SAGRADO CORAÇÃO
DE JESUS E NOSSA DEVOÇÃO
Sexta-feira,07 de Junho de 2013
Devoção, em
seu sentido
primário, significa dar-se a si mesmo a alguém ou a algo. No contexto
da verdadeira religião, devoção significa uma atitude
da vontade, serena
e constante, fruto
de uma decisão refletida pela qual a pessoa se entrega em todo momento ao serviço
de Deus. É uma oferenda
de si mesmo
a Deus, dedicando-se, permanentemente, a todas aquelas atividades
referentes à honra
de Deus. Qualquer
devoto cumpre seus
deveres referentes
à sua devoção
conscientemente e constantemente
apesar das dificuldades
encontradas. A palavra latina “devotio” (devoção)
indica força, vontade
decidida de fazer
a vontade de Deus
independentemente da situação encontrada. Por
isso, devoção
está longe de ficar
no nível de sentimento.
O que
queremos dizer ao falar
do coração de Jesus ou
de um coração
humano?
O coração
representa o ser humano
em sua
totalidade; é o centro
original da pessoa
humana, o que
lhe dá unidade.
O coração é o centro
de nosso ser,
a fonte de nossa
personalidade, o motivo
principal de nossas atitudes
e escolhas livres,
o lugar da misteriosa ação
de Deus. Apesar
de poderem existir o bem
e o mal nas suas
profundezas, o coração continua sendo símbolo de amor.
Por isso,
a essência mais
profunda da realidade
pessoal é o amor.
O homem foi criado
para amar e ser amado. Fora disto ele
perderia a razão de ser
e de viver. “Ama
e faze o que tu
quiseres” (Santo gostinho).
A devoção
ao Coração de Jesus está totalmente de acordo
com a essência
do cristianismo que
é religião de amor
(cf. Jo 13,34-35), pois o cristianismo
tem como objetivo
o aumento de nosso
amor a Deus
e ao próximo (cf. Fl 1,9). O símbolo
deste amor é o coração
de Jesus que ama
a todos sem
medida. Jesus Cristo
é a encarnação do amor
de Deus por
nós desde
a eternidade: “Eu te amei com
amor eterno,
por isso
conservei para ti o amor”
(Jr 31,3). Em cada
página dos evangelhos
fala-se do amor de Jesus por nós. “Tudo o que Deus queria nos
dizer de si mesmo e de seu amor, ele o
depositou no coração de Jesus e o
expressou através deste Coração. Através
do Coração de Jesus lemos o eterno plano divino da salvação do mundo.
E trata-se de um projeto
de amor” (João Paulo II).
A devoção
ao Sagrado coração
de Jesus quer nos
chamar de volta
à primordial razão
de nosso ser:
amar. “Quanto mais amas, mais alto tu sobes” (Santo Agostinho). Uma pessoa
com coração
é uma pessoa profunda,
próxima, compreensiva, capaz de ir ao fundo das coisas
e dos acontecimentos. Uma pessoa
com coração
não é dominada pelo
sentimentalismo e sim
é uma pessoa que
alcançou uma unidade e uma coerência, um equilíbrio e uma maturidade.
Ela nunca
é fria, mas
cordial, nunca
é cega diante
da realidade, mas
realista, nunca é vingativa,
mas pronta
para perdoar e para reconciliar-se. Um
coração cristão,
a exemplo do de Jesus, é um coração de dimensão universal, um coração que supera o egoísmo,
um coração
magnânimo capaz
de abraçar a todos.
A espiritualidade do coração é uma verdadeira espiritualidade,
pois inclui a oração,
a conversão, a escuta
do Espírito, o cuidado
para o próximo, a compaixão, a solidariedade
e a partilha. Não é por
acaso que
para o homem
de antiguidade ter
coração equivalia a ser
uma personalidade íntegra.
A devoção
ao Sagrado Coração
é devoção a Cristo
mesmo. O próprio
Cristo é o objeto
de nossa adoração
e para ele é que dirigimos nossa
oração.
Jesus teve um
amor perfeito,
seu coração
é para nós o perfeito emblema
de amor. Seu
coração foi saturado
de amor perfeito
ao Pai e aos homens.
Seu amor
é totalmente humano
porque nele nos
encontramos com o mistério
de um amor
humano-divino. O amor de Deus se encarnou no amor
humano de Jesus. Por
isso, Jesus nos
convida: “Aprendei de mim porque sou humilde
e manso de coração”.
Humilde indica uma docilidade interior que se
expressa na docilidade com os demais. Manso indica uma atitude valente, mas não violenta,
misericordiosa, tolerante, pronto para perdão, mas também exigente.
O amor
de Deus não
é compatível com
a indiferença diante
do sofrimento alheio e diante da injustiça
social. Mas
nossas atividades, inclusive
as práticas políticas
e sociais devem ser
animadas pelo amor
cristão.
A contemplação
do mistério de amor
de Deus por
nós deve nos
conduzir a uma resposta
múltipla. Deve suscitar
em nós
sentimentos de fé,
amor e adoração.
No contexto religioso
devoção indica serviço
dedicado e vontade decidida
de fazer a vontade
de Deus. Sugere culto
não somente
do tipo litúrgico,
mas de nossa
vida inteira.
Esta devoção se realiza aceitando o convite de Jesus a tomar nossa cruz e
segui-lo.
A comunhão
sacramental não
é somente participar no Corpo e no Sangue
de Cristo; implica a participação na vida dos seus membros com um compromisso
de amor e de serviço.
Viver no amor
é escolher Deus,
permanecer em
Deus, viver em comunhão com Deus. Quando mantemos essa relação
com Deus,
o Espírito reside em
nós e opera, por
nosso intermédio,
obras grandiosas em
favor do homem
– obras que
dão testemunho do amor
de Deus.
Tornar o amor
de Deus uma realidade
viva no mundo
significa lutar objetivamente
contra tudo
o que gera ódio,
injustiça, opressão,
mentira, sofrimento e assim
por diante.
Será que eu
pactuo (com o meu
silêncio, indiferença,
cumplicidade) com
os sistemas que
geram injustiça, ou
será que eu
me esforço
ativamente por
destruir tudo
o que é uma negação
do amor de Deus?
Um coração
grande na vida
é aquele que
escolhe aquilo que
eleva, e liberta-se daquilo que rebaixa
a humanidade.
A devoção
ao Sagrado coração
de Jesus nos faz um
questionamento: que
resposta dar
ao Cristo que
nos amou até
morrer crucificado?
Santo Agostinho dizia: “O que amamos em Cristo? Seus membros crucificados, seu
lado traspassado ou
sua caridade?
Quando ouvimos que
sofreu por nós,
o que amamos nele? É seu amor que amamos. Ele
nos amou para
que lhe
retribuíssemos amor por
amor, e para que possamos lhe
retribuir amor
por amor,
visitou-nos pelo seu
Espírito” (Sermão
sobre Sl 127,8).
Não podemos fazer
a devoção ao Sagrado
Coração de Jesus, se ainda guardamos o ódio
no nosso coração,
se não somos capazes
de perdoar, se não
nos preocupamos com
a salvação de todos. Uma pessoa
que tem a devoção
ao Sagrado Coração
de Jesus tem uma missão de levar a todos o amor de Cristo.
Mas precisamos saber
que ser uma pessoa amorosa é bastante diferente
de ser o chamado “prestativo”.
Os prestativos usam tão-somente as
outras pessoas como
oportunidade de praticar
atos virtuosos,
dos quais mantém registro
cuidadoso. As pessoas
que amam aprendem a mudar
o foco de atenção
e da preocupação de si
para outras pessoas;
elas se preocupam intensamente
com as outras pessoas.
Nosso cuidado
e preocupação pelos
outros devem ser
autênticos, do contrário
nosso amor
nada significa. Não
se aprende a viver sem
antes aprender
a amar. O amor
humano quando
é verdadeiro nos
ajuda a saborear
o amor divino.
E o amor divino
em nós
nos faz mais
compassivos, mais
generosos, mais
éticos e mais
reconciliados; damos aquilo que recebemos, ensinamos aquilo
que aprendemos. Ninguém
pode viver este
amor se não
se forma na escola
do Coração de Jesus. Somente
se olharmos e contemplarmos o Coração de
Cristo é que
conseguiremos que o nosso
coração se liberte do ódio e da indiferença. Somente assim saberemos
reagir de modo
cristão diante
da ofensa e dos sofrimentos alheios e diante
da dor humana.
Pedimos ao Sagrado
Coração de Jesus ao qual
temos a devoção que
nos conceda um
coração bom
capaz de compadecer-se para
remediar os tormentos
que acompanham e angustiam tantas pessoas neste mundo.
O verdadeiro bálsamo
é o amor, a caridade.
Todos os demais
consolos servem apenas
para distrair um momento, e deixar mais tarde a amargura e o desespero.
Será que
as nossas comunidades, as nossas pastorais, os nossos
grupos são
espaços de acolhimento
e de hospitalidade, oásis
do amor de Deus,
não só
para os amigos
e colegas, mas
também para
os pobres, os marginalizados, os
sofredores que buscam em nós um sinal de amor, de ternura
e de esperança?
P. Vitus Gustama,svd
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