COM JESUS A SEDE DO
ABSOLUTO SE SACIA E O RELATIVO PERDE SUA IMPORTÂNCIA
Sábado da III Semana da
Páscoa
20 de Abril de 2013
Texto de Leitura: Jo 6,60-69
Naquele tempo, 60muitos
dos discípulos de Jesus, que o escutaram, disseram: “Esta palavra é dura. Quem
consegue escutá-la?” 61 Sabendo que seus discípulos estavam
murmurando por causa disso mesmo, Jesus perguntou: “Isto vos escandaliza? 62E
quando virdes o Filho do Homem subindo para onde estava antes? 63O
Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada. As palavras que vos falei são
espírito e vida. 64Mas entre vós há alguns que não creem”. Jesus
sabia, desde o início, quem eram os que não tinham fé e quem havia de
entregá-lo. 65E acrescentou: “É por isso que vos disse: ninguém pode vir a mim a
não ser que lhe seja concedido pelo Pai”. 66A partir daquele
momento, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com ele. 67Então,
Jesus disse aos doze: “Vós também vos quereis ir embora?” 68Simão
Pedro respondeu: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. 69Nós
cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”.
*********
No fim do discurso sobre o Pão da
vida o entusiasmo das multidões vai se esfriando e chega um momento em que,
escandalizadas pelas palavras de Jesus, o abandonaram. A desilusão penetra,
inclusive, no interior do círculo dos mais apegados: no grupo dos discípulos.
Mas Jesus, apesar deste aparente fracasso, anuncia já a vitória de sua
ressurreição e a glória de sua ascensão ao céu: “E quando virdes o Filho do
Homem subindo para onde estava antes?”, perguntou Jesus retoricamente. Os
que permanecerem até o fim, terão, um dia, experiência deste mistério e
conhecerão a existência gloriosa do Senhor ascendido ao céu e serão confirmados
na fé. As palavras de Jesus são espírito e vida. O Espírito de Deus dá às
palavras de Jesus um sentido e uma força divina capaz de fortalecer os que nele
crêem e escutam as palavras de Jesus: “O Espírito é que dá vida, a carne não
adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e vida”.
Muito se escandalizaram por causa
das palavras de Jesus porque não penetraram ainda no mistério da pessoa de
Jesus. Uma palavra ou uns fatos são escandalosos na medida em que rompem os
esquemas, hábitos ou comportamentos dos indivíduos ou dos grupos. O grupo que
hoje se escandaliza já não é o grupo dos mestres de Israel e sim um grupo dos
discípulos de Jesus. Eles se sentem mais seguros sendo observantes do que sendo
crentes. Eles preferem o estado de vida orientado pela Lei ao estilo de vida
orientado pela fé, estilo de vida carnal ao estilo de vida espiritual.
Diferentemente da pessoa carnal, a pessoa espiritual é aquele que se entende a
si mesma a partir de uma relação com Deus manifestada por Jesus: “O espírito é
que dá vida, a carne não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e
vida”, disse Jesus aos discípulos.
Mesmo assim muitos discípulos
abandonaram Jesus. No entanto, Pedro responde à pergunta de Jesus fazendo em
nome de seus companheiros uma sincera profissão de fé: “A quem iremos,
Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos
que tu és o santo de Deus”. Pela primeira vez e única vez no quarto
Evangelho aparecem os Doze como um grupo já formado. João os apresenta como os
homens da experiência mística: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de
vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o santo de Deus”.
É Pedro quem fala por todos. Trata-se do descobrimento do insondável mistério
de Jesus, de sua pessoa de carne e de osso. Daí o caráter fundamental e insubstituível
dos Doze. Os Doze crêem que Jesus tem palavra de vida eterna e que ele é o
Messias ou “santo de Deus” por outra parte. A questão não é somente seguir ou
deixar de seguir Jesus e sim encontrar o outro que tenha ele palavras capazes
de dar o sentido da vida e por isso, a vida eterna. Este descobrimento leva os
Doze a relativizarem tudo que até naquele momento parecia ser fundamental. No
lugar de tudo isso surge Jesus, sua pessoa, sua palavra, iluminando tudo com
uma luz nova. À luz de Jesus há coisas que deixam de ter interesse e valor,
outras que surgem e outras que cobrem novo valor. A sede de busca do absoluto
se sacia e o relativo perde sua importância diante de Jesus que tem palavras de
vida eterna.
São Paulo nos convida a
descobrirmos e a experimentamos a maravilhosa experiência mística: “Por essa razão eu dobro
os joelhos diante do Pai de quem toma o nome toda família no céu e na terra
para pedir-lhe que ele conceda, segundo a riqueza da sua glória, que vós sejais
fortalecidos em poder pelo seu Espírito no homem interior, que Cristo habite
pela fé em vossos corações e que sejais arraigados e fundados no amor. Assim
tereis condições para compreender com todos os santos qual é a largura e o
comprimento e a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede
a todo conhecimento, para que sejais plenificados com toda a plenitude de Deus” (Ef 3,14-19).
Também no mundo de hoje, como para
os ouvintes que estavam em Cafarnaum, Jesus se converte em sinal de
contradição, como anunciou o ancião Simeão, quando Maria e José apresentaram
seu filho no Templo. A dureza da fé pode nos levar ao cansaço e ao abandono.
São muitos batizados que optaram por buscar caminhos mais fáceis em vez de
encarar a verdade e se esforçar para melhorar a qualidade de vida e de fé.
Cristo é difícil de admitir na própria vida, se é entendido tudo o que comporta
o crer nele. Ele é exigente, e seu estilo de vida está não poucas vezes em
contradição com os gostos e as tendências de nosso mundo. Crer em Jesus, e
concretamente comungar com ele na Eucaristia, que é uma maneira privilegiada de
mostrar nossa fé nele, pode resultar difícil.
Quando nos cansamos de seguir o
bem, de viver de acordo com a verdade, o amor, e a justiça, de praticar a
caridade e o perdão, quando nos pesa a fidelidade a Deus e aos irmãos, quando o
mal nos circunda e nos assedia, quando a dúvida e a incredulidade nos oprimem,
então, Jesus também nos pergunta: “Também tu queres partir e me abandonar?”.
Constantemente temos que escolher entre vários deuses e senhores. Se quisermos
optar pela vida em plenitude, sem limite nem ocaso, temos que fazer nossas as
palavras de Pedro: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”.
Nós cremos em Jesus e sabemos
disso. Mas a fé é uma adesão pessoal a Cristo. A fé entendida como adesão
pessoal a Cristo nos conduz a um maior conhecimento de sua mensagem e de sua
pessoa. Conhecer Jesus, refletir sua mensagem e assimilar suas atitudes nos
conduz a uma maior maturidade na fé.
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário