PAI-NOSSO
REZAR O PAI NOSSO É VIVER
A VIDA DE UMA MANEIRA NOVA
Quarta-Feira da XXVII Semana Comum
08 de Outubro de 2014
Evangelho: Lc 11, 1-4
1 Um dia, Jesus estava rezando num
certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor,
ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos”. 2 Jesus
respondeu: “Quando rezardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o teu nome. Venha o
teu Reino. 3 Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos, 4 e perdoa-nos os
nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não
nos deixes cair em tentação”.
_________________
Continuamos a caminhar ao lado do
Senhor na Sua viagem para Jerusalém ouvindo suas ultimas e importantes lições
para nossa vida como seus seguidores (Lc 9,58-19,28). Hoje Ele nos ensina a
rezarmos como filhos e filhas diante de Deus como nosso Pai comum. Para Lucas,
rezar é um compromisso de vida, uma maneira de ser. Por isso, a oração de
Jesus, o Pai Nosso, é uma aceitação incondicional da vontade do Pai celeste. O
Pai Nosso é a oração dos filhos.
No texto do evangelho do dia
anterior (Lc 10,38-42) Jesus disse a Marta que ela estava agitada
demasiadamente. O mundo moderno se parece com Marta: vive na agitação. Por
estar na agitação acaba não conhecendo ninguém e o essencial na vida. É a perda
do foco essencial. Quem corre demais
acaba não ouvindo o grito de alguém à beira de uma estrada.
Lucas nos relatou que Jesus estava
rezando. Ele saiu do mundo de agitação para o mundo de serenidade a fim de
encarar tudo na serenidade, inclusive a cruz fruto de sua fidelidade à vontade
do Pai. Jesus reza porque necessita viajar ao centro de sua experiência filial,
porque necessita respirar o carinho de seu Abba, Papaizinho celeste. O centro
de Jesus é o Pai celeste. E do centro Jesus se conecta com tudo e com todos.
Viajar ao centro que é Deus é viajar ao santuário de nossa identidade, onde nos
descobrimos de um modo novo. Por isso, orar é como respirar. Orar é viver a
vida de uma maneira nova. A vida, antes de ser vivida, precisa ser rezada.
Rezar
significa abrir-se para Deus. Nossa vida não pode estar centrada em nós mesmos
ou só nas coisas deste mundo. Rezar é saber escutar a Palavra d’Aquele que é
maior do que nosso cérebro e dirigir-lhe, pessoal e comunitariamente nossa
palavra de louvor e de súplica com confiança de filhos. A oração é mais do que
recitar umas fórmulas, é, sobretudo, uma convicção íntima de que Deus é nosso
Pai e que quer nosso bem. A oração nos situa diante de Deus e nos faz
reconhecer tal como somos já que somos criados à imagem de Deus. A oração vai
nos descobrindo o que temos de ser em cada momento. A oração nos humaniza,
faz-nos mais humanos, mais criaturas, e não criadores. Se não rezarmos é
impossível que nos conheçamos a fundo, porque não saberemos o que poderíamos
ser, não saberemos até onde vamos. A oração nos possibilita dizermos em
profundidade o que somos, o que pensamos e o que vivemos e para onde vamos.
Quando Jesus terminou sua oração,
um dos discípulos pediu a Jesus: “Senhor, ensina-nos a rezar...”. Em outras palavras:
Como devemos rezar e o que devemos pedir.
A resposta de Jesus sobre como
devemos rezar é esta: “Quando orardes, dizei: Pai...”. A oração, segundo
Jesus, é um trato do tipo “Pai-Filho”. Trata-se de um assunto familiar baseado
em uma relação de familiaridade e amor. Todos nós, para Jesus, somos filhos e
filhas de Deus, independentemente de nossa maneira viver. Os filhos de cada família
neste mundo são muito mais filhos de Deus do que de cada família, pois vieram
de Deus através de cada família para que ela cuide bem deles. Um dia eles voltarão
para o Pai comum que é Deus. Na educação dos filhos, o Pai comum que é Deus
deve ser contado para que os filhos possam crescer na graça e na sabedoria
diante de Deus e diante dos homens a exemplo de Jesus Cristo (cf. Lc 2,52). Maria
(e José) na educação de Jesus contava com Deus. Maria, a mãe do Senhor, foi uma
grande educadora, pois “Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante
de Deus e dos homens” (Lc 2,52).
“Quando orardes, dizei: Pai...”.
“Pai” ou “filho” é um conceito de relacionamento. Quando alguém chama o outro
de pai, porque ele se reconhece ou se considera filho. Deus é chamado de “Abba”,
que significa “Papaizinho” ou “Pai querido”. Acentua-se uma afetuosa relação. Ao
chamar Deus de “Abba” sentimos ou experimentamos, ao mesmo tempo, o aspecto
paternal e maternal de Deus. No “Abba” encontramos força, acolhimento e amor.
Ao chamar Deus de “Abba” nos sentimos em casa. Estando em casa, o Pai sabe
muito bem cuidar de nós amorosamente.
A imagem de Deus como Pai nos fala
de uma relação baseada no afeto e na intimidade, e não no poder e na
autoridade. Segundo Jesus, na oração devemos ver Deus como Pai e devemos falar
como filhos. Isto quer nos dizer que devemos estar num ambiente familiar. Numa
família pai ou mãe sabe muito bem das necessidades fundamentais de seus filhos.
Um verdadeiro pai dá ao filho aquilo do qual ele necessita, mesmo que ele não
faça nenhum pedido. Nem sempre um pai dá aquilo que o filho quer, mas dá ao
filho aquilo do qual ele necessita. Jesus ensina a estarmos num ambiente
familiar com Deus. Na oração devemos ter uma atitude filial de comunhão com o
Pai. Deus sempre nos atende de acordo com nossa necessidade e não de acordo com
nosso pedido. Pode também coincidir entre aquilo que pedimos e aquilo que Deus
quer pela nossa salvação. Neste sentido, o não-atender é uma forma de atender,
pois Deus quer somente nosso bem (cf. Mt 7,11).
O que devemos pedir? Jesus nos
responde: ”Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o vosso nome; venha o
vosso Reino; dai-nos hoje o pão necessário ao nosso sustento; perdoai-nos os
nossos pecados, pois também nós perdoamos àqueles que nos ofenderam; e não nos
deixeis cair em tentação”.
Deus é chamado para que Ele próprio
santifique Seu nome. Nome é pessoa. Neste sentido o nome é Deus, enquanto se
revela. Deus se santifica a si próprio quando se revela totalmente diferente.
Deus se santifica pela sua auto-revelação como Pai misericordioso; quando se
revela aos pequenos e os faz seus filhos.
O Pai Nosso é uma oração
entranhável que nos ajuda a nos situarmos na relação justa diante de Deus.
Jesus nos ensina que na oração, Deus, nosso Pai, deve ser centro de nossa vida:
“Santificado seja o vosso nome; venha o vosso Reino”. Depois pedimos por nós:
que nos dê o pão de nossa subsistência. O pedido do pão de vida é reconhecer
Deus como a única fonte de vida. Que nos perdoe as culpas cometidas. O perdão
das dívidas (pecados) é um convite a imitar a gratuidade de Deus (cf. Mt 5,45).
Que nos dê força para não cair na tentação. Trata-se de acolher a salvação.
O Reino de Deus consiste na
vivência do amor fraterno, na prática da justiça, na vida de retidão e de
honestidade, na igualdade. “Venha o Teu Reino!”.
“Dá-nos cada dia o pão necessário”.
Jesus usa a palavra “nos” e não “me”: “Dá-nos” e não “Dá-me”. Todos têm que ter
o acesso para o alimento. Ninguém pode acumular o pão enquanto a maioria está
passando fome. Não podemos deixar o próximo morrer de fome enquanto guardamos o
pão. O pão é indispensável para a vida de todos.
“Perdoa-nos as nossas dívidas, pois
também nós perdoamos a todos os nossos devedores”. Viver já difícil. É mais
ainda conviver. Os conflitos são inevitáveis. As brigas podem acontecer. É
preciso ter espaço para o mútuo perdão e para a reconciliação. Para Jesus não
há perdão recebido de Deus sem o perdão dado aos outros. O perdão dado aos
outros é o perdão recebido de Deus.
“Não nos deixeis cair em tentação”.
Ninguém está isento de qualquer tentação. Tentação é sinal de predileção. Quem
é tentado é porque está andando com o Senhor. O que se pede é para não cair na
tentação e não para ficar isento da tentação. Pede-se a força de Deus para não
cair na tentação.
Jesus é o nosso melhor modelo: Ele
se dedica continuamente a evangelizar e atender às pessoas, especialmente as
mais necessitadas e, ao mesmo tempo, reza com uma atitude filial diante do Deus
Pai.
Para Jesus, rezar é um compromisso
de vida, uma maneira de ser. Devemos rezar e viver aquilo que Jesus ensina. A
vida deve ser uma só: na oração e na prática. Se ficarmos de joelhos diante de
Deus, não devemos usar os mesmos pés para pisar sobre os demais. Quando
chamamos a Deus como Pai, então devemos nos comportar como filhos e filhas de
Deus entre nós, é convivermos como irmãos e irmãs do mesmo Pai do céu. Tratar
mal um filho significa desrespeitar o Pai. Tratar bem um filho é agradar ao
Pai. Portanto, rezar é um compromisso de vida, uma maneira de ser.
Temos que estar atentos sobre o perigo
de cairmos na rotina ao rezar o Pai Nosso, pois essa rotina tira todo o gosto e
prazer que merecem o Pai Nosso quando o rezarmos. Quando invocamos a Deus como
Pai somos introduzidos no âmbito familiar de Deus e somos conduzidos ao sentido
mais profundo de nossa comunicação com Ele. Rezar o Pai Nosso significa
realizar o querer divino sobre nossa vida e sobre a história dos homens. A
realização do querer divino tem como conseqüência a possibilidade d uma vida
digna em que todos têm acesso ao alimento de todos os dias e que se experimenta
Deus no perdão dos pecados.
P.Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário