VIVER
AO SERVIÇO DA CAUSA DE DEUS
Sábado
da XI Semana Comum
22 de Junho de 2013
Texto de Leitura: Mt 6,
24-34
Naquele tempo, disse Jesus
a seus discípulos: 24 “Ninguém pode servir a dois senhores: pois, ou odiará um
e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir
a Deus e ao dinheiro. 25 Por isso eu vos digo: não vos preocupeis com a vossa
vida, com o que havereis de comer ou beber; nem com o vosso corpo, com o que
havereis de vestir. Afinal, a vida não vale mais do que o alimento, e o corpo, mais
do que a roupa? 26 Olhai os pássaros dos céus: eles não semeiam, não colhem,
nem ajuntam em armazéns. No entanto, vosso Pai que está nos céus os alimenta.
Vós não valeis mais do que os pássaros? 27 Quem de vós pode prolongar a duração
da própria vida, só pelo fato de se preocupar com isso? 28 E por que ficais
preocupados com a roupa? Olhai como crescem os lírios do campo: eles não
trabalham nem fiam. 29 Porém, eu vos digo: nem o rei Salomão, em toda a sua
glória, jamais se vestiu como um deles. 30 Ora, se Deus veste assim a erva do
campo, que hoje existe e amanhã é queimada no forno, não fará ele muito mais
por vós, gente de pouca fé? 31 Portanto, não vos preocupeis, dizendo: O que
vamos comer? O que vamos beber? Como vamos nos vestir? 32 Os pagãos é que
procuram essas coisas. Vosso Pai, que está nos céus, sabe que precisais de tudo
isso. 33 Pelo contrário, buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua
justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo. 34 Portanto, não
vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações!
Para cada dia, bastam seus próprios problemas”.
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Estamos ainda acompanhando o Sermão
da Montanha (Mt 5-7). O evangelho de hoje é, na verdade, outra explicação sobre
a primeira bem-aventurança: “Bem-aventurados os pobres no espírito”. A pobreza
no espírito é uma disposição interior que nos permite nos rebaixarmos e
converter os outros em amigos. Somente veremos o outro como inimigo se tivermos
algo a defender. Mas se dissermos: “Minha casa é tua, minha alegria é tua
alegria, minha tristeza é tua tristeza e minha vida é tua vida”, não teremos
nada a proteger ou defender, porque não teremos nada a perder e sim tudo por partilhar.
A pobreza interior é instrumento da hospitalidade.
No evangelho de hoje Jesus afirma: “Ninguém
pode servir a dois senhores... Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. É outro
modo de falar sobre a necessidade de escolher entre os “tesouros da terra” e os
“tesouros do céu”. No texto do evangelho de hoje se encontra a palavra “Mammon”
(aramaico), término que personifica o dinheiro, mas no sentido de algo demoníaco.
O Dinheiro, com maiúscula (o dinheiro como ídolo, como razão de ser), é a
potencia de escravidão. Jesus quer que não nos tornemos escravos do Dinheiro,
mas quer nos ver livres.
“Vós não podeis servir a
Deus e ao dinheiro”. Jesus quer que seus discípulos decidam
optar por uma causa só: a causa de Deus ou a causa do Dinheiro. O valor de cada
uma dessas causas depende da forma como cada uma delas trata o ser humano.
A causa do Dinheiro trata o ser
humano como uma mercadoria, uma coisa negociável que deve ser posta ao serviço
do lucro ou benefício de uma minoria. A causa de Deus, pelo contrário, trata o
ser humano como seu objetivo central, principalmente se o ser humano se
encontra oprimido ou desumanizado. Deus assume a causa do ser humano como sua
própria causa (cf. Jo 3,16), porque o ser humano é Seu filho e em Jesus
multiplicou os motivos de sua identificação com a Humanidade.
A causa do Dinheiro é a causa do
lucro, do benefício, e é a causa dos poderosos. A causa de Deus, ao contrario, é
a causa da justiça e da fraternidade, e por isso, é a causa que está a favor de
quem sofre as injustiças e por isso, está a favor dos injustiçados, dos
empobrecidos, dos marginalizados, dos excluídos. Quem luta por esta causa está
lutando com Deus e por isso, está com Deus.
Quem se põe somente ao serviço da
causa do dinheiro não deve estranhar-se de que na terra se multiplicam os seres
humanos sem alimento e sem vestido, sem moradia e sem saúde, sem segurança e
sem educação e assim por diante. Mas quem põe sua vida ao serviço da causa de
Deus, mais tarde acolherá o fruto da fraternidade e da justiça. E o alimento, o
vestido, a moradia, a educação, a saúde, a segurança nunca faltarão numa
sociedade de irmãos governada pela igualdade e a solidariedade. A Igreja cristã
primitiva experimentou tudo isso (cf. At 4,32-37).
Jesus nos apresenta outro estilo de
vida para todos os cristãos: a confiança em Deus, em oposição à excessiva preocupação
pelo dinheiro: “Procurai primeiro o Reino de Deus e sua justiça; o resto vos
será dado por acréscimo”. Para Jesus esta deve ser a atitude básica de cada
cristão. Trata-se de colocar tudo na escala de valores. Por isso, Jesus não nos
diz “procurai unicamente o Reino de Deus”, e sim “procurai primeiro o Reino de
Deus...”. Com isso Jesus não exclui o resto, mas coloca o resto no seu lugar
apropriado. Cristo sabe muito bem que nós não somos pássaros nem lírios, e que
nós necessitamos ganhar a vida com diligência e trabalho, mas descobrindo a
cada passo a providência amorosa de Deus e confiando-nos totalmente ao Pai do
céu, sem angústia obsessiva pela aquisição de coisas para a manutenção
cotidiana. Se Deus vela com solicitude sobre criaturas tão insignificantes como
os pássaros e as flores, quanto mais sobre os homens, seus filhos, todos nós que
colaboramos na Sua obra.
Jesus, com seu ensinamento, quer
libertar seus seguidores da inquietude através da consagração da própria vida a
Deus e da fidelidade na busca do Reino de Deus. Por isso, Jesus introduz no seu
ensinamento a palavra “Pai” para que o cristão tenha o sentimento de confiança
filial capaz de tranqüilizar sua natural inquietude. E a serenidade não será
alcançada sem a observância da justiça: “Buscai primeiro o Reino de Deus e a
sua justiça”.
A confiança e o abandono nas mãos
do Pai celeste que Jesus nos pede hoje é a fé n’Aquele a quem servimos e por
quem nos sentimos amados. Deus sabe muito bem que necessitamos de muitas coisas
para a subsistência de cada dia que se fundamenta no dinheiro, fruto de nosso
trabalho honesto e nos bens que com o dinheiro se adquirem. Por isso, no texto
anterior, Jesus nos ensinou a rezar: “Dá-nos hoje o pão nosso de cada dia”.
Mas esta confiança em Deus não nos
isenta de nossa responsabilidade nas tarefas temporais, não nos permite
desinteressarmos do nosso compromisso cristão no mundo. Se nós acreditamos que
Deus é absoluto em tudo, então o resto é relativo ou é apenas meio ou
instrumento e não o fim. Por isso, Jesus nos alerta: “Vós não podeis servir a
Deus e ao dinheiro”. Dinheiro é um deus que tem seu altar em cada coração
humano. Ninguém está isento de servir ao deus- dinheiro. Mas Santo Agostinho
dizia: “Se tu pensas em Deus com parâmetros carnais, tua mente se converterá em
uma fábrica de ídolos”. “Amando a Deus nos tornamos divinos; amando ao mundo
nos tornamos mundanos. O amor ao mundo corrompe a alma; o amor ao Criador do
mundo a purifica. O homem não se torna bom por possuir coisas boas. Ao
contrário, o homem bom torna boas as coisas que possui, ao usá-las bem”,
acrescentou Santo Agostinho.
P. Vitus Gustama, SVD
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