CONVERTER-SE PERMANENTEMENTE
PARA CRESCER E PRODUZIR CONSTANTEMENTE
Sábado da XXIX Semana
Comum
25 de Outubro de 2014
Evangelho: Lc 13, 1-9
1 Naquele tempo, vieram algumas pessoas trazendo
notícias a Jesus a respeito dos galileus que Pilatos tinha matado, misturando
seu sangue com o dos sacrifícios que ofereciam. 2 Jesus lhes respondeu: “Vós pensais
que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por
terem sofrido tal coisa? 3 Eu vos digo que não. Mas se vós não vos converterdes, ireis morrer todos
do mesmo modo. 4 E aqueles dezoito que
morreram, quando a torre de Siloé caiu sobre eles? Pensais que eram mais
culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém? 5 Eu vos digo que não. Mas, se não vos
converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”. 6 E Jesus contou esta parábola: “Certo homem tinha uma
figueira plantada na sua vinha. Foi até ela procurar figos e não encontrou. 7 Então disse ao vinhateiro: ‘Já faz
três anos que venho procurando figos nesta figueira e nada encontro. Corta-a!
Por que está ela inutilizando a terra?’ 8 Ele, porém, respondeu: ‘Senhor, deixa a figueira
ainda este ano. Vou cavar em volta dela e colocar adubo. 9 Pode ser que venha a dar fruto. Se
não der, então tu a cortarás’”.
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Continuemos a ouvir atentamente as
últimas e mais importantes lições de Jesus no seu caminho para Jerusalém (Lc
9,51-19,28), pois logo depois ele será crucificado, morto e glorificado.
No dia anterior o evangelista Lucas
nos relatou a exortação de Jesus sobre a importância do discernimento sobre os
sinais dos tempos para perceber neles o querer de Deus para nossa salvação.
Para isso é preciso ter um coração e a mente abertas. Como foi dito
anteriormente, o coração aberto é a chave para a mente aberta, e vice-versa.
Por isso, em seguida, Jesus nos dá a lição sobre a importância da conversão permanente,
a lição no evangelho de hoje, para que a vontade de Deus fique nítida na nossa
visão diária. O pecado ofusca a vontade de Deus. A conversão não implica apenas
a mudança de pensamento (metanoia), mas uma mudança radical de direção do
próprio caminho que se vive na experiência cotidiana. A conversão é abertura
constante para o futuro do Reino que se experimenta antecipadamente, embora não
seja completo ainda.
A existência humana na história não
é eterna. Um dia o homem partirá deste mundo. Mas o momento dessa partida é
incerto ou desconhecido. O fato de não conhecermos o momento em que a morte
virá, nos leva à conversão diariamente. O tempo da salvação e o da conversão se
encontram na nossa história. Não procuremos a salvação fora da história. Cada
momento é kairós, isto é, o momento de Deus, e, por isso, é o momento de
salvação que precisamos saber usá-lo para nosso bem. A resistência à conversão
nos torna excluídos do Reino de Deus. Deus não quer excluir ninguém do Reino,
pois ele quer salvar a todos (1Tm 2,4). Alem disso, do ponto de vista humano,
viver sem a conversão paralisa nosso crescimento e nos torna cruzes para os
demais. Os erros não corrigidos é uma forma de cometer outros novos erros.
“Vós pensais que esses galileus eram
mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem sofrido tal coisa? Eu vos digo que não. E
aqueles dezoito que morreram, quando a torre de Siloé caiu sobre eles? Pensais
que eram mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém? Eu vos
digo que não”, assim nos disse o Senhor hoje.
Para o pensamento na época de Jesus
não há culpa sem castigo. Se há grandes catástrofes é porque há grandes
pecados. Qualquer doença é a conseqüência do pecado cometido. É uma maneira
fácil de justificar-se e de calar a consciência. Será que ainda encontramos
este tipo de pensamento na nossa época?
Em vez de seguir esse pensamento,
Jesus opta por outro caminho. Trata-se de um apelo permanente para a conversão:
“Mas se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”,
disse Jesus. Para Jesus, viver sem conversão é uma morte eterna preanunciada. A
conversão é polivalente. Em sentido geral indica mudança de vida; deixar o
comportamento habitual de antes para empreender outro novo; prescindir da busca
egoísta de si mesmo para colocar-se a serviço do Senhor que se traduz no amor
fraterno. Conversão é toda decisão ou inovação que de alguma forma nos aproxima
da vida divina e nos torna mais próximos para com os outros.
Na Bíblia, a noção básica da
conversão é a mudança. Envolve voltar-se do pecado, da morte e das trevas para
a graça, a nova vida e luz. A ação dual de voltar-se sempre leva a pessoa a um
novo nível de existência humana. É uma mudança total do próprio modo de pensar
e de agir, uma renovação total e integral do eu. É um abandono total em Deus.
Somente abandonando-se a Deus a ponto de se deixar transformar inteiramente por
Ele e permanecer amistosamente abraçado com Ele. O móvel da conversão não é
tanto a ameaça de castigo ou de perder a salvação, quanto a fascinação de
penetrar na vida do amor trinitário divino. A conversão conduz as pessoas
juntas à maturidade espiritual, que se reflete em sua aversão ao mal e sua
atração pelo bem. Um aspecto da conversão específico do NT é estar intimamente
ligado à pessoa de Jesus Cristo, em quem o Reino se realiza. A conversão é
realidade cristológica. É união com o corpo de Cristo e íntimo conhecimento
pessoal de Jesus Cristo como Senhor ressuscitado e Salvador. Esta conversão
total não pode ser obra do homem; é tarefa que supõe dom e graça. Só pode
realizar-se como participação do mistério pascal de Cristo. A conversão só se realiza
na fé; propõe-se como resposta ao chamado de Deus, como correspondência à graça
redentora.
A conversão envolve mudanças
internas (de atitude) e externas (comportamentais) na vida. A autêntica
conversão cristã nunca está separada de ações concretas que espelham a
realidade interior mudada. Assim, a conversão sempre leva a algum aspecto de
responsabilidade e justiça sociais.
A conversão é crescimento contínuo;
não é um acontecimento instantâneo, pontual e de uma vez por todas; não é uma
carreira acabada, mas que constitui um crescimento sem interrupção e
ascendente. Por mais decidida que seja a entrega de um cristão ao Reino, ela
tenderá sempre a ser precária. De um coração convertido aos valores do Reino e
do Evangelho se seguirão naturalmente os frutos visíveis de uma conversão que
atinge a realidade da vida.
Jesus quer nos libertar dessa
concepção que por um lado, impede-nos de enfrentar as verdadeiras causas dos
males que ocorrem conosco ou na sociedade, remetendo-os a demônio para desviar
alguém da própria responsabilidade ou a uma espécie de fatalidade que nos leva
a nos afundarmos na passividade. Por outro lado, Jesus quer nos apresentar a
imagem do Deus de amor e de vida e não um Deus de castigo. Pecar é não dar fruto, não produz nada pelo
bem da humanidade ou dos outros. Esta é a mensagem da parábola da figueira
estéril. Esse Deus que Jesus nos apresenta espera com paciência, até o último
minuto de nossa vida, os bons frutos que produzimos.
Para os ouvintes de Jesus era
familiar a imagem da figueira infértil, para indicar o comportamento infiel do
povo de Deus (cf. Jr 8,13;Mq 7,1). Mas esta imagem é atual para nós. A parábola
da figueira estéril revela-nos um Deus paciente e bondoso conosco. Mas ele é
paciente para esperar que produzamos bons frutos para o Seu Reino. Perante
tamanho amor para com a vinha e para com a pobre figueira, somos convidados a
responder e corresponder produzindo bons frutos para uma convivência mais fraterna. Ser útil para os demais não significa esperar
recompensa ou reconhecimento. Precisamos ser como a figueira que produz frutos
sem saber quem vai se alimentar com seus frutos. O importante é que outros
possam viver com nossa presença frutífera. É necessário que a parábola seja
aplicada para nós individualmente e como uma comunidade cristã ou Igreja. Uma
Igreja, uma comunidade que não der frutos perde razão de ser. Mas Deus continua
esperando, pois para Deus nada é impossível (cf. Lc 1,36-37). Sempre espera com
toda esperança.
P. Vitus Gustama,svd
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