MORADA DE DEUS É O CORAÇÃO
QUE SABE AMAR
Segunda-feira da V
Semana da Páscoa
29 de Abril de 2013
Texto de Leitura: Jo 14,21-26
Naquele tempo, disse
Jesus a seus discípulos: 21“Quem acolheu os meus mandamentos e os
observa, esse me ama. Ora, quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e
me manifestarei a ele”. 22Judas – não o Iscariotes – disse-lhe:
“Senhor, como se explica que te manifestarás a nós e não ao mundo?” 23Jesus
respondeu-lhe: “Se alguém me ama, guardará minha palavra, e o meu Pai o amará,
e nós viremos e faremos nele a nossa morada. 24Quem não me ama não
guarda a minha palavra. E a palavra que escutais não é minha, mas do Pai que me
enviou. 25Isso é o que vos disse enquanto estava convosco. 26Mas
o Defensor, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará
tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito”.
O texto do evangelho de hoje faz
parte da conversa de Jesus com os seus discípulos na véspera de sua morte (Jo
13-17). A situação determina absolutamente o conteúdo das palavras de Jesus
neste discurso de despedida. A morte de Jesus vai ser um ir ao encontro do Pai
celeste. Esse modo novo de ver situação deve constituir para os discípulos
motivos de alegria e não de medo, pois Jesus Cristo não vai abandoná-los. O
Santo Espírito vai acompanhá-los no mundo, uma nova forma da presença de Jesus
no meio deles. E este Espírito Santo vai facilitar os discípulos na compreensão
das palavras de Jesus, que até então sem condições para encontrar o sentido das
palavras de Jesus. Jesus é a mensagem e o Mensageiro de Deus, o Profeta e a
Palavra de Deus e é Deus (cf. Jo 1,13). Em Jesus e por Ele tudo ficou dito,
tudo o que Deus tinha que nos dizer. Mas nem tudo ficou compreendido. Por isso,
a nova presença de Jesus no Santo Espírito vai ajudar os discípulos a
compreenderem tudo que foi dito por Jesus.
“Se alguém me ama, guardará a minha
palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada”, Jesus disse no
evangelho de hoje.
Deus faz sua morada em nós em
virtude de uma dupla exigência: guardar sua palavra e amá-lo de verdade no
próximo (amor fraterno). Deus está presente em cada um de nós na medida em que
ama. A morada de Deus, a casa de Deus, sua residência já não é um templo, Deus
não mora na parede das igrejas, e sim que sou eu mesmo morada de Deus na medida
em que vivencio o amor fraterno, na medida em que sou fiel à palavra de Jesus. Em
outras palavras, o amor cria comunhão e comunidade tanto no nível humano como
no nível divino. Com efeito, sem o amor não haveria nenhuma comunhão com os
outros e conseqüentemente com Deus, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).
Mas esta presença de Deus no homem
não é estática; é a presença de seu Espírito, seu dinamismo de amor e vida que
faz o homem participar de Seu próprio amor. É coisa que o mundo não pode fazer.
Se Deus faz sua morada no coração de quem ama, isto significa que Deus se
afasta de mim quando houver em mim o desamor, a injustiça, o ódio, a exploração
dos irmãos, a falta de perdão e assim por diante.
Por isso, não basta ficar-me no
nível de idéias, de sentimentalismo, de pensamentos e sim que esse novo
pensamento, essas novas idéias tenham que provocar em mim uma mudança de vida.
Não basta abrir a mente, tenho que abrir também a porta de meu coração, de
minha vida vivendo o amor fraterno para tornar-me morada de Deus. O homem que
ama é um homem divinizado. “Sem amor o rico se torna pobre; com amor o pobre
se torna rico” (Santo Agostinho). A prática cristã do amor é o sinal mais
claro e evidente de nossa pertença à Igreja de Jesus. Quem ama como Jesus amou,
entra no recinto do amor de Deus Pai e mergulha no mistério salvador de Deus: “Se
alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e
faremos nele a nossa morada”. Amar a Jesus é deixar-se guiar por suas
palavras e inspirar-se em seu modo de viver. Ele vive por amor e para o amor. é
um amor universal que não exclui ninguém. Quem se entrega a este projeto de
amor será transformado em morada de Deus.
A afirmação de Jesus é, na verdade,
um convite ao progresso interior que nos torna semelhantes a Deus pela
fidelidade à palavra, e faz reconhecer, nesta fidelidade, a morada das pessoas
divinas. O amor fraterno nos aproxima de Deus. A partir do momento em que
alguém amar, ele será a nova morada de Deus. Se em Jo 14,3 Jesus disse que iria
preparar para os fiéis uma morada no céu, agora neste texto (vv.22-23) fica
claro que a morada do Pai e de Jesus no meio de nós começa aqui e agora, na
medida em que observamos o mandamento de Jesus: mandamento do amor fraterno. Se
no passado Deus se manifestava em lugares e fenômenos naturais, agora fica
muito claro que as pessoas que amam como Jesus são manifestação da presença de
Deus. Assim, a separação entre o homem e Deus é superada, e a busca do Pai,
tema essencial do Discurso é satisfeita pelo próprio Pai. O nosso Deus não é o
Deus distante, mas aquele que se aproxima do homem e vive com ele, formando uma
comunidade com os homens, objeto do seu amor.
Por isso, buscar a Deus não exige
ir encontrá-lo fora de próprio homem, mas deixar-se encontrar e amar por Ele. A
“morada” de Deus está em nós mesmos e entre nós, se estivermos unidos a Jesus e
ao Pai na fidelidade e na prática do mandamento do amor. A resposta ao amor a
Jesus se expressa no amor aos outros homens (guardar minha palavra). E o Pai e Jesus respondem à fidelidade do
discípulo dando-lhe a experiência de sua companhia e seu contato pessoal.
Toda vez que alguém, ao escutar a
mensagem do amor, a repete para si mesmo e a põe em prática, insere-se na
família de Deus e passa a ser, com Jesus, uma manifestação de Deus ao mundo. A
comunidade cristã e o “mundo”, então, distinguem-se entre si pela presença ou
ausência do amor. O amor torna-se a razão de diferença entre os discípulos e o
mundo. Sem amor, o homem continua carnal, incapaz da autêntica experiência de
Deus. Deus escolhe para sempre viver no coração que ama.
P. Vitus Gustama,svd
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