SER CRISTÃO SIGNIFICA
SER MÁRTIR DE CRISTO
Sábado da V Semana da Páscoa
04 de Maio de 2013
Texto de Leitura: Jo 15,18-21
Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: 18“Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro me odiou a
mim. 19Se fôsseis do mundo, o mundo gostaria daquilo que lhe
pertence. Mas, porque não sois do mundo, porque eu vos escolhi e apartei do
mundo, o mundo por isso vos odeia. 20Lembrai-vos daquilo que eu vos disse: ‘O servo não é maior que seu
senhor’. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós. Se guardaram a
minha palavra, também guardarão a vossa. 21Tudo isto eles farão
contra vós por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou”.
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Continuamos ainda a acompanhar o
discurso de despedida de Jesus dos seus discípulos (Jo 13-17).
O evangelho de hoje descreve a
situação precária da comunidade cristã no mundo, principalmente nos finais do
século I e nos começos do século II. É uma situação que se caracteriza pela
recusa e até pela perseguição abertas. A resistência à revelação não cessou na
cruz de Jesus. A mesma resistência agora é dirigida contra a comunidade cristã
que mantém os ensinamentos de Jesus Cristo. “Se me perseguiram a mim, também
perseguirão a vós”, alerta Jesus aos seus. Na época em que João escreveu
seu evangelho muitos morreram como mártires.
No evangelho deste dia, Jesus
contrapõe o amor do Pai com o ódio do mundo manifestado pela perseguição. “Se
o mundo vos odeia, sabei que primeiro me odiou a mim”. Ódio é paixão ou
sentimento que leva a fazer ou a desejar mal para o próximo. É uma paixão
provocada pela vista do mal e que se traduz por um sentimento de aversão. O
mundo é caracterizado pelo ódio. A comunidade cristã é caracterizada pelo amor
fraterno: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor
uns aos outros” (Jo 13,35).
“Se o mundo vos odeia, sabei
que primeiro me odiou a mim”. Os cristãos estão bem advertidos. Não têm
porque se estranham de ser recusados ou odiados. Nada de estranho! A Igreja é o
Corpo de Cristo. Por isso, tem que sofrer inevitavelmente os ataques do homem
mundano que se crê deus de si mesmo e que não pode renunciar a ser ele o autor
de sua própria salvação. Este tipo de homem sempre buscará acusações contra a
Igreja, pelos mesmos motivos que as buscou contra Jesus. Para o mundo a fé em
Deus é irracional e atrasada; o perdão aos inimigos é uma debilidade; a oração
e o amor a Deus são atitudes ineficazes. Por isso e por tantos outros motivos a
Igreja de Cristo é perseguida. Mas a perseguição é um meio de união com Cristo;
é correr a mesma sorte que Jesus.
Para São João, habitualmente,
especialmente no contexto do evangelho deste dia, o mundo significa “o mundo
pecador”, “o mundo que recusa Deus”. O processo de Jesus não terminou enquanto
a Igreja estiver no mundo. Por isso, o mundo neste sentido é sinônimo de todo
um sistema ideológico, político e social que aliena o ser humano e o converte
num escravo; designa a todo sistema injusto. Mas o seguimento de Jesus, a
amizade com ele leva os cristãos a romperem com a mentalidade alienada que o
mundo impõe.
Mas a ruptura com o mundo não é
fácil. Pelo contrário, resulta num conflito em extrema deprimente e perigoso,
porque o mundo, como mentalidade alienadora, não permite a mínima dissensão ou
oposição. Por isso, enquanto a Igreja existir sobre a face da terra, vão continuar
a existir também mártires. Mas o sangue do mártir é a semente para a Igreja.
Não dá para a verdadeira Igreja de Cristo parar de sofrer. A Igreja de Jesus
continua com sua função profética de anunciar e de denunciar que resulta na
perseguição e no martírio. Viver de acordo com os ensinamentos de Cristo
significa ser sinal de contradição (cf. Lc 2,34-35).
Os cristãos devem lutar
incansavelmente por superar, em sua própria pessoa e na comunidade, a
mentalidade que o mundo lhes impõe. A vida de um cristão é uma luta permanente
contra o mal. Qualquer cristão verdadeiro sofrerá por manter sua opção pelos
valores do Reino tais como amor, justiça, honestidade, verdade, igualdade,
fraternidade e assim por diante.
O que o cristão deve continuar a
fazer é testemunhar o amor fraterno. O amor fraterno é o selo de autenticidade
de cada cristão (cf. Jo 13,35). Somente o amor vivido na fraternidade salva,
pois “Deus é Amor” (1Jo 4, 8.16).
O perigo que temos é a assimilação
insensível da hierarquia de valores do mundo em vez da hierarquia de valores
que Jesus Cristo ensinou. Por isso, há perseguição contra a Igreja que é fruto
da incoerência da própria Igreja com seus próprios ensinamentos éticos e morais
recebidos de Jesus Cristo. Se a Igreja estiver de mãos dadas com o mundo é
porque a Igreja deixa de viver de acordo com sua função profética de anunciar e
de denunciar. Em outras palavras, a Igreja é perseguida porque não está vivendo
os valores cristãos que ela própria prega. Neste sentido, este tipo de
perseguição serve para que a Igreja volte a ser como antes: uma comunidade
cristã que vive os valores éticos e morais antes de pregá-los. Mas há outro
tipo de perseguição que se deriva do choque do evangelho com muitos dos
critérios que hoje são vigentes. Esta segunda perseguição é um claro sinal da
autenticidade da Igreja. Se os cristãos forem perseguidos por estar vivendo os
valores éticos e morais e os demais valores evangélicos, estarão recebendo, na
verdade, um grande aplauso apesar do sofrimento. Que bom que alguém me critica
por praticar o bem.
Ao participar da Eucaristia sabemos
que aceitamos as exigências do Evangelho, de tal forma que, daqui em diante,
temos que viver totalmente comprometidos com Jesus Cristo. Comungar o Corpo do
Senhor significa viver como Ele viveu. Comungar o Corpo do Senhor significa
assumir o estilo de vida que ele viveu. Sem isto, a Eucaristia e a comunhão
carecerão de sentido.
P. Vitus Gustama,svd
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