OPÇÃO
POR JESUS E SUAS CONSEQUÊNCIAS
FOGO PURIFICADOR TRAZIDO
POR JESUS
Quinta-Feira da XXIX
Semana Comum
23 de Outubro de 2014
Evangelho: Lc 12, 49-53
Naquele tempo, disse Jesus a seus
discípulos: 49 Eu vim para lançar fogo
sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso! 50 Devo receber um batismo,
e como estou ansioso até que isto se cumpra! 51 Vós pensais que eu vim trazer a paz
sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão. 52 Pois, daqui em diante,
numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas e duas contra
três; 53 ficarão divididos: o pai
contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a
mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra.'
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Continuamos a ouvir atentamente
para as ultimas e mais importantes lições de Jesus dadas durante seu caminho
para Jerusalém (Lc 9,51-19,28). E estamos ainda dentro do tema sobre a
vigilância. A opção por Jesus e seus ensinamentos provoca a separação, pois
quem quiser estar com Jesus deve estar do lado do bem.
“Eu vim lançar fogo à terra,
e que tenho eu a desejar se ele já está aceso?
Julgais que vim trazer paz à terra? Não, digo-vos, mas divisão”,
diz o Senhor no evangelho deste dia.
A metáfora do “fogo” é muito usada
em qualquer literatura antiga e moderna, com significados diversos: pode
significar purificação, renovação, amor etc.. Em toda a Bíblia, o fogo é
símbolo de Deus: na sarça ardente encontrada por Moisés (Ex 3,1-15); no fogo ou
raio da tempestade no Sinai (Ex 19,16-25); nos sacrifícios do Templo onde as
vitimas passadas pelo fogo; como símbolo do juízo final que purifica todas as
coisas. Na tradição bíblico-profética, o “fogo” é um elemento purificador que
consome as impurezas. Na linguagem bíblica
e apocalíptica “fogo” significa também juízo que supõe o fim do mundo e o
início do outro. O fogo é o sinal do julgamento que, como o fogo, purifica e
consome (cf. Lc 17,29-30).
“Eu vim lançar fogo à terra”,
disse Jesus. Em algumas partes dos evangelhos encontramos o uso do termo fogo.
Jesus se compara com aquele que leva em sua mão a pá para limpar a eira e
recolher o trigo e queimar as palhas (Mt 3,12). Jesus fala do joio que jogará
no fogo (Mt 13,40). Mas Jesus recusa fazer baixar fogo do céu sobre os
samaritanos (Lc 9,54). A Igreja vive do “fogo do Espírito” descido em
Pentecostes (At 2,3). Esse fogo ardia no coração dos peregrinos de Emaús quando
escutavam o Ressuscitado sem conhecê-Lo (Lc 24,32).
Vir trazer fogo à terra significa
que a presença de Jesus tem a força de purificar o mundo da impureza, do
egoísmo, da desigualdade, da discriminação, da exclusão, da insensibilidade e
assim por diante. e por isso, tem força de separar o bem do mal. Através da
purificação dessas impurezas a graça tem seu lugar para brilhar em todo seu
esplendor. Por isso, a divisão imposta por Jesus significa a eliminação da
ilusória convivência do bem com o mal, pois ninguém pode servir a dois senhores
(cf. Lc 16,13; Mt 6,24).
O fogo de Jesus é o mesmo Reino de
Deus que traz um elemento destruidor de pecado. É o fogo que vai queimando as impurezas
dos homens, destruindo a arrogância (altivez) dos soberbos. Não poderá surgir a
nova humanidade, se não forem destruídas as estruturas que oprimem o homem por
dentro e por fora. Este fogo do Espírito destrói e purifica ao mesmo tempo.
Jesus é o portador do fogo de Deus sobre a terra. Neste sentido sua missão
fundamental consiste em purificar o homem velho ao destruir o que se encontra
pervertido nele. Jesus proclama uma mensagem que é fogo, que coloca as
consciências diante de sua própria verdade profunda. Conseqüentemente causa
divisão: ou opta pela verdade que Jesus que significa salvação ou manter-se na
falsidade e mentira que tem como resultado final, a perdição eterna.
Jesus acendeu um fogo e nos convida
a mantê-lo aceso; um fogo que deve queimar dentro da Igreja tantas coisas
inúteis, tanto organismos estéreis e paralizantes, tantas palavras vazias,
tantas falhas morais e éticas, e assim por diante. É preciso morrer o que é
velho em nós para surgir o novo.
O que acontece quando esse fogo não
fica aceso na Igreja e em cada um em particular? Quando é que esse fogo não
fica aceso? Ele não fica aceso quando vivemos o cristianismo não como novidade
original que nos renova permanentemente; quando vivemos sem nos opor às
estruturas que criam na humanidade um estado de injustiça, de fome, da violação
dos direitos humanos, de exploração dos pequenos e assim por diante. Não haverá
esse fogo de Jesus quando tudo continua igual, quando os sacramentos não
significam mais que um ato social que não nos levam para uma vida transformada.
Não haverá o fogo de Jesus quando a instituição religiosa se contenta com
repetir mecanicamente gestos ou ritos que os homens de hoje não entendem nem
lhes interessam.
Julgais que vim trazer paz à terra?
Não, digo-vos, mas divisão”, diz o Senhor no evangelho deste dia.
A paz é um dos maiores benefícios
que o homem deseja. Os hebreus se saúda dizendo “Shalom”. Jesus despede os
pecadores e as pecadoras com esta frase cheia de sentido: Vá em paz (Lc 7,50;
8,48; 10,5-9). E seus discípulos desejavam a “paz” para as casas onde entravam.
Trata-se da paz nova que vem transtornar a paz deste mundo. Mas não é uma paz
fácil, pois há que construí-la na dificuldade e com muito esforço e maturidade
espiritual.
Jesus traz a paz, dá a paz, mas não
a qualquer preço. Pôr-se ao lado de Jesus supõe uma opção, uma decisão e com
freqüência romper com a vida anterior ou com os laços humanos familiares e
sociais que não salvam: “Daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três
ficarão divididas contra duas e duas contra três; ficarão divididos: o pai
contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a
mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra”. O Pai não pode
compactuar com a maldade do filho e vice-versa. A mãe não pode participar da
desonestidade da filha e vice-versa. Cada membro de uma família deve ficar do
lado do bem, da honestidade, da verdade e assim por diante. Somente acontecerá
tudo isto, se o fogo de Jesus permanecer aceso na nossa vida e no nosso
coração. Por isso, diante de Jesus não se pode ficar neutro.
“Mas devo ser batizado num
batismo; e quanto anseio até que ele se cumpra!”, acrescenta Jesus.
Jesus vive sua vocação/ missão como uma paixão. Este batismo do qual Jesus fala
é sua própria morte assassinada, conseqüência do seu amor incondicional pelos
homens, esquecendo-se de si próprio. Quem quiser seguir a Jesus fielmente, quem
quiser viver piedosamente todos os ensinamentos de Jesus deve estar preparado
para ser perseguido até ser morto (cf.2Tm 3,12). Mas trata-se de uma morte que
termina na glorificação da vida em Deus.
P. Vitus Gustama,svd
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