VIGILÂNCIA: RINS
CINGIDAS E LÂMPADAS ACESAS
Terça-Feira
da XXIX Semana Comum
21 de Outubro de 2014
Evangelho: Lc
12,35-38
Naquele tempo, disse
Jesus aos seus discípulos: 35 Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas
acesas. 36 Sede como homens que estão esperando seu senhor voltar de uma festa
de casamento, para lhe abrirem, imediatamente, a porta, logo que ele chegar e bater.
37 Felizes os empregados que o senhor encontrar acordados quando chegar. Em
verdade, eu vos digo: Ele mesmo vai cingir-se, fazê-los sentar-se à mesa e,
passando, os servirá. 38 E caso ele chegue à meia-noite ou às três da
madrugada, felizes serão, se assim os encontrar!
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Continuamos acompanhando Jesus no
seu caminho para Jerusalém, ouvindo atentamente suas últimas e importantes
lições para que possamos alcança a vida glorificada a exemplo d’Ele. Trata-se
das Lições do Caminho (Lc 9,51-19,28).
Na passagem de hoje Jesus nos
ensina para que estejamos vigilantes permanentemente sobre nossa vida, pois a
vida é de Deus e Ele está nela. A vida é curta demais sua existência neste
mundo para não desperdiçá-la. A vida é um dom para não torná-la pesada. A vida
é bela para não prejudicá-la. A vida é o fruto de amor de Deus para não
odiá-la. Repito: a vida é de Deus e Ele está nela. Se Deus está na vida, logo
Deus sabe o que fazer com a vida em nós desde que saibamos confiar n’Ele
plenamente.
O tempo intermédio até a volta do
Senhor, sua segunda vinda (Parusia), este tempo que vivemos (o tempo da Igreja)
exige uma atitude: VIGIAR: “Estejam cingidos os vossos rins e acesas as vossas lâmpadas” (Lc 12,
35), diz-nos o Senhor.
No AT os rins e a gordura do rim eram uma porção
escolhida do animal sacrifical, que devia ser oferecida a Deus em sacrifício
(cf. Lv 3-4; 8-9). É uma parte central de um animal. Em outras palavras, a melhor
parte de um animal devia ser oferecida a Deus (cf. Gn 4,3-5). Os rins (e o coração
juntos) são mencionados como a sede do pensamento e do desejo; são considerados
como a sede da consciência. O profeta Jeremias censura o povo que tem Deus
perto da boca, mas longe dos rins. Quis dizer: Deus não tinha nenhuma
importância para esse povo na hora em que deveria tomar decisões importantes.
Na Bíblia muitas vezes Deus é designado como Aquele que examina os corações e
os rins, e questiona o ser humano no mais profundo de sua existência.
A lâmpada era sempre conservada acesa nas casas tanto nas dos ricos
como nas dos pobres, não somente porque as casas tinham pouquíssima iluminação da
luz do dia, mas também porque era difícil acendê-la. A presença da lâmpada acesa
numa casa era sinal de que a residência ou estabelecimento ainda se achavam em
atividade. Quando a lâmpada se achava apagada era sinal de completo fracasso,
desastre ou infortúnio.
Por isso, quando Jesus pede que os
rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas significa que jamais um cristão pode
deixar que o desastre, fracasso ou infortúnio atinjam a essência de sua vida. O
coração do cristão deve ser mantido intacto de qualquer impureza ou de qualquer
maldade. Suas atividade cotidianas devem se concentrar nas coisas mais
essenciais para seu bem e sua salvação.O cristão deve manter seu coração aberta
a Deus. O coração aberto é a chave para a
mente aberta, e vice-versa. Para isso, o cristão deve viver sempre na vigilância.
Velar ou vigiar, em sentido
estrito, significa renunciar ao sono da noite para terminar um trabalho urgente
e importante ou para não ser surpreendido pelo inimigo. Em um sentido mais
simbólico significa lutar contra a negligência para estar sempre em estado de
disponibilidade. É vive uma vida atenta à voz do Senhor e vigilante diante dos
sinais da realidade. O Senhor voltará com toda segurança no nosso encontro
derradeiro. O discípulo não pode ficar adormecido. Ele deve permanecer alerta,
sempre em tensão e em atenção. Somente assim ele assegurará a comunhão com o
Senhor no gozo e no amor.
Um cristão não pode ser nem estar
alienado. Ele deve estar em alerta constante, sempre pronto para a ação, e
preparado para servir dia e noite. A salvação prometida, o
futuro que ansiamos ou sonhamos, exige uma atitude de vigilância, uma esperança
ativa que nos coloca no caminho de serviço.
A principal atitude do cristão é
ter uma disposição ininterrupta para o serviço. Fazer-se servo ou servidor é o
caminho mostrado por Jesus na cena do lava-pés (cf. Jo 13,1-20). Fazer-se servo
ou servidor é o único caminho para chegar à semelhança com Jesus e à igualdade
com os demais. Somente a partir de baixo é que se pode mudar o mundo. Somente
com o serviço se acaba com a escravidão e o desejo de domínio. O caminho de
subida passa pelo caminho de descida. Para tornar-nos divinos precisamos ser
muito humanos. A divinização passa pela humanização do ser humano. Por isso, servir para o
cristão não é opcional, é lei constitutiva da vida cristã.
Celebrar a Eucaristia exige uma
vida de serviço e de dedicação aos demais. Ao celebrar a Eucaristia ratificamos
nosso compromisso de amor, de doação e de serviço. Quem assim atua, já é
considerado por Jesus “bem-aventurado”, pois através do serviço e da doação é
eliminado da comunidade todo desejo de domínio para passar a viver num clima
permanente de mutuo serviço.
É sábio quem vive na vigilância
permanente e sabe olhar para o futuro. Não é porque não saiba gozar da vida
presente e cumprir suas tarefas de hoje e sim porque sabe que é peregrino nesta
vida e o importante é assegurar-se sua continuidade na vida eterna. É viver com
uma meta e uma esperança. Por isso, o trabalho neste mundo para o cristão é um
compromisso pessoal para transformar-se a si mesmo e para transformar o mundo
em que vive.
Vale a pena cada um responder esta
pergunta: “Como você prepara a segunda vinda do Senhor no seu dia a dia? Você
já está preparado para esta vinda?”.
P. Vitus Gustama,svd
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