AMAR COM TODO O CORAÇÃO
Quinta-feira da
IX Semana Comum
06 de Junho de 2013
Texto: Mc 12, 28-34
Naquele tempo, 28b um mestre da Lei aproximou-se de
Jesus e perguntou-lhe: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?” 29 Jesus respondeu: “O primeiro é este:
Ouve, ó Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. 30 Amarás o Senhor teu Deus de todo o
teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua
força! 31 O segundo mandamento é: Amarás
o teu próximo como a ti mesmo! Não existe outro mandamento maior do que estes”.
32 O mestre da Lei disse a
Jesus: “Muito bem, Mestre! Na verdade, é como disseste: Ele é o único Deus e
não existe outro além dele. 33 Amá-lo de todo o coração, de toda a mente, e com toda a força, e amar o
próximo como a si mesmo é melhor do que todos os holocaustos e sacrifícios”. 34 Jesus viu que ele tinha respondido
com inteligência, e disse: “Tu não estás longe do Reino de Deus”. E ninguém
mais tinha coragem de fazer perguntas a Jesus.
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Encontramos no evangelho de hoje um
escriba sincero que se aproxima de Jesus não para criticá-lo, mas para dialogar
com ele a respeito do maior de todos os mandamentos: “Qual é o primeiro de
todos os mandamentos?”, ele pergunta a Jesus. Nas escolas rabínicas se
distinguiam entre mandamentos “graves” e “leves”. Tinha 248 preceitos positivos
e 365 proibições legais. Por causa de sua grande quantidade, os rabinos
investigaram qual de todos estes mandamentos era realmente importante, qual era
o primeiro e principal como resumo de todos.
Jesus responde citando ao pé da
letra a passagem do Dt 6,4-5 onde se encontra a seguinte afirmação: “Ouve,
ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, de
todo o teu coração , de toda a tua alma e de todas as tuas forças”. Ao
mesmo tempo Jesus cita a passagem do Lv 19,8, também ao pé da letra,
onde se encontra o seguinte mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti
mesmo”. E para Jesus ambos os mandamentos são como um só inseparavelmente:
“Não existe outro mandamento maior do que estes”. É um só porque não se
pode amar a Deus sem amar ao próximo. Por isso, na sua primeira Carta são João
nos diz: “Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odeia seu irmão, é mentiroso.
Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a
quem não vê” (1Jo 4,20). Então, entre o mandamento do amor a Deus e o
preceito de amar ao próximo existe uma conexão necessária. Inclusive os rabinos
entendiam que o amor ao próximo era como um resumo da lei. Por exemplo, se
atribui ao Rabino Hillel esta sentença: “Não faças ao outro o que não
desejas para ti. Esta é toda a lei. O resto é interpretação”. Neste
mandamento de amor se funda a única piedade verdadeira.
Amar! Este é o mandamento do
Senhor. A acumulação dos termos: “coração, alma, mente, força” quer significar
uma plenitude de amor que compreende todas as nossas faculdades de amar. É
preciso que o amor arda em nossos pés à cabeça, em nosso espírito ao corpo, em
nossa manhã até a noite, em nossa infância à velhice.
Amor é a essência para qualquer
relacionamento com suas três direções: a Deus, ao próximo e a mim mesmo. Amor é
relação, comunicação, encontro. Para eu poder valorizar o outro eu preciso
saber me valorizar. Para eu poder amar o outro, eu preciso saber me amar. Para
eu poder compreender o outro, eu preciso me compreender. Para eu poder fazer o
encontro com o outro, eu preciso fazer o encontro comigo mesmo, reconhecendo
tantos minhas capacidades e virtudes como também meus defeitos e limitações.
Não basta amar a Deus, alguém tem que amar também o próximo. Não basta amar o
outro, mas tem que saber se amar: “Amar a Deus com toda força e o próximo como
a ti mesmo”. Não faça do outro como objeto de sua carência de amor. Isto não é
amor. É exploração. Para amar tem que ser livre. O amor liberta, dá segurança e
possibilita o crescimento. Quando uma pessoa começar a sufocar a outra pessoa é
porque está faltando amor.
Por isso é que Jesus não fala de
qualquer amor. Ele fala do amor ágape. Ágape é uma palavra grega que significa
o amor que se dirige unicamente para o outro, incondicional, e que não espera
nada em troca. É uma doação pura de si mesmo. Por isso, Jesus chegou a fazer
uma afirmação muito extrema: “Amai vossos inimigos e rezai por aqueles que
vos perseguem” (Mt 5,43-44). A única coisa que se espera dos inimigos é o
bem deles. Este é o amor-ágape. É o amor que salva e liberta. Com efeito, a
atitude de fé é procurar descobrir o projeto de amor de Deus e corresponder a
ele. Amar a Deus significa escutá-Lo, adorá-Lo, encontrar-nos com ele na oração
e na vida e amar o que ele ama. Amar o próximo não apenas significa deixar de
fazer o mal, e sim estar pronto para ajudá-lo, acolhê-lo e perdoá-lo. Amor é o
único meio que em si tem capacidade de convencer o outro, até os ateus de que
somos cristãos.
Amor é capacidade de sair de si
mesmo, de transferir-se para outro ser, de participar de outro ser e de
entregar-se por um outro ser. Aquele que ama está totalmente no outro, conservando
sua identidade. O amor não pode realizar-se na esfera de um sujeito isolado. O
verdadeiro amor é sempre como uma experiência de derrota que se transforma em
vitória; uma experiência de entrega que se transforma em enriquecimento; uma
experiência de sair de si que se transforma no mais profundo encontro consigo
mesmo; uma experiência de morte que se transforma em vida. O ponto final do
amor é a vitória sobre a morte. O ponto final do egoísmo é a morte, e a
ausência do amor é a ausência de Deus.
Portanto, hoje Jesus nos oferece a
chave fundamental para cumprir a vontade de Deus: o amor íntegro a Deus como
único Senhor e o amor ativo e efetivo e desinteressado para próximo. São Paulo
nos relembra através da Carta aos romanos: “Não fiqueis devendo nada a ninguém…
a não ser o amor que deveis uns aos outros, pois quem ama o próximo cumpre
plenamente a Lei. De fato, os mandamentos: ‘Não cometerás adultério’, ‘Não
matarás’, ‘Não roubarás’, ‘Não cobiçarás’, e qualquer outro mandamento, se
resumem neste: ‘Amarás o próximo como a ti mesmo’. O amor não faz nenhum mal
contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei” (Rm
13,8-10).
Vitus
Gustama,svd
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