MISERICÓRDIA DIVINA NOS
SALVA E CHAMA A LOUVARMOS A DEUS
Segunda-Feira Da XXX
Semana Comum
27 de Outubro de 2014
Evangelho: Lc 13,10-17
Havia aí uma mulher que, fazia dezoito anos, estava
com um espírito que a tornava doente. Era encurvada e incapaz de se endireitar.
Vendo-a, Jesus chamou-a e lhe disse: “Mulher, estás livre da tua doença”. Jesus
pôs as mãos sobre ela, e imediatamente a mulher se endireitou e começou a
louvar a Deus.
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As comunidade de Lucas são comunidades
de pobres com alguns ricos. Há um contraste que aparece, sobretudo, no
evangelho de Lucas: de um lado, os pobres, famintos, perseguidos, aflitos (Lc
6,20-23) e, do outro, os ricos (Lc 12,16-21) que se banqueteiam sem se
preocupar com a miséria dos outros (Lc 16,19-31); Comunidades com pessoas cansadas, medrosas, desanimadas e
perdidas por causa da situação na qual viviam (Lc 24,13-24).
No texto do evangelho de hoje Lucas
nos relata uma mulher sofrida durante dezoito anos que Jesus curou no Sábado. No
seu evangelho Lucas relatou três vezes a cura ocorrida no Sábado: a cura do
homem com a mão paralisada (Lc 6,6-11); a cura de uma mulher encurvada
(13,10-17); e a cura de um hidrópico (14,1-6).
No evangelho lido neste dia, estamos
diante de uma mulher encurvada durante dezoito anos. É todo um símbolo. É uma
mulher que não pode endireitar-se nem levantar sua cabeça para o céu. Uma
pessoa encurvada só pode olhar para o chão e sem condições para olhar para o céu.
É uma mulher com uma perspectiva limitada e sem horizontes pelo peso carregado
nas costas. É uma mulher que carrega um peso insuportável para sua vida que a
incapacita de olhar além do chão. É uma mulher cansada e oprimida, esmagada e
deprimida. É uma mulher que recebia, em seus ombros, fardos incontáveis. É um
símbolo de todas as mulheres na história. É um símbolo de todos os que suportam
ou carregam pesos intoleráveis.
Em qualquer lugar do planeta terra
podemos encontrar homens e mulheres curvados pelo peso da fome e da pobreza,
pela miséria e exploração, pelo abandono e exclusão de uma convivência mais
humana e familiar, pela falsidade e mentira, pela perseguição e a tortura.
Homens e mulheres curvados pelo peso dos filhos cheios de problemas e pelas
preocupações familiares diante de tantas dificuldades que a vida impõe. Homens
e mulheres curvados pelo peso de trabalho de escravidão e de exploração. Homens
e mulheres encurvados pelo esforço e pela luta para não faltar pão para os
filhos na mesa da família. Homens e mulheres encurvados pela incompreensão e
solidão. Homens e mulheres encurvados pelo vício desenfreado e pelos apegos que
cria uma vida vazia. Homens e mulheres encurvados pelos fracassos e pelas
tristezas. Homens e mulheres curvados pela falta de saúde. Homens e mulheres
encurvados pela violência sem piedade que causa tantas lágrimas e tristezas.
Diante de tudo isso, Jesus não fica
insensível. Ele não espera o pedido da mulher para ser curada, como aconteceu
com outros milagres. Ele nem quer saber se é num sábado ou qualquer dia sagrado
na concepção dos homens. Jesus não quer saber das veneráveis prescrições
religiosas por sagradas que pareçam ser. Nenhuma lei sagrada, nenhum dia santo
de guarda, na concepção do homem, é capaz de impedir Jesus de fazer o bem e de
salvar pessoas em necessidade. Jesus toma a iniciativa, mesmo que seja no dia
de Sábado: “Vendo a mulher, Jesus chamou-a e lhe disse: ‘Mulher, estás livre
da tua doença’. Jesus pôs as mãos sobre ela, e imediatamente a mulher se
endireitou e começou a louvar a Deus”. A partir de agora em diante ela pode
olhar para o céu, aquilo que ela não conseguia fazer, para louvar a Deus.
O chefe da sinagoga se preocupa com
o que pode e o que não pode fazer no Sábado colocando de lado a necessidade
humana. Ele olha muito mais para as regras e proibições do que para um ser
humano em perigo. Por isso, Jesus o chama de “hipócrita”: “Hipócritas! Cada
um de vós não solta do curral o boi ou o jumento, para dar-lhe de beber, mesmo
que seja dia de sábado? Esta filha de Abraão, que Satanás amarrou durante
dezoito anos, não deveria ser libertada dessa prisão, em dia de sábado?”.
Ama menos quem se preocupa somente com as regras e proibições. O Deus de Jesus
não é o Deus de regras e sim o Deus de amor (Jo 3,16; 1Jo 4,8.16). O que agrada
a Deus não é o cumprimento das regras por sagradas que elas pareçam ser, e sim
a vivência do amor fraterno. É a preocupação pela dignidade humana. Deus fica
contente com a libertação de seus filhos. Para Jesus a Lei dever ser humana e
torna o ser humano em irmão do outro.
Deus não quer que sejamos encurvados.
Deus não quer que sejamos oprimidos e escravizados, nem deprimidos e prostrados
no chão de uma vida sem sentido. Ele nos quer livres. Ele quer que estejamos em
pé e de pé diante dessa vida para ver que a vida é maior do que chão para onde
dirigíamos nosso olhar. Estar em pé ou estar de pé significa liberdade,
confiança, transcendência. Deus não nos criou para ficarmos encurvados, e sim
para que vivamos com dignidade, para que sejamos livres (cf. Mt 11,28). Para estar
de pé durante esta vida temos que aprender a ficar de joelhos diante de Deus. Encurvar-se
diante de Deus nos faz erguermo-nos diante desta vida para louvar a Deus que
nos ama com seu amor misericordioso incondicionalmente.
Um dos imperativos que mais se
repetem na história da salvação é “Levanta-te!”. Podemos ter fracassos na vida,
podemos cair no chão, mas é preciso que nos levantemos, pois a misericórdia
divina está nos esperando.
P. Vitus Gustama,svd
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