A PAZ QUE CRISTO QUER NOS DAR
Terça-feira da V
Semana da Páscoa
30 de Abril de 2013
Texto da Leitura: Jo 14,27-31ª
Naquele tempo, disse Jesus a seus
discípulos: 27“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou
como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração. 28 Ouvistes
que eu vos disse: ‘Vou, mas voltarei a vós’. Se me amásseis, ficaríeis alegres
porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu. 29Disse-vos
isto, agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis. 30Já não falarei muito convosco, pois o chefe deste mundo vem. Ele
não tem poder sobre mim, 31amas, para que o mundo reconheça que eu
amo o Pai, eu procedo conforme o Pai me ordenou”.
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Ao se despedir de seus discípulos,
Jesus lhes dá a sua paz: “Eu vos deixo a
paz, eu vos dou a minha paz; não vo-la dou como o faz o mundo. Que o vosso
coração não se perturbe nem se intimide” (v.27).
Paz (shalom, em hebraico, ou
eirene, em grego) é uma fórmula ancestral e tradicional de saudação e de
despedida entre os orientais até o dia de hoje. Os judeus na atualidade se
saúdam com “shalom” (paz), ou se perguntam: “mi shelomkha?” (Como está?) que
literalmente pode ser traduzido “como está tua paz?”. Ao se despedir se desejam
shalom u-berakhah (paz e bênção).
Paz (shalom) que é a saudação
habitual entre os judeus tem uma grande densidade de significado, pois este
termo não significa apenas a ausência de conflitos ou a tranqüilidade da alma,
mas também a saúde, a prosperidade, a felicidade em plenitude. A palavra
“Shalom” talvez possa ser traduzida com uma expressão que todos nós desejamos
aos outros: “Tudo de bom”. “All the best” para os da língua inglesa. Desejar a
paz significa desejar tudo de bom para o próximo.
Ao se despedir dos discípulos,
Jesus não lhes deseja a paz, mas ele lhes dá
a paz: “Eu vos deixo a paz”,
e insiste: “Eu vos dou a
minha paz”.
Que tipo de paz que Jesus quer
oferecer aos discípulos e a todos nós? Não se trata de um simples augúrio de
paz, mas de um verdadeiro dom. A paz é um dom, vem do alto: não surge da
decisão do homem. Por isso, não pode reduzir-se ao nível de sentimento.
Trata-se de uma palavra que salva, que vai à raiz, lá onde está a origem da
verdadeira paz (a origem do mal). A paz de Jesus tem como efeito banir/expulsar
do coração dos discípulos todo e qualquer resquício/resíduo de perturbação ou
de temor que leva ao imobilismo. Possuindo o dom da paz de Jesus, todos os
seguidores de Cristo devem manter-se imperturbáveis, sem se deixar intimidar
diante das dificuldades. Assim pensada, a paz de Jesus consiste numa força
divina que não deixa os discípulos rompam a comunhão com Jesus. É Jesus mesmo,
presente na vida dos discípulos, sustentando-lhe a caminhada, sempre disposto a
seguir adiante com alegria, rumo à casa do Pai, apesar das adversidades que
deverão enfrentar. Dizendo “vai em paz”, Jesus cura a hemorroíssa (Lc 8,48) e
perdoa os pecados à pecadora (Lc 7,50). A paz de Jesus nasce da vitória sobre o
pecado e suas conseqüências. A paz de Jesus funda-se no amor fraterno e na
justiça. A paz de Jesus, por isso, rejeita toda espécie de idolatria que coloca
criatura no lugar de Deus e submete o ser humano a um regime de opressão. João
enfatiza que Jesus é o mediador da paz; é neste sentido que Jesus a qualifica
de “minha”. Os verbos estão no presente, sublinhando, assim, a realidade atual
e a duração indefinida do dom. O Filho dispõe a paz que, segundo a Bíblia, só
Deus pode conceder. A paz caracteriza os tempos messiânicos (Sl 72,7). O
Messias tem por nome “o Príncipe da Paz” (Is 9,5s). A aliança escatológica é
uma “aliança de paz” (Is 66,12). Todo o NT se mostra herdeiro dessa tradição
para acentuar a reconciliação com Deus (At 10,36; Rm 5,1;Ef 2,14-17;Cl 1,20
etc.).
“Mas não dou a paz como o mundo a
dá”, disse Jesus. E m que consiste a paz do mundo?
A paz que o mundo oferece prescinde
de Deus e se funda num projeto contrário ao dele. Aí, se encontram a injustiça,
a concentração de bens à custa da exploração alheia, o desrespeito pelo ser
humano. É o império do egoísmo que idolatra pessoas e coisas, e transforma os
indivíduos em seus escravos. Por isso, é uma paz que conduz à morte eterna.
Segundo o mundo, para ter paz todos tem que se preparar para a guerra. “Si
vis pacem, para bellum!” (expressão latina). “Se desejas a paz,
prepara-te para a guerra”. “Devemos amar a paz sem odiar os que fazem a
guerra”, dizia Santo Agostinho (Serm. 357,1).
Quando o homem esquece o seu
destino eterno, e o horizonte de sua vida se limita à existência terrena,
contenta-se com uma paz fictícia, com uma tranqüilidade exterior. Jesus
qualifica este tipo de paz como a paz que o mundo dá. Recuperar a paz perdida é
uma das melhores manifestações de nossa caridade para com os que estão à nossa
volta. Onde houver amor também haverá a paz. Com efeito, a verdadeira paz é o
fruto do amor a Deus e ao próximo.
Deus em quem acreditamos é um Deus
da paz; não quer a desordem, a rebelião ou tumulto. Deus está pela ordem como
estada normal das coisas, e esta ordem equivale à paz. É o mesmo Deus que na
cena da criação põe ordem no caos inicial (Gn 1,1ss), dando a entender que
“criar” é em primeiro término ordenar o caos inicial, separando o céu da terra
etc. para evitar a confusão. A paz, entendido neste sentido, se apresenta como
estado normal das coisas onde cada uma ocupa seu devido lugar. Quando cada
elemento ocupar seu próprio lugar haverá a ordem e conseqüentemente haverá a
paz. “A paz é a tranqüilidade da ordem”, dizia Santo Agostinho.
Para refletir:
· Depois
do Pai-Nosso se dá a paz. Que grande sacramento se esconde nesse rito. Deixa
que teu beijo seja a expressão de teu amor. Não sejas Judas, que beijou Cristo
com os lábios, mas já o havia traído em seu coração (Santo Agostinho: Serm. Dennis 6,3)
P. Vitus Gustama,svd
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