AMOR CULTIVADO É A VIOLÊNCIA EXTINTA
Segunda-feira da
XI Semana Comum
17 de Junho de 2013
Texto de Leitura: Mt
5,38-42
O texto do evangelho lido neste dia
se encontra no Sermão da Montanha (Mt 5-7). Este texto é conhecido como a
quinta antítese que nos fala sobre como devemos nos relacionar com quem nos
ofendeu. Nesta antítese, Jesus faz seu comentário sobre a lei de talião do
Antigo Testamento. No Livro do Êxodo lemos: “Vida por vida, olho por olho,
dente por dente, mão por mão, queimadura por queimadura, ferida por ferida,
golpe por golpe” (Ex 21,23-25; cf. Lv 20,17-22). Aqui se acentua a vingança
proporcional ou a vingança na mesma medida.
A lei de talião era conhecida em
todo o Oriente Antigo. Ela é encontrada no Código Hammurábi, nas leis assírias,
na Torah bem como também entre os gregos e os romanos.
No famoso Código de Hammurabi
(século XVIII a.C) encontramos os seguintes artigos referentes à Lei de talião:
·
O artigo 196: “Se alguém arrancar um
olho de outro, também seu olho será arrancado”.
·
O artigo 197: “Se alguém quebrar um
membro de outro, também um de seus membros será quebrado”.
·
O artigo 200: “Se alguém quebrar um
dente de outro, um de seus dentes será quebrado”.
A finalidade primordial dessa lei
era colocar um limite a uma vontade desenfreada de vingança em uma sociedade em
que a vingança era quase que institucionalizada (cf. Gn 4,23-24). Portanto, a
intenção dessa lei era proteger os direitos das pessoas contra os excessos de
violência.
Na quinta antítese do Sermão da
Montanha Jesus faz uma reflexão sobre a lei de talião e oferece uma solução:
« Pelo contrário, se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a
esquerda. Se alguém quiser levar-te ao tribunal, para ficar com a tua túnica,
deixa-lhe também o manto. Se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante um
quilômetro, caminha dois com ele. Dá a quem te pedir e não vires as costas a
quem te pede emprestado” (Mt 5,38-42).
Com esta antítese Jesus coloca como
alternativa à violência, não a lei de talião, mas a não-violência. Na verdade,
Jesus já colocou nas Bem-aventuranças a atitude certa contra a violência: “Bem-aventurados
os mansos, bem-aventurados os misericordiosos, bem-aventurados os que promovem
a paz”. Jesus nos ensina também com seu exemplo (cf. Mt 11,28-30; 12,18-21). E São
Pedro na sua Carta escreveu que Cristo “Quando injuriado, não revidava; ao
sofrer não ameaçava, antes, punha a sua causa nas mãos daquele que julga com
justiça” (1Pd 2,23).
A reação paradoxal que Jesus sugere
aos cristãos, diante da violência, tem uma finalidade concreta: mostrar as
possibilidades extremas de aplicação do seu mandamento de amor. Quem é movido
por um amor incondicional ao próximo será capaz de fazer gestos radicais para
coibir a violência, sem responder com a mesma moeda. Tudo supõe que se tenha um
coração limpo (cf. Mt 5,8). A lei de talião é excluída pela limpeza de coração
e pela compaixão. O cristão é chamado a não entrar na engrenagem infernal de um
violento e não reagir com a violência à violência.
Segundo Jesus não basta “agüentar”
os maus; devemos fazer, por eles, algo de positivo. Jesus não quer bobos, mas
fortes, capazes de fazer algo para que o mundo mude ou melhore. Não é
suficiente sofrer, enquanto tivermos ainda uma possibilidade de fazer
positivamente o bem.
Não é possível viver odiando em
inimizade profunda e irreversível. O dano interior provocado por uma relação
esfarrapada corrói nossas melhores energias e o Templo de Deus em nós se
deteriora (cf. 1Cor 3,16-17) e sentimentos de vingança o deformam lentamente. O
perdão é o testamento escrito por Jesus na cruz.
Deveríamos realizar um progressivo
desarme intelectual, moral e religioso. É não justificar o injustificável. É
crer na força do amor. É tirar da Eucaristia a certeza de curar nossas feridas
profundas. Toda vez que fazemos memória da morte e ressurreição de Cristo, o
mesmo Senhor nos introduz, pelo Espírito, na plenitude de sua existência
pascal.
Quando o amor for “excesso” o mal é
obrigado a não se produzir e sua existência se extingue. Não é uma petição aos heróis
e sim para todos os cristãos para que imitem o exemplo do seu Senhor Jesus
Cristo. Para isso, temos que pedir permanentemente ao Senhor sua graça e força
que vem de Seu Espírito para acontecer uma transformação profunda no nosso modo
de viver com os demais homens. Mas “Empregar o nome de não-violência quando existe uma espada em vosso coração
é, não somente hipocrisia e desonesto, mas, ainda, covardia. Se permanecermos não-violentos,
o ódio ficará sem efeito. O primeiro princípio da ação não-violenta é o da não-cooperação
com tudo que é humilhante” (Mahatma Gandhi).
Reflitamos as seguintes palavras do
escritor e psicólogo argentino, René Juan Trossero:
“Não me importam as suas teorias
sobre a violência;
O que me interessa saber é como
você viveNo meio da violência que nos cerca por todas as partes.
Se você nunca foi vítima da
violência,
Fale sobre ela com prudênciaPor respeito aos que a sofrem na pele.
Provocar a violência em nome de
Deus
E do Evangelho é um sacrilégio.Pregar a resignação para os que sofrem a violência,
Invocando Deus e o Evangelho, é uma trapaça.
Não acabará a violência quando
houver menos armas,
E sim quando houver mais amor.Destruir a violência com a violência
É como apagar um incêndio com gasolina.
A única maneira de lutar contra a violência
É não provocá-la”. (René Juan Trossero)
P.Vitus Gustama, SVD
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