CREMOS NO DEUS DA VIDA E NO DEUS DOS VIVOS
Quarta-feira da IX Semana Comum
05 de Junho de 2013
Texto de Leitura: Mc 12,18-27
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A discussão entre Jesus e
autoridades passa agora do campo político-religioso para o campo puramente dogmático.
Entram em cena os saduceus que Marcos cita somente na passagem do evangelho. O assunto
é sobre a ressurreição.
Os saduceus são um grupo formado por
pessoas ricas e por isso, são uma “classe separada”: fazendeiros e eles dominam os comércios
da cidade. Eles pertencem às famílias sacerdotais dirigentes. Eles têm uma
grande influencia na política e na administração da justiça em Palestina. Eles são
conservadores em termos da religião. Eles aceitam apenas a Tora (Pentateuco ou
cinco primeiros Livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio).
Eles não acreditam na vida depois da morte (ressurreição), pois não está escrita
(explicitamente) no Pentateuco. Por isso, eles aplicam o ditado “Carpe diem”
(aproveite o dia ou ser hedonista) ou salve-se quem puder. O divorcio entre
eles é comum. Por não acreditar na vida após a morte, eles perguntam a Jesus a
partir de um caso especial como conta o evangelho deste dia.
Jesus se baseia nas Escrituras (Mc
12,24) ainda que, depois, se limite a citar uma passagem do Pentateuco para se
adaptar a seus interlocutores. A resposta de Jesus está contida nas duas frases
praticamente idênticas: ”Vós estais enganados” (Mc 12,24) e “Vós estais muito
enganados” (Mc 12,27). Por dois motivos: Não conheceis as Escrituras nem o
poder de Deus (Mc 12,24). A passagem que Jesus cita é Ex 3,1-12 onde se narra
como Deus apareceu a Moisés na sarça. Nessa cena Deus se define como o Deus de Abraão,
o Deus de Isaac, o Deus de Jacó, isto é, o Deus qua atua na história e que quer
continuar sendo, com o homem, protagonista da história. O Deus de Abraão é o
Deus dos vivos, o Deus fonte de vida. O homem que atua com Deus não pode ter
como meta o fracasso da morte. A comunidade ou cada pessoa que tem a experiência
com Jesus ressuscitado é um povo que vai além da história e é destinado para
uma vida sem fim com Deus.
Além disso, Jesus olha para toda a revelação
divina, inclusive a que teve lugar depois de Moisés na qual o conceito de ressurreição
é evidente. Por exemplo, no Livro de Sabedoria onde se diz: “Deus criou o homem
para a imortalidade” (cf. Sb 1,12-3,9; etc.). Para Jesus a vida dos
ressuscitados é eterna, é imortal, como a dos anjos e por isso, não necessita
perpetuar-se por geração.
Uma das coisas que sempre preocupam
o homem é o seu destino final. O que passa depois da morte? Nós nos encontramos
hoje diante da Palavra de Deus que toca um dos pontos mais difíceis de entender
em nossa vida: a realidade da morte e a proposta cristã da Ressurreição. Ainda
não entendemos as propostas cristãs da Ressurreição porque constantemente
vivemos aferrados a uma falsa corporalidade pelo medo que nos inculcaram diante
da realidade da morte. Cada dia os homens e as mulheres de nosso tempo vivem em
um pânico constante diante da morte. Pânico que nos faz viver a vida de forma
escrupulosa e de falsos moralismos.
Para o cristão, a resposta de Jesus
ilumina este mistério e o faz viver em paz, pois agora sabe que não existe a
morte e sim simplesmente uma transformação para quem vive no Senhor e com o
Senhor e que se traduz na convivência fraterna com os demais.
A esperança na ressurreição é a
força capaz de ordenar as realidades humanas numa escala de valores posta na
vida eterna. Por isso, Jesus ensina que a vida eterna será dada na gratuidade e
a universalidade na relação entre os homens, não haverá domínio de uns sobre
outros, a existência será uma grande festa de vida eterna e plena. A
ressurreição não pode ser entendida na perspectiva dos valores temporais. Isso
é o que no texto significam os anjos.
Por outro lado, devemos entender no
texto que Deus é um Deus dos vivos e não dos mortos. Devemos aprofundar sobre o
mistério de um Deus que dá a vida, que transforma nosso ser, que nos
ressuscita. Desta forma, o evangelista Marcos antecipa o conteúdo da
ressurreição de Jesus como vida depois da morte e nos convida a descobrirmos o
verdadeiro poder de Deus que transforma as forças da morte em forças de vida. O
Deus que Jesus dá a conhecer é um Deus doador de vida e que deseja que as
pessoas voltem a nascer de dentro com novos valores de vida e de justiça.
Diante da morte temos que ter uma
atitude de acolhida e uma grande capacidade de tratá-la como fez São Francisco
de Assis que chamava a morte de “a irmã Morte”, e diante da Ressurreição nós temos
que entender o conteúdo de justiça que ela esconde.
A morte é um mistério, também para
nós. Mas fica iluminada pela afirmação de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a
vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto viverá” (Jo 11,25). Não sabemos
como, mas estamos destinados a viver, a viver com Deus, participando da vida
pascal de Cristo, nosso irmão. A ressurreição é a morte de nossa morte para
vivermos eternamente com Deus. Santo Agostinho nos dá o seguinte conselho:
“Confia em Deus; Ele sempre dá o que promete. Sabe o que promete, porque é a verdade.
Pode prometer porque é onipotente. Dispõe de tudo porque é a própria vida.
Oferece todas as garantias porque é eterno” (In ps. 35,13). “Deus, de
quem separar-se é morrer, a quem retornar é ressuscitar, com quem habitar é
viver. Deus de quem fugir é cair, a quem voltar é levantar-se, em quem
apoiar-se é estar seguro. Deus, a quem esquecer é morrer, a quem buscar é
viver, a quem ver é possuir” (Solil. 1,1,3). “A perda (de nossos entes queridos) que sofremos oprime-nos o coração, mas a esperança nos
consola; nossa fraqueza natural nos acabrunha, mas a fé nos ergue outra vez;
nossa condição mortal nos faz derramarmos copiosas lagrimas, mas as promessas
de Deus as enxugam”, acrescentou Santo Agostinho.
P. Vitus Gustama,svd
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