VIVER UNIDO A DEUS E AO IRMÃO
Quarta-feira da XI
Semana Comum
19 de Junho de 2013
Texto de Leitura: Mt 6,1-6.16-18
2Por isso, quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. 3Ao contrário, quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita, 4de modo que, a tua esmola fique oculta. E o teu Pai, que vê o que está oculto, te dará recompensa. 5Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar em pé, nas sinagogas e nas esquinas das praças, para serem vistos pelos homens. Em verdade, vos digo: eles já receberam a sua recompensa. 6Ao contrário, quando tu orares, entra no teu quarto, fecha a porta, e reza ao teu Pai que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa. 16Quando jejuardes, não fiqueis com o rosto triste como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto, para que os homens vejam que estão jejuando. Em verdade, vos digo: Eles já receberam a sua recompensa. 17Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, 18para que os homens não vejam que estás jejuando, mas somente teu Pai, que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa”.
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1. Viver na Interioridade
“Ficai atentos para não
praticar a vossa justiça na frente dos homens só para serdes vistos por eles.
Caso contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus” (Mt 6,1).
O texto do evangelho de hoje
pertence ao Sermão da Montanha (Mt 5-7). Através de sua Palavra de hoje o
Senhor nos convida a vivermos na interioridade e na autenticidade, pois esse
modo de viver nos traz a paz e a felicidade. Jesus quer que nossa vida seja na
interioridade e na autenticidade; que não busquemos elogios nem a aprovação nem
a recompensa em nome do bem. Simplesmente trabalhemos pelo bem. Em nome do bem,
não temamos a reprovação nem o esquecimento nem a ingratidão. Basta viver com
Deus, para Deus e na Sua presença. O que conta na nossa vida não é a opinião
que os demais podem/possam ter de nós, e sim o que pensa Deus de nós, pois somente
Deus tem capacidade de nos ver por dentro. É um deixar-se julgar por Deus,
deixar-se interrogar por Ele, deixar-se impugnar por Ele. Por isso, é uma
exigência muito mais forte do que a exigência dos homens e de todos os tipos de
comentários.
Agradar a Deus exige um
desprendimento de si infinitamente maior do que agradar os homens. Mas esta
exigência é apaziguadora porque procede do interior, não busca vaidade nem
vantagens humanas, nem exibicionismo nem apresentação teatral ao ajudar os
demais ou ao fazer o bem. É preciso viver na autenticidade. É preciso saber
distinguir o que apresentamos e o que representamos; o que é apresentação e o
que é representação. Não basta apresentação, é preciso saber o que você está
representando em tudo que você diz, comenta e faz.
Jesus nos alerta para vivermos na
interioridade porque os mais belos gestos da verdadeira religião como a esmola,
jejum e oração, podem, por desgraça, ser desviados de seu sentido: busca apenas
de si mesmo, dos próprios interesses. A hipocrisia religiosa é pior de todas
porque ela pode afastar as pessoas de Deus, especialmente os mais simples. Que
nossa caridade seja invisível para os olhos dos homens, mas visível para os
olhos de Deus. As obras de piedade não devem ser praticadas para ganhar
prestígio diante dos homens e com isto, adquire uma posição de poder ou
privilégio. Quem faz assim se priva da comunicação divina, cessa a relação de
filho-Pai com Deus.
Quando se trabalha somente por Deus
ou para Deus no bem praticado pelo bem do homem não há perigo de cair na
demagogia, na adulação e no compromisso interesseiro. Na presença de Deus não
há lugar para oportunismos nem para os oportunistas. A vida cristã há de ser
vivida na simplicidade. Não podemos confundir o testemunho com teatralidade.
2. Três Práticas de Piedade: a Esmola, a Oração e o Jejum
Dar a esmola é uma prática
comum no AT (cf. Dt 15,7-10; PR 11,17; Tb 4,7-11; Dn 11,17). É um convite para
a prática de misericórdia para os pobres. A esmola une quem a dá com quem a
recebe e com Deus, segundo os antigos. Por isso é que Jesus disse: “Quando deres esmola, não
toques a trombeta diante de ti..”, isto é, não buscar a própria glória, humilhando o
pobre, pois perderia a recompensa de Deus e diante de Deus. É preciso ajudar o
pobre pelo seu bem e não pelo bem de quem presta a ajuda. É o bem pelo bem. Mais
nada! O fim da própria atuação ao dar esmola é unir-se a Deus, o Pai que vê tudo
em segredo.
No NT, a comunidade cristã vive
profundamente esse compromisso (cf. Lc 4,18-21; At 2,42-46; 4,32.37; 2Cor
8,9.13). Quem dá esmola quer restabelecer a relação com o pobre. A situação de
pobreza é contrária à vontade de Deus (cf. Mt 5,1-12) e, por isso, quem dá
esmola cumpre a vontade de Deus. No entanto, o gesto de dar esmola não deve ser
fruto de cálculos egoístas e sim de uma verdadeira comunhão de bens: “Que a
tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita”. Ao mesmo tempo a
esmola não pode favorecer à preguiça pela facilidade em ganhar bens (dinheiro e
outros bens materiais) por parte de quem a recebe. Não podemos trabalhar
somente pelo pobre; temos que trabalhar com o pobre. Se você fizer um
benefício ou um bem, nunca se lembre dele; se você receber um, nunca se esqueça
dele.
A segunda prática de piedade é a oração.
Mas Jesus nos alerta que o momento de oração não é um momento de ostentação. Quem
reza, busca Deus e não a própria glória ou para ser visto pelos demais. Por
isso, Jesus insiste na prática da interioridade. Jesus nos ensina que
precisamos buscar momentos de encontro pessoal com o Pai e manter as conversas
com Ele.
Além disso, Jesus acrescenta que o
importante na oração não é a materialidade das palavras e sim como se vivem
essas palavras no coração e como se pode expressar através delas a própria relação
com o Pai e sentir-se em sintonia com Ele. Se o momento de oração é o momento
de conversar com o Pai, logo o momento de oração é o momento de Deus se
revelar. Para Deus se revelar é preciso criar o silêncio. O silêncio
possibilita a presença da Eternidade no nosso presente.
A terceira prática da piedade é o
jejum. Na tradição do Povo de Deus tanto o jejum como a esmola e a oração são fundamentos
da relação: Deus-homem (eu)-irmãos. No AT se pratica também o jejum comunitário,
por exemplo, no dia da Expiação (cf. Lv 16,29; 23,27). Jesus não elimina a prática
de piedade; Ele quer que a cumpramos com sinceridade, sem nenhum tipo de
hipocrisia. Todo sinal externo de jejum pessoal deve desaparecer para
converter-se em um ato dirigido exclusivamente para Deus. A prática do jejum
tem como objetivo buscar um contato mais íntimo com Deus, com Seu perdão, com
Sua benevolência e com Sua graça. O jejum bíblico é um ato essencialmente de
buscar o contato íntimo com Deus para que vivamos como irmãos. O profeta Isaias
critica duramente quem pratica o jejum, mas oprime o irmão (cf. is 58,3-9). Os
elementos essenciais de um jejum agradável a Deus: o jejum unido à oração e
encontra sua expressão mais autentica no serviço aos pobres. Trata-se de um
jejum com uma dimensão social.
P. Vitus Gustama, SVD
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