CONTAR COM O SENHOR E
COLABORAR COM SUA GRAÇA PARA UM TRABALHO FRUTÍFERO
Sábado da II Semana da Páscoa
14 de Abril de 2013
Texto
de Leitura: Jo 6,16-21
16Ao cair da tarde, os
discípulos desceram ao mar. 17Entraram na barca e foram em direção a
Cafarnaum, do outro lado do mar. Já estava escuro, e Jesus ainda não tinha
vindo ao encontro deles. 18Soprava um vento forte e o mar estava agitado. 19Os
discípulos tinham remado mais ou menos cinco quilômetros, quando enxergaram
Jesus, andando sobre as águas e aproximando-se da barca. E ficaram com medo. 20Mas
Jesus disse: “Sou eu. Não tenhais medo”. 21Quiseram, então, recolher
Jesus na barca, mas imediatamente a barca chegou à margem para onde estavam
indo.
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O “sinal” da marcha sobre as águas
está estreitamente ligado com a multiplicação dos pães (cf. Jo 6.1-15. Lembre-se
de que João não usa a palavra “milagre”. Ele usa a palavra “sinal”). A
multiplicação dos pães prepara a parte principal do discurso sobre o Pão de
vida: “O verdadeiro pão de Deus, Sou Eu, é meu Corpo e meu Sangue... dados em
alimento”, assim Jesus disse.
A marcha sobre as águas inicia o
final do discurso (Jo 6,60-71): nele aparece Jesus andando sobre as águas,
mostrando seu domínio sobre a natureza. E isto é uma resposta às dificuldades
dos que não aceitam o discurso de Jesus sobre o Pão de vida que é Ele próprio.
“Ao cair da tarde, os
discípulos desceram ao mar. Entraram na barca e foram em direção a Cafarnaum,
do outro lado do mar. Já estava escuro, e Jesus ainda não tinha vindo ao
encontro deles”. Jesus fica só. Por que não
embarcou com os discípulos? Parece que foi muito intencional da parte de Jesus.
O evangelista João ao empregar determinado(s) termo(s) é porque tem algum
valor. A “noite”, as “trevas” têm um significado: Jesus está ausente. Jesus é a
Luz do mundo (Jo 8,12): sua ausência significa a desorientação total. Através
do mundo sensível o evangelista João sugere ou nos leva para o mundo
espiritual. Tudo é símbolo. O evangelista João nos sugere que cultivemos nosso
espírito de contemplação para captar o significado profundo das coisas e dos
acontecimentos.
“Já estava escuro” ou “já era noite”,
assim nos relatou o evangelista João. Esta noite era algo muito real. Mas, ao
mesmo tempo, para o evangelista João “noite” significava a ausência de Jesus.
Algumas mensagens para aprofundar
nossa reflexão:
1. “Não tenham medo… Sou Eu”.
Consciente ou inconscientemente
temos medo de algo ou de alguém. Em outras palavras, convivemos com o medo, ou
melhor, com os medos. Não estamos errados em sentir medo, porque somos
criaturas expostas a perigos e ameaças. Sentir medo é vivenciar a nossa
condição de criatura. O medo é uma manifestação de nosso instinto
fundamental de conservação. É a reação a uma ameaça para nossa vida, a resposta
a um verdadeiro ou suposto perigo: desde o perigo maior, que é o da morte até
os perigos particulares que ameaçam a tranqüilidade física ou nosso mundo
afetivo.
Existem medos justificados como
também os injustificados ou patológicos. Os nossos medos são um
sinal de alarme que podem nos ajudar a evitar o perigo. O imprudente geralmente
suprime o medo e se atira inutilmente ao perigo. O covarde teme tudo, se
paralisa e não se atreve a correr nenhum risco. Não podemos nos torturar
aumentando os nossos medos com nossa fantasia. O homem sadio usa seus medos
para agir prudentemente.
“Não tenham medo… Sou Eu!”. Cristo dirigiu muitas vezes este
convite aos homens com os quais se encontrava. Esta frase foi dita pelo Anjo do
Senhor a Maria: “Não tenhas medo, Maria” (Lc 1,30). Foi dita ao São José: “Não
tenhas medo, José” (Mt 1,20), e assim por diante.
O evangelho ou a Palavra de Deus, a
Palavra daquele que é maior do que a morte nos ajuda a libertar de todos os
nossos medos, revelando o caráter relativo, não absoluto dos perigos que os
provocam. Há algo de nós que ninguém nem nada no mundo possa nos tirar:
trata-se da alma imortal: “Não tenhais
medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma” (Mt 10,28ª).
De que não devemos ter medo? Não
devemos ter medo da verdade sobre nós mesmos, sobre nossa vida, sobre nossas
fraquezas, sobre nossos defeitos e limitações, sobre nossas dificuldades, sobre
nossas incapacidades. Não podemos fingir como se fossemos super homens. Somente
uma pessoa forte é que capaz de reconhecer suas próprias fraquezas e pede, sem
medo nem vergonha a ajuda dos que mais competentes na área.
2. Em
tudo devemos contar com Jesus
Como na pesca milagrosa, o texto do
evangelho deste dia quer nos transmitir uma verdade de que sem Jesus é inútil
qualquer esforço na missão e não haverá paz. Mas quando Jesus se aproxima,
volta novamente a calma, e o trabalho resulta plenamente eficaz. É preciso
colaborar com a graça de Deus para que ela possa operar em nós e através de nós
para um trabalho frutífero.
3. Colaborar com o Senhor a partir de nossas condições
Não pedimos a Deus uma vida sem
dificuldades, porque elas fazem parte de um verdadeiro crescimento. Não há
crescimento sem dificuldades e obstáculos. Pedimos a Deus, sim, a força e a
serenidade para encarar tudo na vida com ele. A partir do evangelho deste dia
percebemos que a dificuldade não é um lugar vazio e desabitado, porque no meio
da dificuldade está o Senhor. Ele está no centro da vida. Tenhamos sagacidade para saber converter as
dificuldades em lugar de encontro com Jesus, o Senhor que caminha sobre as
águas dessas dificuldades. Basta escutá-lo em silêncio no meio do ruído do
medo, e reconhecê-lo: “Não tenha medo, sou Eu”. E essas contrariedades serão
esplêndida ocasião para o exercício contemplativo. Somente assim se produz o
milagre.
Toda vez que celebramos a
Eucaristia, o Ressuscitado se faz presente na comunidade reunida, nos é dada a
Palavra salvadora e nos alimenta com o Pão da vida. É verdade que sua presença
é sempre misteriosa como para os discípulos de então. Mas pela fé temos que
saber ouvir a frase que tantas vezes se repete com suas variações na Bíblia:
“Eu sou, não tenha medo!”. Com isso, de cada missa ganharemos mais ânimo e
convicção para o resto da jornada, porque o Senhor nos acompanha, ainda que nós
não O vejamos com os nossos olhos humanos.
P. Vitus Gustama,svd
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