DEUS ESTÁ NA VIDA
COTIDIANA: ESTEJAMOS ATENTOS
Sexta-Feira da XXIX Semana Comum
24 de Outubro de 2014
Evangelho: Lc 12, 54-59
Naquele tempo, 54 Jesus dizia às multidões: “Quando
vedes uma nuvem vinda do ocidente, logo dizeis que vem chuva. E assim acontece.
55 Quando sentis soprar o
vento do sul, logo dizeis que vai fazer calor. E assim acontece. 56 Hipócritas! Vós sabeis interpretar
o aspecto da terra e do céu. Como é que não sabeis interpretar o tempo
presente? 57 Por que não julgais por
vós mesmos o que é justo? 58 Quando, pois, tu vais com o teu adversário apresentar-te
diante do magistrado, procura resolver o caso com ele enquanto estais a
caminho. Senão ele te levará ao juiz, o juiz te entregará ao guarda, e o guarda
te jogará na cadeia. 59 Eu te digo: daí tu não
sairás, enquanto não pagares o último centavo”.
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Continuamos a acompanhar as últimas
e mais importantes lições que Jesus nos dá no Seu caminho para Jerusalém (Lc
9,51-19,28). Por isso, é preciso ouvi-las atentamente.
Hoje, na passagem do evangelho,
Jesus quer que estejamos atentos para a presença de Deus através de vários
sinais na nossa vida, como estamos atentos para a mudança do tempo (previsão do
tempo). Jesus nos convida a irmos além do aspecto físico da realidade para o
sentido querido por Deus através da realidade. Em cada acontecimento Deus deixa
Seu recado para quem o presencia. É preciso estar ligado à realidade, pois Deus
está em tudo e em todos. Em
cada luz, aparece a luz do próprio Deus. Em cada vida, Deus é a vida. Em cada
coisa sentida é o próprio Deus que está sendo sentido. Em cada existir, Deus é o
próprio Ser. Ao tocarmos uma flor temos a certeza de que, misteriosamente,
estamos ticando o Criador da flor. A flor não é Deus, mas ela nos leva à própria
perfeita beleza de Deus e ao próprio Criador da flor. O homem profundo é aquele
que vive sua humanidade a partir da graça e da presença permanente de Deus na
sua vida.
“Quando vedes uma nuvem vinda do
ocidente, logo dizeis que vem chuva. E assim acontece. Quando sentis soprar o
vento do sul, logo dizeis que vai fazer calor. E assim acontece. Hipócritas!
Vós sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu. Como é que não sabeis
interpretar o tempo presente?”
Os homens sempre se interessam pelo
tempo e pelo clima, especialmente para os agricultores, os aeronáuticos, os
marinheiros e assim por diante em função de suas tarefas. No evangelho de hoje,
Jesus nos chama nossa atenção, porque sabemos muito bem prever o clima, mas não
sabemos discernir ou ler os sinais abundantes e claros que Deus nos envia
diariamente. O Senhor continua passando perto de nossa vida, com suficientes
referências ou sinais. Mas podemos ter perigo de que não captamos nem
reconhecemos essa presença. O Senhor se faz presente na enfermidade ou na
tribulação (cf. Mt 25,38-40), nas pessoas com as quais trabalhamos ou com as
quais formamos nossa família, nas boas notícias que cada pessoa espera para sua
vida, sua família e assim por diante. Nossa vida será bem diferente, se
estivermos bastante conscientes da presença divina na nossa vida diária. Se
tivermos consciência da presença de Deus na nossa vida diária (cf. Mt 28,20),
desaparecerá de nossa vida a rotina, o mau-humor, as tristezas e as
preocupações exageradas porque viveremos com muita fé na providência divina.
Jesus reprova seus concidadãos de
não serem capazes de interpretar os “sinais dos tempos”, quando são
perfeitamente capazes de interpretar os sinais meteorológicos.
Lendo e meditando as palavras de
Jesus no evangelho deste dia o Concilio Vaticano II, através de um dos seus
famosos documentos, chamado Gaudium et Spes (GS) afirma: “é
dever da Igreja investigar a todo o momento os sinais dos tempos, e
interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo
adaptado em cada geração, às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da
vida presente e da vida futura, e da relação entre ambas. É, por isso,
necessário conhecer e compreender o mundo em que vivemos, as suas esperanças e
aspirações, e o seu caráter tantas vezes dramático” (GS, no.4). “O Povo de Deus, movido pela fé com que acredita ser conduzido
pelo Espírito do Senhor, o qual enche o universo, esforça-se por discernir nos
acontecimentos, nas exigências e aspirações, em que participa juntamente com os
homens de hoje, quais são os verdadeiros sinais da presença ou da vontade de
Deus. Porque a fé ilumina todas as coisas com uma luz nova, e faz conhecer o
desígnio divino acerca da vocação integral do homem e, dessa forma, orienta o
espírito para soluções plenamente humanas” (GS no. 11).
Analisando o estado atual do mundo,
“o momento presente”, o Concílio reconheceu alguns “sinais dos tempos”
essenciais: a solidariedade crescente dos povos apesar do barulho do pequeno
grupo que sempre faz o contrário, o ecumenismo apesar da resistência de alguns
grupos religiosos; a preocupação pela liberdade religiosa apesar de
determinados país prenderem a liberdade de escolha.
O Espírito de Deus continua atuando
no mundo através de muitos sinais. Ele continua atuando nos olhos dos que
choram, nos que sofrem por serem justos, honestos, e verdadeiros; nos que
trabalham pela paz apesar da resistência diante da reconciliação; em quantos
trabalham pela erradicação da fome e da pobreza apesar da exploração e da
corrupção de alguns grupos insensíveis às questões sociais; em todo o homem e a
mulher que procura Deus com coração sincero apesar das dores encontradas na
vida. A sua vontade de rezar e de meditar a Palavra de Deus é sinal de que o
Espírito de Deus continua atuando em você. O Espírito de Deus continua atuando
em você quando reza por si e pelos outros; em tantas pessoas que estão sempre
prontas para ajudar quem está em necessidade. Numa palavra, em tudo o que é
bondade e amor, paz e bem porque tudo isto é reflexo e semente do sinal básico
do sacramento perene do próprio Deus. Em tudo que aconteceu e acontece e
acontecerá na nossa vida Deus quer nos dizer alguma coisa a respeito de nossa
salvação, mas que nem sempre sabemos criar o silêncio para ouvir a mensagem de
Deus. O silêncio é o vazio fecundo que possibilita a presença do Eterno, ou da
Plenitude na nossa vida.
Segundo o convite de Jesus, é
preciso dar-nos conta do momento em que nos encontramos. Em outras palavras,
precisamos transformar o kronos, isto é, o tempo medido pelos
segndos, em kairós, isto é , tempo da graça de Deus e da
oportunidade de salvaçao. A consciência do tempo de Deus transforma nossas
atividades diárias em atividades salvíficas e transforma nossos trabalhos em
vivência do amor fraterno.
Portanto, é preciso que façamos a
revisão de nossa vida e o modo pelo qual vivemos. A finalidade da “revisão de
vida” é tratar, humildemente de “reconhecer” a ação de Deus nos acontecimentos,
em nossas vidas, nas pessoas com as quais encontramos diariamente ou
ocasionalmente, nos sofrimentos e nas dores, nas vitórias e nos desafios de
cada dia, e assim por diante, para encontrá-Lo e participar nessa ação de Deus
a fim de revelá-Lo, enquanto for possível, aos que O ignoram. Somente
quem vive aberto ao Espírito de Deus, percebe sua voz, sua chamada e sua
presença. Por isso, há que estar sempre alerta e atento.
Portanto, é bom cada um se
perguntara: O que é que Deus quer de mim através de todos os acontecimentos da
vida minha vida e de todos os acontecimentos ao meu redor? Que resposta eu devo
dar a tudo isto? Que ação eu devo fazer como resposta ao convite de Deus
através desses acontecimentos? Deus nunca deixa de nos dar recado diariamente.
Basta abrir os olhos e o coração.
P. Vitus Gustama,svd
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