertuliano quando fala da Igreja, chama-lhe
“católica”. Outros padres da Igreja como Clemente de Alexandria, Orígenes citam
também este vocábulo. Santo Agostinho emprega a palavra “católica” 240 vezes
como sinônimo da Igreja.
Que este santo nos interceda para
que tenhamos o espírito de desprendimento, de maturidade, de caridade e fé
inabalável diante de qualquer desafio e dificuldades e que saibamos testemunhar
tudo isso.
II. Evangelho: Lc 12,1-7
Com este capítulo do seu evangelho
(Lc 12,1-48) o evangelista Lucas volta a falar sobre as instruções de Jesus
para seus discípulos (Lc 9,51-13,21), conhecidas como Lições do Caminho, pois
são dadas no Caminho para Jerusalém onde Jesus será crucificado e ressuscitado.
Com essas lições Jesus vai preparando os discípulos para a vida e missão
pós-pascal (cf. Lc 24,45-49; At 1,8). E para a comunidade de Lucas essas
instruções servem como um ideal de vida de discipulado.
Neste capitulo 12 Lucas coloca
algumas atitudes que devem caracterizar a comunidade dos discípulos, tais como:
confiança em Deus em qualquer momento, pois em Deus está o alicerce verdadeiro
para sua existência; coragem diante de qualquer ameaça da perseguição ou da
repressão violenta e transformar tudo isso em momento de testemunho; liberdade
do medo; pobreza, isto é, não se deixar dominar pelos bens materiais, pois sua
verdadeira segurança está em Deus; e vigilância responsável, pois os discípulos
são homens abertos para o futuro, isto é, viver sem jamais perder perspectivas
em qualquer momento e idade. A esperança nos chama a caminhar sem perder o
horizonte que só terminará em Deus.
“Tomai cuidado com o fermento dos
fariseus, que é a hipocrisia”, alerta Jesus aos discípulos.
A hipocrisia é o pecado típico do
fariseu (cf. Lc 11,42-44). Hipócrita é permanecer nas trevas, ocultar-se na
escuridão. Hipócrita é ser ator de uma peça sem nada a ver com sua própria
personalidade ou vida. Hipócrita é resistir ao testemunho; é fazer ouvidos
surdos à voz de Jesus Cristo. Hipócrita é aquele que, simulando virtudes,
nobres sentimentos e boas qualidades, engana os outros no intuito de conquistar
a estima deles. Seu objetivo é obter louvores por uma virtude que não possui.
Ele atraiçoa a verdade. Ele é incapaz de confessar sua perversidade interior e
corrigi-la, pois ele sempre se refugia na simulação de possuir virtude. Ele não
se preocupa em ser bom, mas em ser admirado por alguma virtude que na realidade
não possui. Se não tivermos bastante discernimento e capacidade em fazer uma
leitura com tranqüilidade de suas atitudes e palavras, facilmente cairemos na
tentação de acreditar nele. É preciso confiar desconfiando. É preciso
questionar o questionável, perguntar o perguntável para não se precipitar em
nada a fim de não pagar caro, mais tarde, por uma atitude não pensada.
Desconfie qualquer facilidade prometida.
O discípulo de Jesus, cada cristão,
deve proceder sem duplicidade nem mentira. Se alguém contar uma mentira, ele
será forçado a contar outras mentiras para apoiar a primeira. A conduta do
discípulo deve ser sempre franca, mas sem grosseria, pois a franqueza ou
sinceridade mal-empregada se transforma em grosseria; a verdade dita sem
caridade pode ter resultado contrário. O cristão deve ser transparente como
quem trabalha à luz do dia. Toda sua palavra, toda sua ação deve ser sempre um
testemunho público e não para enganar. O discípulo de Jesus, cada cristão é o
amigo de Jesus. De Jesus ele recebe confidências e coisas profundas sobre Deus:
“Chamei-vos de amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai”
(Jo 15,15). Comigo Jesus não tem segredos. Comigo Jesus só fala da verdade, a
verdade que liberta (cf. Jo 8,32). Como amigo de Jesus compartilharei também
com ele até mesmo sua sorte: perseguição, morte, e ressurreição (cf. Jo
15,18-21; 16, 1-4; 1Jo 3,13).
Se Jesus me revelou tudo sobre o
Pai, então eu preciso ser um amigo fiel de Jesus sem medo. O único temor que eu
devo ter é o temor de Deus, pois só Deus pode ter a ultima palavra sobre a
minha vida e meu destino final: “Não há nada de escondido que não venha a
ser revelado, e não há nada de oculto que não venha a ser conhecido”. A
história pessoal, íntima, e a história comunitária estão nas mãos de Deus. Eu
preciso segurar na mão de Deus e seguir adiante, pois eu estou caminhando para
o futuro de Deus que já comecei no presente ainda que os caminhos de Deus,
muitas vezes, sejam incompreensíveis para a sabedoria humana: “Pois os meus
pensamentos não são os vossos pensamentos, e vossos caminhos não são os meus —
oráculo do Senhor. Pois tanto quanto o céu acima da terra, assim estão os meus
caminhos acima dos vossos e meus pensamentos distantes dos vossos” (Is
55,8-9).
P. Vitus Gustama,svd
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