AMOR E JUSTIÇA ANDAM
INSEPARÁVEIS
Quarta-Feira da XXVIII
Semana Comum
15 de Outubro de 2014
Evangelho: Lc 11,42-46
Naquele tempo, disse o Senhor: 42 “Ai de vós, fariseus, porque pagais
o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as outras ervas, mas deixais de
lado a justiça e o amor de Deus. Vós deveríeis praticar isso, sem deixar de
lado aquilo. 43 Ai de vós, fariseus, porque
gostais do lugar de honra nas sinagogas, e de serdes cumprimentados nas
praças públicas. 44 Ai de vós, porque sois
como túmulos que não se veem, sobre os quais os homens andam sem saber”. 45 Um mestre da Lei tomou a palavra e
disse: “Mestre, falando assim, insultas-nos também a nós!” 46 Jesus respondeu: “Ai de vós também,
mestres da Lei, porque colocais sobre os homens cargas insuportáveis, e vós
mesmos não tocais nessas cargas, nem com um só dedo”.
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Continuamos a ouvir as ultimas e
importantes lições de Jesus no Seu caminho para Jerusalém (Lc 9,51-19,28). Hoje
Jesus nos dá a lição sobre a importância da vivência da justiça e da caridade
inseparavelmente. Sem a prática da justiça e da caridade todos os atos
religiosos (oração, dízimo, esmola, ritos etc.) ficariam carentes de sentido.
“Ai de vós, fariseus, que pagais o
dízimo da hortelã, da arruda e de todas as hortaliças e deixais de lado a
justiça e o amor de Deus. Estas coisas era preciso fazer, sem deixar de
lado aquelas” (Lc 11,42).
O texto anterior (Lc 11,37-41) nos
mostra que a verdadeira pureza de vida não consiste em observar todas as regras
de purificação externa (cuidar apenas da aparência) que resulta na hipocrisia
(viver como um ator diante de uma platéia) e sim em amar a Deus que se traduz
na caridade fraterna e no respeito pelo outro. Chegamos até Deus através do
próximo (cf. Mt 25,31-45). Eu sou ocasião de salvação para o outro e o outro é
ocasião de salvação para mim.
No texto do evangelho lido neste
dia Jesus volta a criticar os fariseus (e os escribas) porque invertem o valor
das coisas. Pagar o dízimo faz parte da religiosidade do povo. É o que os
fariseus fazem. Eles acham que com o pagamento do dízimo eles poderiam ficar
tranqüilos diante de Deus (como se comprasse Deus com algo tão terreno). No
entanto, os fariseus não se preocupam em amar a Deus verdadeiramente e em
praticar a justiça para com o próximo. Conseqüentemente, o pagamento de dízimo
carece de sentido e se torna um exibicionismo. Eles continuam a praticar a
injustiça contra o próximo e a cultivar a vanglória. Deste jeito, eles vivem
como hipócritas. “Ai de vós, fariseus, que pagais o dízimo da hortelã, da
arruda e de todas as hortaliças e deixais de lado a justiça e o amor de Deus.
Estas coisas era preciso fazer, sem deixar de lado aquelas”, são palavras
de Jesus com um tom profético que denuncia a injustiça e o desamor contra o
próximo.
Jesus quer tirar os fariseus e
escribas de seu pecado e os leva à conversão. O pecado dos fariseus está em
colocar escrupulosamente a importância nas normas insignificantes enquanto
desprezam o essencial; em querer aparecer como reprováveis para serem honrados
como piedosos (cf. Mt 23,6-7; Mc 12,38-39). Nessa advertência de Jesus está seu
convite para todos os seus seguidores. Os discípulos de Jesus (cristãos) devem
valorizar as coisas segundo sua importância. Não devem desprezar o pequeno por
ser pequeno, mas devem centrar seu esforço no fundamental: a justiça e o amor a
Deus e ao irmão.
Amor e justiça andam como uma moeda
de dois lados. Quem ama, pratica a justiça. Quem não ama, pratica a injustiça.
Com efeito, todas as injustiças são conseqüências da falta de amor. Você comete
a maior injustiça quando não ama. Por isso, o mais importante não é você ser
reconhecido socialmente e sim seu comportamento com as pessoas (amor e
respeito) e com as causas justas.
A caridade (amor) é sempre maior do
que a justiça. A justiça é o reconhecimento do direito do outro. Dar ao outro o
que é dele é a justiça. A caridade (amor) é dar ao outro o que é meu. Mas para
dar ao outro o que é meu, eu preciso respeitar o que é do outro. O Papa Bento
XVI, na sua encíclica Caritas In Veritate escreveu: “A caridade
supera a justiça, porque amar é dar, oferecer ao
outro do que é ‘meu’; mas nunca existe sem a justiça, que induz a dar ao outro
o que é ‘dele’, o que lhe pertence em razão do seu ser e do seu agir. Não posso
‘dar’ ao outro do que é meu, sem antes lhe ter dado aquilo que lhe compete por
justiça. Quem ama os outros com caridade é, antes de mais nada, justo para com
eles. A justiça não só não é alheia à caridade, não só não é um caminho
alternativo ou paralelo à caridade, mas é ‘inseparável da
caridade’, é-lhe intrínseca. A justiça é o primeiro caminho da caridade...”
(no.6).
O amor sempre oferece ao outro o
que lhe falta, mas o egoísmo devora tudo que o outro tem. E nunca o egoísmo é
tão prejudicial, como quando se disfarça de amor. Quem não sabe se amar, não
cresce. Quem não aprende a amar, não deixa que os outros cresçam. O amor nunca
morre porque é o nome próprio de Deus (1Jo 4,8.16), isto é, Sua própria
essência. As caricaturas do amor é que não duram muito tempo. A felicidade está
em amar e em ser amado. Somos felizes quando amamos e quando somos amados. O
ardor do amor abre os corações.
E a justiça não é questão de
números e quantidades e sim de amor. Você pratica a justiça não é com o
objetivo de alcançar a perfeição para si e sim para que você não trate seu
irmão (próximo) injustamente. Se você buscar a justiça escutando seus irmãos,
você se sentirá em dívida todos os dias. “O amor é a única dívida que mesmo depois de paga nos
mantém como devedores” (Santo Agostinho).
Portanto, o ser humano cresce, a
comunidade e a comunhão se criam, a fraternidade se vive quando o amor e a
justiça têm voz e vez nas relações interpessoais. Outras coisas são
importantes, mas o amor e a justiça são muito mais importantes e são essenciais
para quem acredita verdadeiramente em Deus. Por isso, jamais podemos deixar de lado
a justiça e o amor de Deus na nossa vida como cristãos. Praticamos a justiça
para que o irmão não seja tratado injustamente. E nada compromete tanto como o
amor, pois o amor é o nome próprio de Deus (cf. 1Jo 4,8.16) e seremos julgados
a partir do amor fraterno que praticamos ou deixamos de praticar (cf. Mt
25,40.45).
P. Vitus Gustama,svd
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